Ao ajudar Julieta a se sentar, ele em seguida passou a tigela de canja para as mãos dela. Talvez por fraqueza, ao receber a tigela, ela quase não conseguiu segurá-la com firmeza. Francisco, rápido, segurou a tigela, seus olhos refletiam um quê de resignação.- Como não consegue segurar nem uma tigela? - Disse ele, levantando uma sobrancelha. - Quer que eu te alimente?- Não é necessário, eu consigo sozinha.Julieta tentou pegar a tigela novamente, mas Francisco não a soltou. Ele se sentou ao lado da cama, olhando para Julieta com um olhar tão complexo que se tornava indecifrável. Julieta desviou o olhar.- Manter o bebê foi minha escolha. Não conseguir salvá-lo... Eu não culpo ninguém, então você não precisa se sentir em dívida comigo.Francisco colocou a tigela de lado e limpou as mãos. Com um ar sério, jogou o lenço no lixo antes de falar.- Julieta, nosso acordo sempre foi uma troca justa. De fato, eu não te devo nada. Pelo contrário, você, ao esconder a gravidez, violou nosso
Francisco não levou a sério as palavras dela.Falou de maneira calma:- Julieta, você deveria saber que não tem o direito de dizer que acabou. Você escondeu a gravidez e eu posso deixar isso de lado, mas agora também não pode usar o aborto como desculpa para nos separarmos.A voz do homem estava desprovida de emoção.Julieta esboçou um sorriso amargo.Sim, ela realmente não tinha esse direito.O acordo que haviam assinado nunca foi justo com ela.Na presença dele, sempre foi desprovida de direitos.Sem direito a se irritar, sem direito a caprichos, até mesmo sem o direito de dizer que queria terminar.- Se sentindo injustiçada? - Perguntou Francisco.Julieta riu levemente.- Não.Não havia histeria, apenas uma tristeza suave.Uma tristeza que, de certa forma, sufocava.Francisco sentiu um aperto no coração.Virou Julieta para que ficasse de frente para ele e disse:- Julieta, desde que decidiu manter esse filho, deveria estar preparada para enfrentar todas as consequências. Agora, esse
Na calada da noite, um carro deixou o hospital e estacionou do lado de fora de uma fábrica abandonada nos subúrbios.Francisco chutou a porta de uma oficina e, imediatamente, se ouviu xingamentos vindos de dentro.- Maldita! Ela arruinou minha filha e ainda quer me arruinar? Vocês estão conluiados, governo e empresários, eu quero que ela pague caro! Quando eu sair, vou matá-la!Francisco moveu os pulsos, um pouco rígidos, apanhou um bastão do chão e o avaliou em sua mão.Sem esperar por uma reação, acertou a perna do homem com o bastão.O som de ossos quebrando ecoou, junto com gritos, pelo galpão abandonado.Francisco descartou o bastão, acendeu um cigarro e perguntou:- Quem te mandou fazer isso?O homem, pálido de dor, olhou para Francisco com olhos repletos de terror.- Foi ela que arruinou minha filha! Claramente, foi ela que arruinou minha filha! Por que eu não poderia empurrá-la?Sr. Otávio, ao lado, suava frio, preocupado com as consequências de ferir seriamente alguém.- Sr. F
Francisco a carregava para fora, enquanto as pessoas que transitavam pelo hospital observavam.Julieta se sentia desconfortável sob tantos olhares.- Eu posso andar sozinha.Francisco olhou para ela:- Tem certeza de que consegue?- Tenho.Francisco a observou, mas não demonstrou intenção de colocá-la no chão.Quando a porta do elevador se abriu e estavam prestes a entrar, Francisco hesitou.Julieta olhou para trás e viu Mayara e Gustavo dentro do elevador.Mayara também tinha uma faixa no braço.A testa de Francisco se franziu imediatamente.- O que aconteceu?Mayara virou a cabeça para o lado:- Não é nada.Gustavo sorriu:- Francisco, Mayara te ligou ontem à noite. Por que você não atendeu? Ela se machucou ontem, fomos nós que a levamos ao hospital.O olhar de Francisco caiu na faixa do braço de Mayara.- Como se machucou?Os olhos de Mayara começaram a se encher de lágrimas.- Você se importa?Francisco deu uma risada leve:- Se você não quer falar, então não insistirei.- Como pod
Mayara, ao lado, tinha os olhos vermelhos.- Gustavo, pare de falar. Eu fiz isso apenas para acalmar a raiva da Sra. Julieta, nunca pensei em fazer alguém arcar com as consequências.Gustavo franziu a testa imediatamente:- Você é muito bondosa.Mayara, com os olhos cheios de lágrimas, olhou para Francisco:- Contanto que a Sra. Julieta não fique mais zangada, por mim está tudo bem.O olhar de Francisco estava pesado e sua expressão, severamente descontente.Seu olhar se fixou em Julieta.Mas Julieta não mostrou nenhum sinal de ceder.- Já que a Srta. Mayara tanto quer se desculpar comigo, então que se desculpe.Após ela falar, Mayara ficou momentaneamente atônita.Não só Mayara, mas Gustavo ao lado também parecia surpreso.- O que você quer dizer?Julieta encarou diretamente o olhar dele.- Não foi o Sr. Gustavo que disse que a Srta. Mayara queria se desculpar e eu não aceitava? Então, agora pode se desculpar. Contanto que ela se desculpe, eu aceitarei. E mais... - Ela se virou para M
Julieta permaneceu em silêncio por um momento, então sorriu:- Sim, estou satisfeita.Francisco a observou, silenciando por um instante antes de falar:- Vamos deixar o assunto da Mayara de lado agora. Não continue trazendo isso à tona constantemente.A repreensão nas palavras de Francisco era evidente.Julieta sorriu amargamente:- O Sr. Francisco viu tudo desde o início. Fui eu quem trouxe o assunto à tona? Além disso, eu culpei a Mayara? Ela precisava fazer esse teatro na minha frente?A expressão de Francisco se tornou ainda mais fechada.- Você pode não ter a culpado, mas é assim que pensa, no seu coração?- Então quer dizer que nem pensar eu posso?Francisco a olhou mais uma vez, sem proferir mais nenhuma palavra.Julieta se sentia desconfortável, seu corpo todo estava desconfortável.Ela tinha realmente dificuldade em andar, suas pernas estavam fracas, mas ela não queria pedir ajuda a Francisco.Francisco, franzindo a testa enquanto a observava, finalmente se abaixou e a pegou n
Mas ela realmente não conseguia comer.- Prefero algo mais leve.- Claro, vou preparar agora mesmo para você.A empregada levou a canja de galinha, a testa de Francisco se franziu.- Ela não comeu?- A Srta. Julieta pediu algo mais leve.Francisco ficou em silêncio por um momento.- Prepare algo mais leve para ela e, daqui para frente, pergunte sobre suas preferências antes de cozinhar.- Sim, senhor. - A empregada rapidamente concordou e foi para a cozinha.Francisco olhou para a porta fechada do quarto e, por fim, se dirigiu ao escritório.A empregada acabou preparando uma canja de vegetais para Julieta.Mesmo sem apetite, Julieta acabou comendo.Ela teve que admitir que Francisco estava certo.Era o seu corpo que estava nutrindo.Se ela mesma não cuidasse dele, quem mais se importaria?Francisco, sempre tão lógico e preciso.Julieta sentiu um gosto amargo na boca.A empregada, porém, olhava para Julieta com um sorriso.- O Sr. Francisco realmente se preocupa muito com você.Julieta
O coração de Julieta parecia estar sendo esculpido por uma lâmina afiada. Ela não queria dizer a esse homem que talvez nunca mais pudesse engravidar. Dizer isso pareceria como se estivesse o forçando a assumir responsabilidade. Mas as palavras de Francisco eram como uma lâmina afiada, fazendo seu coração sangrar gota a gota, a dor era tanta que até respirar era difícil. Ela respirou fundo e sorriu para Francisco.- Está bem, farei isso.A testa de Francisco franziu ainda mais profundamente. Embora fosse ele quem havia dito aquelas palavras, quando ela concordou, isso o deixou extremamente desconfortável. Ela realmente pensou em ter filhos com outro homem? Seus olhos profundos se fixaram em Julieta.- Mas, Sra. Julieta, não pense que tudo será perfeito. Nem todo homem que permite que você tenha um filho o ama. No futuro, escolha melhor.Julieta deu uma risada.- Pelo menos ele me permitirá ter um filho.O rosto de Francisco escureceu imediatamente. Depois de um tempo, ele disse: