VII
O homem na caixa
(Man in the box - Alice in chains)
Sentamos na areia da praia para saborear o que ela tinha preparado.
Eu já tinha trocado de roupa, estava de calça jeans, botas e apenas o colete dos White Wolves. Julia reparava no colete. Ou no que havia dentro do colete. Acendi outro cigarro.
— O que trouxe?
— Gostou tanto da salada que fiz uma outra, uma salada Húngara.
— Húngara? Como é isso?
— Ela tem repolho, cenoura, uvas passas, pimentões e maçã, mas o melhor é o molho. — Ela lambia os dedos abrindo os potes e nos servindo e eu sabia que em um restaurante ou em casa ela jamais faria aquilo, fique sorrindo. — O molho é feito no liquidifica
VIIISozinho(Alone - Heart)Soube que Vinícius cuidou bem de nossa mãe e o final de semana se aproximava. Eu queria sumir naquele fim de semana. E com todos os acontecimentos extremamente mais importantes do que o que tinha acontecido com a minha cozinheira, eu simplesmente tinha deixado para lá o fato de conquistar a garota por vingança. Somente não pensei mais nisso, tinha coisas mais importantes para pensar porém percebi que o comportamento dela tinha mudado. A minha rotina era café da manhã, escritório, academia três dias na semana e cama. Ela já conhecia minha rotina e na sexta-feira apareceu bem cedo, para o café-da-manhã, e eu não sabia como lidar com uma situação inusitada daquelas. Ela
IXFora de alcance, distante do toque(Belladonna - UFO)O escritório estava especialmente estressante naquele dia. O que era de estranhar pois as sextas-feiras eram bem mais calmas, normalmente todo mundo ficava animado com o final de semana. Não naquela sexta, tive telefonemas estressantes e o engenheiro reclamou de novo do material que não chegou a obra. Pedi que ele esperasse até segunda-feira e então iria resolver diretamente com o fornecedor. Julia levou meu almoço e nem ficou um pouco já que me viu estressado ao telefone com algumas pessoas. A hora da saída da escola chegou. Eram dezessete horas da sexta-feira. Carol entrou na sala, sorrindo.—Já vamos senhor Vitor?—Sim, vamos embora, vou esperar t
XTarde demais para amar(Too late for love - Def Leppard)Julia tomou um banho e vestiu a camiseta da minha irmã. Estava linda. Então pediu para ligar primeiro para avisar seus pais que sairia com um amigo. Eu virei um gole de vinho e busquei a carteira, celular e chaves de casa e moto para sair. Quando ela terminou, saímos e fomos para a garagem. Ela já sabia o que devia fazer. Segurar firme, era uma longa viagem até São Cristovão. Quando ouviu o nome do bairro, se espantou.—O senhor...você anda na zona norte?Eu sorri para ela.—Você tem muitos julgamentos de mim, sabia?—É que...Ela se arrependia toda hora. Era muito sincera.—Eu nã
XISeu amor(Your love - The Outfield)Sábado. Dez horas da manhã. A cozinheira teria que chegar para o almoço, porém devia estar com uma tremenda ressaca, eu não brigaria por faltar, afinal ela esteve comigo a noite passada e apesar de eu não ser responsável por sua bebedeira, me senti mal pelo seu estado. Olhei o celular me virando nu na cama. Tinha notificação de Vinícius. Um jantar em casa para apresentar a vagabunda da Bianca. Como ela ainda tinha coragem! Eu estaria lá só pela diversão de ver minha mãe acabando com ela em pleno jantar. Enviei mensagem para Julia.Não precisa aparecer para o almoço, eu não vou estar em casa.&n
XIIGarotas, garotas, garotas(Girls, girls, girls - Motley crue)Assim que chegamos parei o Audi na garagem ao lado do jardim. Olhei para Julia e puder ver o deslumbramento com a mansão dos Assis Ferrreira em seus olhos. Então ela me olhou.—Eu não posso, senhor Vitor. Estou me sentindo mal. —Ela parecia não respirar direito, com muita dificuldade.Segurei seu rosto e a fiz olhar para mim.—Olha nos meus olhos, Julia...Ela o fez.—Eu não posso.—Pode. Você foi acostumada a atender pessoas de todas as classes. Você é uma chef. Só está tendo uma crise de ansiedade, respira junto comigo.—Eu não consi... Quero sair daqui.<
XIIILado selvagem(Wild side - Motley Crue)Parei na porta da casa de Julia e pedi desculpas.—Julia eu te peço desculpas pelo terrível jantar mas eu preciso resolver a questão das ações daquele pai! —Menti.—É, eu sei que não foi bom, eu senti no ar, apesar de que o cordeiro estava perfeito, eles são bons.—Sim, são. —Fiquei um tempo olhando para ela —O que você sentiu no ar?—Uma maldade, parecia... Não sei dizer, aquela menina me olhou com raiva.Olhei para a rua, com a boca nas mãos ao volante.—Se você achou isso, será que mais alguém achou? Tipo meu
XIVDoce alma gêmea(Sweet soul sister - The Cult)Cheguei em casa com uma opressão no peito. Alguma coisa me faltava naquele dia. Aquela opressão aumentou quando entrei em meu quarto. Eu sabia o que era. Uma certa depressão e vontade de chorar. Chorar é para os fracos? Será? Deitei em minha cama, esparramando os cabelos compridos castanho meio alourados e deixei minha emoção vir a tona. As lágrimas desciam abundantes. Abracei meu travesseiro com a emoção, a opressão, a perseguição, o inferno que era a minha vida. Mas tudo aquilo tinha solução: Me afastar de vez das mulheres, do motoclube, das pessoas que eu amava. Chorei ainda mais. A vontade era pegar minha Harley e sumir pelas estr
XVDo jeito que você quiser(Any way you want it - Journey)Tiramos nossas roupas sem pressa. Com aquela mulher eu fazia amor, embora conhecesse pouco esse sentimento com as mulheres. Amei poucas pessoas na vida, minha mãe, meus irmãos, Bill, mas Simone chegou perto de me provocar amor em muitas ocasiões. Eu pensei seriamente em sossegar minha alma ao seu lado mas o fato é que eu realmente queria ter filhos um dia e queria do jeito tradicional. Ela nunca esteve muito disposta a me dar mais que noites de amor por saber do meu jeito inquieto. De alguma forma ela se protegia assim e eu não podia culpá-la, eu fazia o mesmo. Ademais ela já tinha filhos, porque em algum momento da sua maturidade ia querer entrar naquilo de novo? S&