Quem ou o que dá forma à magia? O lugar ou a alma? Veredas e campos, e lua e sol, sombra e escuridão, amor e ódio, sorrisos e lágrimas,... Quanta magia pode existir?
A região, por si só, era estupenda de ver. Os morros e montanhas em sucessão eram como ondas naquele mar agitado, que iam se perdendo em horizonte, até em azul se confundir.
Correndo de sul para norte, cavado através de milhares de anos pelo pequeno rio lambari, que avança coleante como uma longa e preguiçosa serpente de prata, se estica um vale longo e verdejante, de ares frios e caça abundante, dominado pelos guaranis.
Esse vale desce suave numa calha estreita, cercado por morros em ondas dos dois lados. A oeste sobressai a pedreira cascavel, com sua face nordeste exposta até seus ossos, lar de centenas e centenas de cascavéis, motivo pelo qual a pedreira é evitada
Como vai reagir quando a verdade, que tanto temia, se mostrar?Ybytu avaliou o grande curupira Adanu, que considerava o mais velho e sábio do conselho, e viu nele a confirmação de que os dias de paz estavam terminados. Os seus olhos estavam pesados, pensativos, sem o fogo vivo que sempre via.Do conselho reunido, a seu ver, apenas Adanu estava preparado para uma batalha, ainda mais se partisse com seu queixada FuraTerra, imenso, que punha terror apenas ao mostrar suas presas protuberantes e ameaçadoras. Adanu, apesar de muito velho, mostrava-se imponente, poderoso. Seus cabelos ainda tinham fogo vivo, muito ao contrário de outros curupiras, ou mesmo caiporas bem mais novos que ele, que tinham as chamas bem mais baixas.E aquele era um dos poucos ainda vivos que combateram na guerra dosvivos, apesar de nunca falar sobre ela.Mas, sabia que não devia se deixar enganar, porque os outros do cons
Dominar a pedra e a lua, desfazer os dias, enovelar e encolher as almas. Quem me fez demônio?O exército espraiava-se abaixo da larga plataforma, de onde quatro pessoas, vergando roupas coloridas que o vento batia e revolvia, examinavam atentamente o mundo novo. O grande general Banatessouco respirou fundo enquanto o comandante de campo Nahn Pakan, seu subalterno, examinava a paisagem como quem examina o palco de um teatro onde logo terá que atuar.DePedra, comandante menor de companhia, rodeava os dois comandantes maiores, solícito, enfraquecido, sentindo que até mesmo a aparente indiferença que mostravam sobre sua presença era terrível demais.FacaPontuda, um thianahu que morara por muitos anos entre os nativos para aprender seus costumes, suas etnias, poderes e fraquezas, olhava a tudo como quem vê algo sem demonstrar qualquer interesse especial, apesar de que, quem o conheces
Como se joga um jogo dentro de um jogo? Como se faz para esconder a alma atrás de fantasmas, mentiras e dissimulações? Por que se esmera tanto em se ocultar?PedraVelha estreitou mais os olhos, procurando não perder nada do que estava acontecendo lá embaixo. Com preocupação viu batalhões espalhados ao norte e ao sul, abertos como terrível garra sobre a terra desprotegida. Viu muitos fugitivos embrenhando-se nas florestas, viu colunas de prisioneiros sendo levadas para a base da montanha, viu fogo e fumaça, viu enxames de seres hediondos, viu aves enormes no céu, viu seres enfileirados parecidos com panos flutuando ao longe. E também viu os mesmos batalhões impedidos de avançar pelas águas que se levantavam, como viu grandes contingentes desmontando acampamentos e, quais formigas, transportando-os para as encostas largas das montanhas. E havia o ajunt
O que se faz, sem resposta não fica, pela minha vontade ou pela vontade dos que olham por mim. Somos magia num mundo mágico.- Algo esquisito está acontecendo aqui... - estranhou Pakan. - As águias estão debandando. A reação dos condores não seria suficiente para a debandada delas.- Os condores não. Eles devem ter conseguido realizar o que vieram fazer – resmungou Banatessouco intrigado, os olhos vermelhos de raiva examinando o acampamento e as plataformas onde os grupos de arqueiros estavam posicionados. - Tenho certeza de que o grupo com o qual lutamos estava aqui para nos distrair, ou proteger algo. Acho que fomos enganados - lamentou-se, tentando descobrir o que poderia ter acontecido, perguntando-se o que poderia ser aquele brilho estranho preso no pescoço de uma das águias que vira ao longe. Devia ser algo importante, porque ao lado armaram um escudo proteto
Viver é pura magia. Ter consciência da vida é ter a capacidade de entender, de viver essa magia. Quanto está acordado, mágico?Escuridão observava com imensa atenção, suspenso sobre o abismo, a poucos metros do ninho, onde três ovos estavam aconchegados. O grande condor remexeu-se cuidadosamente e rolou com o forte bico um dos ovos. Ela deu um arrulho baixo e Escuridão desceu um pouco mais, impaciente.Sua atenção então entrou no ovo. A expectativa o impacientava. A cara tensa relaxou assim que sentiu um toque fino, suave. Devagar girou e se deixou subir, satisfeito, sem tensão. O ovo vingara, garantiu ao sentir a mente da ave.Num impulso tomou a direção de outra escarpa, do outro lado da montanha, achando facilmente o outro ninho onde uma fêmea recebera os outros três ovos. Ali, desde o dia anterior, eles haviam se ad
Que valor pode ter para um deus tirar uma vida, dela se fartar? Que valor pode ter para um deus ou para um demônio se oferecer em sacrifício? Que valor pode ter para aquele que sacrifica seus dias, seus sóis e luas, suas lágrimas e sorrisos? Qual o valor de se entregar a alma?Nahan Pakan estava atônito. Afinal, as aves haviam descoberto um dos que roubara seus ovos, como também haviam encontrado com macabra exatidão a caveira de cristal de poder que lhes havia sido entregue pelo próprio Escuridão. Agora entendia as lendas antigas sobre essas aves. Vira sua força, sua determinação, seu poder, frente até mesmo aos mantas e sombras. Agora, depois de tê-las visto em combate, entendia porque o rei e seu sombra se esforçaram tanto em mandar batedores para roubar seus ovos.- Precisamos abrir essas terras com sacrifícios aos deuses – ouviu
Há certos seres que transpiram poder, primitivo, frio e perigoso. Eles, ao contrário da maioria, possuem a certeza fria do que deve ser feito, e como deve ser moldado o destino.Dene-Dene segurou com carinho a bela drusa de puro cristal, de água-marinha suave, que parecia feita de água. Da base rugosa de pedra cristalina, da qual sobressaiam as várias pontas, irradiava-se uma luz independente e misteriosa, com ares de poderes antigos. Praticamente todos os que estavam reunidos recuaram receosos. Ybytu e DenteDeAlho se entreolharam preocupados, mas resolveram não fugir. Afinal, como ficaria a fama de corajosos se resolvessem dar no pé?- Toquem! – comandou Dene-dene com voz suave.Os dois, presos de um tremor incontrolável, adiantaram as mãos. Assim que tocaram nos cristais o tremor cessou como que por mágica, e os olhos ficaram vidrados. A atenção de
DEFINIÇÕES:- ANJOS: menores que os mantas, mas com o mesmo tipo físico. Diferente do que motiva os sombras e mantas, esses anjos são movidos por objetivos nobres. No entanto, se para atingir esses objetivos se mostrar necessário a destruição até mesmo de nações inteiras, eles o farão sem qualquer sentimento de culpa. Sua potência é equivalente a potência dos sombras. Esses são pequenos e brancos, de um branco gelo. Porém, quando perderam a cidade de Thiahuanaco e tiveram que migrar para as terras baixas do leste, acabaram por se afeiçoar ainda mais aos homens, por partilhar com eles o destino, e deles passaram a ser protetores, inclusive assumindo seus tipos físicos, com exceção das asas, transmutad