Capítulo 1: Fly to the moon

" I'm beautiful in my way

'cause god makes no mistakes

I'm on the right track baby

I was born this way"

Lady Gaga - Born This Way

Capítulo 1: Fly to the moon

O despertador toca e eu como em todos os dias da minha vida, pulo da cama e vou direto para o chuveiro, a água está fria como em todas as outras manhãs. Termino meu banho rapidamente e ainda enrolada na toalha volto para o meu quarto, vou até o armário e pego um vestido azul marinho e um casaquinho laranja, uma combinação perfeita. Escolho entre os 54 pares de sapato, uma missão quase impossível, o meu novo Jimmy Choo, uma sandália em um preto reluzente com algumas penas azuis e muitas pedrinhas brilhantes. O salto de 15 cm, sou muito baixinha para usar um 10 ou 12, tenho 1,64 de altura, usar um salto pequeno simbolizaria um pecado ainda maior para pessoas da revista, já bastava ser gorda e baixinha no meio das esqueléticas e assustadoramente altas garotas da redação. Me arrumo rapidamente, hoje resolvi usar o cabelo trançado, o coloco para o lado e solto algumas mechas na frente do meu rosto, passo o rímel, um pouco de batom rosa da MAC e estou pronta. Pego meu kit de sobrevivência nerd, o iPhone, meu Ipad e o MacBook, a empresa havia fechado uma parceria com a Apple, então todos os funcionários agora ostentavam os mais recentes produtos da grande maçã. Pego minha bolsa Chanel e meus óculos Prada, já estou na porta quando lembro da chave do carro, volto correndo para pegá-la.

Quando chego a garagem, meu pequeno e chamativo Fiat 500 Cabrio, está me esperando com sua pintura vermelha.

O carro foi um presente de Jeremiah Embry, meu chefe e segundo pai. Tio Jemi como o chamo, é o dono da Empire Embry, que está entre os maiores conglomerados de comunicação do mundo e uma das poucas empresas que nessa era digital conseguiu manter suas vendas e um número estável de anunciantes mensais. A nossa revista impressa é a única que manteve suas vendas em alta enquanto outras caíram com a chegada das revistas digitais. Esse sucesso se deve a influência da Empire Embry Magazine sobre a moda mundial. Se você deseja ser alguém, basta sair na EE. Até as outras grandes revistas giram em torno da EE. O mundo da moda, das celebridades e até mesmo das finanças, se concentam na revista. Jemi construiu um império em tempos de crise.

O trânsito de NY está como todo os dias, engarrafado e lento. Antes de ir para o trabalho, passo em uma cafeteria e compro donuts para Jemi e Pfeiffer e claro, para mim.

Volto para o trânsito e em vinte minutos chego a empresa. São oito da manhã e sei que nem metade dos funcionários está no prédio, nosso expediente começa às nove. Passo pelos seguranças do prédio e logo estou subindo para o último andar do Madeleine Hill. O prédio recebeu o nome da falecida esposa do Jeremiah, uma homenagem imponente, o prédio tem 45 andares a idade que a esposa morreu, ele por fora é totalmente espelhado, a falecida adorava espelhos. O interior é todo em granito branco com a decoração em uma infinidade de tons de azul, as cores favoritas dela. O elevador apita parando no quadragésimo quinto andar, as portas se abrem e eu saio com um grande sorriso no rosto.

— Bom dia Pfeiffer.— Sorrio para a recepcionista que e minha melhor amiga e irmã. Pfei tem brilhantes cabelos castanhos claros e olhos em um tom esverdeado de castanho e assim como eu, com excesso de gostosura para caber em um 38.— O Jemi já chegou?

— Bom dia Mol.— Me responde com um grande sorriso.— Ele foi o primeiro a chegar como sempre, quando eu cheguei os seguranças me avisaram que ele já estava aqui.

— Sempre pontual.— Falo entregando um dos sacos que eu segurava para ela, nem preciso dizer o que é.

Deixo minha amiga se afundar nos Donuts enquanto vou para a ante sala do escritório de Jemi e coloco minha bolsa e meu kit sobre a mesa, segurando uma caixa com rosquinha de diversos sabores, entro no escritório com um grande sorriso.

— Bom dia tio Jemi.— Digo caminhando até a mesa e colocando a caixa sobre ela, sinto o cheiro de café vindo da máquina no canto da sala.— Tio Jemi? — O chamo olhando para porta entreaberta do banheiro do escritório, o que é muito estranho. — Jemi? Você está aí? — Pergunto dando um passo à frente.

— Você deveria parar de se preocupar comigo mocinha.— Me assusto com a voz grave de Jemi que vem de algum lugar atrás de mim.

— Pare de reclamar tio Jemi, eu sei que adora que alguém pegue no seu pé.— Falo me virando para olhá-lo.

 Jeremiah está impecável como sempre. Vestido em um terno de três peças marinho, brilhantes sapatos Oxford preto e uma gravata verde escura. seus cabelos brancos estão penteados para trás, deixando seu olhos mais proeminentes, eles são de um azul límpido.

— Trouxe Donuts de vários sabores hoje, estão maravilhosos.

— Sabia que traria, tudo para agradar esse velho cansado.— Diz com um sorriso bobo pegando duas xícaras e as enchendo com café.— Esse velho apenas fez o café para você.

— Isso já é uma grande coisa tio, imagine quantas pessoas sonham ter a honra de beber um café feito por Jeremiah Embry, bilionário dono do maior grupo editorial do mundo? — Sorrio para Jemi abrindo a caixa de Donuts.

— Não sou tão importante assim, qualquer um coloca uma cápsula em uma cafeteira.— Ele me entregando uma xícara antes de ir para trás de sua mesa e se sentar.— Quando eu era um menino pobre em uma fazenda no Alabama. Eu bebia café feito no coador de pano, o que na verdade era uma velha meia de seda da minha mãe, hoje temos essas máquinas de expresso que fazem todo tipo de café maluco que vocês jovens bebem.

— Sente falta daquela época Jemi?— Pergunto antes de tomar um gole da bebida quente.

— Não, quando eu me lembro de coisas ruins que passei em "Bama", eu agradeço essas máquinas de expresso.— Responde Jeremiah rindo.— Mas quando sinto falta do café na meia, eu vou até a casa da sua avó e ela faz um café à moda antiga para mim.

— Olha isso, vou falar para vovó que você vai na casa dela apenas pelo café.— Sorrio pegando uma rosquinha de creme, são minha favoritas.

— Menina fofoqueira, sua vó já sabe.— Jemi fala em tom risonho.— Agora devemos parar de papo furado e discutirmos nossa agenda de hoje. Aquela festa que haviam marcado, será realizada hoje?

— Nem me lembre dessa festa, eles poderiam ter marcado em outra data, mas os organizadores não quiseram.— Digo bebendo mais um gole.

—Porque eles fariam isso?— Me questiona Jemi pegando sua primeira rosquinha de canela, Jemi era viciado nelas.

— O senhor sabe, hoje é aniversário da tia Made , eu sei que gosta de ficar sozinho quando Connor não vem te visitar— Digo com a voz um tom mais baixo.

— Tenho que mudar alguns hábitos minha menina, vai ser bom balançar o esqueleto um pouco.— Jemi sorri mexendo os ombros.

— Balançar o esqueleto ? Tio hoje se diz curtir uma festa ou apenas dançar. — Digo fingindo indignação.— Que ninguém te ouça falar balançar o esqueleto, vão dizer que você está ultrapassado.

— Sorte que tenho minha Audrey para me alertar sobre isso.— Olho para Jemi de cara feia, ele sabe que não suporto que me chame por meu primeiro nome, mas logo caímos na risada.

Jemi e Jack são as únicas pessoas intimas que me chamam de Audrey. Todos os meu amigos me chama de Molly, por ser menos formal. Os dois dizem quem meu primeiro nome é lindo e merece ser usado.

— Já estava me esquecendo, onde o senhor estava quando eu cheguei?— Pergunto de forma distraída, fingindo que não estou curiosa pela resposta.

— Fui falar com Abraham sobre alguns contratos.— Diz mordendo sua rosquinha, eu sei que ele está me escondendo algo, mas prefiro não perguntar.

***

Estou em uma reunião quando uma mensagem de Pfeiffer chega.

Pfei_Dallas: Vc tem que ver o novo advogado da empresa. ♡.♡ , acho que estou amando.

Molly_Albany: Vc disse isso dos três últimos que chegaram, duvido que seja assim tão lindo.

Pfei_Dallas: Em breve vc vai ver, indo na sua direção.

Olho para porta quase que automaticamente depois de ler a mensagem, e posso dizer que dessa vez Pfeiffer estava certa. Alto, moreno, com cabelos castanhos meio dourados e olhos cor de mogno brilhante, um deus grego no alto de sua glória entra na sala. Ele ostenta um sorriso tímido que faria qualquer uma cair aos seus pés, ele se desculpa com todos e se apresenta com uma voz grave.

— Eu sou Daniel Fox, o novo advogado da empresa, peço desculpas pelo atraso.— Ele faz uma pausa e passa a língua sobre os lábios, tento engolir uma respiração, mas de um modo bizarro, acabo engasgando.

— Audrey você está bem?.— Questiona Jemi me olhando preocupado enquanto eu começo a tossir.

— Estou sim.— Respondo tossindo.— Minha garganta que ficou seca demais de repente.— Digo tentando me acalmar.

— Aqui, beba vai te ajudar.— Diz Daniel que agora está ao meu lado me oferecendo um copo de água. O fato dele ter chegado tão rápido com a água me espanta.

— Obrigada.— Falo pegando o copo e tomando um longo gole, evito olhar em volta para não ver os olhares sobre mim.

— Meu Jovem escolha um lugar e sente-se.— Jemi olha Daniel de cara feia.— Molly podemos continuar?

— Claro.— Falo sentindo meu rosto arder, levanto o olhar e vejo que Daniel me observa. Pare de sonhar Molly, ele não é para você.

— Como estávamos dizendo, a Empire está tendo um crescimento nas vendas enquanto nossas concorrentes têm tido uma queda considerável.—Jemi se dirige a todos pegando um papel onde mostra o percentual de vendas, separo outra folha onde está a estimativa e entrego a ele.— Se mantivermos as vendas no mesmo ritmo, teremos 40 % de lucro acima do previsto...

Logo me desligo do que Jemi fala e me foco em Daniel, seus olhos, seus lábios, tudo nele me chama a atenção. Sinto o meu celular vibrar, mas o ignoro. Estou encarando Daniel quando ele vira o olhar para mim e sorri, retibuo o sorriso e dirijo minha atenção a Jemi, que está me observando de cara feia, depois terei que resolver isso com ele.Tento me focar na reunião, mas o rapaz não sai da minha mente.

***

— Pfei Ele ficou me olhando e eu o encarava e sorria, você tinha que ver o Jemi de cara feia.— Digo saindo do banheiro da sala de Cherry.— Eu estava vendo o momento do Jemi brigar comigo, Cherry você já viu ele assim?

— Audrey você já deveria saber que Jemi já tem planos para você, ele planeja algo grande, certamente um dos advogados da empresa não está no nível que ele espera.— Adverte Cherry Peppers a editora chefe da revista, minha melhor amiga e estilista particular, além de ser como uma mãe super protetora que sempre está no meu pé.— Agora esqueça o bonitão e foque aqui, o que achou do vestido?

Obedeço a ordem dela e me olho no espelho, fico sem ar por alguns segundos, o vestido é um sonho, todo em renda azul, com bordados pretos na cintura e alças caídas nos ombros, o vestido vai até os meus pés, me sinto envolta em uma nuvem de renda.

— Cherry você se superou!.— Falo animada.— É lindo demais.

—O melhor para a minha Molly. — Fala Cherry sorrindo.— Não fique brava com Jemi, ele idealiza em você, o que ele não pode idealizar em Connor, ele só quer o seu bem.

— Eu sei Cherry, tenho Jemi como um pai.— Falo me virando para olhar Cherry.— Bom agora eu tenho que ir ou vou me atrasar.— Falo voltando para o banheiro, tiro o vestido e coloco dentro da sacola, coloco minha roupa e saio correndo do banheiro, pego minha bolsa e vou para o elevador.

***

Paro o carro em frente ao gigantesco prédio onde Jemi mora no novo e reluzente 432 Park Avenue, o mais novo e luxuoso edifício residencial de New York, eu disse que ele é o maior prédio residencial da América?, Ou o fato dele ter sete quartos? Ou apenas as janelas que estão por todo lado fornecendo uma vista incrível.

Saio do carro e ando até a portaria do edifício, o porteiro libera minha entrada sem pestanejar e logo estou subindo para a cobertura de Jemi , Quando o elevador para no andar e as portas se abrem a voz de Frank Sinatra cantando Fly me to the moon me recebe como um velho amigo, entro no apartamento olhando em volta, o lugar é bem decorado em tons de branco e azul, Jemi está no lugar a menos de quatro meses, mais o apartamento já tem a cara dele. Vejo Jemi em frente à janela olhando a cidade literalmente aos seus pés, fico olhando a forma de Jeremiah contra o brilho das luzes, seu cabelo branco parece brilhar contra a luz que sobe da cidade, ele parece o dono do mundo, no topo de tudo e todos.

—Audrey você pretende ficar aí parada me olhando até quando? —Questiona Jemi, posso sentir o sorriso em sua voz, isso me deixa feliz.

—Estava pensando em como o senhor parece o dono de toda a cidade desse jeito.— Digo andando até onde Jemi está, paro ao lado dele olhando a vista da cidade. — Acho que escolheu essa música de propósito, aqui em cima o senhor já está a um passo da lua.

— Mas não perto o bastante. — Diz ainda olhando pela janela. — Estou tão perto, mas tão longe da lua.

—Você está muito bravo comigo? — Pergunto virando minha atenção para Jemi.

— Não, apenas não quero que se distraia com coisas que não deve. — Fala me olhando. — Audrey, você tem um futuro brilhante, um dia quando eu me juntar a minha amada, você ficará no meu lugar, eu quero que você esteja acima de coisas banais como romances com advogados recém-formados, você nunca será uma rainha se casando com um vassalo. Uma rainha se casa com um rei. — Jemi fica em silêncio por alguns instantes e eu estudo suas feições enquanto ele parece pensar. — Já tenho um filho que se perdeu em banalidades, um filho que eu não sei se posso confiar, você é minha última esperança.

Fico em silêncio por um instante tentando entender as palavras de Jemi, " Você ficará no meu lugar", “Você é minha última esperança”. Jemi deve está velho demais ou delirando para achar isso.

— Jemi você tem Connor, ele ficará no seu lugar, ele é o seu filho e mesmo levando a vida que ele leva, apenas ele pode manter a revista e as empresas. — Falo o encarando.

— Connor não quer nada disso, ele não liga para nada além de viver como um louco em uma vida de luxúria e exageros. — Jemi fala com certo desgosto na voz. — Às vezes acho que meu filho não ligaria se eu morresse hoje.

— Não diga isso nem brincando Jemi, Connor ama você, só precisa de um tempo para ele. — Falo colocando a mão no ombro de Jemi. — Vamos esquecer isso, temos uma festa para ir.— Jemi ri e me oferece o braço, o aceito e vamos em direção ao elevador, Jemi toca em um painel na parede que apaga as luzes do apartamento e silencia o som, entramos no elevador e sinto um arrepio me subir pela espinha, como se fosse a última vem que fosse ver aquele lugar ou algo do tipo. Quando chegamos ao térreo informam que a limusine de Jemi já nos espera na frente do prédio, saímos para rua e vamos direto para o carro. Se eu soubesse que aquela não seria a última noite que eu veria o prédio, mas sim Jemi, eu nunca teria  o deixado ficar em seu apartamento sozinho após a festa.

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