Capítulo 1

Dominic queria algo para quebrar. Geralmente a vontade chegava do nada, sem motivo aparente. Ele apenas queria extravasar. Mas quando tinha um motivo, se controlar era realmente difícil.

Então, sim! Dominic queria quebrar algo.

Talvez o carro do diretor Harrison.

Talvez a cara do diretor Harrison.

 Andou em passos largos até a sala da mãe, onde ela atendia alguém, mas Dominic não se importou, primeiro porque achava que seu problema era o maior de todos. Segundo porque ele conhecia aquela menina que estava sendo aconselhada por sua mãe. Sabrina. Eles saíram por um tempo e quando Dominic não quis algo mais sério, terminou com ela. Não seria a sua mãe que a ajudaria. Ninguém poderia ajudá-la. Sabrina precisava de amor próprio.  Por isso ele desistiu de esperar e abriu a porta da sala da sua mãe interrompendo a sessão de autopiedade.

— Você vai parar de chorar e sofrer quando esquecer que eu existo, Sabrina!

— Dominic! — Anne exclamou se levantando atrás de sua mesa.

— Procure alguém que a queira. — O rapaz continuou sem se abalar, olhando para a garota que parecia chorar ainda mais. — Jonas Doyle, por exemplo. Ele é apaixonado por você desde o quinto ano. Crie um pouco de amor próprio, gatinha. — A menina olhou para ele e depois para Anne, tremeu o queixo mais uma vez e correu para fora da sala.

— Dominic!— Anne exclamou alto.

— Eu não vou fazer mãe! Não vou! Pode me expulsar. Me enviar para o colégio militar, para a prisão direto. Não vou cuidar de uma retardada. Nunca. Não me importo de ficar sem nada, sem ir ao clube, sem sair de casa, sem a minha ...— Ele falhou ao mencionar a sua moto envenenada que tanto amava. — Sem minha moto. Mas não vou servir de babá para essa garota disléxica. Everest.

Anne suspirou derrotada.

— Tudo bem, Dom. — Anne era uma bela e jovem senhora, seus cabelos sempre perfeitamente arrumados e presos em um coque abaixo da nuca. Os olhos verdes dela eram como esmeralda e sempre ficavam ainda mais bonitos quando usava o suéter verde bandeira com suas pérolas. Sua delicadeza, classe e educação ao falar só adicionava mais a beleza da mulher. Ela pegou o livro que estava em sua mesa e caminhou até a estante ao lado do garoto e colocou o livro em um suspiro. Dominic pôde ler o título. Dislexia. Por Berklan — Não vou castigá–lo.

Dom cerrou os olhos desconfiado. Enfiou as mãos nos bolsos das calças e se escorou na parede enquanto a mãe continuava a sua ação sem apresentar qualquer tipo de aborrecimento.

— Não? — Instigou um pouco mais, querendo saber se ela estava apenas jogando com ele, ou se realmente falava a verdade.

— Não! Apenas desisto, Dominic. — O tom de Anne era cansado. Um suspiro saiu dela quando alisou a capa do livro mais uma vez, antes de se virar para o filho.

— Desiste? Nada de escola militar também? — Estava bom demais para ser verdade, mas Dominic, como todo ser humano ainda tinha esperança.

— Sem escola militar. Só espero que você não se arrependa e nem jogue seu futuro fora, filho. — ela se aproximou e beijou a bochecha já que ele era alto demais para receber um beijo no topo de sua cabeça. Dominic suspirou, quando se separou da mãe, Anne tinha o olhar.

Oh, cara! O olhar de ‘Dominic, você me decepcionou’ é cruel.

Ele pensou.

Aquilo era pior do que qualquer coisa. Qualquer castigo.

Geralmente, quando ele aprontava das suas, o olhar de Anne era raivoso. A tática do olhar decepcionado era para ocasiões especiais. Ela usara essa tática no ano passado quando ele não queria ir com a família para o litoral depois de ter se metido em uma briga feia com meninos da outra escola, ela insistia em levá-lo para esfriar a cabeça, então, Dom acabou cedendo. Anne nunca mais usara o olhar e ele agradeceu por aquilo, embora tenha se divertido naquela semana em Sunville.

Ele e seu amigo Jacob sempre estavam aprontando alguma coisa pela cidadela praiana próxima a cidade deles, e não poderia ter ficado com raiva da mãe pela chantagem, aquele tinha sido o melhor verão de todos, mas então, ela estava usando a tática contra ele novamente.  E embora a casca do rapaz fosse a de um bad boy e ninguém tivesse descoberto ainda o motivo de Dominic ser tão agressivo, o garoto tinha um coração. Anne sabia disso. Conhecia a rebeldia sem causa do filho, mas também sabia que existia um bom menino ali. Dom simplesmente não conseguia dizer não a sua mãe quando ela tinha aquele olhar.

O problema é que Jamie Everest não era uma temporada na cidade praiana.

Ele estava ferrado.

— Me dê a droga do livro. — Pediu o rapaz.

— Não. — Anne respondeu, mas um sorriso vitorioso dançava em seu rosto.

— Vamos, mãe. Me dê o livro, sei que era para eu ler. — Pediu irritado, esticado o braço para a prateleira.

— Não. — Repetiu ela, calmamente. — Você não quer e não adianta fazer algo contra a sua vontade. Faria tudo pior. — Explicou.

Ela estava louca? Queria que ele ajudasse e fizesse aquilo feliz? Sorrindo?

— Ótimo, não vou fazer o seu joguinho! — Bufou, cruzando os braços.

— Tudo bem, Dominic. Vá para a aula. — Ela abriu a porta para que se retirasse e ele o fez, mas antes que saísse, Anne deu seu golpe de misericórdia. Ser conselheira de crianças exigia calma, delicadeza e muita paciência. Mas aquele em sua frente era a sua criança. Ela podia jogar baixo. — Sabe, Jamie é uma menina doce. Quando veio fazer sua matrícula com seus pais eu conseguia ver o quanto ela estava se sentindo perdida. Minha aposta é que ela certamente precisa mais do que um tutor. Ela precisa de amigos. As pessoas não a entendem, Dom. Tudo que está fora de compreensão assusta. Conheço alguém assim. Que afasta as pessoas. — Os olhos de Anne eram assustadores para o filho.

Claro que sim, além de orientadora, psicóloga da escola, Anne era mãe. Ela conhecia a sua cria. E embora não tivesse nenhum trauma de infância, nada que pudesse ter desencadeado a rebeldia de Dom, ela sabia que o filho se sentia deslocado, mesmo sempre sendo popular e rodeado de pessoas. Dom estava perdido. Ela só queria que ele se encontrasse. Tivesse um objetivo maior do que causar dano para preencher o vazio que ele sequer sabia que existia.

Depois do golpe de misericórdia, Dominic saiu pensando em tudo o que a mãe dissera. Ele não concordava com a maneira como comparou ele e a garota disléxica, mas entendeu o seu ponto, pensou por um momento que a decepcionara demais com seus atos e talvez uma boa ação pudesse acalmar o coração preocupado de Anne.

Olhando em sua nova grade para o ano letivo se deparou com Biologia.

Odeio Biologia!

Mesmo odiando biologia, ele era bom na matéria.

"Dominic London é bom em tudo, afinal."

Mona, sua ex–namorada, ainda dizia às amigas pelos corredores da escola. Dominic e seus irmãos eram como astros naquele lugar. Quando Tom e Lindy resolveram namorar os gêmeos Faith e Sam então, foi como se um grupo de elite se formasse dentro da escola.

Era realmente ridículo.

 Mas Dom seria um mentiroso se dissesse que odiava totalmente aquela atenção, ele era o único solteiro. Depois do término do seu namoro no ano passado, Dom era o grande prêmio do colegial.

Ele era como Elvis, como Jerry Lee e Dean ao mesmo tempo. As meninas suspiravam por ele e todo o seu ar rebelde, aquela que caia em suas graças, mesmo que por pouco tempo era considerada uma vitoriosa. Mona ainda se descabelava para voltar com ele, mas Dominic não era o tipo fiel, muito menos apegado. Parecia amar sua moto acima de qualquer garota que aparecesse em sua frente. E bem, Mona não fora exatamente devota a ele.

As meninas se derretiam por ele. Sonhavam em estar perto nem que fosse na fila do refeitório enquanto pegavam o almoço. Dominic era dono do cabelo mais perfeito, da moto mais brilhante, dos olhos mais verdes, do corpo mais cobiçado, da boca mais carnuda.

E bem... dos sentimentos mais egoístas.

Pouco importava se alguém era apaixonada por ele. Pouco importava os sentimentos de qualquer pessoa, quase pouco importava os sentimentos de sua família. Lindy era a única que ainda o domava, além de sua mãe, mas andava ocupada demais tendo suas primeiras relações sexuais com o namorado Samuel. Tom não tinha moral com Dominic e nem mesmo queria. Só pensava em sair daquele lugar e ganhar dinheiro com o futebol caso escapasse do alistamento militar no final do ano, estava repetindo a último ano e tinha coisas mais importantes para se preocupar.

Os irmãos eram uma escadinha. Tom era o mais velho, com dezenove anos, ainda estava na escola graças a uma pequena falha em matemática, por isso estudaria com  Lindy, a segunda irmã mais velha com dezoito anos, era a princesa da família e estava empolgada para começar o seu último ano na escola. Tom e Lindy não tinham apenas a turma sênior da escola em comum, eles também namoravam os irmãos Stuart. Os gêmeos Faith e Sam. Os quatro eram grudados e por isso Dom se sentia um tanto deslocado, por isso preferia ficar sozinho ou com seus ‘parceiros de crime’.

Bem, isso e o fato de que ele era uma mau humorado.

Dominic era o caçula, dezessete anos, no segundo ano e bem... Apenas isso. Dom não tinha expectativas como os irmão. Ele apenas estava lá.

Pensando bem, quem teria expectativas acordando cedo todos os dias para ir  a mesma escola, olhando os mesmos rostos, ouvindo as mesmas fofocas?

Não Dom.

Quando invadiu a sala de aula, ele não prestava atenção nos murmúrios e suspiros que as meninas deram. Ele apenas pensava no interesse da mãe na garota disléxica.

Qual era mesmo o seu nome? Jamie?

Se perguntou enquanto passava por todos e escolhia um local para se sentar.

Não demorou muito para que lhe respondessem a sua pergunta muda, ele viu uma menina atravessar a porta da sala de biologia e teve certeza que era ela. Exatamente como imaginou. Introvertida, medrosa e neutra, seus passos eram os de uma pessoa que não queria ser vista, de alguém que sequer sabia o significado da palavra confiança.

Era bem vestida, mas de uma maneira completamente careta, os cabelos estavam soltos e ondulados nas pontas sendo presos apenas por um laço azul marinho que contrastava com o seu vestido de verão lilás. Jamie Everest era bonita. Ele sabia, percebera, mas não deu outro pensamento a isso.

Ela carregava seus livros apertados nos braços, quando chegou à mesa do professor arriscou olhar para os alunos que a analisavam como um chimpanzé no zoológico, não olhou para Dominic, ficou envergonhada demais para ficar olhando cada um dos alunos e desviou sua atenção antes que chegasse a ele.

— Senhorita Everest.— O professor Stevens sorriu para ela.— Seja bem-vinda. Turma, deem boas-vindas à nova aluna, Jamie Everest.

Jamie torceu o nariz, odiava chamar atenção e bajulações. Principalmente ali. Na frente de tantas pessoas.

— Bem, aqui diz que você... — Iniciou o professor falando com ela enquanto analisava a sua ficha.

Dominic viu o pavor da menina quando ela percebeu que provavelmente o professor estava a ponto de expor sua dificuldade diante de toda a sala de aula.

— N-não... não é... não é necessário...— Jamie começou a gaguejar baixo, seus olhos dançaram nervosamente e estava ficando vermelha.

— Professor? — Toda turma virou em direção a porta da sala para ver a senhora London chamar. Anne sorria amistosamente em direção da aluna nova. — Estava esperando poder falar rapidamente com a senhorita Everest, é possível?

Enquanto toda a turma olhava para a conselheira, Dom manteve seus olhos em Jamie. Em sua forma curvada, envergonhada, quase inexistente.

Como se soubesse que um par de olhos a analisava, Jamie criou coragem e levantou a cabeça, sabia exatamente na direção que deveria fitar, seus olhos finalmente encontraram os de Dominic.

A forma como ela ofegou, corou e piscou várias vezes fez com que Dom desviasse sua atenção rapidamente. Ele conhecia a reação que causava na maioria das garotas de sua idade. Em uma cidade tão pequena, não havia muitos jovens para quebrar corações. Mas a forma como Jamie o olhou, mesmo que conhecida, parecia diferente. Causava-lhe uma reação diferente. Jamie tinha inocência pairando sobre ela. E se ele fosse sincero, o rosto claro, pálido, parecendo porcelana, os cabelos castanhos brilhantes e os longos cílios lhe fazia parecer um belo anjo.

Dentro da mente de Jamie tudo funcionava perfeitamente, ao menos para ela. Conseguia se comunicar, verbalizar, ler, tinha a vida perfeita. E quando ela colocou seus olhos no belo rapaz de cabelos castanhos escuros e levemente bagunçados, rosto simétrico, displicência selvagem e jaqueta de couro que ecoava perigo, seu coração passou a bater de forma diferente, seu estômago a deixou com vontade de se curvar e segurá-lo para que não caísse e seu rosto todo esquentou.

Quem era ele?

— É claro, Anne. Por favor, Jamie. — O professor apontou para a porta fazendo a garota desviar o seu olhar.

Caminhou em direção a porta para encontrar Anne que a esperava com um sorriso doce nos lábios. Jamie olhou para a mulher e não teve como não se impressionar com a sua postura, beleza e simpatia. Jamie ousou olhar para a turma antes de sair pela porta e mais uma vez cruzou seu olhar com Dominic.

Ele sacudiu a cabeça voltando a atenção para o professor, mas sabia o que a mãe estava fazendo naquele momento.

Bem- vinda à Midle High School, querida.

Ele imitava a voz da mãe mentalmente.

Tenho certeza que você vai gostar muito daqui.

Mas então a menina começou a responder as perguntas de Anne com negação. E Dominic não soube o que eram aquelas respostas. O sorriso de sua mãe caiu então a curiosidade se fez maior, e quando a menina voltou para a sala de aula deixando Anne desorientada. Dominic levantou–se da sua cadeira sem saber o que estava fazendo e caminhou até sua mãe rapidamente. Anne ainda estava um tanto catatônica quando ele a sacudiu para que falasse com ele.

— Mãe? Mãe!

— Ah... sim...? — a mulher estava devagar.

— O que foi?

— Essa menina precisa de ajuda, ela é ... — Anne não continuou. Não poderia falar ali, com ninguém. Apenas começou a andar pelo corredor com o filho lhe acompanhando. Quando chegaram a um local mais apropriado, não que qualquer lugar fosse bom para ela falar sobre a sua constatação, ela parou e olhou para Dominic mostrando o quanto estava sentindo–se mal por Jamie.

— O que foi? Diga logo, mãe. — ele implorou. Nunca fora curioso com nada, ele sempre preferia manter a distância e se abster de qualquer fato da vida alheia para que recebesse o mesmo de volta, mas de algum jeito, a garota nova lhe despertava interesse.

— Eu peço que reconsidere filho, pedirei a Lindy e Tom que ajudem também. Esta menina precisa de ajuda. — Disse tristemente. Parecia desolada.

Dominic conhecia a mãe, sabia que ela estava em outra missão de resgate. Anne London era simplesmente daquele jeito.

— Todo jovem aqui precisa de ajuda. Essa é a sua filosofia, mãe. — Debochou Dom, mas sabia que aquilo era diferente.

— A maioria dos jovens aqui tem seus pais, ou ao menos um deles, Dominic. — Anne disse seriamente para o filho. — Acredite quando digo que esta menina não tem ninguém senão pessoas que não entendem e não querem entender a sua condição. Seja amigo dela, filho. Por favor! Jamie não tem apenas dislexia, ela é simplesmente solitária.

Ser amigo dela?

Aquilo era um pouco demais, não?

Ele não sabia se conseguiria, nem mesmo se queria tentar, mas queria tranquilizar sua mãe, Anne parecia mais preocupada do que o normal com uma aluna qualquer.

— Tudo bem, mãe. Eu vou ajudar, mas ... o que? — Perguntou quando Anne o abraçou.

— Obrigada, querido! Sabia que não me decepcionaria. — Ela sorriu ao separar–se do seu abraço e acariciou seu rosto. — Busque o livro mais tarde e aproxime–se dela. Seja seu amigo. Um bom amigo. — Seu olhar advertiu.

— Tudo bem, mãe. — Revirou os olhos retornando para a aula, quando chegou o professor já estava passando a matéria, Jamie estava sentada ao lado de Eva Emerson, a menina a olhava estranhamente e Jamie não tirava os olhos do livro, ela teria enganado bem sobre a sua concentração e leitura se uma das características da dislexia não fosse justamente a falta de foco e desatenção. Teria enganado sobre a sua calma também, se não estivesse simplesmente tentando ler um livro de cabeça para baixo. A garota estava petrificada. Visivelmente desconfortável com tudo. Mas seus olhos piscando constantemente e suas bochechas coradas conseguiam deixá-la tão bonitinha que Dom tinha vontade de xingá-la.

Pare de corar, é gracioso!

Gostaria de ordenar.

Ele sentou-se ao lado de Mike Forbes e se manteve calado pensando em como se aproximaria da garota nova.

Ser amigo? Sério? Sua mãe estava de brincadeira.

— Hey, London… — Mike cumprimentou. Eram amigos de festa, ele, Dominic, Ben Casey e John Idaho, mas não ficavam exatamente conversando na escola. Eram mais caras para sentar zoar os outros, fumar cigarros na parede atrás do ginásio e contabilizar as garotas que beijaram, mas conversas profundas realmente não era a pauta.

— Forbes, sua namorada não senta mais do seu lado? — Aproveitou que o rapaz puxou assunto para perguntar. Olhando em direção de Eva e Jamie, Mike sorriu.

— Eva será tutora da menina nova.

— Quem disse...? — Dominic perguntou alarmado.

— Bem, o professor disse que ela precisaria e Eva se colocou à disposição, eu acho. — Mike bocejou.— Cara, olha lá! — Dominic virou o rosto para o outro extremo da sala onde Forbes apontava e sentiu seu sangue ferver. Mona estava novamente olhando para ele com aqueles olhos. Olhos fingidos de menina sonhadora, mas que na verdade não passava de uma garota fácil e egoísta.

— Quem olha pensa que ela quer casar comigo.— Ele bufou.— Oferecida.

Mike riu. Sabia que o ódio de Dominic não era porque ainda gostava de Mona e sofria pelo fim do namoro. Era porque ele não admitia o fato de ter sido traído pela garota promíscua com o líder da "gangue" da escola adversária, Richard Joseph Stone II.

Grandes porcaria aquele nome de maricas.

Ele sempre dizia.

Não amava Mona, nem mesmo gostava da garota. Ela só era bonita e conveniente durante as festas da fogueira na praia de Sunville. Mas ter se envolvido com Rick Stone foi como uma punhalada pelas costas, ele e Rick sempre foram rivais, nunca souberam exatamente o motivo, mas não se gostavam nenhum pouco. E Mona ter traído Dominic justamente com ele só jogou mais gasolina na fogueira. Não que Dom fosse um cara fiel à sua namorada, mas Rick era baixo demais e totalmente fora da linha, até mesmo para Mona.

Dominic terminou com a garota e desde então ela corre atrás dele igual a poodle perdido, ou mais para um poodle raivoso.

**

— Então, Mike me levou para o píer e me pediu em namoro lá, aí foi...— A garota continuava falando sem parar.

 Jamie mal escutava o que dizia aquela menina ao seu lado. Qual era o nome? Ella? Della? A menina estava no encalço de Jamie desde a primeira aula e quanto mais a ouvia falar, mais nervosa ficava. Mas respirava fundo e continuava, passo por passo.

 Quando optou por frequentar a escola, seus pais foram contra, eles não a queriam em uma escola pública com um bando de crianças que a pudessem fazer se sentir mal, o que, na verdade, significava que eles não queriam que ela envergonhasse a família, mas Jamie precisava saber o que havia além das paredes de seu quarto.

Foi quando seus pais decidiram ceder, então compraram uma casa próximo ao lago de Midle Creek. Era calmo e belo. Jamie amou. Mas sua mãe não falava com ela desde a mudança. Nada que a menina já não tivesse vivido antes, então, Jamie resolveu que daquela vez não cederia. E para que desse certo ela tinha que ir para a escola, não entrar em pânico e tentar se comunicar da melhor maneira possível com as pessoas. Não poderia ficar o resto da vida escondida dentro de casa.

Respirando fundo, Jamie parou no meio do caminho ouvindo seus sapatos fazerem um barulho estridente no chão quando travaram.

— Olha, Nora... — Começou sentindo-se bem ao perceber que não havia travado logo nas primeiras palavras.

— Eva!— a menina corrigiu.

Faça isso rápido como treinou e não gaguejará.

Conversou Jamie consigo mesma enquanto se concentrava para falar com Eva.

— Sim, desculpe. E-eu tenho que ir, meu pai está me esperando. Obrigada pela companhia. — falou rapidamente e quase sem gaguejar. Sentiu-se vitoriosa, geralmente ela se atrapalhava com as palavras muito mais, especialmente se estivesse nervosa. Sem aguardar uma resposta da menina que lhe seguia, Jamie seguiu correndo para fora.

Não queria ser rude e provavelmente se arrependeria de sua atitude em breve, mas não estava aguentando o sufoco que passara em seu primeiro dia de aula. Nunca havia entrado em uma antes, nunca tivera amigos antes e embora estivesse ansiosa para tudo, precisava ir com calma.

Calma.

Ela aprendera com o tio e com os empregados da família que calma era tudo.

Com calma ela ouvia melhor, tocava melhor, lia, bem pouco, mas melhor, se concentrava melhor e falava muito melhor. Com o bombardeio da garota misturado aos olhares dos outros alunos e ainda lembrar do rapaz absolutamente lindo que a fitava de longe pelos corredores e aulas durante o dia, realmente estava tirando-a de seu eixo.

Dominic estava seguindo as duas desde o momento em que saíram da sala de aula na primeira aula. Assistiu durante o dia inteiro Eva cacarejar no ouvido da menina nova enquanto ela parecia estar em outro mundo. Riu quando finalmente deu um fora em Eva, deixando-a para trás e correndo para fora da escola. Ele correu atrás e ficou observando Jamie chegando à calçada que dava para a rua, ele pensou que ela pararia para esperar algum carro parar ou algo assim. Mas ela atravessou a avenida movimentada com cuidado e foi para o outro lado.

Mas o pai dela não estava esperando?

Ele pensou ponderando se ia ou não atrás da menina, porém, a viu pegando um táxi e ficou mais confuso ainda.

Levou a mão em seu cabelo e puxou, como sempre fazia quando estava confuso ou preocupado.

Ela mentiu.

Ok, todo mundo mente, e para se livrar de Eva... nem sequer é um pecado quando se trata de fugir daquela pentelha.

Ele retornou para escola para encontrar sua mãe.

**

— Entre, Dom. — Ela chamou sem ao menos ele bater.

— Como sabia que era eu? — perguntou quando abriu a porta.

— Posso ouvir seus passos de longe, pesados, como sua personalidade, Dominic — explicou, fazendo ele revirar os olhos.

— Lindy diz que você pressente as coisas, as vezes acho que ela tem razão. E que ela também faz isso.

— Sua irmã lê livros demais. — Anne juntou suas mãos bem cuidadas sobre a mesa e aguardou as próximas palavras do filho.

— É, mas ela é arrepiante. Sempre acerta.— Ele sorriu.

— Ela consegue antecipar seus movimentos, Dominic, por isso ela sempre acerta com você. Aqui, este é o livro. — Levantando do seu lugar, ela entregou para ele. Dominic olhou o livro por um tempo, criando coragem para perguntar sobre a menina que ele deveria se aproximar.

— Conseguiu ver Jamie? — Perguntou, o olhar dela era preocupado, como se ela quisesse saber da vida de Lindy, não de uma aluna qualquer da escola.

— Eu vi, ela é meio maluca. Não sei... — ele deixou escapar por fim.

Anne suspirou.

— Até você, Dominic? Pensei que por você sempre ser tratado como o ‘encrenca da cidade’, entenderia melhor essa menina.

— Eu não sou visto como a ‘encrenca da cidade’, mãe. — Se defendeu olhando para a mãe como se ela estivesse falando uma grande asneira.

— Não, claro que não, querido. Você é o marginal da cidade, desculpe.

— Hey! — exclamou para ela com desgosto evidente em sua voz. Mas Anne havia chegado ao seu objetivo.

— Jamie tem dislexia, é algo que deve ser assustador para ela. As pessoas confundem com burrice ou mesmo preguiça. Ela foi educada em casa a maior parte de sua vida, paternidade não está no dicionário dela, e nem amigos, Dom. Ela não é maluca. — Explicou calmamente. —  Jamie é sozinha, deslocada e está tentando fortemente fazer parte deste mundo. Se você não gosta de ser o marginal da cidade, o que leva você a pensar que ela gostaria de ser a maluca?

Touchè!

**

Dom foi para casa sem tirar as palavras da mãe e os cabelos brilhantes da menina de sua mente. Piscando e balançando a cabeça, ele se concentrou em dirigir a sua moto de volta para o lar dos London.

Chegando em, Dominic sentiu-se aliviado ao descobrir estava sozinho, então subiu para o seu quarto e tirou da mochila o livro.

Tudo bem! Vamos fazer isso!

Pegando seu caderno, abriu nas últimas páginas, com a caneta a postos ele começou a anotar os pontos que pensava serem relevantes para aprender sobre a condição de Jamie.

“Foi identificado pela primeira vez por Berklan em 1881;

Mas só foi reconhecido em 1887 por Rudolf Berlin, um oftalmologista alemão. O termo foi usado para se referir a um jovem que apresentava dificuldades para ler e escrever, mas que mesmo assim apresentava habilidades intelectuais normais em todos os outros aspectos, como matemática, biologia etc.

Em 1896, W. Pringle Morgan, um físico britânico de Seaford, Inglaterra publicou uma descrição de uma desordem específica de aprendizado na leitura no British Medical Journal, intitulado "Congenital Word Blindness". O artigo descreve o caso de um menino de 14 anos de idade que não havia aprendido a ler, demonstrando, contudo, inteligência normal e que realizava todas as atividades comuns de uma criança dessa idade.

Os métodos usados para melhoria na aprendizagem devem ser aplicados desde cedo na vida da criança, desde estimulações audiovisuais, reforço na leitura e escrita em casa no mínimo uma hora por semana, até aulas de  produção da escrita e metas de leitura para exercitar a mente, quanto mais contínuos os exercícios, mais facilidade o portador de dislexia encontra para evoluir perante a sociedade.”

Jamie chegou a fazer isso? Passou por alguma avaliação? Por que sua mãe estava tão inclinada a ajudar aquela menina se ela mesma havia dito que Jamie tinha sido alfabetizada em casa. Não teria tido mais atenção então? Eram lacunas que ele precisava preencher.

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