Katherine
A viagem de carro foi tão ruim quanto eu imaginei. Por diversas vezes, tentei conversar com Lorenzo, mas ele apenas agia como se eu não estivesse ali, recusando-se a me responder e a sequer me olhar quando chamava por ele. Então, depois de algumas horas tentando, resolvi que dormir seria uma alternativa melhor do que continuar insistindo no assunto.
Não sei ao certo por quanto tempo dormi, mas acordo em um quarto escuro e estranho. Levanto da cama, assustada e ando em direção a uma porta de vidro que fica a um canto do quarto. Ao abri-la, noto que dá para uma ampla sacada com vista para a praia, e então percebo que estou na casa de Eleonora, minha avó, no lugar onde Celine e Celeste foram criadas e viveram durante sua infância.
- Sério Filipe? - Ando pela sacada e apoio meus
LorenzoDepois de Katherine quase se afogar na areia da praia, onde as ondas quebram e tem apenas um palmo de água, eu a trouxe para dentro da casa e a ajudei a se aquecer. Inicialmente, ela pareceu muito quieta, quieta demais levando-se em conta que, desde que a conheci, o que ela mais faz é falar sem parar, mas assim que Kat parou de tremer, desandou a falar sobre as cavernas dos antigos que rodeiam a casa, ou seja, já voltou ao normal. - Não estou entendendo o motivo de você não querer me levar até lá. - Katherine se joga no sofá, fazendo beicinho e parecendo mais uma criança do que nunca. Ela é tão pequena, tão delicada... Não, não vou pensar nisso agora e, de preferência, não vou pensar isso nunca mais. - Já falei, Katherine, não vou
LorenzoPisco, confuso com a repentina luz que castiga meus olhos. Passei tanto tempo dentro de minhas lembranças que o sol agora já está alto no céu, iluminando a praia e banhando a cozinha com uma luz dourada acolhedora e quentinha. Olho para Katherine, que dorme serenamente em meu ombro, e sinto um sorriso se formando em meus lábios. Não tento evitar esse sorriso, não porque eu esteja sozinho no momento e ninguém possa vê-lo, mas porque, ao constatar que de fato a amo, sinto como se estivesse livre para finalmente demonstrar isso. Pego Katherine no colo, delicadamente, com a intenção de levar ela para um dos muitos quartos que tem pela casa, onde ela poderá dormir confortavelmente por algumas horas, mas Kat acorda imediatamente, sobressaltada. - Me larga... - Ela g
KatherineJá fazem horas que estou tentando executar com perfeição a tarefa que minha avó me passou. Quando ela disse que queria que eu controlasse a água do riacho a nossa frente, imaginei que seria fácil, mas, conforme o tempo vai passando, vou percebendo o quão difícil, se não impossível, é controlar águas que nunca foram e nem quererem ser controladas. - Consigo ouvir seus pensamentos daqui, Katherine. - Eleonora, sentada nas grossas raízes de uma árvore que fica nos fundos de nossa casa, com um livro em seu colo, me repreende. - Já falei que praticar magia não é ficar repetindo a teoria em sua mente, é sentir o poder fluindo atrás de você, fluindo de você, e fazendo o que você quer que ele faça. - Ainda sem olhar para mim, ela faz
Katherine- Por que nada aconteceu ainda? - Ouço a voz de Lorenzo, vindo de algum ponto atrás de mim, e congelo. Que merda, não era para ele estar aqui, presenciando meu fracasso de camarote, e sim em cima da casa. - Não estou conseguindo. - Suspiro, frustrada, enquanto fecho os olhos novamente e volto a me concentrar com todas as forças. - Você está pensando demais. - Ele fala, se aproximando de mim tão lentamente que seus passos não produzem nem um som sequer contra o chão coberto de folhas e cascalhos soltos ao lado da casa. - Não estou pensando demais. - Me defendo, começando a ficar irritada com ele. Por que é tão fácil me irritar com Lorenzo Lallybroch? Você está irritada com ele porque, minha que
Lorenzo Uma das coisas mais impressionantes em Lorien, além das ninfas, que são deslumbrantes, e da paisagem, que é mais ou menos aceitável, é a arquitetura que, por mais que permaneça imutável desde que Merlin pisou aqui, centenas de anos atrás, ou talvez mais até, ainda assim é estonteante, de tirar o fôlego. Mas, por algum motivo completamente estanho a mim, o castelo do clã Mocadem, os lobisomens que habitam o norte da ilha, parece mais um mausoléu frio e abandonado do que algo que realmente foi construído em Lorien. Entediado, ando por corredores igualmente decadentes e em ruínas, cobertos de teias de aranha e bolos de poeira e bolor por todos os cantos, me perguntando, sem parar, por qual motivo minha mãe insiste que devemos tentar fazer algum tipo de acordo com o rei desse povo. O povo é s
KatherineMinha avó, Eleonora, era obviamente uma senhora bem excêntrica, fato este que não escapava aos olhos de nem mesmo uma pessoa sequer que já a conheceu, mas eu não tinha noção do quão excêntrica ela era até encontrar essa caverna. Ao que parece, Eleonora era dotada de uma magia muito poderosa, que fluía livremente entre as trevas e a luz, com uma naturalidade quase alarmante, e isso não poderia ser tão claro, tão óbvio de se perceber, quanto ao examinar esse lugar, pois aqui ela com certeza agia livremente e não se importava de esconder o quanto amava as trevas que nela habitavam. Aqui há flores e ervas secas, pós brilhantes, frascos com líquidos de cores alegres, olhos de bichos, frascos com coisas mais do que esquisitas em conserva, ossos
KatherineAssim que o chuveiro atinge uma temperatura que considero adequada, quente, quase pelando, tiro minhas roupas imundas e entro debaixo do jorro de água, soltando um gemido de satisfação assim que ela começa a escorrer pelo meu corpo. A dor nos múltiplos cortes e pequenos arranhões espalhados por todo o meu corpo em nada se compara à deliciosa sensação de esfregar minha pele e ver a sujeira saindo de mim, escorrendo pelo ralo e indo para bem longe. Lavo meus cabelos com um shampoo que encontrei no armário do banheiro. Tem cheiro de rosas, o mesmo cheiro de minha avó. Lembro-me que, até nos seus últimos dias de vida, deitada em um leito branco de hospital, ela ainda tinha esse mesmo cheiro, ainda era minha avó. Depois de condicionar meus cabelos
KatherineSaio correndo do vestiário feminino e atravesso o corredor em direção à porta que leva ao campo de futebol. Estou muito atrasada para o jogo, talvez ele até já esteja próximo do fim, mas ainda assim corro, rezando para que a professora de educação física não tenha sentido, ou percebido, a minha falta. Minhas notas são altas ou altíssimas em todas, ou quase todas, as matérias escolares que estou cursando, o que é uma surpresa, levando em conta que eu tenho sérias dificuldade para entender a professora de química avançada. A excessão às minhas notas perfeitas é a máteria de educação física... Bom, digamos que eu sou muito melhor com uma espada do que correndo longas distânc