Ashley

Um, dois, três …. Conto lentamente enquanto tento não quebrar o meu despertador por me acordar no momento em que estava sonhando com o Chris Evans.

São quase 18:30h e o meu segundo turno temporário vai começar, pela manhã me tornei a babá de um cachorrinho super fofo de uma senhorinha que provavelmente sentiu meu desespero ao me ver chorar enquanto esperava o ônibus e a noite sou garçonete/ bartender e qualquer serviço que o meu chefe julgue necessário.

Não que eu esteja recebendo o suficiente para tantas funções, mas também não é como se o poder da escolha estivesse em minhas mãos agora. Ainda tenho quatro dias no meu apartamento e a não ser que um milagre aconteça na minha vida, terei que ficar um tempo com a Oli.

A única coisa pior que os assobios e os olhares indecentes, é a saia ridiculamente curta que nós temos que usar, eu daria um milhão para ver o meu chefe servindo as mesas com uma dessa.

O meu turno termina quando o dia já amanheceu, por volta das 07:00 todo os os dias eu tomo café no mesmo lugar. É uma cafeteria simples, mas aconchegante. Dizem que tem uma área especial só para pessoas com muito dinheiro, particularmente me pergunto o que uma pessoa com muito dinheiro faria aqui? O café é incrível, mas acho um pouco difícil acreditar nesses boatos.

Sempre que sento nessa mesa, imagino um futuro onde eu não teria que servir mesas e ser constantemente assediada pelos clientes daquele bar, é preciso muito esforço para não quebrar alguns narizes todas as noites.

Estou perdida em minha fantasia quando de repente o meu telefone toca.

- Ash, já está em casa? - A voz de Oli parece animada do outro lado da linha.

- Parei para tomar um café, a que devo essa maravilhosa ligação?

- Sei que está juntando dinheiro e mesmo que não goste de pedir ajuda, consegui um extra para você.

- Oh, isso é uma ótima notícia Oli. - Digo agora também muito animada. - Onde?

- É uma vaga para recepcionista na Ávill’as Company. - Paraliso por um momento, essa é simplesmente uma das maiores empresas do país, o salário me ajudaria muito e eu finalmente deixaria de ser garçonete no bar. - Você teria interesse?

- Tá brincando? Claro que sim. Só me diga o horário que tenho que ir e estarei lá.

- Hoje às 09:00h, boa sorte Ash.

O café agora tem um sabor ainda mais doce, é finalmente uma boa notícia essa semana.

**

Minhas palmas estão suando, não faço uma entrevista tão séria já faz muito tempo, geralmente nos meus empregos temporários a única coisa que preciso fazer é aparecer.

Mas, essa é uma chance maior de mudar minha vida então errar não é uma opção.

Depois do que parece ser uma eternidade, finalmente sou chamada para uma sala que parece mais uma outra recepção, a mulher na minha frente tem uma expressão fria em seu rosto e uma postura fechada, então faço muito esforço para não ter uma crise nervosa enquanto ela analisa o meu currículo minuciosamente.

Quase 40 minutos depois estou respondendo suas perguntas, depois de outros longos minutos que parecem ser horas, ela me dá um sorriso educado e diz que estou contratada.

Minha primeira reação seria pular de tanta alegria, mas ao invés disso estendo a mão e agradeço, me pareceu ser mais profissional.

Saio da sua sala com um sorriso que não cabe em meu rosto, mas ele desaparece logo que meu rosto colide com o que deve ser o peitoral mais duro e esculpido que pude sentir na vida.

- Desculpe, eu … - Tento me desculpar, mas sou interrompida por sua voz grave e seu tom nada gentil.

- Você deveria ter um pouco mais de atenção.

- Foi um acidente, e isso poderia acontecer com qualquer pessoa. - O rosto do estranho em minha frente parece suavizar. Tento mover o meu corpo, mas estou presa com o dele em minha frente.

- Sr. Cássio, seu pai aguarda por você na sala de reuniões. - A voz da secretária chama sua atenção.

- Droga. - Ele resmunga baixinho. Ele se vira para mulher atrás de mim. - Diga que estou indo.

E então o seu olhar encontra o meu rosto.

- Você vem comigo

Isso só pode ser uma piada, mal fui contratada e já vou ser demitida.