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Capítulo 2 – Vida nova

Não consegui me conter e pulei do móvel enquanto as lágrimas invadiam meu rosto novamente.

- ROBERTO! JÁ CHEGA! – Gritei como um louco e todos os homens na sala se voltaram para mim surpresos. Tentei me acalmar e moderei o tom de minha voz. – Por favor, pare com isso! – eu disse em meio às minhas lágrimas e me joguei de volta no sofá para continuar chorando.

Roberto respira fundo, sua expressão continua séria, mas parece ter se acalmado um pouco. Ele ameaça os homens, dizendo que da próxima vez não os deixará entrar e pede que saiam.

De uma prateleira, ele tira uma garrafa, serve-se de uma bebida, senta-se atrás da mesa do escritório e bebe bem devagar enquanto espera novamente que eu me acalme. Depois de terminar a bebida, ele se aproxima de mim e, com um olhar intimidador no rosto, fala.

- Nunca mais, nunca mais, nunca mais, me menospreze na frente dos meus homens! – Fiquei perplexo. – Você entendeu? – Assenti com a cabeça, ainda com o coração acelerado.

Dito isso, ele voltou a se sentar ao meu lado no sofá.

Eu me senti melhor, pelo menos não estava chorando muito. Conversamos muito, sobre minha viagem, sobre a Nana, sobre nossas vidas antigas, relembramos nossa infância. Depois falamos sobre o trabalho dele, ele não quis me dar muitos detalhes, só descobri o básico: com muito esforço, suor e sangue, ele entrou em uma máfia, que ele comanda e que lida principalmente com o tráfico de mercadorias ilegais e assassinatos por encomenda, entre outras atividades ilícitas.

Foi assim que descobri que meu querido primo de primeiro grau, Roberto, havia se tornado o chefe de uma das máfias mais importantes de Nova York. Como isso aconteceu? O que ele fez para chegar onde está?

Ali mesmo, meu primo me ofereceu uma vida ótima, preparou para mim um apartamento espetacular, um carro com acompanhantes, alguns cartões de crédito e um advogado para providenciar meus documentos. É claro que eu teria de trabalhar em sua organização e, como sua irmã, teria uma posição valiosa.

Talvez qualquer pessoa teria pulado de alegria com essa vida fantástica, mas eu não sou uma dessas pessoas. Pode ser uma vida de luxo e dinheiro, mas também é uma vida cheia de medo e com o risco de ser presa ou morta.

Eu não aceitei isso. Nem me esforcei para pensar muito sobre isso, foi uma resposta direta e, a princípio, meu primo não conseguia entender o motivo, ele parecia muito deprimido, ele realmente queria que eu me juntasse a ele nessa nova vida, ele queria compartilhá-la comigo, foi o que ele me disse. No entanto, depois de uma longa conversa, ele aceitou minha decisão.

- Roberto, eu sou muito grato por tudo o que você está me oferecendo, de verdade, mas eu não quero isso, nada disso é para mim, você sabe muito bem que eu nunca me importei com luxo ou dinheiro. Sempre fui feliz com a vida humilde que levamos. – Esclareci.

- Você vai me dizer que o dinheiro não é necessário. – Ele me pegou pela mão.

- É claro que é! Você sabe que muitas vezes eu ficava chateado porque queria comprar algo e não podia, mas mesmo assim, isso… Não é para mim, as armas, a ansiedade, o medo, eu não quero isso. – Olhei para suas mãos entrelaçadas, meu coração acelerado.

- Então, você não quer se envolver com nada disso. – Ele disse, como se quisesse se retificar, parecia tão triste que me causou uma pontada de dor.

- Tudo o que preciso é de um pequeño apartamento, um pequeño quarto. E um emprego, talvez como faxineira ou garçonete, para que eu possa ganhar o suficiente para me sustentar e pagar o aluguel. – Apertei sua mão com força.

- Você quer viver por conta própria. – Ele assentiu seriamente com a cabeça, parecendo irritado, embora pelo menos tenha aceitado.

- Sim, mas eu gostaria de manter contato com você, vê-lo ocasionalmente, quando puder, é claro, e…” Olhei-o nos olhos e sorri para ele com uma ponta de esperança.

- Isso é impossível. Tenho muitos inimigos, muitos mesmo. – Ele suspirou e sorriu, mas não entendi por que ele estava se divertindo. – Se você tiver contato comigo, em algum momento se espalhará o boato de que você é minha irmã, parente ou amante. – Ele acentuou seu tom na última opção. – De qualquer forma, isso será muito perigoso para você, especialmente se viver sozinha… Ou você vive nos meus termos e eu lhe dou segurança… Ou você vive sozinha e se esquece de mim. – Ele disse com firmeza, o que me atingiu como um balde de água fria.

- O quê? – Parecia tão drástico, tão incomum, então qual foi a razão de fazer essa longa jornada se eu vou ficar sozinha aquí também?

- Exatamente como você ouviu. Claro, vou providenciar o apartamento que você precisa e vou lhe arrumar um emprego humilde e digno como você quiser, vou deixar tudo organizado para conseguir seus documentos. Mas, a partir de então, você não ouvirá mais falar de mim. – Vi um lampejo de dor em sua expressão.

Era uma decisão muito difícil de tomar: viver no luxo com meu primo, mas pertencer a uma máfia, ou viver uma vida tranquila, humilde, mas solitária.

Escolhi a segunda opção.

*

Comecei a me adaptar à minha nova vida, tinha um pequeño apartamento em uma área tranquila e uma senhora idosa e gentil era minha proprietária. É claro que, no mesmo prédio, há apartamentos maiores e mais luxuosos, mas esse era o que meu salário podia pagar.

Comecei a trabalhar como garçonete em um café e, entre o salário e as gorjetas, estava me saindo muito bem. Minhas colegas de trabalho, Emma, Sara e Julieta, eram moças simpáticas e compreensivas, e fiz amizade com elas quase imediatamente, especialmente com Julieta, que se tornou minha melhor amiga. Meu chefe, o Sr. Angelo, é um homem mais velho e rechonchudo, muito gentil, que sempre nos arranjava trabalhos como garçonetes em eventos, o que nos ajudava muito.

Com o passar do tempo, fui me adaptando à minha nova vida, criando uma rotina. Trabalhava, saía com meus amigos, comecei a me exercitar, comprei um dicionário e um livro de inglês para aprender, comecei a economizar e estava pensando em ter um animal de estimação.

Porque, embora na maioria dos dias eu chegasse em casa exausta e caísse como morta na cama, às vezes não conseguia dormir e não conseguia parar de pensar em minha antiga vida, em Roberto, em como me sentia sozinha, em como sentia falta dele, em como a decisão que tomei foi a correta, até que finalmente, em meus pensamentos, adormeci.

*

- Muito bem, meninas! – O Sr. Angelo chegou muito feliz enquanto estávamos limpando a cafeteria, antes de abri-la. – Tenho boas notícias para vocês, consegui um evento para esta noite. – Ficamos todas muito felizes, pois ganhamos muito dinheiro extra com esses eventos. – E é um bom evento, com muitas pessoas importantes e muito dinheiro. Então, vocês sabem, cuidem bem de si mesmos e…!

- Dêem muitas gorjetas! – Todos nós repetimos com risadas.

*

A pesar de cansada, cheguei animada para o evento, era em uma mansão, o Sr. Angelo não exagerou, tudo era cheio de luxos. Os convidados começaram a chegar e nós começamos a receber as instruções dos funcionários da casa e da equipe de chefs.

A noite estava muito movimentada, havia muitas pessoas, aparentemente com muita fome; pelo menos, elas não ficaram até muito tarde. Apenas um pequeño grupo ficou até mais tarde, e foi minha vez de atendê-los enquanto as meninas atendiam.

Eu estava carregando uma bandeja com vários copos servidos quando um cara esbarrou em mim praticamente de frente, derrubando todos os copos sobre mim e me molhando com o líquido. O cara ficou se desculpando e eu apenas assenti, escutei, não olhei para cima porque estava furiosa, não queria nem vê-lo.

Ao recolher a bagunça, com o cara ainda ao meu lado, pedindo desculpas e perguntando se eu entendia inglês, eu me cortei em um copo. O homem ficou pior, agarrou-me pelo braço e me arrastou para um banheiro, onde lavou o ferimento, pegou um kit de primeiros socorros e cuidadosamente desinfetou e cobriu o corte, que, a propósito, não foi nada demais.

Tudo aconteceu tão rápido que eu não tive tempo de dar uma boa olhada no cara até aquele momento. Um loiro muito bonito, alto, atlético, sorria para mim.

- Você está bem? – Eu assenti com a cabeça em atenção, ele sorriu novamente, como se tivesse percebido o efeito que estava causando em mim…

- Sim, estou bem. – Eu reagi.

- Oh! Você me entende. Então você fala espanhol, que legal. – Ele respondeu com sotaque.

Foi assim que conheci meu marido.

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