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A risada de Hethan ecoa logo em seguida, e Lena se agarra em meu braço, o rosto uma máscara de pedra. Sinto a mesma fúria emanando em minhas costas, o ódio mortal saindo pelos dedos de Korian. Posso ver as faíscas verdes em seus dedos, o que fazem com que Hethan abra um sorriso animalesco e cruze os braços, obviamente apreciando o show.
Os soldados de Korian estão em posição de ataque, os rostos marcados pela raiva de não terem percebido a armadilha até que já estivessem dentro dela, contidos e desarmados. Todas as pessoas da vila estão com um misto de medo e preocupação. Por mim, percebo. Os olhares estão todos dirigidos à mim e Lena, colada em meu corpo. Só agora percebo que todos aqueles pedidos desesperados dela era apenas uma
✥ · ✥ · ✥ A realidade parece mudar em questões de milésimos. Há apenas um mísero segundo, estava chamando minha magia para fortalecer a barreira que Korian segurava ao nosso redor. O fogo consumia minhas veias, mas de alguma forma não conseguia conjurá-lo por completo. Algo estava me barrando, como um enorme escudo rebatendo meu ataque. E agora... Korian foi atingido. Um grito silencioso escapa da minha boca quando vejo-o cair no chão, o braço atingido inerte ao seu lado. A barreira sumiu, e agora estamos todos cercados de inimigos. Encaro Lena, que parece em choque. Os guardas tentam a todo vapor reerguer as barreiras, principalmente depois que ouviram Korian soltar um gemido doloroso e sofrido. Uma flecha atinge de raspão minha coxa, me fazendo estremecer e rolar par
✥ · ✥ · ✥ㅡ Parece que chegou sua hora, Asterin. ㅡ o imortal sussurra em meu ouvido enquanto me contorço inutilmente no chão. ㅡ Não adianta lutar. Ninguém vai ouvir você.Uma risadinha de escárnio segue suas palavras. A chuva torrencial cai sobre nós como uma facada a cada vez que toca meu corpo. Não sei porque, mas o imortal fica apenas me observando deitada e chorando enquanto suas garras perfuram minha perna esquerda. Trinco os dentes, tentando encontrar qualquer coisa ao redor que possa me ajudar a lutar contra ele.Outro risinho.ㅡ Não há como lutar, querida. Não contra mim. Porque eu... ㅡ estremeço quando ele se inclina e encosta aqueles dentes manchados de vermelho em meu ouvido. ㅡ... vou te provar primeiro.Lágrimas fortes e furiosas se derramam de meus olhos quando ele prende meus braços à terra com sua magia.
✥ · ✥ · ✥ Na mansão dos governadores das terras humanas, a pessoa que eu mais tinha medo era Kennai. Sua imposição sobre mim, o poder de saber onde eu sempre estava, e sua total capacidade de me intimidar com apenas um olhar sempre me assombraram. Certa vez, eu finalmente decidi enfrentar meus pesadelos. Quando acordei na manhã seguinte ao castigo que o pai dele me colocou, não hesitei em empurrar uma cadeira contra o armário mais alto da cozinha que abrigava as carnes mais suculentas que seriam servidas na festa da noite. Nesta hora, Lena tinha saído com Grant para cortarem lenha enquanto eu fiquei encarregada de rasgar as peles dos animais e separá-las das carnes para assar mais tarde. Para o banquete onde apenas os ricos apreciariam. Eu estava com tanta fome que meu estômago rugia a cada três minutos, resultado de passar a madrugada e boa parte do dia
✥ · ✥ · ✥ Guerra. A palavra ecoava em minha mente durante os próximos dias sem descanso. Ficava ocupada demais com meus próprios pensamentos para me importar com o fato de que todas as manhãs a mulher que dividia a cela comigo era levada para só ela sabe onde e retornava com novas feridas. Não tão profundas ou violentas como as primeiras, mas com outros conjuntos de cicatrizes. Eu não precisava ouvir um "obrigado" para saber que ela estava agradecida pelo meu esforço em diminuir seu desconforto quando voltava. Os olhares furtivos daqueles olhos vermelhos em minha direção carregavam tanto o agradecimento como curiosidade. Eu sabia o quanto doía ter a pele brutalmente rasgada, a carne profundamente aberta. Sabia como era o desespero de tentar abrandar a dor, mas nada podia ser feito. Deveria apenas deitar e esperar que cicatrizasse. Quando isso não acontec
✥ · ✥ · ✥ ㅡ Eu ainda não consigo acreditar que você ameaçou Dakar. Ergo os olhos de onde estava observando um antigo livro da biblioteca pessoal de Dakar. Eu e Korian viemos até aqui e meio que exigimos nossa entrada ao dono do lugar. Não sabia como Dakar acreditava que poderíamos encontrar o que queria com nenhum recurso naquela prisão. Eu tentei acordar Yura durante a noite para que ela pudesse me dizer qualquer coisa, afinal, fora ela quem me dera as informações mais relevantes que eu pude adquirir. Mas a deixei quieta depois que um dos guardas entregou um balde de água não tão limpa para que eu mesma a banhassse. E quando vi os malditos hematomas em seus quadris e coxas, quase não me segurei o suficiente para me impedir de pular no pesc
✥ · ✥ · ✥ Não sonhei. Parecia ser impossível. Todas as noites, ao retornar da biblioteca, implorava a quem quer que fosse o responsável por liberar nossas lembranças para me permitir sonhar com o homem de olhos azuis. Afinal, se eu realmente conseguisse, daria certo para meus outros desejos. Mas nada acontecia. Minhas noites de sono eram povoadas por pesadelos sem parar, e mesmo que minha mente se tornasse consciente deles e eu quisesse abrir os olhos, não conseguia. Meu corpo paralisava, um frio arrepiante se espalhava por cada membro até que eu estivesse à beira do pânico desesperada para sair daquele sofrimento. Korian parecia não ter ciência destes pesadelos, por mais que possa ler minha mente até quando estou dormindo. Mas n&atil
✥ · ✥ · ✥ ㅡ Como foi esse sonho? Quase dou um pulo de onde estou debruçada sobre a mesa de olho nos símbolos mais uma vez. Korian se aproximou de mim e eu sequer ouvi. ㅡ Eu preciso contar de novo? Já falei que consegui conversar com a bruxa de Amelin. Korian estreita os olhos e cruza os braços, fazendo sua camisa esticar ainda mais sobre o peito. Desvio o olhar rapidamente, mas não antes sem perceber seus olhos queimando meu rosto em busca de qualquer emoção escondida. ㅡ E o que exatamente você disse a ela? Sinto que está escondendo alguma coisa. Porque eu estava. Mas não podia contar a ele o que conversamos no sonho. Mantive qualquer pensamento sobre isso bem longe da minha mente e comecei a imaginar cavalos amarelos pulando cercas enquanto eram pers
✥ · ✥ · ✥ Era dia de compras na casa dos governadores. Lena e eu sempre íamos ao mercado para recolocar o estoque de carne e casacos para os governadores. Normalmente, era minha protetora que fazia todas as compras enquanto eu ficava apenas caminhando entre as lojas em busca de alguns mercadores desatentos que não davam atenção total às suas barracas. Conseguia umas boas frutas e armas com isso. Geralmente Grant nos acompanharia, mas quando ele era requisitado nos treinamentos de Kennai, precisava ficar na mansão. Ele me deu um beijo suave na testa com um pedido para que eu me comportasse. Apenas consegui sorrir. Sem prometer nada. Costumava sempre dizer que a vida era sempre mais emocionante com umas boas aventuras contra as regras. Mas naquele dia em especial eu apenas desejava poder ficar em casa. Chovia horrores lá fora, a tempe