ChelseaMe sinto um pouco culpada por tocar em um assunto sensível para Archie. Mesmo que ele diga que está bem, pude ver nos seus olhos que a dor não se foi, mas acho que ela nunca vai de verdade. Creio que nós apenas ficamos mais fortes para conseguirmos enfrentá-la.Como uma tentativa de pagar pelo incômodo que causei, aceitei a ideia de virmos para um petcafé. Jamais pensei que ele fosse alguém que gostaria de lanchar enquanto vê filhotinhos fofos correndo de um lado para o outro.O lugar não está repleto de pessoas, mas o público é bem dividido entre adultos e crianças, pelo que posso ver. Da nossa mesa, o vejo brincando com alguns filhotes enquanto se esforça para não deixar que Melissa pule no meio deles por acreditar que eles são um dos seus bichos de pelúcia.Será que esse é um hobby dele? Conheci muitas pessoas com interesses diferentes nos meus trabalhos, principalmente quando trabalhei no Maid Café, já que tinha que interpretar um papel grosseiro para lidar com os clientes
ChelseaSerá que os meus pensamentos tempestuosos fizeram com que eu escute o que não deveria? É possível, certo? Dado que nenhuma pessoa fora do meu trabalho deveria me conhecer por esse apelido. É basicamente um nome de palco.— Como conhece esse apelido? — pergunto diretamente, já que aquele que pode me dar uma resposta adequada está bem na minha frente. Como eu deveria agir? Archie sorrir nesse momento não ajuda, porque me faz questionar quantas coisas desconheço sobre ele.Deveria ficar mais cautelosa a partir de agora?Mas do que serviria depois de ter permitido que se aproximasse tanto?— O que acha? — Ao invés de me responder, faz sua própria indagação.O que eu faço? Insisto para que me dê uma resposta primeiro? Ou é mais fácil obter alguma vantagem se jogar o mesmo jogo que ele? É difícil dizer no momento. O que deixei de ver em suas intenções?— Sabe que trabalhei no Maid Café próximo à universidade Blackville — exponho um pouco dos meus pensamentos, visto que ainda estou t
Há três anosArchieO peso em meu peito é demais para suportar, entretanto, continuo correndo. “Preciso me apressar” é a única coisa em que penso. Minhas pernas queimam. Meu coração doí, mas nada é rápido o bastante.As portas de vidro se abrem e continuo correndo, mesmo que o olhar das pessoas seja estranho. Eu não me importo. Tudo o que quero é alcançar a minha família. Se eu estivesse mais perto, se ela escolhesse sair em outro momento, se não houvesse uma tempestade, são tantas possibilidades, e todas elas machucam o meu peito.— Não corra no hospital. — É o que ouço alguém falar, mas não consigo parar.No momento em que vejo Anelise, noto primeiro que o seu rosto está inchado.Não chora no momento, mas o fez por tanto tempo que é obvio.Reunidos na diferente da porta que leva para o centro cirúrgico, está toda a minha família. As suas reações são muito diferentes. Alguns choram ainda mais quando me veem, mas minha mãe, tentando ser a muralha da família, se aproxima de mim.Coloca
Archie— Levanta — manda Ane, mas apenas viro para o outro lado e ignoro o seu pedido. Não quero ir para lugar nenhum hoje, só ficar na minha cama é o bastante por enquanto. — Archie, se você não sair da cama, vou jogar um balde de água na sua cabeça.— Me deixa em paz, Ane — peço, me sinto um babaca por reclamar com ela dessa maneira quando está somente tentando me ajudar, mas hoje é um péssimo dia. Quero só dormir para que ele passe sem que eu veja.— Não posso, você é meu irmão e eu te amo — declara, também a amo, nunca negaria, entretanto, agora sinto mais raiva da sua tentativa de me tirar da cama do que do amor que cultivamos como família.— Me deixa — repito, no entanto, acabo me virando ligeiro, um instinto automático depois dela dar uma mãozada nas minhas costas. O local arde, todavia, é menos doloroso do que o meu coração. — Que caralho, Ane.— Levanta — ordena, dessa vez, no segundo em que vejo o seu rosto e como ele se contorce estranhamente enquanto ela tenta não chorar,
ArchieEm que momento as coisas saíram de controle?Ter a minha irmã chorando novamente nos meus braços, dessa vez não por um bom motivo, mas por um aborto espontâneo, faz com que mais pedaços do meu coração sumam.Da primeira vez, foi dito a ela que, devido ao estresse contínuo causado pelo luto, seu corpo não conseguiu manter o feto, não só ela, mas toda a família recebeu o golpe da perda muito em cima do ocorrido com Kalissa. Estávamos tentando nos recuperar e a breve esperança que surgiu foi tomada de todos.Ane sofreu, no entanto, continuou apenas se apegando no seu trabalho. Fez o seu melhor para enfrentar todos os dias da melhor maneira que podia. Podia não ser uma gravidez planejada, porém, se animou com a possibilidade de ser mãe.Três meses depois, ela foi surpreendida de novo. A apoiamos, ouvindo muitos conselhos, ela diminuiu o seu ritmo. Esperava que dessa vez as coisas caminhassem bem, no entanto, não foi o que recebeu. Na segunda vez, ela ficou desiludida.A energia gas
ArchieSento-me no banco experimentando uma sensação amarga na boca.O que acabei de fazer? Ainda consigo ver o rosto assustado da mulher depois que agarrei o seu braço. Devia ter ido direto para o estacionamento depois que Kenneth me liberou, mas como decidi dar uma volta em torno da quadra, acabei cometendo um engano.Como posso ter pensado que aquela mulher era a Kalissa?Ela se foi, ninguém volta dos mortos.Sei que, mesmo depois de ter pedido desculpas, a mulher continuará receando pela aproximação de outras pessoas, porque coloquei esse medo em sua cabeça. Que belo bastardo eu sou.Baixo a cabeça, apoiando os cotovelos em minhas pernas e sorrio, apesar das lágrimas descendo por meu rosto. Ninguém nunca me disse que demoraria tanto para eu me sentir meio inteiro de novo.Todos os pedaços que a minha família tenta reunir estão caindo aos meus pés.É minha culpa? Sou aquele que está se segurando a dor porque não quer enfrentar outras situações? O que eu deveria fazer agora? O burbu
ArchieNão foi difícil segui-la.Ela manteve seus passos lentos para que não precisasse me dar muitas instruções.Quando parou, foi porque um homem começou a falar com ela.— Trazendo um homem para o trabalho, logo você — diz com o seu tom divertido e esperando não causar problemas para ela, decido por me livrar da cobertura que vinha usando. Será ainda mais complicado se ele pensar que sou um estranho. — Uau, oi, bonitão.— Deixe ele, chefe, só precisa de alguns minutos antes de ir para casa — fala a estranha e, depois de ver um aceno do homem que chamou de chefe, volta a me guiar. Entretanto, antes de segui-la, meus olhos puderam pescar muitos detalhes do ambiente e é bem diferente do que esperava do local de trabalho dela.Mas que tipo de conclusão posso tirar quando não faz tanto tempo que nos encontramos? Não sei nada dela, apenas me apeguei à gentileza que mostrou a mim.— Pode esperar aqui por enquanto — fala, indicando que me sente em uma das cadeiras em torno da mesa. A mulhe
ArchieNão precisava que ela continuasse cuidando de mim, mas acredito que é impossível para ela ver uma situação problemática e não se envolver, é a única explicação na qual consigo pensar.O que uma pessoa comum teria feito no lugar dela? Se envolver com um estranho, trazê-lo para perto, é muito mais do que outros se disporiam a fazer, mas ela não comenta nada sobre retribuição.É um poço de bondade por acaso?— Se quiser pode continuar aqui ou então pode se sentar em uma das mesas lá fora — propõe uma solução que vejo como adequada, afinal sou um estranho enfiado no seu ambiente de trabalho e ainda que o seu chefe não tenha lhe criticado, o melhor que faço é impedir que haja motivos para reclamações.Apenas no caso de a sua ajuda acabar retornando para ela como um malefício.Não sou uma criança, preciso me ajustar aquilo que acabei de fazer.Creio que a maioria das possíveis consequências foram minimizadas.— É melhor sair, até que possa ir para casa — profiro, porém, minhas palav