"Querida, por favor", minha mãe falou por trás da porta do meu quarto fechado, com sua voz leve e cheia de preocupação.

Depois de descobrir que meu irmão Emrys é meu companheiro, eu me tranquei no meu quarto. Cada fibra do meu ser gritou para eu ir até ele, segurá-lo, enxugar as lágrimas que sei que ele derramou ontem à noite enquanto a outra parte de mim estava no mínimo atordoada.

Por que, dentre todas as pessoas desta Terra esquecida por Deus, meu companheiro tinha que ser ele? Claro, todos os sentimentos de superproteção e de sentirmos os sentimentos um do outro agora faziam sentido, mas... Mas que porra.

"Eu estou ocupada".

"Nós duas sabemos que isso não é verdade". Ela suspirou, eu podia imaginar seus olhos verdes bem abertos com a preocupação e o rosto lindo desenhado junto. "Você e Ostana brigaram? É o Emrys?"

Apenas ao ouvir seu nome, um soluço escapou dos meus lábios apenas para ser abafado pelo meu travesseiro. Um momento de doce silêncio passou e terminou com o suspiro de minha mãe, seus passos recuando pelo corredor. O silêncio se seguiu durante os minutos seguintes, minhas pálpebras se tornaram pesadas com o estresse e devido ao sono esparso que eu tinha tido ontem à noite, o sono me encontrou facilmente.

*

"Querida", a voz do meu pai falou, acordando-me da minha soneca, e o sentimento pesado no meu coração voltando com força total. "Sua mãe e eu vamos visitar Alfa Thomas, você quer vir?"

"Não", ainda na cama, eu agarrei a única coisa que me mantinha sã agora, respirando o cheiro da chuva de Emrys que pairava sobre sua camiseta, deixando-o acalmar meu corpo. Ouvi alguns sussurros que, sem dúvida, eram de minha mãe. A escuridão se instalou sobre meu quarto.

"Você tem certeza? Vai ter bolo".

"Estou bem", mentira. "Só diz um oi para Ostana por mim", sabendo muito bem que ela ainda estava presa na casa do Alfa, pois não respondeu nenhuma das minhas mensagens. Eles conversaram suavemente um com o outro até que meu pai suspirou e desceu as escadas, seus passos pesados fazendo a escada ranger suavemente.

"Querida, nós estamos preocup-"

"Mãe", minha voz ficou mais alta. "Por favor". Eu estou bem".

Ela resmungou, mas acabou descendo as escadas também, e depois que ouvi a porta da frente fechar, me arrastei da cama. Durante todo o dia eu tinha ficado no meu quarto, sem comer ou beber nada, meus pensamentos afogando as horas, e o pior é que eu podia sentir os sentimentos de rejeição de Emrys picando meu coração como mil vespas.

Como posso olhar meu irmão nos olhos quando ele é meu companheiro? Eu não posso fazer isso! Isso é... Isso é... Isso não está certo.

Mais cedo ou mais tarde eu teria que enfrentá-lo por causa do calor...

Oh Deus, eu esqueci do calor. O calor é quando a ligação se completa, ou em outras palavras, quando nós transamos.

"Porra", eu resmunguei e segurei a camiseta cinza de Emrys mais perto do meu peito, relaxando em seu cheiro antes de colocá-la sobre a minha camiseta. Em meu espelho, minha aparência me irritou; minha pele ficou mais pálida do que o normal, luas crescentes roxas beijando minhas pálpebras inferiores enquanto meus olhos azuis escureciam, e minha confusão de cabelos loiros apoiada em cima da minha cabeça.

Meu telefone tocando quebrou o silêncio e eu atendi sem olhar para o identificador de chamadas. "Alô?".

"Oi Celeste,"

"Laker?" Instintivamente eu fiquei mais reta, ele está com o Emrys? O Emrys está ferido? Sei que Ostana não poderia estar com ele... Não, Emrys estava aqui; o cheiro dele ainda persistia.

"Isso", a voz de Laker era calma, fria, e sempre controlada. Laker fazia parte de um grupo vizinho -Bando da Lua Sangrenta-, 50 milhas ao norte daqui, e ao contrário de nossa cidade, sua cidade - que era inteiramente composta de lobisomens - era onde viviam o Rei Alfa William e sua companheira Rainha Sundra; basicamente como a capital dos lobisomens na América. "Ei, Emrys está por aí?"

Uma lança atravessou meu coração. "Sim, ele está em seu quarto". Sentada de novo na minha cama e me deitando, eu observava como as sombras dançavam pelo teto, o ventilador desligado olhava de volta para mim. "Por quê?"

"Ele simplesmente não atende seu telefone, voc-" Laker se deteve e limpou sua garganta. "Ele deveria ter subido pra cá hoje", disse Laker.

"Ahn?". Eu soltei. "Bem, talvez eu pudesse ver se ele está bem..." Vamos Laker, me convença a não fazer isso. Diga-me que está tudo bem e você vai passar por aqui amanhã. Vai, vai!

"Sério? Isso seria ótimo, Cê!" Maldição, Laker. Rindo com o entusiasmo dele, eu me levantei e respirei fundo. Cada passo parecia pesado, cada respiração profunda, e ao abrir minha porta, eu me vi suavizando as rugas de sua camiseta - será que meu cabelo está bonito?

Finalmente cheguei ao seu quarto, que era logo depois de nossa pequena biblioteca que consistia principalmente de caixas cheias de decoração de fim de ano, um computador velho e duas prateleiras de livros. O cheiro de Emrys já estava me envolvendo, meu lobo ronronando na proximidade de Emrys, e antes de eu alcançar meu punho para bater, ele abriu a porta de seu quarto.

Prendi o fôlego quando o vi; o cabelo negro da meia-noite desarrumado, pois ele deve ter passado as mãos por ele mil vezes, olhos tempestuosos brilhando com uma emoção desconhecida, e ele nem mesmo havia trocado de roupa da noite passada. A culpa tropeçou em mim e a tristeza encheu meu coração. Ouvimos a voz de Laker pelo telefone, mas não tiramos os olhos um do outro.

"E aí Cê, vai demorar?"

Silêncio. Juntos, nos perdemos nos olhos um do outro, ambos procurando enquanto nossa mente ficava em branco, e meu telefone caiu no chão.

"Cê?" A voz de Laker morreu quando foi abafada no tapete.

Emrys deu um corajoso passo à frente.

Sentindo meu coração acelerar e acalmar tudo em um segundo, tudo aconteceu tão rápido; Emrys aproveitou o impulso do momento, as mãos apertando minha cintura enquanto ele me puxava para dentro de seu quarto, faíscas explodindo pelo meu corpo. Gentilmente minhas costas bateram na porta fechada quando Emrys mergulhou para baixo.

Os lábios dele encontraram os meus.