Katherine
Estou tão distraída com a beleza da biblioteca, com a forma como o sol da tarde ilumina as estantes de cinco metros de altura e as pesadas mesas de madeira brilhosas, que não percebo o último degrau e acabo caindo de joelhos. Imediatamente, apoio minhas mãos no chão a minha frente, para impedir que meu rosto bata contra as pedras.
- Porra, Katherine. - Gustavo desata a rir, pulando ao meu lado. Delicadamente, ele me pega pelo cotovelo e passa um braço pela minha cintura, me erguendo enquanto eu rio desesperadamente. Talvez sejam as seis taças de champanhe fazendo efeito, ou talvez seja o nervosismo de estar tão próxima dele, sentindo seu perfume maravilhoso, mas me sinto muito bem ao rir.
- Cadê? - Coloco a mão em minha cabeça, ajeitando os cabelos e procurando a coroa. - Puta merda, Gustavo, onde está? - Ajoelho-me no chão novamente e começo a procurar por ela
Lorenzo Mesmo cinco minutos depois de Katherine ter saído da biblioteca, ainda sinto o cheiro de baunilha no ar, o cheiro dela, somado ao cheiro de seu sangue. Como uma pessoa tão pequena consegue ter um cheiro tão forte? Ou melhor, como alguém tão pequeno pode ser tão intenso? Intensa. Sim, essa é a melhor palavra para descrever aquele mini tornado de cabelos escuros e olhos verdes. Fecho os olhos e pressiono minhas têmporas doloridas com os polegares. Não sinto tanta dor de cabeça desde... Desde Alya, desde que me importei realmente com alguém dessa forma, desde que que a perdi. Elas são tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes. As duas são pequenas, mas é realmente apenas isso que elas têm em comum no quesito aparência. Alya tinha longos cabelos pretos, olhos castanhos e olhar para ela era como olhar para uma guerreira, sua força era óbvia e exala
Katherine Sempre tive curiosidade acerca de qual o sabor do whisky, por causa do cheiro, imaginei que seria péssimo, mas depois de alguns copos, nem sinto mais nada, ele só desce. Pego a garrafa que achei na cozinha e sirvo o quarto copo. Já estou bêbada, pelo menos mais bêbada do que me lembro de já ter ficado alguma vez em minha vida, mas não me importo. Dancei com Lorenzo por um tempo, no qual evitamos conversar, mas depois, quando Alicia tentou se aproximar de mim, eu acabei escapando, pegando a garrafa de bebida na cozinha e vindo parar aqui, andando pela biblioteca enorme, escondida das pessoas no salão, bebendo sozinha e no escuro, me perguntando como minha vida pode ter virado do avesso tão rápido. Não sei ao certo porque a estou evitando, mas deve ter algo a ver com negação. Recuso-me a acreditar que Alicia sabia do meu noivado com Lorenzo e, par
Katherine Nesse momento, a única coisa que me impede de sair do correndo atrás de Antônia, exigindo respostas, é o peso do que estou sentindo ante as revelações da noite, então apenas fico sentada na poltrona até que Alicia entra e faz um gesto para que eu a siga. Andando pelo castelo atrás dela, percebo que não estou tão bêbada quanto imaginava, ou então a raiva que sinto de todos nesse momento está clareando minha mente o suficiente para que eu ande sem tropeçar e para que eu fique pensando em qual a melhor forma de colocar Ali contra a parede. Quando a porta do quarto fecha atrás de mim, apesar de ter conversado comigo mesma para não pirar, para manter a calma, a primeira coisa que faço é pegar um vaso de cristal cheio de tulipas vermelhas e arremessa-lo contra a parede. Os cacos de vidro e as flores se espalham pelo quarto, mas ainda assim sinto a rai
Katherine Deito-me entre Boonie e Alicia no cobertor de lã que estendemos na grama do jardim dos fundos da casa de meus tios e puxo outro cobertor por cima de nós, enquanto, cada uma de um lado, elas se aconchegam mais em mim para nos esquentarmos nessa noite fria de inverno. No jardim, em si, não há nada demais, apenas algumas flores e arbustos cuidados por tia Celine e, raramente, por mim, mas esta noite estamos aqui para acompanhar Boonie, que, após o funeral de sua avó, queria desesperadamente ver as estrelas. No início, eu e Ali achamos o pedido estranho, mas não hesitamos em acompanhá-la, pois ela faria o mesmo por nós sem pensar duas vezes. Nosso pensamento era que ela queria ficar sozinha conosco, para poder chorar, se despedaçar e juntar seus pedaços, mas ela não o fez, não chorou, não se lamentou, nem mesmo tocou no assunto
Katherine Fico um longo tempo, bem mais do que o necessário, arrumando minha franja e puxando algumas mechas e fios de cabelo para soltá-los do nó, com a intenção de deixar o penteado mais despojado, mas Eduardo é mais paciente do que eu havia imaginado, pois continua me encarando, com um leve sorriso brincando em seus lábios. - Você teve essa mesma conversa com ela? - Ele ri, mas não desvia o olhar. - Não, não tive, pois conheço os meus irmãos e sei como eles podem ser teimosos. - Ele suspira, parecendo cansado. - Por falar em meus irmãos... - Seu sorriso radiante retorna e ele ergue uma sobrancelha. - E Lorenzo? - Quando o anúncio feito por meu pai ontem a noite volta a minha mente, solto um gemido e cubro o rosto com as mãos. - Será que há alguma forma de... - Eduardo começa a rir, o que me deixa levemente irritada. - Ei. -
Alicia Fico deitada na cama, olhando para o teto do quarto em que estou hospedada no castelo de Ravengarden, tentando distrair minha mente e não pensar nas coisas que disse para Katherine ontem, mas isso é praticamente impossível, pois toda vez que fecho os olhos, seu rosto coberto de lágrimas aparece em minha mente. Sento-me na cama, cobrindo meu rosto com as mãos. Em toda a minha vida, só contei minha história para quatro pessoas, Jaxon, Lorenzo, Eduardo e Antônia, mas desde ontem, desde o segundo em que fechei a porta do quarto de Katherine e fui embora, me pergunto se eu não deveria ter contado para ela, se eu não deveria ter voltado no segundo em que sai e explicado para Kat o motivo de eu ser assim, tão fechada e desconfiada. Estou muito confusa nesse momento, mas eu sei que não queria ter dito o que eu disse, pelo menos não da for
Katherine - Qual é o seu problema? - Já em frente à porta de meu quarto, viro-me para Lorenzo, irritada com a forma como ele se comportou na cozinha. Depois de desafiar Gustavo, como se estivesse marcando território e deixando claro que não gosta dele, Lorenzo me pegou pelo braço e praticamente me arrastou pelo castelo até aqui, sem dar maiores explicações durante todo o percurso. - Gustavo não é de uma boa família, você precisa ficar longe dele. - Ergo uma sobrancelha, perplexa com suas palavras. Gustavo não é de uma boa família? Como isso poderia ser possível? O pai dele faz parte do concelho de meu pai, o rei de Ravengarden, seu irmão é o chefe dos guardas do castelo e sua mãe morreu quando ele ainda era um bebê, então como podem ser pessoas ruins? - Você é um idiota mesmo, sabia? - Ele ergue um
Katherine Embora inicialmente eu tenha sido contra a ideia de Alicia, Gustavo e Eduardode vir até o vilarejo durante a noite, visto que sei que é terminantemente proibido que eu saia do castelo, não importando a hora, acabei concordando com eles, levemente animada com a ideia de voltar ao local que visitei apenas uma vez, em companhia de minha mãe e Antônia. Foi durante uma das viagens de meu pai para caçar, quando eu tinha cinco anos, que elas me trouxeram até aqui e foi um dos dias mais felizes da minha vida, embora eu não lembre em detalhes. Comemos, rimos, brincamos e elas me mostraram como era a vida fora dos muros do castelo. Desde então, desejei ardentemente não ser mais a princesa de Ravengarden, queria ser apenas uma daquelas crianças que corriam felizes pelas ruas empoeiradas. Ao contrário do castelo, todo o vilarejo mudou bastante, de tal forma