Escrevemos para papai, um mensageiro levou as cartas, se não houver imprevistos, certamente chegará em três semanas. Avisamos sobre minha estadia aqui em Molavid, contei sobre todo o apoio de Hector e como estou bem instalada. Sei que papai irá surtar ao saber que irei lutar numa guerra de verdade, mas saber o propósito maior que eu tenho em honrar a memória do meu irmão talvez amenize sua dor. Os treinos são bem puxados, três vezes ao dia. E confesso que estou aprimorado minhas habilidades. Já se passaram mais de um mês que estou em Molavid, tenho me dedicado bastante e superado os limites do meu próprio corpo. Breve deve chegar a resposta das cartas que o mensageiro levou a papai. Estou muito ansiosa por notícias de todos. Desejo saber se tenho um sobrinho ou sobrinha, Catherine certamente deu a luz. Os dias aqui correm depressa, talvez porque finalmente faço o que gosto, ao invés de passar horas me dedicando as notas eruditas, ou aprendendo novos pontos de bordados, passo a mai

Quando a carta de papai chegou, não me contive em alegria, me derramei em lágrimas ali mesmo, na frente de todos. Não somente por saudades de minha família, mas por saber que todos estão me apoiando, sim, na carta que recebi, papai, está me dando sua benção, ele diz que sempre acreditou em mim mesmo que não tenha demonstrado, entregou em minhas mãos a missão de fazer justiça pela vida de Bernard. Então me senti completamente preparada para o que vou enfrentar daqui duas semanas. Recebi a notícia de que Eduard e Catherine tiveram o Benjamin, e que meu sobrinho está crescendo forte e saudável. Mas não pude negar o quanto fiquei decepcionada ao saber que o meu casamento ainda irá acontecer, então papai pede que eu me cuide e volte, mas que preciso estar ciente de que preciso cumprir o meu papel quando retornar.Saber que minha família me apoia de alguma forma me deu mais força. Estava guardando pela resposta da carta, há tempos. Agora me sinto em paz. A guerra acabou me fortalecendo, pa

HelenaDesde que vi Sarah entrando na tenda de James, me sinto furiosa comigo mesma por me permitir ficar inquieta assim. Como pude me sentir tão afetada a ponto de beijar meu melhor amigo? Isso é uma loucura. Estou ciente dos sentimentos de Melin por mim, ele provou isso quando retribuiu aquele beijo e ainda ficou entristecido ao afirmar que eu amo James. Respiro fundo me sentando na cama.Eu não posso brincar com os sentimentos de Melin, seria injusto, quando a guerra terminar, estarei de volta a Village e me casarei com Alexandre, meu destino já está traçado, não há espaço para outro homem entrar em minha vida.Novamente me agito. Ouço uma criada bater à porta comunicando-me sobre o jantar.Quando desço, estão todos à mesa, como habitualmente, se levantam fazendo uma mesura, Hector, alguns soldados conhecidos e… Sarah Harley também está á mesa, ela parece um tanto feliz, nem ao menos disfarça. Percebo a ausência de James, fico aliviada, não desejo vê-lo. Entretanto, logo ele surg

HelenaA senhora Diácomo era tão simpática quanto eu imaginava. Recebeu a todos nós com muita alegria, mas ao ver o Capitão James Winston, toda a família de Melin ficou extasiada com sua presença. O senhor Diácomo não parava de encher sua caneca de vinho, e realmente não exageraram quando disseram que era o melhor vinho da região. A família Diácomo tem uma pequena vinícola que produz seu próprio vinho, aliás a casa deles está localizada bem ao centro das plantações, confesso que o lugar é delicioso.James é o centro das atenções, no entanto seus olhos estão sobre mim o tempo todo, ele me vigia como se eu fosse uma criança de dez anos, principalmente quando estou perto de Melin, notei que ele não se sentiu nada satisfeito quando Senhora Diácomo se expressou ao dizer que adoraria me ter em sua família, James logo se apressou em dizer que eu estava noiva. Não sei o que deu nele, as vezes sinto que ele está enciumado. Mas não pode ser, James não sente nada por mim, começo a pensar que se

Helena Olho para James assustada, é inevitável que eu não sinta temor com a possibilidade de sermos vistos assim, nessa situação comprometedora.A voz de um homem completamente bêbado e cantarolando soa bem perto de nós.— Shshsh — James toca meus lábios com sua mão impedindo que eu emita qualquer som. Sua pele sobre minha boca ainda me faz desejar entregar todo meu corpo a ele.Nossos corpos estão colados um ao outro e aquele calor ainda inflama de paixão entre nós. Ele me olha como se fosse me devorar e eu coro tentando conter um sorriso nada discreto.Obedeço.dicanso silêncio.James ainda observa ao redor e confere de onde está vindo o barulho, se vira para mim e solta meus lábios devagar, depois ergue a mão me convidando a segurar a sua. Me aproximo e entrelaço meus dedos nos seus enquanto me segura firme puxando para que possamos sair dali.— Vem!James me arrasta por outro caminho, ainda por entre os frutos, seguindo passos largos e na sequência estamos correndo. O vento bate e

Helena Estive por um tempo sozinha, refletindo acerca de tudo, remoendo dentro de mim os momentos íntimos que tive com Capitão.Melin surgiu de repente no lagar pouco depois, ficou surpreso em me ver ali sozinha e no estado em que me encontrava. Ele não me fez perguntas, embora notasse que o casaco de James estava sobre mim. Se comportou como um grande amigo, me permitiu deitar em seus ombros e simplesmente chorar. Depois que a chuva cessou me levou para sua casa, preparou uma deliciosa caneca de chá, e ainda me fez companhia contando várias histórias engraçadas a fim de tentar me animar. Aos poucos todos haviam ido embora, então montei em meu cavalo e parti, rejeitando seu pedido de me acompanhar.Durante o jantar, todos comentavam sobre a festança dos Diáconos. James parecia distante, porém sempre me observava por cima da mesa discretamente, vejo que será muito difícil ter qualquer tipo de relacionamento com ele, principalmente de amizade.Não devolvi seu casaco, por algum motivo i

Helena — James? Falo e ele no entanto não me responde de imediato, permanece bem ali, parado no mesmo lugar. Por algum motivo, sinto meu corpo estremecer numa mistura de nervosismo e ansiedade.— Você perdeu o juízo de vez, Helena?— sua voz sai rouca e rígida.Dou um passo à frente me aproximando.— Qual é o seu problema, James? Sempre soube o motivo que me fez embarcar naquele navio. E quando tenho a oportunidade perfeita age desta forma. Quase tentou me impedir!— minhas últimas palavras saem de forma indignada.— Oportunidade perfeita? Perfeita para quê, para morrer nas mãos daquele bárbaro? Você não sabe nada sobre ele, Arthur pode ser um monstro quando deseja, não imagina o risco que você está correndo!— Eu não sou uma mocinha indefesa, James! — grito exaltada. — Você sabe que tenho minhas habilidades e fui bem treinada.Mesmo assim ele continua inconformado, seus olhos estão cheios de ira e James não seleciona bem suas palavras.— Eu não estou de acordo com esse plano ridículo

26 - MágoasHelenaJames está evitando me olhar, e desta vez é diferente, antes ele me observava discretamente como se não conseguisse ficar sem esse contato. Agora ele me ignora de todas as formas, é frio em todo o tempo, até voltou a me chamar de "Senhorita" quando precisa ordenar algo até quando estamos a sós. Sua indiferença está me deixando perturbada. Mas talvez seja melhor assim, ele torna as coisas mais fáceis pra mim Amanhã à tarde embarcamos para Nirom, será uma viagem longa. Está tudo preparado, e uma caravana nos levará. Sou tomada por uma grande ansiedade, são tantas emoções juntas. Em momentos como esse sinto falta de minha cunhada Catherine ela sempre sabe o que dizer para me aquietar. Porém sinto que estou sozinha e que minha única companhia é o meu desejo de vingança. Já é noite, enquanto escovo meus cabelos para me deitar ouço o som de coisas sendo derrubadas ao lado de fora. Coloco a escova na penteadeira e e saio devagar a fim de descobrir o que está acontecendo.

Helena Dou muitas voltas em meu cavalo a fim de colocar os pensamentos em ordem por sobre as batidas frenéticas de meu coração, mas não consigo. Me sinto atormentada, com tudo o que está acontecendo e temo que toda esta angústia jamais cesse.O dia passa lentamente e de forma torturante. Não vi mais James depois da minha invasão em seu quarto, tenho o evitado, sinto um temor somente em me imaginar estar próxima dele. As palavras que me dissera na noite anterior enquanto estava de porre, amaldiçoando o dia em que nos conhecemos, e depois enquanto dormia, desejando que eu vá embora, ainda me angustiam. E sei que fui eu quem criei este abismo entre nós, agora devo sofrer as consequências já que não estive disposta a abrir mão do meu propósito, de minha vingança.Respiro fundo enquanto sigo até o pátio principal retornando, todos estão se organizando para a viagem. Hector surge e nos deixa as últimas orientações, quando já estamos de partida, de repente o Capitão surge fazendo meu corpo

Helena A noite cai juntamente com uma grande tempestade, raios e trovões cortam os céu sem nenhuma estrela se quer a brilhar na imensidão negra. Está frio, felizmente havíamos conseguido montar o acampamento temporário há tempo.Minha tenda é bastante pequena para dividir com a senhorita Harley, ela não está muito satisfeita, talvez por esse motivo, ainda não tenha voltado, saiu para refrescar a mente, bem antes da chuva. Melin havia me dito algo sobre o desaparecimento de Magnus também, e chegamos a conclusão de que ambos devessem estar juntos. Aqueles dois deveriam se acertar, é nítido que sentem algo um pelo outro, ou talvez seja apenas um desejo de minha parte para que finalmente, Harley deixe o capitão em paz. Arfo em meio aos meus pensamentos.Me viro na tentativa de descansar, e tentar esquecer pelo menos por um maldito instante, de James, mas é inútil, as lembranças sobre o nosso diálogo me consome todo tempo. Observo o teto baixo da tenda de couro erguida por um mastro de ma