capítulo 2| mudanças

__ mãe!__ é a voz do Lorenzo, soando quase tão rouca e grave quanto a do papai. 

__ sim querido, estamos na cozinha, a Bella já chegou.__ anuncia e apoio meus braços sobre a mesa e espero para ver a desculpa do meu irmão. 

Ele aparece primeiro, seguido por Noah e até posso ouvir os suspiros da Estela daqui de onde estou, e finalmente Maria Ísis. 

__ oi linda!__ cumprimenta, tentando me abraçar e reviro os olhos. 

__ por que mentiu dizendo que voltaria pela tarde, sendo que foi buscar a Ísis... nada contra você ir buscá-la, mas porra! Você sabe que eu não costumo dirigir bem.__ alerto e ele suspira, sentando-se ao meu lado. 

__ quando nos falamos eu estava realmente disposto a vir mais tarde, o problema é que aquela marrenta ali, esqueceu a carteira de motorista dela e tia Sara conseguiu me convencer a ir buscá-la, e para não correr o risco de me vingar da facada, pediu que Noah fosse junto.__ comenta como se tudo isso fosse normal, e bom, talvez seja mesmo. 

A única vida que conhecemos é essa. 

__ ok, agora pode vazar, quero abraçar a minha amiga e você está atrapalhando.__ a loira fala e ele pisca para mim, antes de se levantar e ir abraçar a mamãe. 

Me levanto e encaro a garota em minha frente. 

__ você sentiu saudades, admita.__ fala e sorrio. 

__ sempre vou sentir saudades de você marrenta.__ brinco e ela fecha a cara, e antes que se vire eu puxo seu braço e lhe agarro. 

__ se continuar me chamando desse apelido de merda que seu irmão me deu, talvez a próxima facada seja em você.__ ameaça num tom suave e sorrio, ao me afastar dela. 

__ vou fingir que acredito.__ ironizo dando uma piscadela para ver se consigo convencê-la, mas ignoro sua reação porque uma montanha de músculos me abraça e só posso aceitar, me vira de frente e encaro os olhos azuis, e o sorriso que Estela considera um pecado. 

__ eu também quero abraço prima.__ anuncia com a voz grave e suspirei. 

__ senti saudades garoto.__ falo. 

__ eu também, pode me ajudar em uma coisa?__ sussurra em meu ouvido. 

__ se eu puder. 

__ pode sim... tenho a impressão que você é quem tem mais poder aqui, só não se dá conta disso.__ comenta. 

__ Noah! Fale logo. 

__ por favor! Tire Estela do meu pé.__ pede e a expressão de um caçador, mudando para presa assim que minha irmã se aproxima. 

__ oi cara.__ ela fala e ele me fita pedindo ajuda em silêncio. 

Me senti mal por ele, mas a única coisa que fiz foi deixá-los a sós com o restante das pessoas na mesa e segui para o meu antigo quarto, e ao abrir a porta uma enxurrada de memórias me abraçam. 

Memórias que eu deveria esquecer, mas não consigo... durante esses anos, eu tentei esquecê-lo, tentei até me apaixonar por outro, mas não funciona, aquela m*****a frase que diz" o coração tem razões que até a própria razão desconhece" queria entender por que esse sentimento não deixa de me assombrar, sempre volto para aquele dia, e me pego pensando em como teria sido diferente, se o meu pai não fosse quem ele é.

Anos atrás descobri por acaso que ele havia sido levado para o treinamento e desde então ninguém teve mais notícias dele, e nem da sua mãe. 

Suspiro derrotada, e me jogo na cama, olho para a janela do meu quarto que fica no segundo andar de casa, meus olhos fitam o salgueiro-chorão ao lado, e queria que ele estivesse florido, porque agora ele mais parece uma árvore de filme de terror, os galhos batendo na janela deixam-me arrepiada. 

Porra! Odeio essa sensação. 

Ouço uma batida na porta e meus olhos mal acreditam no que estão vendo. 

__ pai!__ falo e me levanto depressa, para abraçá-lo. 

__ principessa, que saudades.__ diz deixando um beijo sobre a minha testa.

__ está tão linda, quase tanto quanto a sua mãe. 

__ eu sei, que nesse seu coração o centro é ela, e nós ficamos ao redor.__ brinco e ele sorri. 

__ me diga que veio para ficar?__ questiona e faço um bico, me sentando no colchão e trazendo ele junto a mim. 

__ eu vou ficar temporariamente, depois eu vou procurar um emprego. 

__ você sabe que não precisa trabalhar até a sua velhice né? 

__ sim, mas eu não quero viver dependendo do senhor ou dos meus irmãos, pai... eu quero ter o meu próprio dinheiro e se a máfia não é um lugar para mim, preciso encontrar outro que me caiba.__ confesso triste e ele acaricia meu rosto. 

__ se dependesse só de mim, você estaria ao meu lado, assim como os seus irmãos, mas a famiglia ainda continua um ambiente machista, me perdoe filha, por alguns anos... eu realmente achei que poderia mudar as leis e poupá-los da merda que é viver sob este fardo. 

__ não se culpe, o senhor conseguiu evitar que o treinamento quebrasse os meninos, e isso é um grande feito. 

__ mas não é o suficiente, para mim era e ainda é importante ter você no lugar que deveria ser seu. 

__ tudo bem, pai, eu já entendi onde fico nessa história, então por favor, quando eu resolver ir embora não me prenda... sabe que eu não suportaria viver trancada novamente, tenho vinte e três anos, sei que me ama e que me quer viva, mas já não suporto mais viver sob custódia da Cosa Nostra, antes de ser capo, o senhor é meu pai.__ falo e seu sorriso vacila, os olhos marejam e quando vejo ele já está me abraçando. 

__ desculpe querida, não sabia que isso tudo te afetava dessa maneira, obrigada por contar, mas eu sou pai, quando for mãe, que é uma coisa que eu desejo que demore muito para acontecer.__ fez uma pausa e mordi os lábios prendendo uma risada que ameaça escapar. __ vai entender como é estar na minha pele, tenho cinco filhos com diferentes perspectivas de vida e só um quer seguir os meus passos, eu não sei se fico feliz ou preocupado.__ confessa, passando a mão nos cabelos grisalhos. 

Ele ainda continua bonito, assim como a mamãe e o restante dos meus tios, a velhice chegou, porém, não perderam o charme. 

Lembro que Estela contou que deixou uma garota com um olho roxo, logo após ela ter comentado que nosso pai seria o sugar daddy dos sonhos de qualquer mulher. 

Por mais que a violência nos ronde, não sou a favor dela, mas bem que a garota mereceu. 

__ eu o entendo, mas não sou a favor de vivermos em modo restrito, como se ainda tivéssemos dez anos de novo. 

__ filha... me entenda. 

__ pai, me prometa... que eu seu quiser voar, o senhor não irá cortar as minhas asas.__ pedi e ele engoliu em seco, e suspirou como se isso fosse a coisa mais difícil que ele já passou. 

__ tutto bene, mas se você sentir qualquer coisa fora do lugar, me ligue e eu não hesitarei em ir defendê-la.__ explica e sorrio, deixando um beijo em seu rosto. 

Existem coisas que nunca mudam, mas porra! Eu preciso que papai cumpra sua promessa. 

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