Benício MendelerrChegamos à sede, Paulah estava calada. Sei que a presença de minha tia traz de volta lembranças ruins e bem recentes. Eu já estava sentado na minha cadeira de couro na sala e esperando a chegada dela, ainda com a mente ocupada pelos últimos acontecimentos. A virada do ano tinha sido um caos, e as peças do quebra-cabeça ainda estavam se encaixando. Paulah estava ao meu lado, mexendo no celular, enquanto Clara observava pela janela, todos nós esperando por Aurora. Foi então que a porta se abriu e ela entrou.A primeira coisa que notei foi a aparência dela. O brilho que costumava carregar nos olhos parece ter desaparecido, substituído por uma expressão de cansaço profundo. Ela parecia menor, mais frágil do que sempre demonstrou ser.— Tia Aurora? — Minha voz saiu mais dura do que eu pretendia. — Entre!Ela olhou para mim, depois para Paulah, e respirou fundo antes de falar:— Preciso de ajuda. — Sua voz estava baixa, quase um sussurro. — Descobri que tenho câncer e é t
PaulahA manhã começou com Benício me chamando e despertando com beijos bem cedo. Ao me voltar para ele, percebi um pouco mais sério, com um ar de urgência que imediatamente me deixou alerta e acaricio seu peito.— Bom ia princesa! Eu preciso que você cuide da cidade e de tudo para mim — ele começou a falar, seus olhos fixos nos meus. — Lui e eu precisamos viajar assim urgente e é uma missão delicada, mas vital para mantermos a nossa estrutura financeira intacta.— Missão? — perguntei, tentando esconder a preocupação que já começava a me dominar. — O que está acontecendo, Benício ainda sobre Mariaga?Me estresso ao pensar que mesmo morto, esse velho ainda nos assombra constantemente.Ele suspirou e passou a mão pelos cabelos, um gesto que fazia sempre que estava prestes a dizer algo importante.— Não tem a ver com ele, alguns dos nossos homens foram pegos pela justiça. São peças-chave, Paulah e se não os trouxermos de volta, tudo o que construímos estará em risco. Assim que resolvermo
Benício MendelerrChegamos finalmente e a noite estava abafada. O calor de Cuba parecia deixar o clima da missão ainda mais sufocante. Meu coração estava pesado desde que deixei Paulah. Ela pensa que Lui e eu estávamos indo para outro tipo de missão, algo menos perigoso. Não tive coragem de contar a verdade. Vê-la com aquele olhar de preocupação, sem saber o que realmente estava em jogo, partiu algo dentro de mim. Mas eu precisava protegê-la e a nossa cidade, mesmo que isso significasse carregar esse peso praticamente sozinho.Lui, eu e nossos subordinados nos posicionamos em um beco estreito, esperando o momento certo. Comprar um de seus funcionários mais leais foi difícil, mas sequestramos alguém importante para ele... E foi o bastante para nos dar todas as informações de que precisávamos para chegar até ele. O filho de Mariaga, Tony, esse verme que jurou destruir tudo que construímos, estava a poucos metros de cair na armadilha que havíamos preparado. Lui ajeitou o silenciador e
PaulahEu não sabia exatamente o que Aurora estava tramando, mas sua movimentação nos últimos dias nos deixou em alerta. Ela sempre foi astuta, sempre soube como manipular as situações a seu favor e agora parecia que ela tinha algo grande em mente.Benício me disse que ela andou pela biblioteca da cidade, na noite passada todos ficaram procurando por ela...Amanhecemos ainda sem notícias daquele irresponsável, foi quando telefonaram para nossa casa falando sobre um burburinho na praça central.— Vamos até lá, Benício!— Isso certamente tem a ver com Aurora... — ele desabafou e seguimos para lá. As pessoas estavam reunidas, murmurando entre si, todos os olhos voltados para o palco improvisado onde Aurora estava com um livro em mãos.Senti vergonha alheia, mas esse sentimento passou trazendo no lugar um ódio dos absurdos que ela estava falando.— Meu sobrinho trouxe mudanças, sim, mas a que custo? — Ela falava como verdadeira política, sua voz soava pela praça toda. — Ele colocou nossa
Benício MendelerrDois dias depois... Finalmente embarcamos para Paris, sinceramente eu estava bem feliz ao deixar Paco e alguns problemas da cidade por uns dias. Mas, mesmo já dentro do nosso jato particular, com Paulah sentada ao meu lado, algo dentro de mim ainda não me deixava respirar aliviado. O medo rastejava pela minha mente, como se a qualquer momento ela fosse desaparecer.Ela estava linda, sempre está! Mas ali, com a luz suave da janela do avião iluminando seu rosto, ela parecia irreal. Eu segurava sua mão com firmeza, mantendo-a entre as minhas, temendo que, se eu soltasse, ela aproveitasse a viagem para fugir.— Está tudo bem, Benício? — ela perguntou, me olhando com um sorriso discreto.— Só estou... pensando um pouco. — Tentei sorrir de volta, mas algo no meu olhar devia ter entregado minha preocupação.— Você ainda não confia em mim? — Ela arqueou uma sobrancelha, brincando com os dedos sobre minha mão fria.— Claro que confio, linda!— Eu te amo e não vou embora...
PaulahAcordei ainda fraca, o coração disparado como se eu ainda estivesse correndo no meio daquela multidão. Mas já não corria, já não fugia.Agora, estou apenas presa e sequer entendia por quê. As imagens do dia anterior voltaram como um soco no estômago, trazendo um peso insuportável para o meu peito.Benício... Como tudo saiu tão errado?Tentei lembrar do momento exato em que nos perdemos, mas minha mente estava embaralhada, confusa com todas as emoções que passei. A última coisa que me recordo é da multidão em Paris e da visita do Papa, das luzes desfocadas, dos carros passando rápido demais, dos meus pés doloridos de tanto correr e procurar por ele e o fato é que me perdi.Sozinha, sem telefone, sem dinheiro, sem saber para onde ir. Eu não posso falar o nome da cidade e nem sei se para o mundo aqui fora o nome Benício Mendelerr é real ou não. Andei pelas ruas geladas de Paris, tentando me acalmar, tentando pensar no que fazer. Eu precisava voltar para a Culla del Crimine e ess
Benício MendelerrO avião pousou suavemente na pista e, assim que descemos, senti o forte calor do Brasil... Sempre fizemos negócios com a máfia daqui, mas nunca tive a oportunidade de pisar nessas terras.Passei uma mão pelos cabelos, ajeitando-os para trás, enquanto meus olhos varriam o aeroporto particular. Lui estava ao meu lado, de braços cruzados, falando baixo com dois de nossos homens. Seu semblante era sério, o reflexo dos óculos escuros brilhando com algo que me parecia... sigiloso.Fiz questão de me aproximar devagar, observando cada detalhe da reação dele ao me ver. Lui cochichou algo com um dos subordinados, que assentiu rapidamente e logo se afastou. Outro homem se aproximou dele, e novamente, outra conversa baixa. Isso me incomodou. Lui não costumava ser tão reservado com a nossa equipe.— Algum problema, Lui? — perguntei, parando ao seu lado.Ele ergueu a cabeça, o rosto inexpressivo por um instante antes de abrir um sorriso nada apropriado para o momento.— Nada que
PaulahO primeiro dia após nossa chegada à Culla del Crimine... O primeiro dia que escolhi viver aqui, senti o calor maravilhoso do corpo de Benício ao meu lado. Ele respirava tão tranquilo que eu sabia o quanto estava agradecido por conseguirmos nossa vida juntos de volta. Penso em Guilherme e acho que ele teve uma boa noite de sono no quarto ao lado.Ele não me chamou, sei que o cansaço da viagem deve tê-lo feito dormir tão rápido quanto nós. Sei que precisamos nos acostumar com a nova rotina, com Guilherme morando conosco e todas as responsabilidades que isso trazia. Ainda havia muito o que aprender, principalmente sobre o que significava ser uma família para ele, um menino que passara por tantas dificuldades e agora estava tentando entender seu novo lugar no mundo.Virei-me lentamente, observando a respiração tranquila de Benício e aliso seu peito de leve. Ele parecia tão calmo, tão confortável, como se o mundo lá fora fosse apenas uma parte distante da nossa realidade. Eu não qu