CAPÍTULO 1 DAVID HARINGER

NOVA YORK

DAVID HERINGER e Ivy Johnson Heringer estavam extraordinariamente felizes, comemorando oito anos de casados exatamente no restaurante onde David pedira sua mão em casamento – coincidentemente, onde eles se conheceram –, no restaurante “Konker’s”, um lugar que já passara por muitas especialidades da excelente culinária mundial. Foi um restaurante italiano quando a temporada de restaurantes italianos estava em alta por causa da Copa do Mundo de Futebol de 1990, fora chinês, árabe, mexicana, mas... sempre que a temporada da moda acabava o restaurante passava por uma reforma drástica, mas sempre tivera um único dono.

Aquele restaurante trazia muitas lembranças especiais para os dois, pois foi naquele mesmo lugar onde eles se conheceram.

Parecia que tinha sido ontem...

DAVID ESTAVA FUGINDO de uma terrível tempestade naquela noite e acabou entrando no primeiro restaurante que apareceu à sua frente buscando abrigo. Mesmo sem ter nenhum centavo no bolso, afinal, naquela noite ele havia levado um calote do proprietário de um bar onde tocara guitarra e teve que voltar andando para casa.

Quando David viu Ivy, sua primeira reação foi automática:

Ele precisava ficar ali de qualquer jeito... aquele calote havia valido a pena...

E ficou.

— Por gentileza, um café – pediu David enquanto esfregava as mãos parecendo estar com frio.

Nessa época o restaurante era de especialidade Francesa – a decoração era toda típica – pois no ano anterior, tinha sido a Copa do Mundo de Futebol na França e o restaurante ainda colhia os maravilhosos frutos desse evento mundial.

Após David pedir o seu café, perguntou despretensiosamente para o barman:

— E aí, grande – era assim que ele chamava todo mundo –, beleza? Deixa–me fazer uma pergunta... Quem é aquela garçonete que serve a mesa cinco?

O barman logo viu que a garota da qual ele se referia era Ivy Johnson e sorriu cinicamente e logo foi explicando num tom de confidencialidade:

Aquela garota em especial é mais cobiçada do que um copo de água no deserto do Saara, vai tirando o seu cavalinho da chuva que tem fila dando a volta no quarteirão para ganhar um sorriso.

David riu diante do desafio que tinha a sua frente; primeiro, de pagar aquele café que tomara sem o barman saber que ele não tinha dinheiro para pagar aquela simples bebida que custava alguns míseros centavos e; segundo, de conquistar a mulher mais incrível que já tinha visto em toda sua vida.

Foi quando David fez uma aposta com o barman:

 — Caso eu consiga um encontro com essa garota que é mais cobiçada do que a maior riqueza que alguém poderia ter em um lugar tão isolado no mundo... você paga o café que me serviu, se eu perder a aposta, mas já te adianto que nunca perco, trabalho no restaurante a noite toda no seu lugar para pagar esse café, que tal?

O barman aceitou na hora...

Já que ganharia a noite por um simples café...

Afinal, ele já tinha visto centenas de idiotas saírem humilhados por apenas dizer um singelo “oi” para Ivy – inclusive ele mesmo, mas era sempre bom ver mais um otário tentar aquilo.

David seria o próximo idiota a arriscar a cabeça por aquele belo corpinho de anjo que nem ele e seu charme de amante latino tinha conseguido conquistar.

David sentou–se à mesa como quem não queria nada e quando foi atendido por Ivy, ele deu uma bela esnobada na pobre garota que a mesma ficou sem entender absolutamente nada, e completamente sem ação de resposta.  

No mesmo momento Ivy pensou:

Quem esse cara pensa que é para me tratar dessa maneira?

David sabia que mulheres assim só prestam atenção em homens estrategistas, que pensam minuciosamente antes de agir, é por isso que homens que já vem babando em cima dela querendo o seu telefone ou apenas alguns quinze minutos de prazer se davam mal, afinal, uma garota como aquela poderia ter qualquer homem do mundo. Porque ela sairia com o primeiro babaca que aparecesse?

Ivy tentava agradar aquele belo cliente – mas totalmente irritante – de todas as maneiras que ela conseguia, mas nada chamava a atenção de David, principalmente quando ele perguntou a Ivy:

— Você sabe por acaso quem sou? Se soubesse não ficaria aí tentando me agradar em vez de se sentar e tomar esse café extra que te pedi.

Aquilo foi o fim da picada para ela.

Ivy sentou–se na cadeira à frente dele completamente louca da vida apenas para ver qual era a daquele cara metido a rico e esnobe, sem saber que na verdade, seria ela mesma quem pagaria por aqueles dois cafés – para que aquele novo conhecido não entrasse em encrencas.

Ela se admirou tanto com o papo inteligente de David que não voltou mais a trabalhar naquela noite – deixando todo o serviço para Juanes, afinal:

Aposta é aposta, quem perdeu que asse o pato... afinal, o que é de comum acordo não sai caro.

Ele realmente não era como os outros rapazes... – pensou ela.

DAVID ERA ATENCIOSO, gostava de ouvir a voz de Ivy, na verdade, qualquer homem que estivesse na pele dele também gostaria de ouvir a bela e suave voz que Ivy tinha, ela seduzia a qualquer um apenas com um singelo “oi”.

Juanes ficou de boca aberta – e alguns centavos mais pobre...

Se é que era possível...

Não que isso importasse para ele naquele momento, mas Juanes Casanossa jamais imaginou que a bela e fatal, Ivy, iria dar bola para alguém na vida, principalmente a um cara tão metido à besta quanto aquele.

Não enquanto ele estivesse vivo... – pensava Juanes enquanto dava risada consigo mesmo pela sua derrota.

DAVID REALMENTE conseguiu o impossível...

Sair com uma das mulheres mais belas de Nova York, e sem ao menos ter um centavo no bolso, isso é que era conquista de verdade...

Ivy saiu do serviço um pouco mais cedo que o convencional e eles foram andar um pouco pela cidade. Ivy morava perto de onde trabalhava, em um apartamento de luxo dado pelos seus pais.

Ela explicou para David que aquele apartamento fora dado pelos seus pais como presente em seu aniversário de dezoito anos, ela decidiu morar sozinha para ter um pouco mais de liberdade.

Ivy detestava a vida de rica que tinha com seus pais.

Ela era a filha do meio de três irmãos, era a dondoca da família – e era exatamente por isso que Ivy decidiu sair de casa e conquistar a sua tão sonhada liberdade na primeira oportunidade que teve.

Eles conversaram por horas e mais horas na sala do apartamento dela, nada de beijos, nada de mãos bobas, nada de olhares picantes ou assuntos pervertidos, nada de falar sobre antigos namorados, apenas os dois ali e a televisão enorme desligada como testemunha que o amor entre os dois estava começando da maneira mais pura que poderia existir.

QUANDO O DIA JÁ ESTAVA AMANHECENDO – depois de todos os assuntos possíveis e impossíveis a serem discutidos já tinham se esgotado –, existia ainda uma coisa pendente entre os dois, aquele beijo que ambos gostariam de ter trocando um com o outro, mas jamais dariam por falta de oportunidade, mas agora, ambos sabiam quase tudo um do outro. Era como se eles se conhecessem há anos. Ambos jamais poderiam imaginar que nenhum deles nunca tiveram sequer namorado uma única vez na vida.

David, por ser filho de pastores de uma respeitada e conhecida igreja Batista, não era dado a badalações, bebedeiras e festas em sua adolescência, não porque era um jovem religioso – muito pelo contrário –, David fugia de Deus como o diabo foge da cruz. Sua mãe nunca entendeu porque ele nunca gostou de igreja, apesar de ter sido o melhor aluno na escola dominical.

David conhecia a Bíblia de cabo–a–rabo, já a lera diversas vezes, além de ouvir os incontáveis sermões que seu pai fazia quando pregava, mas literalmente, gostava de ir à igreja e ponto, era um fato que o fazia sentir–se mal, sentia–se diferente das pessoas que ali iam. Ele era realmente diferente de qualquer pessoa que alguém pudesse conhecer.

As pessoas iam à igreja para aprenderem a ser humildes, e a palavra humildade não estava escrita no dicionário de David. Era prepotente demais – e ele sabia e até gostava disso.

Às vezes, David ficava louco da vida com aquelas senhoras bondosas demais, ou ter que conversar com os velhinhos simpáticos que queriam apenas um pouco de atenção, gesto que ele jamais conseguira dar a eles, por mais que se esforçasse, David queria ficar alheio a tudo aquilo...

Ele achava muito bonito toda aquela cena feita pelas pessoas, mas aquele mundo não era para ele...

Mesmo assim, David fora criado pelos pais da melhor maneira que poderia ter sido criado...

Com todo o amor do mundo... e mais um pouco...

Seus pais jamais levantaram as mãos para bater nele, e nem ele jamais levantara a voz para ambos. Era um amor incondicional entre eles, um respeito mútuo e silencioso, todos sabiam que precisavam uns dos outros em harmonia para que a felicidade sempre existisse entre eles.

David jamais culpara a Deus por seus pais serem pastores, como via outros filhos de pastores nos encontros entre as igrejas. Ele não gostava de ir à igreja e ponto final, isso era assunto dele com Deus, e seus pais sempre respeitaram sua decisão – por mais estranha que parecesse.

Seus pais sabiam que tinham dado a melhor educação cristã que um pai poderia dar a seu filho, sempre foram bons exemplos diante da sociedade, com ele mesmo, sempre houvera uma educação da parte deles e David sabia que tinha recebido a melhor educação de todo o mundo, apenas não se adaptava a aquele mundo eclesiástico, somente isso.

NAQUELA NOITE DE COMEMORAÇÃO, para eles, Ivy recebera uma notícia do Dr. Carlisle Willian Burke – médico e amigo que cuidava da saúde dela desde criança.

Ivy sempre gostou das conversas com o Dr. Willian – apesar de, ele ser o homem mais ateu que conhecia, depois de seus pais –, mas mesmo assim, ela se sentia confortável ao seu lado. O velho magricela transmitia um sentimento paternal que seu pai jamais conseguiu transmitir.

Ivy jamais soube o porquê acreditava em Deus, já que a família inteira sempre pregara completamente o contrário...

Viviam dizendo a ela:

Deus não existe, e se existisse, era um Deus feito para os homens pobres e fracos, somente essas pessoas precisam de um Deus para acreditar...

Diziam também que:

Se Deus existisse, não haveria fome na terra, e nem pessoas que nascem com algum problema de saúde, seja ela física ou mental...

IVY COMPROU UM RELÓGIO de ouro, com detalhes em diamantes para David, enquanto ele deu à Ivy um anel de ouro com três pequenos diamantes incrustados nele. Só nesse anel, David pagou quase meio milhão de dólares, era um anel meio caro, mas não para eles, já que tinham tudo que alguém poderia sonhar...

Dinheiro, sucesso e o amor verdadeiro um do outro...

Ivy respeitava seus pais, mas no seu mais íntimo ela sabia que Deus existia, só não sabia como provar para eles, mas quando conheceu David, pôde enfim falar com alguém que acreditava no que ela também acreditava. Apesar de David não ser exemplo de como ser um cristão nem aqui e nem na China, mas pelo menos ele acreditava.

Ivy não procurava um santo, procurava apenas alguém que jamais a julgaria por acreditar em algo, mesmo que ela não pudesse provar nada sobre a Sua real existência, mas crer em algo era preciso para viver sem se preocupar com as decepções que a vida lhe causava.

David e Ivy foram feitos um para o outro, disso ninguém tinha dúvidas, seu casamento em si foi um evento tão imperceptível que quase ninguém soube da cerimônia, já que eles nem tinham tantos amigos assim para convidar. Foram apenas as suas famílias, e quem realizou o casamento foram os pais de David, na igreja em que eles eram pastores.

Fizeram aquele casamento completamente contra a vontade dos pais de Ivy, seu pai nem sequer apareceu na cerimônia – de tão chateado que estava com a filha por tudo que ela estava fazendo com a sua vida –, sua mãe apareceu apenas no final da festa.

Seus irmãos estavam muito entusiasmados, eles gostavam demais de David já que ele era um músico da noite e sempre conseguia alguns “Vip’s” para eles em algumas festas bem badaladas de Nova York, não pela falta de dinheiro, isso eles tinham de sobra, mas andar com David garantia o privilégio de conhecer as pessoas mais descoladas da noite nova-iorquina.

Aquele foi o melhor aniversário de casamento para Ivy, pela primeira vez ela saíra da casa de seus pais – pois, depois do jantarem no restaurante, eles foram para a casa dos pais de Ivy a pedido de Ted – vendo um sorriso no rosto deles, parecendo estarem contentes com o sucesso da filha como escritora de romances e David sendo um músico de sucesso, escrevendo algumas músicas para a Broadway. Em tão pouco tempo, o talento de ambos estava mudando a sorte deles perante toda a família e isso era realmente bom, muito bom para todos.

De repente eles olharam um para o outro.

Ivy segurou a mão de David perguntou:

— Por acaso você se lembra dessa tatuagem que fizemos?

David respondeu:

— É claro, como poderia esquecer? – Disse mostrando também seu pulso.

Eles tinham escrito o nome um do outro no pulso para que sempre se lembrassem de que, de mãos dadas conseguiriam enfrentar qualquer obstáculo que aparecesse, não importava qual fosse o tamanho ou profundidade.

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