LunaAs ruas da pequena vila onde cresci estão exatamente como me lembro. Simples, tranquilas, como se o tempo não tivesse avançado. Mas eu mudei. Sinto isso em cada passo que dou em direção à casa dos meus pais. A sensação familiar, que antes me trazia conforto, agora traz um peso no peito. Não é só o contraste entre o mundo que deixei e o novo que agora pertenço. É a incerteza. A ansiedade de como eles vão reagir.Alejandro está ao meu lado, seu toque firme na minha mão me lembra que não estou sozinha, mesmo assim, meu coração acelera. Estou impecável, escolhida a dedo por ele. O vestido azul-marinho envolve minhas curvas de forma elegante, os saltos elevam minha postura, e meus cabelos, soltos, caem em ondas suaves. Pela primeira vez, sinto que a mulher que Alejandro vê está claramente visível, não só para ele, mas para mim também.— Nervosa? — ele pergunta, me tirando do turbilhão de pensamentos.Eu solto uma risada curta, tentando disfarçar.— Um pouco. — Confesso, lançando um ol
Me levanto e me aproximo dela, colocando minha mão sobre a sua. Há uma distância entre nós, que parece maior do que nunca, mas eu sei que ela precisa de mim agora, assim como eu dela. Meu olhar tenta dizer o que as palavras não conseguem, algo como "Eu ainda sou sua filha. Nada mudou realmente."— Eu também não imaginava, mãe — sussurro. — Mas... é isso que eu quero.Ela me olha por um momento, e vejo os muitos sentimentos em seus olhos. Há orgulho, sim, mas também uma dor suave que só as mães conhecem. A dor de ver a filha se afastando para um mundo que ela não pode seguir. Um mundo que, para ela, é tão distante quanto os castelos e promessas de Alejandro.Meu pai, sempre mais prático, pigarreia e se volta para Alejandro.— Você está certo disso, rapaz? — pergunta ele, sua voz grave, mas sem traços de hostilidade. — Minha filha é o bem mais precioso que temos.Alejandro mantém o olhar firme no de meu pai, sem vacilar.— Tenho plena certeza, senhor, — diz ele, com convicção. — Amo sua
LunaO céu sobre a Villa Castillo está de um azul perfeito, sem uma única nuvem, como se o universo conspirasse para que este fosse o dia mais belo de todos. O castelo, imponente, ergue-se contra o horizonte como um cenário tirado de uma pintura renascentista. Jardins impecáveis o cercam, com rosas vermelhas e brancas se espalhando como um tapete de veludo, exalando um perfume suave que se mistura ao ar quente da Andaluzia.Da janela do quarto onde me arrumo, meu coração bate acelerado. Lá fora, os convidados começam a chegar em trajes de gala, vibrando em tons de dourado, azul real e vermelho escarlate. Homens vestem ternos impecáveis, gravatas de seda, e as mulheres desfilam em vestidos longos de seda e tafetá, com saias que dançam ao vento. Parecem personagens de um sonho, materializados na minha frente, tornando o dia ainda mais surreal.Este mundo, tão distante da minha vida nas montanhas, me faz sentir como se estivesse vivendo em outra realidade. Sou uma noiva. E o homem que me
AlejandroA festa no castelo está a todo vapor. Caminho entre os convidados, sentindo algo raro: uma leveza inesperada no peito, uma sensação de paz que há muito tempo não experimentava. As luzes douradas atravessam os vitrais do salão, dançando nas paredes de pedra como se acompanhassem o ritmo da música suave que preenche o ar.Conversas e risadas ecoam pelo grande salão, criando uma harmonia que torna o ambiente acolhedor e festivo. Por tanto tempo, vivi cercado por sombras – responsabilidades, dores e perdas que carreguei como correntes invisíveis. Mas hoje... algo mudou.Movendo-me entre as pessoas, sinto uma paz genuína. Não aquela paz superficial que fingi ter por tanto tempo, mas uma tranquilidade profunda, que me permite estar presente, livre de julgamentos e pesos do passado. Talvez seja porque, finalmente, depois de tantos anos de luta interna, encontro um vislumbre de algo que posso chamar de leveza.Conforme cumprimento velhos amigos da família e conhecidos que se fazem p
LunaAndo de um lado para o outro no quarto, sentindo o coração disparado e o ar preso no peito. O exame de gravidez está sobre a penteadeira, e cada vez que olho para ele, uma avalanche de emoções me atinge com mais força. Positivo. Estou grávida. Meu corpo todo parece vibrar com a intensidade dessa verdade.Sempre soube que Alejandro me amava, e em várias conversas ao longo do tempo, ele deixou claro que queria construir uma vida comigo, uma família. Mas agora, a realidade se impõe. Vou ser mãe. Nós vamos ser pais. E eu preciso contar a ele.Pego o exame, sentindo-o leve nas mãos, mas pesado com o significado que carrega. Cada passo até a sala parece mais longo do que deveria. Alejandro está sentado no sofá, relaxado, com aquele jeito despreocupado de quem sabe exatamente o que está fazendo. Ele está folheando papéis, provavelmente algum negócio da empresa, mas quando levanto o olhar, vejo seus olhos atentos se fixarem em mim.— Luna? — Ele se inclina levemente para a frente, perceb
LunaO sol da manhã invade o janelão suavemente, derramando uma luz dourada pelos cantos do amplo salão do castelo. O aroma de café fresco flutua pelo ar, misturando-se com o cheiro das frutas frescas e dos pães quentinhos que preparávamos. O som de risadas infantis ecoa pelos corredores, e um sorriso se forma em meu rosto ao observar meus dois pequenos correndo pela sala, cheios de energia. Eles são gêmeos, mas tão diferentes um do outro.Nicolas, com seus cabelos escuros e rebeldes, herança clara de Alejandro, é uma explosão de vitalidade, sempre explorando e desafiando o mundo ao seu redor. Sua alegria é contagiante, mas também exige paciência — uma qualidade que estou aprendendo a cultivar mais a cada dia. Ao lado dele está Marina, uma pequena cópia minha, com os cabelos castanhos claros e os olhos grandes e curiosos. Diferente do irmão, ela é tranquila e observadora, como se quisesse absorver o mundo antes de se aventurar por ele. Adora desenhar, frequentemente imitando os gestos
Enquanto conversamos, uma sombra de preocupação cruza meu pensamento. Alejandro e eu temos nos preocupado em não mimá-los demais, mesmo sabendo que nossa vida confortável pode criar um senso de privilégio que os distancie da realidade. Queremos que eles aprendam a lidar com as pressões do mundo exterior, que a riqueza não é sinônimo de facilidade. Contudo, aqui e agora, essa preocupação se dissolve na alegria do momento, envolvendo-nos em uma atmosfera leve e cheia de amor.O mordomo aparece silenciosamente, servindo Alejandro e meus pais com delicadeza. Ele é um homem de meia-idade, com um ar impecável e sempre vestido de maneira formal, a exemplo de um verdadeiro gentleman. Seu nome é Roberto, e sua presença constante em nossa casa é como uma sombra familiar. Ele conhece cada canto e cada rotina, sempre pronto para atender às nossas necessidades. Fora os empregados, estamos cercados de um monte deles. Todos educados, discretos e introspectivos.Agora entendo por que deixei Alejandro
A manhã transcorre com uma leveza única, e a tarde logo se torna um borrão de brincadeiras, momentos em família e risadas que ecoam por cada canto da nossa casa. Conforme o dia se esvai, o calor suave do entardecer envolve o castelo, tingindo as paredes de um laranja dourado. As crianças, finalmente exaustas de tanto correr e brincar, dormem tranquilamente em seus quartos, enquanto o silêncio reconfortante toma conta do lugar.Após colocá-los para dormir, Alejandro me encontra no corredor, onde a luz da lua já começa a invadir pelas janelas. Ele está apoiado na porta, me observando em silêncio, com aquele olhar que sempre me faz sentir como se fosse a única mulher no mundo. Seus olhos brilham com uma intensidade que nunca se apagou desde que nos conhecemos. Mesmo após anos, ele ainda me olha como se cada momento ao meu lado fosse uma descoberta.— Eles finalmente dormiram — comento, com um sorriso de satisfação ao lembrar das travessuras dos gêmeos. — Acho que podemos aproveitar um po