Gabriela
O silêncio do quarto era interrompido apenas pelo som das máquinas monitorando cada batida do coração de Magnus. O ritmo constante e mecânico me dava esperança, mas ao mesmo tempo, cada bipe ecoava como um lembrete cruel de que ele ainda não havia despertado.
Haviam se passado sete dias. Sete dias vendo-o imóvel, preso a fios e tubos, incapaz de me ouvir. Eu falava com ele todos os dias, segurava sua mão, implorava para que ele voltasse para mim. Cada dia que passava, minha esperança oscilava entre o desespero e a fé cega de que, em algum momento, ele abriria os olhos e tudo voltaria ao normal.
Mas nada era normal agora.
Minhas costas doíam por dormir naquela poltrona desconfortável ao lado dele, meu corpo estava exausto, e minha mente, um caos. Eu não queria sair de perto. E se ele acordasse e eu não esti
LeonardoO quarto estava silencioso, mas não era um silêncio confortável. Era o tipo de silêncio pesado, sufocante, que antecede uma tempestade. Gabriela ainda estava parada na porta, sem conseguir se mover, como se esperasse que, a qualquer momento, Magnus se lembrasse dela. Mas ele não se lembrava. Eu vi nos olhos dele.E aquilo me destruiu.Eu sabia exatamente o que Gabriela estava sentindo. Eu já passei por isso. Já vi Amber me olhar sem saber quem eu era, sem reconhecer nosso amor, sem lembrar da nossa história. Sei como é implorar por algo que deveria ser natural. E sei que Gabriela estava sentindo esse desespero agora.Magnus, por outro lado, estava claramente confuso. Sua respiração ainda estava acelerada, os dedos inquietos sobre o lençol, os olhos vagando entre Gabriela e eu como se estivesse tentando decifrar um código que não fazia sentido.Ele não entendia por que aquela mulher estava chorando por ele.Ele não entendia por que eu estava olhando para ele com tanta tensão."
MagnusO trajeto de volta ao quarto foi lento e exaustivo. Os enfermeiros não pareciam com pressa de me levar para o quarto, e ser arrastado de um lado para outro naquela cama de hospital, me deixava ainda mais irritado.Cada movimento era um lembrete do que meu corpo havia suportado.Meu braço e minha perna estavam enfaixados, o peso dos ferimentos me mantinha quase imóvel, e a dor no crânio latejava como um tambor constante. Eu estava ali, desperto, consciente, mas ao mesmo tempovazio.Minha mente era um abismo.Havia um buraco onde minha vida deveria estar.Eu tentava agarrar qualquer fragmento de memória que pudesse me ancorar, mas tudo que encontrava eram sombras. Sentia que deveria lembrar, que havia algo perdido em algum canto da minha mente, esperando para ser recuperado.Mas por mais que eu tentasse, o vazio permanecia.
GabrielaMeu coração batia forte enquanto segurava o celular em mãos.Eu não sabia se estava pronta para reviver nossa história dessa forma, na frente dele, como se tudo pudesse ser contado através de imagens.Mas ao mesmo tempo, era a única maneira que eu tinha para tentar trazê-lo de volta para mim.Respirei fundo e deslizei o dedo pela tela, abrindo nossa galeria.As fotos surgiram diante de nós, memórias congeladas no tempo.A primeira era uma imagem simples.Nós dois no café da manhã, ele mexendo no meu cabelo enquanto eu lia um livro.Era um momento cotidiano, masrepleto de significados.Magnus observava a foto com atenção, e eu via seus olhos analisando cada detalhe,como se tentasse encontrar um fio de reconhec
GabrielaO mundo ao meu redor parecia ter desaparecido. Tudo o que existia era a forma como os olhos de Magnus me prendiam no lugar, como se me desafiassem a me lembrar do que já foi nosso. Seu olhar, a forma como seu corpo parecia querer me reconhecer, como se tentasse se agarrar a algo invisível, mas profundamente familiar…E então, eu me inclinei.Eu queria senti-lo de novo. De verdade.Mas, antes que nossos lábios se tocassem, a porta do quarto se abriu."Magnus, os médicos disseram que—"A voz de Leonardo soou como uma bomba no quarto.Meu corpo travou instantaneamente.Me afastei de Magnus tão rápido quanto se tivesse sido pega fazendo algo errado. Minhas mãos tremiam, meu rosto estava quente, meu coração disparado.Leonardo parou na entrada, o olhar oscilando entre mim e Magnus, a sobrancelha arqueada com uma mistura de surpresa e constrangimento."Desculpem… não queria interromper nada," ele disse, mas seu tom deixava claro que ele sabia exatamente o que havia acontecido."Não
LeonardoMe encostei na parede de frente para sua cama, cruzando os braços enquanto observava Magnus bufando impaciente, os olhos fixos no teto."Eu realmente não queria ter interrompido a reconciliação," soltei, sem disfarçar o tom de provocação.Magnus desviou o olhar para mim e revirou os olhos com um suspiro irritado."Leonardo," ele bufou. "Se você veio aqui só para ser um idiota, pode dar meia-volta e sair."Soltei uma gargalhada e puxei a cadeira ao lado da cama, me acomodando de maneira confortável."Ah, Magnus," balancei a cabeça, me divertindo com a irritação dele. "Nem que você quisesse, poderia tentar entender o que sente por Gabriela agora. Todo ferrado do jeito que está? Impossível."Ele cerrou os olhos para mim."Só não te dou um soco porque estou impossibilitado. Mas quando eu melhorar, pode ter certeza que vou lembrar dessa conversa."Ergui as mãos, ainda rindo."Eu que lute para sobreviver a esse dia, então."O silêncio se instalou por um momento, e observei Magnus s
MagnusO silêncio do quarto era interrompido apenas pelosom baixo das páginas virando.Abri os olhos devagar, piscando algumas vezes para ajustar minha visão à penumbra do ambiente.A luz fraca do abajur projetava sombras suaves, tornando tudo mais acolhedor do que deveria ser.Então,eu a vi.Gabriela estava sentada na poltrona perto da cama,enrolada em uma coberta fina, com as pernas dobradas sobre o assento.Os cabelos caíam suavemente sobre os ombros, e seu olhar deslizava atentamente sobre as páginas do livro que segurava.Ela parecia tão absorta na leitura que não percebeu que eu estava acordado.Emeu coração reagiu de um jeito estranho.Uma pontada. Um aperto no peito.Como
MagnusO calor da água morna envolvia meu corpo, enquantoos olhos de Gabriela, intensos e cheios de desejo, se fixavam nos meus.Ela estava ali,imersa na banheira, envolta apenas pela espuma, os cabelos loiros úmidos caindo sobre os ombros.Sua pele brilhava sob a luz baixa do banheiro, e seu sorriso carregava uma provocação que eu sentia até a alma.Ela era minha.E eusabia disso naquele momento.A espuma cobria seu corpo de maneira estratégica, deixando-me apenas com vislumbres do que eu já conhecia de cor.Minhas mãos deslizavam por sua pele macia, sentindo cada arrepio que ela não conseguia conter.Ela mordeu o lábio inferior –aquela maldita mordida que sempre me fazia perder o controle."
MagnusGabriela ainda estava aninhada contra meu peito, sua respiração quente e ritmada contra minha pele. Seu corpo se encaixava no meu como se pertencesse ali, e por um instante,eu quis me perder naquela sensação.Ela era conforto.Era presença.Mas, ao mesmo tempo, era o próprio caos dentro de mim.Minha mente ainda era um campo minado, cheio de buracos onde lembranças deveriam estar. Mas o desejo de tê-la comigo não exigia lembranças.Era instintivo.Ela suspirou suavemente e se afastou apenas o suficiente para me encarar. Seus olhos eram um oceano de sentimentos, uma mistura de ternura e dor."Você precisa descansar," murmurou, deslizando os dedos pelo meu rosto, afastando uma mecha do meu cabelo."Não quero dormir," resmunguei, segurando seu pulso, sentindo o calor da pele dela.