O motorista parou o carro imediatamente no acostamento, mantendo o olhar fixo na estrada, sem desviar nem por um segundo.Lucian soltou uma fumaça fina entre os lábios e disse, com indiferença:— Eu já te avisei para não passar dos limites. O que você queria, já conseguiu. Pode descer. O seu motorista também veio atrás o tempo todo.As palavras de Lucian pegaram Daphne completamente desprevenida. Ela tinha contado para ele que o motorista dela tinha tido um problema, só para convencê-lo a buscá-la pessoalmente.Ser desmascarada assim foi como levar dois tapas secos na cara. O rosto dela queimava de vergonha, mas, só de pensar em sair do carro daquele jeito, ela não conseguia aceitar aquilo.Ela se recusava a acreditar que Lucian não sentia nada por ela. Mesmo que não fosse amor, pelo menos desejo, não? O que é que Florence tinha que ela não tinha?Com o coração acelerado, Daphne se jogou sobre Lucian, abraçando-o com força, quase chorando, e se aninhou no colo dele, sem se importar com
Florence usou o celular para chamar um Uber, mas, como mais cedo ela tinha colocado o ponto de encontro na esquina, acabou se esquecendo de mudar o endereço. Quando percebeu o erro, o motorista já tinha aceitado a corrida, então ela só podia aguentar a dor e ir mancando até o local combinado.Foi um trajeto curto, mas para ela parecia uma eternidade.No caminho, Florence viu Rosana saindo do ateliê e chamou:— Rosana, você… Pode me ajudar a andar?No dia a dia, Rosana adorava bancar a melhor amiga. Florence pensou que era a hora de aproveitar isso, mas nem terminou de falar.Rosana já olhava fixamente para o tornozelo dela e cortou:— Desculpa, Flor, minha mãe acabou de me ligar dizendo que machucou as costas no trabalho, preciso ir pro hospital agora, não tem como te ajudar. Preciso correr.No rosto de Rosana havia uma expressão de preocupação, mas nos olhos um brilho de diversão. Se Florence se esborrachasse ali mesmo, seria hilário. Ela até já estava abrindo a câmera do celular para
Fernando continuava igual ao de sempre. Apesar de ser médico, ele falava como se estivesse no palco de stand up, com o tom animado e a voz sempre cheia de energia e esperança. Era impossível não notar o contraste entre esse jeito leve e a loucura que ele mostrava ao se beijar com Daphne.Se Florence não tivesse enxergado através da máscara dele, teria achado, como quase todo mundo, que ser amigo de Fernando devia ser uma alegria constante.Ela própria já pensou, em outra vida, que talvez todos os pecados de Fernando tivessem sido culpa de Lucian. Mas agora via com clareza: Fernando fazia de caso pensado. Quando ele operou Estela, já não pretendia deixá-la viva.Naquele tempo, o último elo entre Florence e Lucian era a criança. Por causa do filho, Lucian jamais abandonaria a esposa e a filha. Ele só podia sentir pena de Daphne e do filho dela, que nunca seriam reconhecidos, e, ao mesmo tempo, tramava para sumir com mãe e filha.Com Fernando e Daphne tramando juntos, Florence e Estela nu
Mil graus de miopia? Isso não podia ser verdade.Florence lembrou da última vez em que viu Fernando e Daphne juntos, trocando beijos, enquanto ele ainda usava uma jaqueta de couro com o emblema de uma equipe profissional de automobilismo.Por causa disso, ela até pesquisou na internet sobre o assunto. Mas, talvez por ter confundido o logotipo, não encontrou nada que ligasse Fernando a nenhuma equipe. O que encontrou foram vários critérios rígidos para pilotos profissionais.Entre eles, um chamou sua atenção: a exigência sobre a visão dos pilotos. Para ser piloto profissional, não podia ser míope com grau tão alto. Quem tem mais de mil graus de miopia simplesmente não passa nos testes.Por alguns instantes, Florence ficou sem saber se acreditava ou não. Será que era só mais uma jogada de Fernando para enganar?Ela pensou nisso por alguns segundos e levantou os olhos para Fernando. Ele estava de lado, examinando a radiografia, e ela pôde ver de outro ângulo as lentes dos óculos.Através
Antes mesmo que Florence pudesse se despedir, Cláudio já havia girado a cadeira de rodas e a levado para fora do consultório de Fernando.Quando desceram, o céu já estava escuro. O motorista, atento, correu para abrir a porta do carro assim que os avistou.Vendo a cena, Florence tentou se levantar sozinha da cadeira:— Tio, eu posso chamar um carro no celular, não precisa se preocupar comigo.Mas, no instante em que ela deu o primeiro passo, sentiu as pernas falharem. O corpo cedeu e ela quase caiu de joelhos diante do homem à sua frente, não fosse Lucian segurá-la a tempo.Que vergonha! Florence ficou de cabeça baixa, sem coragem de levantar o olhar.De cima, Lucian soltou uma risada abafada:— Não precisava agradecer se ajoelhando.Florence mordeu os lábios, sem conseguir rebater.Lucian passou o braço pela cintura dela e a ergueu, obrigando-a a encará-lo de frente.— Engraçado, com os outros você é toda educada.— Obrigada. — Florence murmurou, desconfortável.— O quê? Não ouvi dire
Quando Florence pensou em se virar, ouviu uma voz conhecida.— Tio, quanto tempo... Fico feliz em ver que você está bem.A voz de Ronaldo continuava absurdamente suave, com uma gentileza que parecia fazer parte do seu próprio sangue. Tudo o que ele dizia soava envolto em doçura, mesmo quando deixava claro o tom de provocação contra Lucian.Florence levantou os olhos devagar e encontrou o olhar de Ronaldo, que já estava bem à sua frente.Ele sorriu do mesmo jeito de sempre e murmurou baixinho:— Flor.Para Florence, porém, aquela voz parecia fria como o toque de uma serpente, silenciosa se aproximando da presa, pronta para dar o bote.— Boa noite, Ronaldo. — Ela respondeu gelada.Ela lembrava do que Lyra tinha contado: que Melissa, sob o pretexto de cuidar dos pais, tinha levado Ronaldo de volta para a casa dos Nunes.Agora, Ronaldo era o cérebro por trás do Grupo Nunes, quase nem aparecia mais no Grupo Avery, o que vinha deixando Theo irritado com tudo e todos.Ainda por cima, o Grupo
Ela olhou surpresa para Lucian. Como ele sabia que ela estava querendo sopa de tomate?Lucian virou o rosto para ela e disse, sem alterar o tom:— Pode tomar.— Tá bom. — Florence assentiu e começou a tomar a sopa, sentindo o calor aliviar um pouco o desconforto.Ronaldo observou a cena com um olhar indecifrável, apertando com força o garfo entre os dedos.Melissa passou o guardanapo nos lábios, deu um sorriso enviesado e comentou:— Flor, por que você saiu para jantar com o Lucian? Falo por bem, mas fica o aviso: certas coisas não podem se repetir. Para mulher, o mais importante é a reputação.O rosto de Florence ficou pálido. Ela sabia muito bem que Melissa estava falando do caso entre ela e Lucian. Já fazia tempo, e ninguém da família Avery ousava tocar no assunto, mas Melissa fazia questão de constrangê-la diante de todos.Nesse instante, o som do café sendo servido ecoou pela mesa.Lucian largou a cafeteira com calma, pegou a xícara e lançou um olhar gelado para Melissa:— Não sab
Quando Ronaldo falou em “atacar onde dói”, ele lançou um olhar direto para Florence.Ela ficou desconfiada, prestes a perguntar o que ele queria dizer, mas foi interrompida por uma voz grave atrás de si.— Florence.Lucian apareceu com passos largos, vestindo o clássico terno preto e camisa branca. Não precisava de detalhes para impor respeito; só a presença dele já era esmagadora. Em poucos passos, ele tomou conta de todo o ambiente. O cigarro de Ronaldo se consumia até o filtro entre seus dedos, mas, diante do olhar de Lucian, ele ficou paralisado, só o ódio borbulhando nos olhos.Sem dar a mínima para Ronaldo, Lucian passou direto, segurou Florence e a pegou no colo, saindo dali sem olhar para trás.— Tio. — Ronaldo chamou, com a voz carregada de rancor.Lucian parou, mas não virou.Florence olhou para Ronaldo por cima do ombro. O olhar dele estava cada vez mais obcecado, deixando-a inquieta.Ronaldo soltou uma risada fria:— Tio, aposto que você não sabe... A Florence me disse que