Quando amanheceu, conseguimos mais uma vez driblar os guardas e minhas damas de companhia, que nem perceberam o que acontecia e, se percebiam, mantinham-se discretas. Encontrei Gerald apenas no desjejum, me cobrindo de galanteios e sempre fazendo questão de segurar a minha mão. Aron nos observava com olhares atentos e mal conseguia disfarçar o ciúme e o incômodo que, ver Gerald me tratando daquela maneira, lhe causava. Temia que Aron não aguentasse e explodisse, imaginava o quanto era difícil para ele suportar aquela situação e tentei me colocar em seu lugar. Se fosse o contrário e ele tivesse outra, não sei se suportaria vê-lo nessas condições, acredito que morreria por dentro a cada instante que visse outra pessoa lhe tocando e acariciando, como Gerald fazia comigo na presença de todos. Na verdade, ele era muito mais carinhoso quando estávamos em público do que quando ficávamos a sós. Todos conversavam ao mesmo tempo, sabia que seria mais um dia agitado com muitas reuniões e dec
Dois dias se passaram e eu ainda estava em repouso. Minha mãe não deixava ninguém se aproximar de meus aposentos, as únicas pessoas que podiam entrar, além de minhas damas, eram meu pai e Serena. Passado o susto e o desmaio, minha mãe dedicou as horas seguintes a ouvir minhas explicações sobre meu romance com Aron e a tentar achar uma solução para as consequências, e tudo o que enfrentaríamos nos próximos meses. Para meu pai, ela disse que eu estava com uma forte constipação, o que o fez afastar-se e orientar a todos para que fizessem o mesmo. Aron tentou me ver também, porém foi barrado pelos guardas. Serena contou-me que conversou com ele, mas não contou o verdadeiro motivo do meu repouso. — Vitória, não é certo deixar Aron assim, sem saber de nada. — Ela estava preocupada, e com razão. — O que posso fazer? No momento, minha mãe não me deixa nem ao menos levantar da cama, quanto mais falar com alguém. E com Aron então, estou terminantemente proibida de falar com ele, segundo ela
Gerald cuidava de tudo na minha ausência, porém, não me sentia segura de que tudo estava correndo bem, ele não vinha até mim contar o que acontecia nas reuniões do Conselho e esse fato vinha me incomodando sobremaneira. Naquele encontro com Aron, ficamos tão encantados com a nova vida que nos unia ainda mais, que não conversamos sobre mais nada. Ele queria que eu contasse toda a verdade a Gerald e conseguisse, de alguma forma, anular meu casamento para ficarmos juntos, no entanto as coisas não eram tão simples assim. Conversamos tanto sobre várias possibilidades para nós dois, ou melhor, nós três, e para como seria o nosso futuro, que esqueci de perguntar a ele como iam as coisas sem a minha presença nas reuniões. Estava de volta aos meus aposentos e ao cair da noite decidi que tomaria de novo as rédeas da minha vida. Me sentia bem e não via mais motivos para minha mãe me manter ali trancada, sem poder receber visitas e não poder sair para cumprir minhas obrigações com o reino. Já
A ideia que tive durante a noite, e que me fez querer voltar com toda a energia possível para resolvermos os nossos problemas com os clãs, era de paz. Promover a paz entre eles, ajudá-los em sua recuperação com provisões, diminuir os impostos e fazê-los entender que será muito melhor para todos se unirem, do que desencadear um conflito que poderá vir seguido de uma guerra, prejudicando os dois lados. Não teria porque haver uma briga por preferência de mercado, o reino não escolheria nenhum dos clãs como principal fornecedor e sim os ajudaria a continuar trabalhando unidos. Fui aplaudida pela maioria dos conselheiros mais antigos que estavam cansados de guerras e não queriam passar por uma novamente, porém, os mais novos eram a favor das ideias de Gerald. Surpreendi-me ao perceber que ele fazia questão de dividir os grupos entre os que me apoiavam e os que estavam ao seu lado. Ele parecia outra pessoa, não se assemelhava com o homem com quem me casei, realmente estava certa em minha
As providências com o Conselho estavam encaminhadas para apaziguar os conflitos entre os clãs, contudo, após a conversa com Serena, a esperança de que eles se entendessem e aceitassem a ideia de paz e tudo o que podíamos fazer para transformar todo o reino em um povoado único e harmônico, não estava clara mais de que seria realmente aceita. Não consegui entender o que poderia dar errado e, apesar da positividade que se seguiu pelo dia, agora as dúvidas vinham com toda a força, porém tentei não demonstrar nada para não abalar os outros também. Todos estavam reunidos na sala principal para a ceia quando chegamos. Avistei Aron, e o desejo de ir até ele era tão grande que foi difícil me conter, quando percebi já estava a sua frente. — Minha Rainha! — ele fez uma breve reverência, segurando uma de minhas mãos e pousando ali um beijo. Sabíamos do risco que corríamos com todos ali presentes, no entanto, éramos primos e todos viam as nossas atitudes dessa maneira. Nada nos impedia de conve
PARTE IIMinha fortaleza e minha vida estão em você. Estaremos longe, porém, nossos pensamentos e coração estarão ligados. Serei sempre para você o que és para mim.Não desanime, meu amor é seu!Os tempos difíceis estão chegando, mas não durarão para sempreE quando em breve puder lhe tocar novamente, tudo ficará em paz.Jamais esqueça que é você quem me levanta São os seus olhos que me guiam diante da escuridãoÉ o seu amor que espero após a tormenta.***“...There is no life - no life without its hunger;Não existe vida, nenhuma vida sem este desejoEach restless heart beats so imperfectly;Cada batida do coração impaciente, tão imperfeitamenteBut when you come and I am filled with wonder,Mas quando você chega, eu me surpreendoSometimes, I think I glimpse eternity.Às vezes, eu penso ter vislumbrado a eternidadeYou raise me up, so I can stand on mountains;Você me ajudou a crescer, e eu posso ficar em pé sobre as montanhasYou raise me up, to walk on stormy seas;Você me ajudo
Ficamos nós dois ali, juntos a dois guardas. Gerald suspirou, tomou mais um gole de vinho e depositou sua taça na mesa de apoio que ficava ao lado do trono. Ficou em silêncio por alguns instantes, sendo possível ouvir a respiração até mesmo dos guardas que eram muito discretos. Com certeza ele ouvia a minha também, eu sentia meu peito subir e descer em um ritmo descompassado, tentava me controlar e a situação só piorava, até que ele se virou para mim, me fitou por alguns instantes com um desdém insuportável e levantou-se dizendo: — Venha comigo, minha querida. Precisamos conversar a sós em nossos aposentos. — Estendeu uma de suas mãos e duvidei se deveria apoiar-me nela, mas assim o fiz e saímos do salão em direção aos corredores. O caminho foi mais longo e a impressão que tinha era de que todos que passavam por nós, inclusive os guardas que faziam a segurança, nos olhavam de forma estranha, ou era a minha imaginação me pregando uma peça, me fazendo achar que todos sabiam de minha t
Sua crise de riso assustador terminou com um súbito salto para minha poltrona, que lhe deu um forte impulso, fazendo-o ficar muito perto de mim e, com isso, encarando-me de forma intimidadora, causando um desconforto que nunca havia sentido antes em sua presença. Seus olhos ardiam como duas bolas de fogo, os verdes que antes pareciam suaves pedras, agora se misturavam com a estranha forma avermelhada com que o branco se transformava, era possível ver a fúria que estava presa e incontida. Quando o conheci, me encantei por sua postura e altivez. Aquele rapaz alto e louro que me olhava ao longe, esperando-me chegar até ele, me fez ter simpatia e carinho desde a primeira vez que tocou em minha mão e a beijou com suavidade e doçura. Seus cabelos sempre muito arrumados, suas vestes sempre alinhadas e seu comportamento educado, gentil e amistoso eram realmente de um verdadeiro Marquês. Percebi a semelhança com seu pai Lorde Timothy que não era somente física, mas também em suas atitudes, h