MathieuEu havia ligado para a polícia para notificar o desaparecimento da minha filha, mas quando Louise me ligou dizendo que estava indo embora, eu sabia que Debra havia ganhado a primeira batalha. Eu não iria desistir, mas eu precisava aceitar que o melhor a se fazer era deixar a poeira abaixar. Quando cheguei no shopping, encontrei Debra tomando um sorvete tranquilamente enquanto Sarah cabisbaixa nem mesmo havia tocado no sorvete em cima da mesa. Assim que me viu ela correu até mim, a peguei no colo e ela começou a chorar afirmando que Louise tinha ido embora. Não sabia o que dizer, acho que eu também precisava ser consolado. Estive sendo rude com ela e sequer disse que a amava antes que ela partisse. Debra se aproximou e tocou nas costas da Sarah, sorriu e passou por mim. Eu não podia acreditar na frieza daquela mulher, usou a própria filha para chegar onde queria, isso era uma clara prova de que ela não a amava. Mas talvez aquilo fosse algo que eu pudesse usar contra ela.Volt
LouiseO sítio da minha avó continuava como eu me lembrava, mas eu já não era a mesma mulher que o visitou cerca de um ano atrás e os motivos que me trouxeram não eram nada parecidos. Eu não sabia por quanto tempo ficaria, mas sabia que era necessário. Nova Iorque não me trouxe nada além de tristezas e traumas e eu não pretendia voltar. Minha avó Luzia me recebeu com um abraço apertado, ela era bem mais baixa que eu e precisei me abaixar, ainda assim era o melhor abraço do mundo. Como apareci de surpresa, só estava ela e minha prima Marcely em casa. Eu e Marcely tínhamos a mesma idade e nos vimos poucas vezes, mas sempre me lembrava do quanto ela era bonita com seus cabelos pretos e lisos e olhos azuis como os da nossa avó. — Vó, vim para ficar por um tempo, até eu decidir para onde vou. — avisei, ao entrar na casa de alvenaria com assoalho de madeira. Na sala, fotos dos netos, das filhas e seus maridos estavam por toda parte. As minhas preferidas eram da minha mãe, é claro, fazia t
LouiseEm pouco tempo eu me adaptei a vida na roça, aprendi palavras novas, a montar em cavalo e que um bom cochilo depois do almoço é essencial. Meu guarda roupa mudou, acabei guardando as roupas que trouxe de Nova Iorque nas malas, para dar espaço ao jeans e camiseta básica, que eram muito mais práticas no dia a dia. Além, é claro, das botas e chapéu. Descobri que os tênis rasgam e encardem facilmente, por isso as botas de couro eram preferíveis e os chapéus faziam uma ótima sombra ao se trabalhar no sol. Antes eu achava que o estilo era por moda, mas apenas o cinto era. O fim de ano foi pura festa, para quem bebia ainda mais. Vieram pessoas de vários lugares passar a virada do ano conosco. A cozinha era um amontoado de mulheres conversando enquanto vovó e dona Zeni faziam os pratos principais, visto que cada uma trouxe algo de casa. Vovô e os outros homens assavam as carnes, começaram cedo porque minha avó queria costela ao fogo de chão. Tiveram que matar um dos bois para esse chu
MathieuPassar os dias sob o mesmo teto que Debra foi insuportável. Eu passava os dias trancado no escritório trabalhando junto com a Sarah, que preferia ficar comigo sabendo que ela sempre tinha algum comentário desagradável para fazer. Ela reclamava da comida, das roupas, do apartamento, de mim, do governo… tudo era motivo para reclamar. Ela mudou os móveis de lugar e todos os dias chegavam coisas inúteis que ela comprou pela internet. Os meses foram se passando e embora gradativamente os comércios iam abrindo, Debra vivia constantemente estressada, ninguém a suportava mais, nem mesmo Mandy a empregada que morava conosco e no início gostava dela. Todos os dias ela arrumava algum motivo para discutir com alguém e estava sendo um verdadeiro teste de autocontrole para mim. Para me dar um certo alívio, conheci Clara Bars, que morava no andar de baixo. Certo dia, a loira de um 1,60m, precisou de um pouco de açúcar para terminar um bolo e bateu na nossa porta. Eu atendi e lhe dei o açúc
Louise Mais de um ano se passou desde que pisei os pés no Brasil. Eu não imaginava que ficaria tanto tempo, nem que eu mudaria tanto ou que uma pandemia aconteceria. Num belo dia no outono brasileiro, que basicamente era apenas um pouco menos quente, Pedro me chamou para um piquenique, preparei algumas comidas e fomos cavalgando até uma árvore, quase nos limites entre nós e os vizinhos. Pedro estendeu uma toalha na grama macia e coloquei a mochila com as frutas e lanches que levei. — Você gosta daqui, Lou? Do sítio? — ele perguntou. — Sim, mas sinceramente, consigo entender porque minha mãe sonhava em ir para outro lugar. — afirmei, pensando na história que quando pequena eu amava ouvir. — Então você voltaria para os Estados Unidos? — aquela era uma pergunta difícil, eu gostava da vida simples no sítio, mas sentia falta da cidade, das festas e ser modelo. Sentia falta do Mathieu e da Sarah.— Eu não sei… tenho vontade de voltar algum dia, não sei se para ficar, mas sinto saudades.
Mathieu— Espera, espera, espera!… — Rob pediu. — Debra é a mãe da Sarah?! — perguntou surpreso. E confirmei com a cabeça. — E a Emma? Emma… a outra enfermeira que trabalhava lá, eu era fissurado nela, com seu jeito doce e sorriso sincero. Ela parecia uma flor no deserto e foi com ela que passei a última noite na enfermaria, a única noite que eu me lembrava com clareza. Quando me falaram que eu tive uma filha, imaginei que fosse dela, mas quando cheguei, o nome no atestado de óbito e na carta deixada para mim, era de Debra. Por isso nunca tive certeza se Sarah era realmente minha, mas não questionei, pois quando peguei Sarah a primeira vez, logo me apeguei a ela. E também tinha as outras noites, que não eram claras para mim e desde essa época eu não prestava quando o assunto era mulher. — O que tem ela? — Porra Mathieu! Você é muito idiota cara! — esbravejou. — Cara, estou realmente bravo com o quanto você foi trouxa e mereceu por ser tão babaca. Nunca procurou a Emma? — estranhei
MathieuDias depois, Debra invadiu meu escritório furiosa, com uma folha em mãos. Pelo seu estado, eu sabia do que se tratava. — O que é isso, Mathieu?! Está pedindo um exame de DNA e me acusando de falsidade ideológica? — perguntou gritando. — Não sabe ler? — ironizei, a deixando ainda mais irritada. — Você está fodido, Mathieu! Eu vou acabar com você! — disse apontando o dedo para mim. — Suas ameaças não me assustam, Debra. Eu já descobri a verdade, Emma é a mãe da Sarah, você falsificou um atestado de óbito e me fez de idiota. — falei me levantando, já cansado dos joguinhos dela e de ser paciente. Ela riu. — Você é um idiota Mathieu! — gritou e ficou completamente fora de si, começou a derrubar as coisas do meu escritório, os móveis, os papéis em cima da mesa, objetos enquanto gritava insultos contra mim. Precisei usar a força segurá-la e ainda assim ela se debatia para se soltar, arranhando meus braços.Até que por cansaço ela parou de se debater e começou a chorar, dizendo q
MathieuCerca de três meses depois que recebi alta, voltei ao hospital para mais alguns exames e retirar os pinos das perna. Estava ansioso por um único motivo, em menos de uma semana eu finalmente poderia ir até a Louise. Já estava até sonhando com o dia que a veria, mesmo sem ter certeza de como seria esse encontro. Saí do hospital sem o gesso no braço, mas com uma tipóia para ajudar na recuperação, as pernas precisaram ser enfaixadas após a retirada dos pinos e eu precisava de pelo menos uma semana sem fazer esforço, era esse o tempo que eu precisava para conseguir o endereço da casa do pai da Louise e lá conseguir o endereço da família dela no Brasil, era minha melhor chance, já que Louise trocou o número do telefone dela e nem mesmo Alyssa tinha notícias dela. Alyssa me aconselhou a seguir minha vida, me recuperar e cuidar da minha filha, mas minha história com a Louise não teve um ponto final e eu precisava encontrá-la mesmo que fosse para isso, por um fim em tudo. No fundo eu