Ao entrar na sala de Pedro senti um frio percorrer meu corpo, ele não me adiantou do que se tratava, mas para ser me chamado, com certeza boa coisa não era, ele geralmente ia até minha sala me ver, mas agora provavelmente o assunto era sério.Dou uma batidinha na porta e abro, ele me pede para entrar mas ainda está com os olhos fixos na tela de seu notebook, vou a passos rápidos, ansiosa para saber o porque daquela reunião, me ajeito na cadeira e percebo que estou praticamente prendendo a respiração, tem um alarme soando em minha cabeça "conte a ele" "conte a ele Nicole".- Nic, sabe o último contrato que enviou ontem?- Sim, para Alice?- ExatoFixo o olhos nos seus, ele está sério mas seu rosto é sereno, sei que ele precisa ser meu chefe, mas seu coração não deixa que ele passe por cima do amor que sente por mim, não interessa a causa.- Pedro você tá me matando de angústia, fala logoEle suspira, seus ombros caem, ele está absolutamente cansado.- Pois bem, Alice acabou de me ligar

Nicole está completamente pálida, eu entendo, ela não entende onde o erro aconteceu, está murcha na cadeira, apoiando o rosto nas mãos em completo silêncio, pensando.Por um breve momento até cogitamos que outra pessoa poderia ter se passado por nós e enviado um contrato falso, mas quando verificamos o e-mail da Nicole, vimos que o arquivo era o mesmo, ou seja, foi realmente ela que enviou.Erros acontecem, tenho ciencia disso, não espero que meus funcionários sejam perfeitos, mas Nic está muito abalada, não sabe nem o que dizer.Tive que cancelar minha reunião com Rodrigo, o responsável pelos transportes, ia falar com ele logo em seguida para ver o que aconteceu com o erro das notas, mas no estado que Nicole está, não tem a menor condição de eu simplesmente a dispensar de volta para o trabalho, sua confiança em seu trabalho foi abalada, com o tempo ela vai entender que isso acontece e vai criar mais resistência, mas esse foi seu primeiro problema aqui dentro, ela precisa digerir.Qua

Eu finalmente contei tudo para Pedro, sobre a ameaça de seu pai, sobre aquele carro estranho na frente da nossa casa e como aquelas peças poderiam se encaixar nos problemas que vinhamos enfrentando, eu realmente deveria ter contado antes, mas quis tanto acreditar que era um blefe, que Antônio não prejudicaria seu próprio filho e nem o lugar pelo qual ele também trabalhou e ajudou a construir, mas eu obviamente estava errada e o subestimei, agora estávamos pagando.A postura de Pedro era de exaustão, como se ele já não tivesse que resolver os problemas causados, agora teria que ter atenção dobrada sobre tudo que acontecia ali na fazenda enquanto tentávamos entender como aquelas peças se encaixavam, provavelmente Antônio não fez aquilo sozinho, ou seja, tinha alguém de dentro o ajudando, com tudo que estava acontecendo e ainda teriamos que nos preocupar com um traidor dentro da fazenda, isso era realmente demais.- Eu sinto muito - digo em um sussuro - devia ter dito antesA cabeça de P

Quando Rodrigo entrou em minha sala, um arrepio me percorreu a coluna, ele sempre foi um funcionário exemplar, e, apesar da sua reação estranha no dia que estávamos fazendo a entrega da Dona Nonna, ele nunca teve problemas por aqui, por isso eu quis muito acreditar que ele não estava envolvido em nada do que meu pai estava aprontando por aqui, mas quando ele entrou, pálido, seu rosto não negava sua culpa no cartório, ele pode até tentar disfarçar, mas não há como fugir dessa situação, ele se entregou sem dizer uma palavra sequer. Tento pensar rápidamente em minhas opções, não sei dizer se ele continua trabalhando com meu pai ou se foi uma situação isolada, eu poderia começar dizendo que já sei de tudo, não dar margem para que ele tente negar, mas penso que se for com muita sede ao pote ele pode se fechar e não dizer mais nada, e aqui a situação é a seguinte: eu quero que ele fale, que diga tudo que sabe, preciso estar um passo a frente dessa vez. Então coloco uma estratégia em jogo,

- Preciso que saiba Sr. Pedro, eu nunca tive a intenção de prejudicar o senhor, nem a fazenda, o senhor sabe, esse lugar é minha casa também - Rodrigo continuaSuspiro profundamente, aquilo poderia ter se resolvido de tantas outras formas, não precisariamos chegar onde estamos.- Você também fez uma escolha ao se aliar ao meu pai Rodrigo, você poderia ter me procurado, contado o que estava acontecendo, eu teria ajudado, sabe disso, meu pai te cobrou um favor, mas você poderia ter dito não, ou até mesmo dito sim para ele mas me informado, teriamos resolvido tudo isso- Seu Pedro - vejo em seu rosto nada mais do que vergonha pelas escolhas que fez - eu entendo, fui burro, eu realmente poderia ter agido de forma melhor, entendo que o senhor não tem mais confiança em mim, não o culpo- Por que não me procurou Rodrigo?A pergunta o pega de surpresa, ele estava dando a conversa como encerrada, mas eu quero entender, quero saber o que acontece dentro da minha empresa, se meus empregados acha

Quando Pedro me conta com detalhes sobre sua conversa com Rodrigo, não posso deixar de sentir tristeza pela forma como Antônio usa as pessoas sem se importar com o estrago que faz na vida delas, esse homem podia ter perdido o trabalho, seu sustento, seu filho poderia ter sido prejudicado, e tudo isso apenas para mostrar que ele pode, que ele tem poder.Mesmo assim, ainda consigo sentir um quentinho no coração por saber que não há somente distância e sim um abismo entre Pedro e seu pai, ele fez questão de manter Rodrigo na equipe, de dar a ele uma chance de mostrar ser confiável e não se prejudicar por ter sido colocado no meio de uma guerra que sequer é dele.Depois de conversarmos Pedro decidiu por fim deixar sua mãe a par da situação, explicar para ela as coisas que estavam acontecendo e os cuidados que teríamos que tomar, para isso ele pediu que ela fosse até a fazenda para conversarmos juntos, depois do expediente e ela, claro, se preocupou ao ver Pedro a chamando para uma reunião

Depois de conferir os documentos e reenviar os e-mails, sinto um alívio imeditado, agora sim estava tudo certo e sem problemas a serem resolvidos, vejo o relógio e logo Pedro estará de volta, a essa altura se ele ainda não chegou na casa de sua mãe, está quase. Aproveito o intervalo para ir até o banheiro, me alivio, lavo as mãos e jogo uma água no rosto, mirando meu reflexo no espelho.Vejo algumas olheiras e um semblante cansado, mas agora tudo estava se alinhando novamente, tudo voltaria ao normal e seguiriamos nossa vida sem a sombra de Antônio.Estou fazendo o caminho de volta até minha sala quando escuto um barulho vir de dentro dela, imediatamente penso ser Pedro então continuo o caminho até lá, grande erro, paro na porta sentindo uma sensação estranha, quase como se meu corpo avisasse que tinha alguma coisa errada ali, bato a mão nos bolsos, mas só confirmo que deixei meu celular dentro da sala, merda.Ouço novamente um barulho vindo de dentro da minha sala, mas dessa vez, não

Ao chegar na casa de minha mãe, verifico todo o quarteirão, não tem mais carro nenhum parado por ali, quem quer que fosse, foi embora, ela entra no carro mais tranquila por estar acompanhada e por ver que o carro estranho não se encontra mais por ali.- Cade a Nicole filho?- Ficou na fazenda mãe, ela tinha um assunto para resolver, esta nos esperando lá- Mas ela ficou lá sozinha Pedro?! - Ela me olha preocupada- Mãe, tudo bem, já estamos voltando, não vai acontecer nada - Mas Pedro... O carro não está mais aqui, e se quem estava aqui foi pra lá e a menina está lá sozinhaO pensamento me traz uma sensação de náusea, nem me passou pela cabeça que quem estava aqui pode ter ido para lá e eu deixei Nicole lá sozinha, se algo acontecece com ela eu seria o culpado.- Já estamos voltando pra lá mãe, vai ficar tudo bem a senhora vai ver - dou um beijo casto na mão de minha mãe e seguimos pelo caminho.Ela não estava nada confortável em saber que Nicole estava sozinha na fazenda, então fiz

- Eu acho incrível a sua capacidade de atacar só aquelas pessoas que você sabe que não vão revidar pai, assim fica muito fácil não acha? - Entro na sala com sangue nos olhos.Nicole está encolhina na cadeira, tremula, visivelmente com medo, sua sala está destruida, porta retratos quebrados, quadros arrancados da parede, suas coisas todas jogadas no chão, a sala que fiz com tanto carinho para ela, e que ela abraçou como seu lar, cuidou e decorou colocando sua essência em cada detalhe dela, e Antônio, como sempre, deixava um rastro de destruição.- Ora, já era hora de se juntar a nós filhoAndo pela sala com o queixo erguido, não sou eu que tenho que ter vergonha, e com certeza, não sou eu que tenho que ter medo.- Sabe, eu fico curioso, o que pensou que ia conseguir com tudo isso? Todas as armações, todas as confusões, achou que não iriamos descobrir? Achou que não iriamos lutar?- Você devia me agradecer Pedro! Sempre se achou tão bom, tão pronto, sempre achou que tudo que eu fazia nã