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Capítulo 02

- Não. - Meu pai respondeu de forma breve e direta sem nem ao menos se dar o trabalho de tirar o olhar da televisão para me responder.

-Mas paaaai…

- Eu resolvo. - Amy sussurrou ao meu lado e ajeitou um pouco seu vestido de costas nuas. - Tio Greg, eu estarei lá, vou cuidar da Liz.

Meu pai olhou para ela que sorria de forma confiante.

- E quem vai cuidar de você? - Ele balançou a cabeça. - Não adianta, Amy. Eu não conheço esse tal de Jasper que dará a festa, então a Liz não vai.

- Mas o senhor estará destruindo a vida social dela se fizer isso. Além do mais não ficaremos até tarde lá.

Meu pai negou com a cabeça.

- Me surpreende sua mãe ter deixado você ir.

- O Brian irá com a gente…

- O Brian é outra criança, além do mais… - Ele parou a frase ao ouvirmos a campainha. - Mas o que é isso? Um complô? Reuniu todos os seus amigos para virem aqui, Liz?

- Meu Deus, pai, não. - Digo em tom óbvio e puxo um pouco as alças da minha blusa indo até a porta a abrindo.- Oi Peter! Pai, é o Peter.

Dei espaço para ele entrar e ele sorriu me cumprimentando.

- Já está pronto, Greg? - Peter perguntou próximo ao armário de sapatos.

- Pronto para que? - Perguntei rápido e vi meu pai se levantando do sofá.

- Eu esqueci que era hoje, Peter. - Meu pai se justificou chegando mais perto e eu fiquei olhando os dois.

- Eu já comprei as entradas do jogo, não pode deixar de ir, é nosso time.

- A Liz está querendo ir a uma festa… - Meu pai me olhou de canto enquanto falava.

- E qual o problema? - Peter questionou e percebi ele acenando de volta para Amy assim que a viu mais atrás. - Hoje é sexta, deixe a garota se divertir um pouco. Ela já fez 15 anos?

- Tenho 16. Quase 17 – Falei limpando a garganta.

- Dezesseis? - Ele me olhou. - Com essa idade os meninos já saiam para festas e só voltavam no outro dia.

- Tá vendo, pai?? E eu só quero passar umas horinhas fora.

- É melhor saber onde nossos filhos estão do que deixar eles fazerem coisas escondidas, Greg,

- É o que minha mãe diz!! - Amy falou alto vindo até nós e entrelaçou nossos braços animada.

Meu pai fechou os olhos e respirou fundo voltando e me olhar.

- Não passe da meia noite ou não vai sair com seus amigos nem para ir a praça

Amy e eu demos um gritinho baixo de animação e pulamos concordando.

- Tchau, tio Greg! - Amy disse saindo rápido, me arrastando como que com medo do meu pai mudar de ideia.

- Tchau, pai! Obrigada, Peter.

Peter sorriu acenando para mim e soltou um disponha. Amy entrou no banco da frente do carro e eu no banco de trás vendo Brian no banco do motorista batucando o volante.

- Que demora, ein advogada Amy?

- Estava tendo um caso difícil, promotor. - Ela falou se olhando no retrovisor e ajeitando seu batom. - Tive que recorrer a um aliado.

- Você teve que recorrer? - Pergunto colocando o cinto.

- É! - Ela se virou me olhando. - Deus, eu pedi a Deus pra algo acontecer e aí seu vizinho legal apareceu. Ele ainda faz aqueles churrascos legais na casa de praia dele? Você me levou uma vez, depois nunca mais.

Brian deu partida dirigindo para o local da festa.

- Ele ainda faz, mas deixei de ir. Era legal quando os filhos dele estavam aqui, agora é um tédio. Gente velha falando sobre coisa de gente velha e os tempos da juventude, meu pai adora.

Amy riu e começou a falar da casa do cara onde estávamos indo.

Assim que entramos no bairro nobre vi que ela não estava brincando. Havia um muro enorme na frente e ao passamos pelos portões de ferro demoramos um pouco para achar onde estacionar por causa de tantos carros.

Passamos pela primeira fonte logo na entrada e perto da casa vimos uma ainda maior. O gramado era muito bem cuidado e dava para ver que não era artificial. A casa era larga o suficiente para umas 50 famílias morarem lá.

Desci do carro encantada com algo tão grandioso. Sempre via casas assim, mas nunca entrei em uma, muito menos conheci alguém que morasse numa casa assim. Me pergunto o trabalho que deve dá para pagar as contas dessa casa e manter ela limpa.

Amy comentou sobre ter uma piscina, campo de tênis, de futebol. Pra que isso tudo, gente? Esse povo deve nem usar, mas quem somos nós para julgarmos, não é mesmo?

Amy caminhou ao meu lado até a entrada da casa e a porta de madeira enorme parecia pesada e grossa demais para ser tocada, mas Brian não parecia ligar, a abriu rapidamente e foi entrando.

Pudemos ouvir a música alta ressoando. Com certeza aqui tinha muito mais pessoas do que eu imaginei. Vi Amy esticando o pescoço para acompanhar onde Brian ia.

- Amiga, eu já volto, procura algo para a gente beber.

- Mas, Amy… - Tentei segurar no braço dela em vão, logo ela se enfiou no meio das pessoas indo atrás de Brian.

Olhei em volta vendo as pessoas bebendo e dançando e isso não era muito a minha praia, mas eu já devia estar acostumada a coisas assim. Acontece todas as vezes, só que normalmente a Amy espera eu me encontrar com pessoas que a gente conhece e só depois ela some.

Apertei a bolsa em meu ombro e fui caminhando pelo hall até chegar no que aprecia a sala, não tinha muitos moveis, mas tinha uma TV enorme em um painel próximo as janelas que iam desde o teto até o piso dando para ver o jardim florido já que as cortinas estavam abertas.

Continuei caminhando um pouco perdida até ver um rapaz de costas mexendo num freezer.

- Licença… - Falei, mas ele pareceu não escutar. Toquei em seu ombro com o indicador um pouco desconfiada. - Licença!!

O rapaz de pele morena se virou e me olhou sorrindo. Ele tinha olhos castanhos que puxavam um pouco para o mel, eram bonitos, e seu cabelo nas pontas ondulava levemente.

- A gente já se conhece? - Ele perguntou se aproximando de mim para falar em meu ouvido e eu escutá-lo. Neguei e antes que eu pudesse falar algo, ele continuou. - A gente pode se conhecer agora, o que acha?

Ele sorriu bebendo um pouco do energético em sua mão e eu pressionei um pouco meus lábios.

- Não, eu só quero saber onde tem bebida. Não quero conhecer ninguém. - tentei soar amigável, porque eu sei como normalmente os garotos se comportam nesses lugares e quero evitar constrangimentos num lugar que não conheço ninguém.

Ele apenas sorriu parecendo se divertir.

- Pode pegar nesse freezer, se não tiver o que quer pode procurar no bar lá embaixo.

- Ah… Tem um bar aqui… - Sorri fraco e olhei no freezer pegando dois energéticos.

- Nunca te vi aqui antes. Você é amiga do Jasper? - Neguei e ele fez uma breve pausa parecendo desconfortável. - Da Rebecca?

Neguei novamente e ele pareceu relaxar.

- Eu sou amiga de um cara que conhece um cara que é amigo do dono da casa. - Expliquei abrindo meu energético e o bebi olhando para ele.

- Acho que metade das pessoas que estão aqui são assim. - Ele disse voltando a sorrir

- Tá perdido, lindo? - Ouvi uma voz alta perguntar por trás de nós e assim que olhei na direção vi um rapaz loirinho de pele morena, alguns tons mais claros que o rapaz que vi anteriormente. Ele tinha olhos esverdeados já conhecidos, mas parecia bem mais alto agora.

- Encontrei uma amiga. - O rapaz respondeu apontando para mim. - Conheço ela há 4 minutos.

O loiro sorriu e olho para mim diminuindo o sorriso.

- Oi Liz… - Ele falou em um tom baixo, mas eu pude entender.

- Oi Jake. - Respondi mudando o olhar para outro ponto do local.

- Vocês se conhecem já? - O primeiro rapaz falou confuso.

- Ela é vizinha da minha mãe, Zeke. - Jake explicou. - Seu pai sabe que você está aqui? Não é a cara dele deixar isso.

Bebi mais um pouco de energético e o olhei.

- Seu pai convenceu o meu a deixar eu vim, aí… - Sorri fraco.

Zeke olhou nós dois e pegou mais bebidas no freezer ficando com os braços cheios

- Eu vou indo lá, Jake. Trás sua amiga, ela parece… Perdida. - Zeke disse e seguiu pelo caminho de onde Jake tinha vindo.

- Está sozinha? - Jake perguntou se encostando a um balcão de granito próximo e eu me encostei ao seu lado.

- Minha amiga me largou para correr atrás do cara que ela gosta.

Ele riu balançando a cabeça.

- E você é a amiga que sempre cai no papo dela de “vamos, amiga, vai ser uma festa legal”.

Foi minha vez de rir concordando.

- Normalmente, as festas tem menos pessoas, consigo me incluir, mas numa festas dessas é… estranho.

- Ah… Mas agora eu tô aqui. - Ele bateu seu braço de leve ao meu e sorriu. - Não tá mais sozinha.

- Não precisa ir ficar com seus amigos?

- Nheen. - Ele fez uma careta. - Fico com eles direto, vocês faz uns 7 meses que não te vejo?

- Dez. - O corrigi e bebi rápido o energético. - A gente se viu no natal, mas você teve que sair correndo pouco depois que eu cheguei e a gente mal se falou.

Ele ficou em silencio parecendo pensar antes de concordar.

- Bom… Não tenho que sair correndo agora. - Ele se afastou do balcão. - Quer conhecer a casa?

- Você a conhece? - Sorri e ele concordou ajeitando seu casaco.

- É a casa de um dos meus amigos. Vamos lá, tem uns lugares que só tem em casa de rico. - Ele disse estendendo a mão para mim e eu a segurei sorrindo.

Era uma mão bem maior que a minha e estava quente, em contraste com a minha gelada do energético. Ele ficou me olhando prendendo o riso, mas logo o soltou.

- Que? - O empurrei de leve sem soltar sua mão.

- Eu tava pedindo o energético. - Ele disse rindo e eu senti um calor de vergonha passar por meu corpo. Ele deve ter percebido minha cara de constrangimento porque logo ele riu mais. - Relaxa, serei seu guia.

Ele pegou o energético com a outra mão e o abriu caminhando comigo.

Jake afastava algumas pessoas pelo caminho e deixava a passagem livre para eu segui-lo. A mão dele continuava segurando a minha por todo o percurso e ele estava certo, tem coisas aqui que só se tem em casa de rico.

Tinha banheiras de hidromassagem em alguns banheiros, cada quartos parecia o andar debaixo da minha casa inteira, tinha academia, sala de jogos, sala de cinema, uma sala trancada que Jake falou que era onde ficavam vários computadores de última geração.

A casa tinha algumas câmeras em locais específicos, não sei se me sentiria confortável morando em um lugar assim.

Ele me levou para o lado de fora continuando nossa tour e caminhamos em volta da casa vendo a quadra que já tinha ouvido falar, que aliás é enorme e bem cuidada.

- Gente rica é estranha. - Sussurrei já sabendo que a música estava distante.

- Gente rica é rica. Eles precisam gastar o dinheiro deles de alguma forma. - Ele disse jogando nossas embalagens de energético numa lixeira e sentou no canteiro em volta de uma das árvores.E não, não é o mesmo energético de quando cheguei, pegamos outros no meio do caminho.

Sentei ao lado dele e passei minhas mãos uma pela outra olhando o céu.

- Moraria num lugar assim? - Perguntei olhando para ele.

- Claro, não iria precisar sair de casa para mais nada, se brincar teria alguém até para limpar minha bunda.

- Jake! - Ri o empurrando e me abracei ao seu braço.

- Que? - Ele falou rindo. - Imagina um peido dentro dessa casa, deve sair ecoando cômodo a cômodo.

Cobri meu rosto com a mão ainda rindo.

Nós eramos bem grudados quando crianças, mas depois que ele foi para o internato aos 15 anos a gente se afastou.

O fato dele ser dois anos mais velho teve um pouco de influencia também para que eu não me inserisse no meio dele, mas os últimos momentos foram tão bons, é como se nada tivesse mudado. Sinto que a qualquer momento ele vai fazer algo estúpido e me chamar para ir junto.

Senti ele mexendo o ombro e voltei a olha-lo.

- Não está com frio? - Ele sussurrou com o olhar suave em mim. - Esse pedaço de pano aí protege ninguém do frio não.

Mexi com a cabeça e abaixei um pouco minha saia.

- Estou com um pouquinho.

- Eu lembro de uma coisa que você gostava. - Ele disse e segurou minhas mãos entre as suas as assoprando sem tirar o olhar de mim.

- Ajuda.. - Sussurro. - Não me dá seu casaco porque se não vai ficar muito filme romântico que passa durante a tarde na Tv.

- Como assim existem pessoas que ainda assistem TV, atualmente?

Revirei os olhos sorrindo e senti ele soltando minhas mãos devagar.

- ELIZABETH MULHEEEEEER

Ouvi a voz conhecida e olhei para o caminho de onde tínhamos vindo. Era Amy se aproximando arrastando Brian pela mão enquanto caminhavam pela lateral da quadra de tênis.

- Agiliza, homem. - Ela o puxou afundando seus saltos na grama.

Sorri e me levantei devagar. Senti alguém se aproximando pelo lado contrário rapidamente e olhei na direção por puro reflexo para ter certeza que não era impressão. Antes de terminar de virar o rosto, o tive virando bruscamente pro lado oposto com um tapa forte e quente.

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