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1 - Uma taça de vinho, Meu querido diário?

Localização: Colúmbia, Carolina do Sul, Estados Unidos

Emmeline...

                     

        Adentrei em minha casa com um ar de indisposição como sempre tive, desde que acordava todo dia ás cinco da manhã para estar as seis e meia em meu trabalho. Ser secretária não era nem um pouco fácil, organizava documentos, horários da agenda do meu chefe, fazia redações de textos profissionais especializados, inclusive em idioma estrangeiro, preparava uma interpretação e sintetização de textos e documentos, fazia taquigrafia de ditados, discursos, conferências, palestras de explanações, criava a versão e tradução em idioma estrangeiro, para atender às necessidades de comunicação da empresa onde trabalhava e além de tudo ajudava novatos com algo que tinham dúvidas. Era algo exaustivo. E todo dia, como agora, fazia meu ritual. Tirava meus sapatos de salto cone preto de Ramarim verniz, largando-os no chão. Jogava minha bolsa azul-marinho de mão no sofá de tom vinho detalhados com bordados branco. E dali começava a desabotoar meu Blazer azul, que caia harmoniosamente com a saia da mesma cor que ia até meus joelhos, deixando-o livre e seguia para a blusa branca social por baixo, ficando somente visível meu sutiã de renda preta.

–Que dia... que dia... –Falei para mim mesma enquanto ia atrás da minha garrafa de vinho na adega e uma taça no armário da cozinha. Vi meu gato passar sua pelagem dourada devagar entre minhas pernas e me olhar como se dissesse “Bem-vinda!”. E respondi: –Obrigado, Senhor Waffle!

         Ele rapidamente sumiu pela a casa. E quando tirei a rolha e derramei o líquido vermelho na taça fiquei alguns minutos observando tudo. A cozinha de cor branca com roxo escuro, organizada e limpa, porém vazia. Peguei a taça com minha mão esquerda e com a direita a garrafa do vinho indo para a sala. Arrumada. Uma televisão não tão cara de LCD, sofás, uma poltrona vazia, uma lareira e fotos... Fotos minhas com meu ex-marido. Tomei um gole bom do vinho na taça. Ainda não me atrevi a retirar aquelas imagens que mostravam o quanto fomos felizes ou era tudo fachada?! Não sei dizer. Quando o conheci, eu era uma mulher boba que como uma adolescente sonhava com seu príncipe encantado e tudo mais.

         Ah, como nos enganamos com o amor. Somos inocentes até ver como depois do amor pode vim à decepção. O que seria em si o amor verdadeiro que eu lia nos livros de romance? E quem seria a pessoa certa para isso? Era algo que não sabia dar a resposta. Fui até a minha mesinha perto da janela onde estava meu telefone, coloquei a garrafa do lado e apertei o botão da secretária eletrônica. E me distanciei pegando o vinho e colocando no chão ao me dispojar no sofá.

–“Você tem 5 mensagens novas!” –Falou a secretária eletrônica.

–“Emme, sou eu a Martha! Queria te perguntar se está afim de sair hoje comigo e as meninas! O Albert não vai! Vamos mulher, vai ser divertido! Espero retorno, beijos!” –Tomei mais um gole de vinho, olhei o relógio da parede em cima da lareira e marcava já umas dez horas, até parece que eu ia, mesmo o Albert não indo. Não era mais chegada nessas farras como eu era antigamente. A segunda mensagem chegou e falando no demônio eis que ele aparece.

– “Pequena Emme, que tal sairmos hoje? É por minha conta, espero respostas!” –Argh. Albert me dava arrepios, se achava o gostosão. De sarado não tinha nada, só estufava o peito para parecer o tal e usava cabelos bagunçados como os adolescentes. O que era motivo de piada com as meninas e até com os homens de lá. Para a idade de quarenta anos ainda estava em forma, mas definitivamente não era meu tipo mesmo ele sendo alto. E eu tinha uma queda por homens altos. Mas mesmo assim... Não era meu tipo. Fiz uma careta de desagrado ao tomar o último gole do vinho, só de pensar em dar uma chance a ele. Levantei-me para pegar mais vinho e outra mensagem veio.

– “Emmeli, sou eu o Kyle...” –Quando ouvi aquela voz, paralisei de imediato, arregalando meus olhos. –“...Estou ligando para perguntar se você está bem ou precisa de algo? Se quiser...” –Ele deu uma pausa, pareceu pensar ao mesmo tempo em que soltava um bom suspiro. –“... sabe, se quiser conversar só me ligar! Sei que... Não foi algo fácil nosso divorcio! Fique bem, até!”

        Eu realmente... Kyle, não era tão fácil de lidar. Estava tão frio comigo, que não tive outra alternativa anão ser chegarmos nisso. Ele por assim dizer, não reclamou ou questionou. Simplesmente me olhou surpreso, lembro de suas reações. Estava lendo um livro em nossa cama, afundado em sua leitura quando sentei-me do seu lado e olhando para a frente disse: “Quero divorcio!”. Foi as únicas palavras que disse de primeira e ele levantou seu olhar e me olhou surpreso ao tirar seus óculos de lente média e quadrada de seu rosto, por vários minutos. E completei o olhando “Não está dando mais certo entre a gente e...”, não me deixou terminar a frase e aceitou. Aceitou a derrota sem lutar. Calmamente e sério.

        Quando ele saiu da cama, e foi dormir no sofá da sala, eu esbravejei, queria ver ele dizer algo, me questionar, reclamar e lutar... por nosso amor. Não ouvi nada até o dia do divorcio, a não ser “Fique bem, Emmeli!”, e fiquei sem reação ao vê-lo parti no seu carro. Fique bem... Acho que não. Tomei um gole grande do vinho, que não descia mais ardendo e sim como se fosse água. E queria mais, sempre mais... Beber tudo, pra ver se o álcool iria tirar essa dor profunda que sentia. Essa dor que me consumia feito chamas. Meu coração doía, falta de ar... Estava apertando meu peito. Senti uma lágrima escorrer dos meus olhos. E percebi que a secretária eletrônica tinha passado para outra mensagem, contudo, em si não tinha ninguém falando. Estava mudo. Completamente mudo. Um silencio infernal. Que já estava me deixando receosa.

–Pro inferno... –Cuspi. Só podia ser um engraçadinho me ligando. Já recebi vários dessas mensagens desse tipo. Só podiam estar-me sacaniando, devia ser algum infeliz sem nada o que fazer da vida para ficar brincando de ligar para as pessoas e ficar em silencio por minutos. A mensagem acabou e passou para outra, me levantei do sofá e fui em direção ao telefone.

–“Emmeline...” –Quando ouvi aquela voz grossa e sedutora chamar por meu nome ao mesmo tempo que se ouvia sua respiração embargada como um suspiro. Que mais parecia o som de ondas do mar indo e vindo levando mais grãos de areias ou trazendo, me arrepiei toda. Paralisei. Barriga mais congelada que tudo, parecia que queria golfar algo. Senti em minha mente e coração que já ouvirá essa voz. Não estava louca. A taça que estava em minha mão estava estilhaçada no chão junto com o vinho, tudo esparramado. A mensagem acabou só nisso, não tinha mais. Nem se quer algum assunto, a não ser aquela voz masculina me chamando daquele jeito. Olhei para os cacos de vidros. Meu reflexo até que vi algo preto passar rápido ou era minha imaginação?! Até que ouvir meu gato rosnar e virei-me rapidamente. Ele estava perto da cozinha, com seus pelos dourados com manchas brancas e amarelas completamente eriçados, parecia um tigre misturado com a juba de um leão.

–Senhor Waffle, o que houve? –Perguntei ao mesmo, que rosnava ferozmente para a cozinha. Corri até a lareira e peguei um dos ferros que estava lá e me armei, fui na direção dele. Senhor Waffle só fazia isso quando tinha alguém estranho no recinto, adotei ele só fazia cinco meses e foi depois que me divorciei. Odiava ficar sozinha nessa casa grande, então fui atrás da minha companhia que foi amor a primeira vista. Mesmo sendo um gato um pouco mais velho, quatro anos de idade, se acostumou muito bem aqui em pouco tempo. Dei cada passo devagar e quando ia descer o ferro em qualquer que fosse que tivesse ali, vi que não tinha nada. Abaixei a arma em si e coloquei a mão na cintura. Dizendo para mim mesma que tinha me preocupado atoa, às vezes os gatos fazem isso. É algo normal, dei um riso ao vê-lo sair correndo atrás de algo.

        Fui até o armário de limpeza, peguei uma pá de lixo e uma vassoura e tratei de limpar a sujeira que fiz lá na sala. Ainda bem que não foi em cima do tapete e si no chão de madeira, entretanto até o chão o vinho pode manchar se eu não for ágil. Varri os cacos e embalei bem numa sacola e separei num canto da cozinha para jogar fora quando eu puder. Balde, pano, água e desinfetante. Me agachei, sentando em cima de minhas pernas enquanto começava a limpeza e estranhamente me sentia alheia. Um frio em minha nuca parecia que alguém me observava. Virei várias vezes, mas não tinha nada além dos barulhos do meu gato pela a casa.

–Emmeli, você está começando a ficar louca de vez! –Comentei comigo mesma dando um riso depois.

        Terminei e guardei tudo. E coloquei um pouco de ração para o Senhor Waffle para assim ficar sossegada quando ir para meu quarto, meu filho, era isso que me tornei. Uma mãe de gato, mas uma mãe orgulhosa, ele era meu guardião, meu companheiro e meu dengo. O único ser que ficava perto de mim e me dava boas vindas quando chegava do trabalho cansada. Senhor Waffle era tudo para mim nesse momento difícil. Olhei para ele comendo a ração no potinho roxo com seu nome e sorri. Assim que terminou, levantou a cabeça e miou como se dissesse “Quero carinho mamãe!” e lá fui eu dar o merecido cafuné no meu bichano, meu tigre fofo que ronronava de felicidade.

       Logo em seguida fui tomar um bom banho quente, me deliciar com aquela água morna que lavava não só meu corpo, como minha alma. Não demorei muito lá, pois ainda tinha mais uma coisa a fazer antes de dormir. Saí do banho com o cabelo mal seco pelo secador, e vestindo um pijama curto. Peguei a garrafa de vinho que tinha deixado na mesinha do quarto. Realmente, tinha trazido comigo depois que fui para o meu quarto, não poderia esquecer meu outro companheiro.

–Humm... Onde coloquei ele! –Disse enquanto colocava a garrafa em cima da escrivaninha branca. E comecei a fuçar as pastas em cima e as gavetas. –Achei! –Falei ao pegar o pequeno caderno de capa de couro preto e enrolado numa fita roxa.

        Coloquei-o em cima da mesa e fiquei o observando por alguns minutos. Realmente, eu adorava escrever alguns textos na adolescência e ler bastante livros, ler até hoje, entretanto escrever hoje em dia era um martírio para mim. Eu que só tinha tempo para papeladas do escritório. A psicóloga me receitou. Sim, passei por uma psicóloga depois do meu divorcio, foi meu chefe que me obrigou. Era aquela ética de bem estar dos funcionários e toda essa merda toda, duvido que o senhor Sanders se preocupe de verdade conosco, ele tinha somente em convicção o bem estar de sua empresa e só.

        Fiz somente um mês lá e o resto das sessões mandei ao inferno. Da última vez que fui, ela receitou que escrevesse. No caso, tivesse um diário onde contaria como foi meu dia e me sentisse sobre. Bem, pelo menos escrever no diário não me faria voltar ao seu consultório toda semana e falasse meus problemas e sentimentos a uma estranha, e falando a verdade que era bem mais barato. Mesmo tendo desconto, as consultas dela eram bem salgadas. E preferi em gastar em mimos com meu bichano.

–Vamos lá! –Respirei fundo ao enrolar os cabelos com as mãos, e os joguei para trás. Puxei a cadeira á minha frente e me sentei, liguei a luminária dali. Desenrolei a fita e o abri. Mandei fazer o caderno do meu jeito. Quatrocentas folhas. Para que durasse um ano ou mais um pouco. Já tive escrevendo bastante coisas nesses meses, todo dia algo mesmo se fosse alguma coisa sem importância devia ser escrito.

        Peguei a caneta da caneca do meu lado e folheei até chegar numa folha branca. Peguei a garrafa de vinho do meu lado e dei uma boa golada, colocando-a de volta. Tirei a tampa da caneta e comecei:

       “Querido diário hoje foi um dia cansativo, acordei cedo com o despertador fazendo seu cotidiano barulho de sempre. Senhor Waffle foi o primeiro a me dar bom dia, subiu em cima da cama para que eu fizesse um carinho. Não queria ter ido trabalhar, mas quem vai pagar minhas contas se eu não for?!

        Tive o mesmo sonho, estava cega nele. Não conseguia ver nada, era uma escuridão sufocante. Porém, eu escutava a mesma voz me chamando. E cada vez mais que a escutava perto de mim, ficava cada vez mais fraca como se... se fosse desmaiar e aquele fosse meu fim de vez. No entanto, eu queria sentir e ver quem era essa pessoa, dentro de mim necessitava isso. Eu não estava calada eu gritava pela a voz, questionava quem era e o que queria, apesar disso era em vão. Era um sonho que não dei muita importância e sem sentido.

        Bem, assim que terminei de tomar o café da manhã e alimentar meu gato, segui para meu trabalho. Foi algo como todos os dias. Arruma documentos ali e aqui, ajudar as colegas, os novatos e as notas e receber cantadas fulas de Albert. Aquele cara não se manca que não quero nada com ele, e continua investindo mesmo eu dizendo um NÃO, bem grande e ainda vem dizer que adora esse meu jeito difícil de ser. E que um dia ainda vamos sair num encontro. Até parece que vou aceitar. Apesar dessa parte chata, o almoço com as meninas foi maravilhoso. Conversamos e colocamos a fofoca em dia. Elas são maravilhosas, e em si não tem rivalidade entre a gente, pois é uma ajudando a outra. Companheirismo acima de tudo.

        Cheguei em casa como sempre. E novamente aquela ligação estranha, queria saber quem é esse homem que me liga. Já tentei várias vezes saber, no entanto o número em si não dar para rastrear e nem fica salvo. Ah ao inferno com isso, não ligo. Mas as vezes sinto alguém me vigiando, é algo desconfortante. Talvez seja algo de minha imaginação ou da bebedeira. Acho que estou ficando bêbeda ou algo do tipo. Não ligo. Acho melhor ir dormir, pelo menos amanhã é minha folga. Uma taça de vinho, meu querido diário?! Bem acho que só na garrafa mesmo... *Risos*”

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