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Certa vez, eu finalmente decidi enfrentar meus pesadelos. Quando acordei na manhã seguinte ao castigo que o pai dele me colocou, não hesitei em empurrar uma cadeira contra o armário mais alto da cozinha que abrigava as carnes mais suculentas que seriam servidas na festa da noite. Nesta hora, Lena tinha saído com Grant para cortarem lenha enquanto eu fiquei encarregada de rasgar as peles dos animais e separá-las das carnes para assar mais tarde. Para o banquete onde apenas os ricos apreciariam.
Eu estava com tanta fome que meu estômago rugia a cada três minutos, resultado de passar a madrugada e boa parte do dia
✥ · ✥ · ✥ Guerra. A palavra ecoava em minha mente durante os próximos dias sem descanso. Ficava ocupada demais com meus próprios pensamentos para me importar com o fato de que todas as manhãs a mulher que dividia a cela comigo era levada para só ela sabe onde e retornava com novas feridas. Não tão profundas ou violentas como as primeiras, mas com outros conjuntos de cicatrizes. Eu não precisava ouvir um "obrigado" para saber que ela estava agradecida pelo meu esforço em diminuir seu desconforto quando voltava. Os olhares furtivos daqueles olhos vermelhos em minha direção carregavam tanto o agradecimento como curiosidade. Eu sabia o quanto doía ter a pele brutalmente rasgada, a carne profundamente aberta. Sabia como era o desespero de tentar abrandar a dor, mas nada podia ser feito. Deveria apenas deitar e esperar que cicatrizasse. Quando isso não acontec
✥ · ✥ · ✥ ㅡ Eu ainda não consigo acreditar que você ameaçou Dakar. Ergo os olhos de onde estava observando um antigo livro da biblioteca pessoal de Dakar. Eu e Korian viemos até aqui e meio que exigimos nossa entrada ao dono do lugar. Não sabia como Dakar acreditava que poderíamos encontrar o que queria com nenhum recurso naquela prisão. Eu tentei acordar Yura durante a noite para que ela pudesse me dizer qualquer coisa, afinal, fora ela quem me dera as informações mais relevantes que eu pude adquirir. Mas a deixei quieta depois que um dos guardas entregou um balde de água não tão limpa para que eu mesma a banhassse. E quando vi os malditos hematomas em seus quadris e coxas, quase não me segurei o suficiente para me impedir de pular no pesc
✥ · ✥ · ✥ Não sonhei. Parecia ser impossível. Todas as noites, ao retornar da biblioteca, implorava a quem quer que fosse o responsável por liberar nossas lembranças para me permitir sonhar com o homem de olhos azuis. Afinal, se eu realmente conseguisse, daria certo para meus outros desejos. Mas nada acontecia. Minhas noites de sono eram povoadas por pesadelos sem parar, e mesmo que minha mente se tornasse consciente deles e eu quisesse abrir os olhos, não conseguia. Meu corpo paralisava, um frio arrepiante se espalhava por cada membro até que eu estivesse à beira do pânico desesperada para sair daquele sofrimento. Korian parecia não ter ciência destes pesadelos, por mais que possa ler minha mente até quando estou dormindo. Mas n&atil
✥ · ✥ · ✥ ㅡ Como foi esse sonho? Quase dou um pulo de onde estou debruçada sobre a mesa de olho nos símbolos mais uma vez. Korian se aproximou de mim e eu sequer ouvi. ㅡ Eu preciso contar de novo? Já falei que consegui conversar com a bruxa de Amelin. Korian estreita os olhos e cruza os braços, fazendo sua camisa esticar ainda mais sobre o peito. Desvio o olhar rapidamente, mas não antes sem perceber seus olhos queimando meu rosto em busca de qualquer emoção escondida. ㅡ E o que exatamente você disse a ela? Sinto que está escondendo alguma coisa. Porque eu estava. Mas não podia contar a ele o que conversamos no sonho. Mantive qualquer pensamento sobre isso bem longe da minha mente e comecei a imaginar cavalos amarelos pulando cercas enquanto eram pers
✥ · ✥ · ✥ Era dia de compras na casa dos governadores. Lena e eu sempre íamos ao mercado para recolocar o estoque de carne e casacos para os governadores. Normalmente, era minha protetora que fazia todas as compras enquanto eu ficava apenas caminhando entre as lojas em busca de alguns mercadores desatentos que não davam atenção total às suas barracas. Conseguia umas boas frutas e armas com isso. Geralmente Grant nos acompanharia, mas quando ele era requisitado nos treinamentos de Kennai, precisava ficar na mansão. Ele me deu um beijo suave na testa com um pedido para que eu me comportasse. Apenas consegui sorrir. Sem prometer nada. Costumava sempre dizer que a vida era sempre mais emocionante com umas boas aventuras contra as regras. Mas naquele dia em especial eu apenas desejava poder ficar em casa. Chovia horrores lá fora, a tempe
✥ · ✥ · ✥ Os preparativos foram realizados com rapidez surpreendente. Em menos de três dias já estávamos sendo guiados para fora do castelo. Enquanto Korian se mantinha ocupado tentando soltar as algemas, eu constantemente verificava Yura, que tinha sido ordenada a ficar ao lado de Dakar durante toda a viagem. Seu rosto está sempre contorcido em repulsa a cada vez que ele a toca, mas o homem apenas ri e bate em sua bochecha como se ela fosse um animal. A primeira parte da viagem, de cavalo, me faz suspirar. Faz tanto tempo que cavalguei que mal me importo com a companhia. Claro, apreciar a vista seria tão mais fácil se Dakar não tivesse colocado Korian no mesmo cavalo que eu, o peito firmemente pressionado contra
✥ · ✥ · ✥ Viajamos por um dia sem parar. Quando a noite chega, sequer saímos de Drysand. Korian tentou montar um mapa mental para que eu pudesse visualizar o caminho que seguimos, mas é difícil me concentrar em algo diferente além de sua voz grave sussurrando em meu ouvido. Mas pelo que já estudei, não devemos estar longe da fronteira do Reino Lunar. O ar, mesmo poluído por aqui, mudou um pouco durante a tarde. Ficou mais frio. Com mais névoa nos envolvendo. Uma característica marcante de Lunia, sempre envolto em neve. Porém, mesmo sendo chicoteada pelo vento frio durante a noite, não consigo parar de pensar a respeito das coisas
✥ · ✥ · ✥ Saímos de Drysand. O ar mudou consideravelmente quando chegamos perto da fronteira do Reino Lunar, e logo pude perceber onde estávamos. Não paramos, porém, quando vimos uma pequena vila à nossa direita, longe o bastante para me fazer ter certeza de que já pisávamos em solo diferente. A tempestade que nos assolou durante a noite finalmente deu trégua, tornando a cavalgada mais fácil. Não tiro os olhos de Dakar em nenhum momento. Korian parece pensar o mesmo que eu, pois não descola os olhos dele também. Fico atenta a cada movimento, cada passo e cada olhar. Também noto que, desde o momento em que acordamos n