A noite seguia com uma falsa calmaria, como se cada taça erguida e cada risada disfarçasse o que estava prestes a explodir. Meu vestido me apertava de leve na cintura, e a tontura sutil da gravidez se misturava com um pressentimento estranho, como se o ar tivesse ficado mais denso de repente. Foi quando meus olhos encontraram Sergei, parado perto da varanda, encarando Luigi do outro lado do salão. Os dois estavam imóveis, mas o olhar trocado entre eles era puro fogo contido. Um silêncio gritante, de mágoas que nunca foram ditas e de sentimentos que não podiam mais ser negados. Luigi, ao lado de Bianca, mantinha a postura típica de um homem seguro. Mas os ombros estavam rígidos demais. A mandíbula travada. Ele não olhava para a esposa. Seus olhos estavam presos em Sergei, e eu conhecia aquele tipo de olhar. Dor. Desejo. Culpa. Apertei o passo, ignorando os cumprimentos no caminho e me aproximei de Sergei primeiro, que segurava um copo de whisky como se fosse a única coisa que o man
Sofia, capítulo bônus. A noite estava quente, mas o olhar de Ivan queimava ainda mais. Eu sabia que tinha provocado algo nele quando desci as escadas com aquele vestido justo, que grudava na minha pele como uma segunda camada. A fenda lateral deixava minha coxa à mostra e o decote profundo fazia mais do que atrair olhares, fazia Ivan se transformar em um animal possessivo. E foi exatamente o que aconteceu. Ele me encarou como se eu fosse um prêmio que alguém ousava cobiçar. Um russo com sangue fervendo e o temperamento pronto para matar. — Vamos agora. — ele rosnou no meu ouvido, a mão apertando firme minha cintura. — Agora? — soltei um riso provocante, tentando fingir que não sentia o calor subir entre minhas pernas só com a forma como ele me olhava. — Mas a festa… — Você quer que eu arrebente o maxilar daquele italiano que está te comendo com os olhos? — retrucou seco. — Ou prefere me obedecer? Aquilo foi suficiente. Me puxou pelo braço, firme, e me levou por corredores sil
Matteo me puxou pela cintura como se o mundo inteiro assistisse, e estava mesmo. Cada olhar naquela festa estava cravado em nós dois, mas nada se comparava à forma como os olhos dele queimavam sobre mim. Suspirei, deixando que ele me guiasse para o centro do salão. O som da orquestra começou suave, as luzes foram levemente baixadas, e os convidados abriram espaço como se o trono da máfia estivesse sendo ocupado diante deles. O olhar de Matteo não desgrudava do meu. Seus dedos entrelaçaram os meus, e a outra mão se posicionou em minha cintura com firmeza, como se estivesse me prendendo ali, no mundo dele. — Você está deslumbrante. — murmurou, com a expressão carregada de desejo e orgulho. — Meu sangue, meu herdeiro, tá crescendo aqui dentro... — ele abaixou a cabeça por um instante e roçou os lábios perto da minha barriga, discretamente, sem chamar atenção dos demais. — Ou sua herdeira, Matteo. Já conversamos sobre isso. — retruquei com um sorriso forçado. — Não importa o sexo. Va
A música seguia alta do lado de fora, as taças tilintavam, os sorrisos eram rasgados, mas aqui dentro, no fumódromo reservado da mansão, o clima era outro. O cheiro de charuto tomava o ar, misturado com uísque envelhecido e segredos velhos demais para serem contados em voz alta. Encostei-me à parede, observando os homens à minha frente: Carlo, o pai de Angeline, com a postura altiva de sempre, aquele tipo de autoridade que não precisava levantar a voz. Ivan, o russo frio, que mantinha Sofia sob rédea curta, mas que sabia comandar um império com a mesma frieza com que mataria um traidor. Vittorio, meu tio, mais cobra do que lobo, e eu sabia bem disso. E Maurício Esposito, respeitado por todos e silenciosamente temido por quem tinha juízo. — Os colombianos tão querendo negociar com a Bratva. — Ivan soltou, cruzando as pernas com elegância cruel. — E tão oferecendo um corte maior do que o que vocês deram para eles no último carregamento. — Traição disfarçada de proposta. — Maurício re
O estalo seco do primeiro tiro cortou o ar como um chicote. Por um segundo, achei que tivesse imaginado. Estávamos em uma festa da máfia. Um ambiente controlado, vigiado, cercado por soldados. Mas o segundo tiro veio em seguida. Depois um terceiro. Gritos. Vidros quebrando. Meu coração parou. Isabella. Corri sem pensar. Subi as escadas como se o inferno estivesse atrás de mim. Meu vestido pesado atrapalhava meus movimentos, mas eu não sentia nada além do pânico se espalhando pelo meu peito. Passei por duas mulheres chorando, um homem armado empurrando todos pro salão principal. O som dos disparos ainda ecoava pelos corredores, mas já parecia mais distante. Ou talvez fosse minha cabeça, bloqueando tudo que não fosse o quarto onde Isabella deveria estar. Abri a porta com força. Ela estava lá. Abraçada à babá, com os olhos arregalados, chorando em silêncio. — Isabella! — gritei, aliviada e desesperada ao mesmo tempo. Ela soltou a babá e correu até mim, se jogando nos meus braço
O hospital da máfia ficava a vinte minutos da mansão, mas naquela noite, o caminho pareceu eterno. Assim que descemos do carro, soldados abriram espaço. Matteo seguia à frente, imponente, enquanto eu sentia o peito apertado. Imaginar meu irmão ensanguentado me perseguia como um pesadelo vívido. Luigi já estava na ala cirúrgica. Bianca, sentada numa das cadeiras da sala de espera, levantou-se assim que me viu. Os olhos dela estavam vermelhos, as mãos trêmulas. — Disseram que ele tá fora de perigo, mas ainda não saiu da cirurgia… — a voz dela era fraca, desesperada. Eu a abracei forte. — Ele vai ficar bem… — sussurrei. — Luigi é teimoso demais para morrer assim. Ela chorou no meu ombro. Minutos depois, Sergei apareceu. Alto, de expressão dura, mas com os olhos carregando uma tensão que ele tentava esconder. Ele me viu, hesitou, e depois se aproximou. — Como ele está? — perguntou, a voz grave, contida. — Estável. Ainda em cirurgia… — respondi, encarando-o. — Você devia estar lá
Luigi / capítulo bônus. O quarto do hospital tinha cheiro de remédio e arrependimento. A luz fraca, a dor no ombro, o som irritante do monitor cardíaco. Nada disso incomodava tanto quanto a presença dele. Sergei. Parado ali, de braços cruzados, me olhando como se estivesse tentando me decifrar de novo. Como se ainda tivesse alguma esperança. Eu não conseguia olhar para ele por muito tempo. Doía mais que o tiro. — Você podia ter morrido. — ele disse. A voz dele sempre foi firme, sem rodeios. Mas tinha algo diferente agora. Uma falha no tom, um resquício de sentimento. E isso me atingiu mais fundo do que qualquer bala. — A vida inteira escuto isso. — murmurei, sem olhar. — Mas vindo de você... soa quase como preocupação. Ouvi seus passos se aproximando. Eu sabia que ele não ia deixar barato. — Não brinca comigo, Luigi. Não agora. Revirei os olhos e soltei um riso fraco. — Quando eu posso brincar com você, Sergei? Quando você entra no quarto de motel à noite, e sai antes do sol
A água quente escorria pelo meu corpo como se pudesse lavar não só o cansaço, mas o peso dos últimos dias. Quando saí do banho, enrolei a toalha no corpo e me encarei no espelho. Meus olhos estavam cansados, mas havia um alívio escondido ali. Luigi estava bem. Meu irmão estava vivo. Isso era tudo o que importava agora. Suspirei fundo, caminhando até o quarto, o vapor ainda subindo dos fios do meu cabelo molhado. De repente, senti o estômago revirar. O enjoo veio sem aviso, me fazendo parar no meio do quarto e fechar os olhos, tentando respirar fundo. — Merda... — sussurrei, segurando a beirada da cômoda para me equilibrar. Era o bebê. Já começava a se manifestar. Ou talvez fosse só o estresse. Ou os dois juntos. Me deitei na cama de toalha e tudo, sentindo o frescor dos lençóis na pele quente. Matteo estava em outro cômodo, resolvendo algo com Giovanni. Eu sabia que assim que entrasse por aquela porta, o olhar dele ia buscar o meu, como sempre fazia. E ia me lembrar, com aquela pr