Isabela ficou surpresa por um instante, mas se recuperou rapidamente.— Vou te convidar para jantar. — Ela disse impulsivamente, num ato automático de gratidão.— Que falta de originalidade. — Jorge respondeu com indiferença.— Então posso te dar um presente? — Ela hesitou, visivelmente desconfortável.— Guarde essa dívida. Um dia me dará algo grandioso. — Ele concordou com um aceno de cabeça.— Combinado. — Isabela aceitou prontamente.— A cliente está na sala de recepção 1. Pode ir. — Disse Jorge, num tom monótono.— Entendido. — Isabela saiu do escritório, fechando a porta com cuidado. Seus passos ecoaram pelo corredor até o local indicado.Ao abrir a porta, ela se deparou com uma mulher sentada rigidamente no sofá.— Bom dia. — Cumprimentou Isabela primeiro.A visitante se levantou e, apertando a bolsa com nervosismo, gaguejou: — Bom dia. Você é a Dra. Isabela? Com um sorriso profissional, Isabela se aproximou. — Sim. — Pegou duas garrafas de água da mesa, oferecendo uma a outra
— A questão é que se não se desculpar, ela pode solicitar execução judicial. Não cooperando, você pode ter restrições em viagens aéreas e interestaduais. — Isabela cruzou os dedos sobre a mesa, observando a reação da cliente.— É sério? — A mulher pálida agarrou a bolsa com força. — Meu trabalho exige viagens frequentes, sem avião ou ônibus leito seria difícil.O desespero tomou conta de seu rosto. — E agora? O que faço? — Simples. — Isabela se inclinou para frente. — Se desculpe conforme determinado. A cliente se ergueu como um fio esticado, disparando: — Então vim aqui para nada? — Me permita terminar. — A voz calma de Isabela cortou o ar como uma faca. — Você cumpre a sentença à risca: oferece as desculpas, paga a indenização. Tudo conforme ditame judicial. Será difícil para você, caso não cumpra. Por favor, me deixe terminar primeiro. A mulher ficou meio hesitante antes de retomar o assento novamente. — Sabe escrever carta de desculpas? — Perguntou Isabela.— Desculpas não
Danilo abriu a porta com ímpeto. No mesmo instante, Sandro fixou os olhos nele como um predador detectando sua presa.Puxando uma cadeira com aquele jeito despretensioso que sempre o caracterizava, Danilo soltou um comentário provocador: — Por que está me olhando? Tem algo no meu rosto? Sandro manteve o silêncio como uma muralha, levando o copo de água aos lábios.Gabriel observou a cena com um discreto revirar de olhos. Na noite anterior, ele havia enviado àquele teimoso Sandro as fotos de Isabela entrando no carro de Danilo. Agora, aquele jantar aparentemente casual exalava intenções fermentadas. Sandro queria fisgar informações e precisava saber o que havia acontecido após Danilo deixar Isabela em casa.Tomando a frente como mediador, Gabriel iniciou o interrogatório disfarçado: — Então, Danilo... Depois daquela saída épica da balada, garantiu que a Isabela chegasse bem em casa, né? — Claro. — A resposta foi seca, acompanhada por um olhar desafiador lançado a Sandro.Danilo sen
Fabiano se inclinou na cadeira com um ar cínico, o sorriso maroto estampado no rosto enquanto cutucava Gabriel: — Ah, para com esse papinho. Quando foi que você me viu levando mulher a sério? Era teatro puro, só interpretando meu papel. Danilo franziu as sobrancelhas, o desconforto visível em seu rosto anguloso. Ele se levantou bruscamente, a cadeira arrastando no chão com estrondo. — Vou vazando, podem continuar.— Calma, cara! — Gabriel esticou o braço para impedi-lo, com voz carregada de zombaria. — Você conhece o Fabiano, ele sempre foi assim. — Está me enojando. — Cortou Danilo.Fabiano ergueu as mãos em sinal de rendição, o brilho travesso em seus olhos escurecendo. — Beleza, vamos mudar de assunto. O zumbido insistente do celular de Sandro cortou o silêncio tenso. Ao avisar o nome “Clara” piscando na tela, seus dedos executaram o gesto automático de rejeitar a ligação.Gabriel levantou o queixo, com os olhos estreitos de curiosidade. — Então me conta... Está enrolando s
Isabela mal teve tempo de distinguir o rosto da pessoa quando já estava envolvida por um abraço caloroso. — Muito obrigada, Dra. Isabela! Segui seu conselho e aquela amante aceitou o acordo imediatamente! Desistiu da indenização e até retirou a exigência de pedido de desculpas! — Exclamou a cliente, com uma voz trêmula de emoção. — Fico feliz em poder ajudar. — Isabela soltou um sorriso gentil.— Sua ideia foi genial! — Os olhos da mulher brilhavam com lágrimas de gratidão. Uma onda de satisfação percorreu Isabela. Resolver problemas assim era exatamente o motivo pelo qual ela havia escolhido a advocacia. — Me deixe pagar um jantar para você como agradecimento! — Insistiu a cliente, segurando as mãos da advogada. — Apenas cumpri meu dever profissional. Além disso, já tenho compromisso esta noite. — Isabela abanou a cabeça com delicadeza. — Entendo... Mas saiba que vou indicar seus serviços para todos que precisarem! — A cliente suspirou, resignada. — Agradeço a confiança.
Isabela se aproximou com passos lentos e se sentou com graça, seu olhar sereno carregando um traço de curiosidade mascarada. — Fale. Por que que me procura? — Sua voz mantinha um tom neutro que não escondia a urgência implícita. Três anos mais novo que Viviane, Hélio tinha aquele magnetismo peculiar dos jovens: postura atlética, traços esculpidos e um charme que justificava os investimentos da amiga, tanto financeiros quanto emocionais. — Juro, não houve nada entre eu e aquela garota! Ela se declarou, mas recusei. A Vivi simplesmente inventou que traí... — A voz embargada de Hélio carregava um misto de indignação e autopiedade.Os dedos de Isabela se contraíram imperceptivelmente sobre a mesa. A memória de suas próprias cicatrizes amorosas lhe fez revirar os olhos. Não suportava infidelidades, e conhecia Viviane o suficiente para saber que aquela não era uma acusação feita às pressas.— Por que me explicar? Explicações deveriam ser dadas a ela, não a mim. — A frieza na voz destoav
— Cansei, terminei. Relações de adulto não precisam de tantos porquês. — Viviane disse com uma indiferença que parecia quase natural. Isabela ficou sem palavras, incapaz de decifrar a amiga. Então, aquela noite no bar não tinha sido para afogar as mágoas de um coração partido? — O que está passando pela sua cabeça? — Isabela perguntou, incapaz de conter a curiosidade. Viviane encolheu os ombros, relaxada. — Já não sou mais tão jovem, minha família está me pressionando para casar, mas ele não é a pessoa certa. Meus pais nunca aprovariam. Estar com ele era só uma forma de dar um tempero à vida monótona. Além disso, eu o tratei bem. Agora que terminamos, ele deveria ter a decência de não me perturbar. Isabela ficou impressionada com a frieza da amiga, erguendo o polegar em sinal de aprovação. — Você é mesmo desapegada. — Ela pegou a carta da bolsa e a entregou a Viviane. — Hélio pediu que eu te desse isso. Viviane pegou a carta, mas, sem sequer olhar, a rasgou em pedaços.
Clara se sentou à mesa com delicadeza, segurando os talheres e pegando um pedaço de costela. Assim que colocou na boca, franziu a testa e cuspiu imediatamente a carne malpassada. O gosto metálico se espalhou em seu paladar, a fazendo sorrir amargamente. — Segui o livro de receitas à risca e mesmo assim estraguei tudo? — Ela murmurou para simesma, o rosto marcado por decepção.— Vamos comer fora. — Propôs Sandro, se levantando, sua voz neutra carregando uma inflexão inegociável.Clara mordeu o lábio inferior. Tudo aquilo era para impressioná-lo, ela pretendia conquistá-lo ao mostrar suas habilidades domésticas. Em vez disso, seu ato se transformou numa cena constrangedora.— Não se culpe. Cozinhar exige prática. Você nunca cozinhou, é normal não conseguir fazer isso direito. — Sandro comentou casualmente, tentando amenizar o desconforto dela.— É muito mais difícil do que parece! — Ela protestou, gesticulando com os talheres. — Controlar o fogo, a sequência dos temperos, as medidas ex