Mia então voltou a si ao escutar o filho chamar por ela. Ofegou. Não se lembrava. Não se lembrava daquilo. Realmente aconteceu como pediu tanto. Implorou. Se esqueceu do que escutou. Se esqueceu de toda aquela cena. Mas havia acontecido. Sentiu que sim. Ali, se lembrando, pode sentir o arrepio que sentiu e a vontade de chorar também. A mesma de quando era criança. Tremia tanto. Mas não era como se estivesse sofrendo como naquele dia. Era como se estivesse revivendo algo que ela não se lembrava que viveu. Doeu. Mas pelo menos viu que o que o pai disse era verdade. Ele havia mesmo aceitado dar o divórcio. Aquilo havia acontecido dias antes de sua mãe morrer. Se lembrava de ter feito aquele mapa quase uma semana antes da morte de sua mãe. Havia sido o último trabalho escolar que fez com ela. Era impossível se esquecer. Mas ainda assim, não se lembrava do que aconteceu depois. Entre eles. A discussão. E então a conversa. O entendimento entre eles. Levou as mãos a bancada e suspirou.
— Finalmente, mãe, eu estou faminto. Mia achou graça. — Mas você disse que perdeu a fome. — Pois ela voltou. O casal riu. — Comam sem pressa. Eu e a mãe de vocês vamos ajudar a pintar o mapa. — De verdade? – Thomas quase gritou. — Sim, sim, meu amor. — Os meus dedos já estavam doendo muito. – Natalie reclamou, olhando para os próprios dedos. — Quando terminarmos, eu vou passar uma pomada, querida. – Diz, vendo que os dedos dela realmente estavam vermelhos. — Eu vou tomar um banho e já desço para ajudar. — E eu vou pegar um pedaço de bolo para mim e para seu pai. Liam pigarreou antes de fitá-la. — De limão, seu chato, não de chocolate. — Ah, claro, me chama mesmo de chato na frente dos nossos filhos. – Provocou, vendo-a corar, e as crianças rirem. – É uma boa forma de educar. — Não chama minha atenção na frente deles, ora. – Estava mais constrangida ainda, principalmente por ele estar se divertindo as suas custas. — A mesada desse mês vai ser maior? O casal fit
Havia um motivo para estar fingindo ler um livro enquanto a noiva colocava os filhos para dormir. E era por estar a espera dela. Havia deixado ela tomar um banho após finalizarem finalmente o trabalho de casa das crianças enquanto ajudava-os com o deles. Não era assim mais tão complicado como antes. E isso desde que Mia entrou na vida deles. Eles já tomavam o banho sozinho, só precisavam que ficassem de olho para que se precisassem dele, estivesse por perto. Quando não a mãe, era o pai, no caso, ele. Aprontou a roupa de um primeiro. Começou por Thomas que era mais enrolado e sempre dava um jeito de fugir do banho da noite. Ele dizia que como tomava banho antes e depois da escola, não era necessário do banho da noite. Ele sempre havia tido um “problema” com banho, o que de certa forma divertia Liam. Crianças. Seu irmão havia contado que com a filha era a mesma coisa. Anna também fugia do banho. E odiava lavar os cabelos. Até os cinco anos, ela ainda tinha pavor de quando a água caía e
DIAS DEPOIS — Mia, eu não queria entrar em detalhes sobre... a sua ex-madrasta... A rosada chega sentiu um arrepio ao escutar aquelas últimas palavras. Primeiro porque odiava sequer pensar naquela mulher e segundo que sentiu algo na voz de Finn que não a agradou nenhum pouco. Ele sabia de seus sentimos para com a mulher. Sabia que não gostava de falar nela. E se estava começando o assunto mencionando aquela mulher, era porque era sério. — Mas eu soube que ela tem um filho. — Sim, Elliot. — E ele por acaso tem algum irmão? — Não que eu saiba. — Bem... – Pigarreou. – Ele tem. Um irmão gêmeo. — O que? – Arregalou os olhos. — Dois, na verdade. Liam e Mia trocaram um olhar; ela, completamente surpresa e ele um tanto confuso. O que tinha demais naquilo, apesar de surpreendente não via naquilo um problema tão sério assim. — Sua madrasta teve trigêmeos quando tinha uns quinze anos. Ela decidiu entregar eles ao orfanato e cada um foi criado por uma família. Elliot, pela famí
Mia não conseguia parar de pensar em quem poderia lhe fazer mal. Mesmo que não tivesse se resolvido com seu pai — e ela diz sobre as suas pendências —, ainda assim jamais pensaria nele. E agora que sabe sobre seu arrependimento e como ele se sente com tudo que ele fez com sua mãe, era mais um motivo para jamais colocar ele como culpado. Não ele. Mas sua madrasta... Tentou não pensar nela. Tentou não desconfiar dela. Mas ela tinha motivos. Pensando em tudo que escutou de seu pai, ela poderia ser uma suspeita. Seu pai nunca a amou, se casou apenas porque ela estava grávida e após anos juntos, ele a deixou. E ela poderia muito bem culpar a filha do homem que ela tinha uma obsessão por isso. Mesmo assim, mesmo que tivesse suas desconfianças e mesmo que tivesse todo o motivo para colocar ela como suspeita, ainda assim achou melhor não dizer uma palavra para o noivo. Ou para Finn. Tentaria descobrir por si mesma o que aquela mulher estaria fazendo agora que estava divorciada. Não acreditav
SEMANAS DEPOIS Mia sabia que aquilo era uma loucura. Sair sozinha não era a melhor forma de se proteger de seja quem for que estivesse querendo seu mal, mas ela não conseguiu simplesmente ficar em casa e esperar quando havia recebido a notícia de que sua irmãzinha havia nascido. Elliot havia ligado. Ele quem havia dado a notícia. E era agradecida. Havia sido um pedido dela para ele e Simon. Que assim que Elizabet nascesse, que eles contassem a ela. Tudo bem que ela ainda estava lidando com novos irmãos — ainda que não tivessem o mesmo sangue — e com aquele novo Archie, mas aquela menina era um recomeço para os O’Grady e também era um sonho se realizando; o sonho dela de ter uma irmãzinha. Não se lembrava quantas vezes havia dito à mãe que queria uma irmã, alguém para lhe fazer companhia, mas também para ela cuidar. Quem diria que um dia ela pensaria em ver o pai novamente sem nem ao menos pensar em tudo que a fez passar. É claro que ela ainda se lembrava do que ele fez, mas isso nã
— Vem vê-la de perto. Olhou para Elliot, que tinha um sorriso. E novamente, um sorriso familiar. Mas o que é que estava acontecendo com ela? Não era um sorriso parecido com a mãe dele — se é que podia chamar aquilo de mãe —, mas um que ela conhecia bem. O que estava acontecendo afinal? Por que sempre que o via — o que não era muito — sentia aquela estranheza no estômago? Mesmo assim, sorriu meio fraco, e se aproximou. — Ela é linda. E realmente era. A pequena tinha muito cabelo. Por demais. Em tons de loiro. Também, pudera, a mãe dela também era loira. Tinha os olhos idênticos de seu pai. E consequentemente o dela, a irmã. Tinha um nariz pequenininho, mas os olhos grandões. E estava desperta. E cheia de curiosidade. O olhar dela demonstrava que enquanto ela olhava para todos, ela devia se perguntar “quem eram essas pessoas?” — Se parece um pouco com você, Mia. Sentiu algo em seu peito. Será? Seu pai estaria certo? Isso queria dizer que ele ainda se lembrava de quando ela era pe
— Parabéns pela Elizabet. Ela é linda. – Sorriu. – E obrigada por me deixar... vir vê-la. E pegá-la no colo. — Você é a irmã mais velha dela. — Vai sempre vai poder vê-la, Mia. – Archie completou. — Não moramos assim tão longe. Duas horas apenas de carro. – Simon sorriu. – Quando quiser visitar, é só chegar. — Eu preciso ir. – Diz, se aproximando para entregar a irmã ao pai. Não soube exatamente o motivo de querer chegar mais perto dele, algo que ele evitou talvez para não querer chateá-la. – Estão me esperando. — Está dirigindo? — Sim, o meu noivo tinha algo importante no trabalho. Archie balançou a cabeça, compreendendo, antes de pegar a filha dos braços de sua outra filha, podendo tocá-la por um momento. Era a primeira vez em anos. Um toque suave. Um roçar de dedos em seu braço esquerdo. — Vai com cuidado. — Pode deixar. – Lhe sorriu, desviando os olhos para a acamada. – Eu te desejo uma ótima recuperação. — Obrigada. — Eu a acompanho até o carro. – Elliot diz, ou