— Lila… — sua voz veio mais baixa, como se escolhesse as palavras com cuidado. — Você sabe que eu preciso construir um shopping ali, certo? Eu soltei uma risada curta, sem humor. — Precisa? — Cruzei os braços. — O que você precisa é de um pouco de humanidade. Não pode simplesmente destruir negócios locais para enfiar mais uma monstruosidade de concreto. Ele franziu o cenho, mas, ao invés de retrucar imediatamente, estudou meu rosto. Seus olhos eram intensos, e por um momento, senti que ele estava tentando entender algo sobre mim. Algo que eu mesma talvez não soubesse explicar. Antes que ele pudesse responder, ouvimos um barulho leve atrás de nós. Minha avó estava de pé novamente, vagando pela casa como se procurasse algo, os dedos passando pelos móveis de forma distraída. Mas ambos ignoramos enquanto ela vagueia pelas estantes resmungando algo sobre um livro. — Monstruosidade? — Ele franziu o cenho. — Si

O silêncio que ficou depois que Ethan saiu foi  doloroso. Eu não queria admitir, mas era verdade.Passei a mão pelos cabelos, soltando um suspiro irritado.— Idiota arrogante… — murmurei para mim mesma.Mas, por algum motivo, as palavras soaram vazias.Suspirei de novo e me virei para a pia. Talvez lavar a louça me ajudasse a esquecer tudo isso. Mas, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ouvi passos lentos vindo do corredor.— O George já foi embora?Eu me virei e encontrei minha avó parada ali, segurando um livro velho e empoeirado.Franzi a testa.— Vó? O que é isso?Ela sorriu de leve, estendendo o objeto para mim.— Achei que poderia devolver isso a ele.Minha confusão só aumentou.— Devolver isso? — peguei o livro das mãos dela com cuidado. — Para o Ethan?— Para o George — ela corrigiu.Meu peito apertou.— Vó… o George… ele não…Mas eu parei no meio da frase.Tentar explicar que Ethan não era o George Wh

Peguei a caneca e a levei aos lábios, mas fiz uma careta no segundo seguinte. O café estava frio e amargo. Soltei um suspiro e o coloquei de volta na mesa, sentindo um peso estranho no peito. Quanto tempo fiquei aqui sentada, encarando esse maldito livro? Meus dedos deslizaram pela capa desgastada, traçando as letras com cuidado, como se o simples toque pudesse me trazer respostas. Mas nada fazia sentido. E, de alguma forma, não era só o livro que me incomodava. Era ele. Ethan Whitmore. Arrogante. Convencido. Um idiota completo. Eu sabia o tipo dele. Homens como ele estavam acostumados a ter tudo o que queriam, sempre. Eles davam ordens, jogavam dinheiro na mesa e o mundo simplesmente obedecia. Então por que eu não conseguia simplesmente esquecê-lo? Meu corpo ficou tenso quando percebi o que isso significava.<

O sol da tarde já começava a descer no horizonte, tingindo o céu com tons quentes de laranja e dourado. A rua estava relativamente calma, poucos carros passando ao longe, e o som distante de conversas casuais e passos apressados preenchia o silêncio entre um momento e outro. Mas nada disso realmente importava.Porque minha atenção ainda estava voltada para a porta de vidro atrás de mim.Eu deveria simplesmente ir embora. Entrar no carro, seguir com o que quer que fosse minha agenda do dia. Era o que eu deveria fazer.Mas fiquei ali.Meu reflexo no vidro estava distorcido, alongado pelo ângulo da luz do sol, mas meus olhos eram nítidos. E, pela primeira vez em muito tempo, havia algo ali que eu não reconhecia completamente.Eu sentia algo borbulhando sob a superfície.Algo primitivo.Algo que fazia meu sangue correr mais quente, que fazia minha mandíbula se travar e meus músculos se enrijecerem.Uma parte de mim queria entrar naquela loja de novo.

Assenti lentamente.— Sim.— Tipo… como um eremita?Deixei escapar um pequeno sorriso de canto.— Algo assim.A confusão nos olhos deles ainda era evidente, então continuei:— É o ciclo natural para um alfa. Depois de passar tanto tempo rodeado de humanos, chega uma hora em que o chamado instintivo fica mais forte. Não é uma questão de querer ou não. O corpo pede isso. A mente pede isso.Harris ainda parecia meio incrédulo.— E… ele nunca mais vai voltar?Victor soltou um pequeno suspiro.— Alguns voltam. Mas, na maioria dos casos, não.Ryan finalmente falou, sua voz ponderada:— Então ele está lá vivendo apenas como um lobo agora?— Exatamente — respondi.Um silêncio pesado caiu dentro do carro.Pela primeira vez, me permiti pensar nisso de forma real.Meu pai agora estava vivendo da forma mais livre possível.Sem reuniões. Sem preocupações com a empresa. Sem precisar lidar com negociações exaustivas ou com os jogo

O celular ainda estava colado ao meu ouvido quando meus olhos se fixaram na figura sobre a moto. Meu estômago deu um nó apertado quando reconheci aquela Harley super exclusiva, uma raridade que só um idiota arrogante e inconsequente teria a audácia de pilotar no meio da cidade como se fosse uma extensão do próprio corpo.— Você é realmente um desgraçado … — rosnei entre dentes, desligando o celular.Meu sangue fervia. Não era só raiva. Era o susto, o choque, a adrenalina que ainda corria nas minhas veias depois daquela manobra estúpida.Victor e os outros seguranças se moveram em sincronia comigo, saindo do carro no mesmo instante que eu. Ryan, que ainda segurava o volante, lançou um olhar duro na direção da moto, como se pudesse fulminá-la.Mas Alec não parecia nem um pouco preocupado.O desgraçado tirou o capacete com calma, como se não tivesse acabado de quase causar um acidente no meio da rua, e bagunçou os cabelos escuros com os dedos. Seu sorriso insolente

Eu massageei as têmporas.Por que eu ainda não atirei nesse idiota?— De Colin?Alec assentiu.Meu corpo inteiro tensionou.— Colin? Você quase causou um acidente para me passar um recado do Colin?— Exatamente.Soltei um riso seco e passei a mão pelo rosto, tentando conter o impulso de estrangulá-lo.— E por que você simplesmente não continuou a ligação como uma pessoa normal?Alec apenas deu de ombros, puxando as luvas de couro como se aquilo fosse óbvio.— Porque eu não sou normal.— Filho da… — fechei os olhos por um segundo, respirando fundo.Alec cruzou os braços e me lançou um olhar debochado.— Não é porque temos mães diferentes que você pode me chamar de filho da puta, irmãozinho.Meu sangue ferveu ainda mais.— Cale a boca, Alec.— Opa, alguém está irritado. — Ele assobiou, fingindo surpresa. — Eu devia ter filmado sua cara quando quase bati minha moto em seu carro. Aposto que você estava a um segundo de ter u

A alameda se estendia à nossa frente, iluminada pelas luzes suaves embutidas no chão. O carro deslizava  de forma suave pelo caminho, e pela janela, eu podia ver as silhuetas dos seguranças posicionados entre as árvores, quase invisíveis na escuridão. Colin nunca foi descuidado, mas aquilo era um exagero.Antes mesmo de Alec abrir a boca, já sabia o que ele ia dizer.— Ah, ótimo. A segurança aumentou de novo — resmungou, se recostando no assento e cruzando os braços.Revirei os olhos.— Como se isso fosse uma surpresa.— Isso aqui tá parecendo uma base militar.— Porque é, seu idiota.Alec bufou e chutou de leve o encosto do banco da frente, onde um dos seguranças estava sentado. O homem sequer reagiu, acostumado às infantilidades do meu irmão.— Sério, Ethan, ele precisa relaxar. Isso aqui tá começando a parecer um filme de conspiração.Não resisti e dei uma cotovelada nele.— Para de reclamar e se comporta.Alec fez uma careta, massagean

— Ele não tem trinta anos. Você sabe disso. Nós vivemos mais tempo que os humanos, mas a aparência não envelhece da mesma forma. Ele pode muito bem ter cinquenta ou sessenta e ainda parecer jovem.Alec revirou os olhos, impaciente.— Se ele parece ter trinta, ele tem trinta.— Isso não faz o menor sentido.— E daí? É assim que funciona na minha cabeça, e sinceramente, Ethan, você se preocupa demais com detalhes inúteis.Fuzilei Alec com um olhar e, sem pensar duas vezes, agarrei o colarinho dele e o empurrei contra a parede do corredor.— Se você falar alguma merda, eu te jogo pela janela.O sorriso de Alec foi instantâneo, o brilho travesso nos olhos mostrando que ele claramente estava se divertindo às minhas custas.— Relaxe, Ethan. Sou um modelo de discrição.Suspirei fundo e o soltei, balançando a cabeça.— Vamos logo.Os guardas nos seguiram de perto enquanto continuávamos andando pelo longo corredor que levava à sala de reuniões. Mes

Eu senti minha pulsação acelerar.Alec foi o primeiro a reagir. Ele se recostou na cadeira, cruzando os braços com aparente desinteresse, mas eu percebi a tensão sutil em sua mandíbula.— Certo… e por que isso soa como um grande problema? Quero dizer, os caçadores sempre estiveram atrás de nós, isso não é novidade.Colin desviou o olhar para ele, os olhos frios.— Porque não estamos falando de um caçador qualquer — ele retrucou, a voz firme como pedra. — Estamos falando de Rowan. O líder deles.Minha garganta secou.O nome soava como uma maldição.Eu sabia quem ele era. Todos nós sabíamos.Rowan não era apenas um caçador. Ele era um assassino implacável, um estrategista brilhante e, pior, alguém que nutria um ódio profundo por nossa espécie. Diziam que ele nasceu para erradicar os lobisomens da face da Terra, e até agora, ele estava fazendo um ótimo trabalho.Cassia desviou o olhar, mordendo o lábio inferior, algo raro nela. Liam, sempre contido,