Início / Fantasia / O Mundo de Aeron - Vol. 1 - Os Cinco Aventureiros / Capítulo Quatro: A Lendária Forja Antiga
Capítulo Quatro: A Lendária Forja Antiga

Guren Rock era um anão amigo de Morn que vivia em outra região pertencente à Morandir, a Costa de Dalaraster, ou a Costa da Coruja Cantante na tradução para a língua comum, um lugar separado por um lindo mar do resto da província que a deixou sem o olhar do rei supremo durante muito tempo, e por conta de sua preocupação com a guerra contra o Manto da Fúria Tempestuosa agora mesmo que ele age como se esta terra nunca existisse ou como se nunca fosse parte de Morandir. Essa guerra não tem sido nada gentil com a província como um todo, mas mesmo assim pouco se falava no assunto, já que a cada novo ano ela se tornava algo que somente os líderes da rebelião e do reino se preocupavam.

O anão contou a todos que veio com o objetivo de pedir a ajuda de Morn em m****r seus companheiros de guilda para lhe auxiliar com sua busca de encontrar uma Lendária Forja Antiga construída por anões em um pacto entre homem e anões que estava perdida há oitocentos anos. Uma Colossal forja que já construiu as armas e artefatos mais poderosos e exóticos que o mundo já viu, esta forja foi um dos motivos da virada da Era da Expansiva para a Era do Ouro junto a criação da Fornalha de Olgrim Balnore com a sua revolução das peças de ouro. Contudo os criadores da Forja Antiga se questionaram sobre a maturidade das novas gerações e das guerras fúteis que elas poderiam ocasionar com tamanho poder de criação, uma vez que toda a Segunda Era teve um passado sombrio com guerras desnecessárias entre todas as nações. Após longos anos de debates, eles decidiram aterrar o lugar inteiro para que a Forja nunca mais fosse encontrada ficando assim perdida por oitocentos anos. Guren, no entanto, quer encontra-la, pois com a guerra, uma enorme crise econômica assola a Costa inteira e ativando a forja novamente, ele poderá não só trazer a prosperidade para o lugar, como também ter poder aquisitivo suficiente para até mesmo declarar a independência de Morandir, formando então uma nova província de Morian.

 Mas o brilho de sua história logo foi se esvaindo em uma expressão de angustia e frustação, ele contou que atualmente seus planos estão indo de mal a pior, pois uma gangue chamada de Sangue Rubro está tomando controle da Vila do Pêndulo, sua terra natal, onde seus outros dois irmãos, Taren e Naren estão e lá eles somariam forças e usariam o mapa que ele tinha da possível localização da Forja.

Fora uma longa história e por incrível que pareça todos os aventureiros ouviram sem piscar ou bocejar, talvez oFamozzo tenha feito isso pelo seu jeito, mas como seu rosto é coberto por um elmo, ele certamente conseguiria disfarçar seu provável tédio daquela longa conversa.

Após o fim da história do anão, o mestre Morn ficou se questionando mentalmente sobre enviar os novatos para aquela missão, pois poderia ser um pouco complicado para eles se aventurarem em um lugar distante, uma missão dessas envolviam muitos riscos. Ele olhou para os arredores da guilda e notou que naquele dia ela estava deserta, não havia nenhum outro integrante nas proximidades. Poderiam estar em missões ou vadiando em algum por aí, pensava.

Foram mais ou menos cinco minutos de longa pausa para que o mestre pudesse enfim chegar a uma conclusão e mesmo um pouco relutante falou o seguinte:

— Guren, eu sei que somos amigos há muito tempo, mesmo assim não queria ter de arriscar vidas inocentes e despreparadas em algo que parece no mínimo perigoso. Entretanto, percebo que esses jovens novatos têm objetivos próprios a cumprir e muito provavelmente eles não do tipo que recuam com facilidades, então eu permito a ajuda deles em sua busca.

O semblante do anão se iluminou em um sorriso de esperança e ele começou a dizer quase sem parar: obrigado Morn, sabia que podia contar com você!

Morn sorriu apreciando a felicidade de seu velho amigo e logo após isso olhou para o grupo e disse:

— Quanto a vocês, eu tinha algo muito mais suave para admiti-los, mas vejo que a ajuda de vocês a meu amigo Guren vai lhes fazer não só se tornarem membros da guilda, como também vai lhes permitir de terem acesso todas às informações bem sigilosas que podem lhes ajudar a encontrar o que cada um de vocês buscam. Agora ajudem o meu amigo e mostrem a todos o poder da Guilda Lua Prata! — ele andou em direção da escadaria espiral, mas rapidamente retornou e continuou — Ah, outra coisa, já estava me esquecendo. Vocês ainda não terão o emblema da guilda, pois vai que, por azar do destino, vocês morrem nessa “jornada” — ele fez aspas com as mãos —, então eu não quero conviver com essa culpa. Assim que completarem o trabalho retornem aqui comigo, até mais. — ele retirou uma cimitarra da cintura e arremessou para Jack que pegou com habilidade no ar, o bárbaro ficou feliz em ter sua arma de volta e a guardou em sua capa, fez o mesmo com a espada longa de oFamozzo, após aquilo o mestre Morn acenou e apenas desapareceu como uma fumaça. Guren então sorriu, olhou para os cinco aventureiros e disse:

— Típico dele. Agora vamos companheiros, vocês vão adorar conhecer de perto a Costa de Dalaraster.

Do Hee Nii olhou para o anão e falou gentilmente:

— Com licença, senhor anão.

— Diga senhorita Elfa? — perguntou olhando para a elfa da floresta.

— Por acaso o senhor tem um barco próprio, ou vamos pagar passagem para um?

Guren deu uma risada e respondeu:

— Tenho um barco sim, está lá no cais e é para lá que estamos indo, espero que já estejam preparados, teremos um dia inteiro de viagem.

oFamozzo falou:

— Viajar com um monte de Plebeus... Contanto que eu encontre a minha espada, acho que isso é aceitável.

Saylute se aproximou do guerreiro e falou:

— Me conta, por que você usa uma armadura toda? Tem vergonha de mostrar seu rosto?

oFamozzo suspirou e disse:

— Já disse para sua amiga Élfica com nome de notas musicais que não é da conta de plebeus, isso também vale para você!

Do Hee Nii bufou e apontou novamente o seu cajado para o guerreiro, olhou fixamente para a fenda do elmo onde estariam seus olhos e falou:

— Meu nome significa A Mais Pura em nossa língua antiga, então acho bom você me respeitar, ou vou lhe transformar em um rato!

— Quero ver tentar, fadinha da floresta, você tem mais cara de maga novata do que de uma bruxa medonha!

Do Hee Nii franziu a testa, segurou o cajado com força chegando a tremer sua mão, enquanto oFamozzo apressou o passo e saiu de perto dando as costas e risada bem maliciosa. Jack se aproximou dela, tocou em seu ombro e disse:

— Acho que vai demorar para nos acostumarmos com esse sujeito encrenqueiro, mas vamos tentar não perder a cabeça em benefício da missão e quem sabe a gente se entenda todo como aqueles famosos grupos de aventureiros.

Ela assentiu lhe dando um leve sorriso enquanto guardava o cajado, eles partiram em silêncio, não pareciam muito confiantes em conversar entre si e ficaram assim a viagem toda até o cais, exceto Saylute que ficou conversando com o guerreiro bastante curiosa por ele usar toda aquela pesada vestimenta, contudo não conseguiu muita resposta, no máximo uns xingamentos terríveis.

O navio de Guren era um daqueles comuns de marinheiro, ele não era o capitão, o capitão era um amigo dele, inclusive ele os tripulantes eram todos nativos de Dalaraster que estavam fazendo um favor ao anão já que seu objetivo iria trazer o melhor para todos os Dalarastianos.

Entrar naquele barco e ver toda aquela tripulação fazendo seu trabalho com vontade e alegria fez Jack sentir saudades de quando era menino e seu pai o levava para ensinar tudo o que sabia. Era frustrante saber que ele estava longe no momento, porém, aquela jornada era um bom presságio, pois Jason ainda estava vivo e era seu dever entrar na guilda o mais rápido o possível e encontrá-lo.

A viagem durou quase um dia para eles chegarem à Costa de Dalaraster, mais exatamente na cidade da Vela dos Ventos, a capital da Costa, o que levou o grupo a ter uma noite cheia de bebidas e comidas na Taverna O Centauro Negro com tudo pago pelo gentil anão. Inclusive ali tiveram um bom tempo para se apresentarem melhor ao cliente, apenas o básico para o anão saber um pouco mais das habilidades de cada um. Até que fora um belo começo de equipe, pois naquela noite eles não se estranharam tanto quanto na guilda e no caminho ao cai, até fizeram competição amigável de Pinganã, uma forte bebida, cujo cliente que não tem estômago bom cairá desmaiado na mesma hora, foi o Caso de Saylute que não aguentou a primeira caneca, oFamozzo não quis participar e Do Hee Nii resolveu beber algo não alcoólico naquele momento, e a disputa ficou entre Jack, Shino e Guren até o bárbaro e o ladino caírem inconsciente no chão, e o anão acabou sendo o vitorioso sendo aplaudido por todos.

O dia seguinte começou (Sábado, 21 de Middas), seria um dia repleto de atividades segundo Guren na noite anterior, mas ele por sua vez acabou chamando o Grupo bem cedo (às nove da manhã) para lhes contar uma nova atualização dos planos.

— Amigos, eu sei que iriamos juntos para a Vila do Pêndulo como eu havia dito ontem de noite durante os comes e bebes, mas esta manhã eu recebi notícias de que ocorreram uns imprevistos e preciso chegar o quanto antes na vila, parece que um de meus irmãos se meteu em problemas com os Sangue Rubro, o que é dever meu resolver isso. Quero apenas que levem a minha carroça de provisões para a vila na hora indicada, nos encontraremos por lá assim que vocês chegarem para novas instruções.

— Tem certeza que você não vai precisar de ajuda? Ao menos um de nós pode acompanha-lo. — disse Shino.

— Não companheiros, a presença de vocês pode provocar a ira deles sobre a vila, o que eu não quero que aconteça, então é bom que vocês permaneçam juntos como uma equipe e seja um elemento surpresa, assim pegaremos eles de surpresa. Na vila ao lado de meus irmãos teremos muitos mais a conversa e com bastante segurança — disse olhando para os lados —, por enquanto façam apenas isto que peço-lhes.

Eles assentiram vendo Guren subir em um cavalo negro com algumas bolsas em suas laterais e em sua sela era possível ver a insígnia do reino de Mitram. O anão montou com a ajuda de um cavaleiro que tinha uma armadura semelhante da guarda real de Mitram, antes de Guren partir ele disse:

— Por favor, tenham cuidado, pois a trilha às vezes é invadida pelos Goblins cinzentos, um clã de Goblins que anda atrapalhando meus planos de encontrar essa forja, assim como os Sangue Rubro — ele deu uma pausa para alertar o cavaleiro condutor que já deveriam partir —, bem amigos, até mais tarde, que os deuses lhes protejam. — concluiu e logo partiu apontando para os aventureiros que logo ao lado a taverna havia um estábulo onde estava à carroça com as provisões que eles tinham de entregar. Na mesma hora Shino disse:

— Bem, socializamos um pouco na noite passada, porém quem vai liderar o grupo? Todo grupo de aventureiros que se preze precisa de um líder.

Todos se entreolharam sem saber o que dizer.

— Acho que o mais forte deveria ser o líder. — sugeriu Saylute olhando para oFamozzo.

— Faz um pouco de sentido. — concordou Do Hee Nii. — mas aquele guerreiro seria um péssimo líder.

Shino começou a dar gargalhadas em tom de deboche e falou:

— Acho que invés pensarmos em força, devemos pensar em inteligência e sabedoria, eu sou mais astuto que vocês quatro juntos.

oFamozzo então sacou a enorme espada de sua costa, apontou ela para o pescoço do ladino e retrucou:

— Quero ver essa sua “inteligência e sabedoria” defender a minha espada!

Shino não gostou da provocação, mas antes que alguma acontecesse Do Hee Nii se meteu entre os dois, os separou e levantou as mãos em gesto de calma, rapidamente tirou de sua bolsa magica quase invisível em seu quadril esquerdo um dado de seis lados e mostrou-os para todos, logo após isso falou:

— Jack 1, oFamozzo 2, Shino 3, Saylute 4 e eu 5.

— Mas e o seis? — indagou Jack.

— Este é um número nulo, se cair nele significa que terei que rolar novamente e assim até conseguirmos um resultado. Eu acho que é a melhor forma de nós decidimos algo sem que cabeças desnecessárias rolem. — Respondeu Do Hee Nii rapidamente.

Por incrível que parece oFamozzo gostou da ideia e guardou sua longa espada nas costas causando um espanto para o resto do grupo que com apenas um dia de convivência já era uma unanimidade entre os quatro que aquele “meio-elfo” iria causar muitos estragos nas vidas de todos durante essa missão, seja ela rápida ou longa.

Do Hee Nii sem delongas lançou o dado sobre o chão de terra, o dado girou de lá e cá até parar no número 1 ao lado de uma grande pedra.

— Jack é você que vai nos liderar, quer o grupo goste ou não. — afirmou a Elfa da Floresta.

O Bárbaro engoliu em seco e oFamozzo protestou:

— Quer dizer que esse dado escolheu esse plebeu sujo que nem é um Bárbaro de verdade? Já deixo bem claro aqui que se morrermos à culpa será totalmente dele.

Jack ficou com certa pressão na consciência tendo alguns flashes de seus companheiros piratas mortos pela onda titã. Ele relutou para não se deixar levar por aquele sentimento olhando para a carroça lembrando que não sabia andar a cavalo, ou melhor, lidar com animais.

— Ei meu caro guerreiro, supostamente um meio-elfo, posso ser o líder, mas acho que as honras sobre quem vai nos guiar é você, não tenho experiência alguma com cavalos, eu era do mar, então acho que você tem mais experiência do que eu.

— Obrigado pelo elogio, mas isso não muda nada o que penso sobre você, afinal, um Plebeu sempre será um plebeu, e um plebeu bom é um plebeu morto pra mim, ou um plebeu que faça serviços para a nobreza.

Jack ficou meio assustado com a violência verbal e o exagerada que aquele guerreiro fazia. Somente depois de mais alguns longos minutos de violências verbais de oFamozzo e seu discurso de ódio exacerbado por plebeus, foi que eles partiram com os ouvidos ardendo em direção a Vila do Pêndulo, justo na hora que eles deveriam partir com Guren, as dez da manhã. Seria uma viagem em torno umas cinco horas, por conta do peso da carroça, pois se fosse a cavalo como Guren Partiu chegariam em duas ou três horas e meia de viagem.

***

Sob o balanço da carroça, o clima não estava muito quente para um período considerado o Auge do Verão e com uma leve brisa nos cabelos e elmos, eles conversavam sobre como essa missão seria fácil se somente fizessem trabalhos como este de entregar provisões, e de como rapidamente teriam as respostas que precisavam.

— Falando em nossos objetivos, o que você busca mesmo Do Hee Nii? — perguntou Jack.

— Eu busco a Pedra Fundamental, um lendário artefato que me custou meu trabalho como guardiã do Museu Nii nos Reinos do Leste, sem contar que custou até mesmo o meu lugar em minha família. — ela pareceu frustrada em falar sobre aquilo.

— Relaxa essa pedra nem deve ser tão grande coisa assim... Azar de quem te rebaixou na família — disse ele.

— É verdade — disse ela em tom de deboche —, a Pedra Fundamental apenas pode reviver o mais antigo mal que já assolou Aeron nas mãos erradas... Tive sorte que o ladrão não parece saber manuseá-la, mas deve ser questão de tempo até aprender a usa-la e provavelmente, quando esse dia chegar será o último de nosso mundo.

— Que sinistro... Desculpe pelo que falei, me equivoquei — disse Jack um tanto assustado e, tentando disfarçar, olhou para Shino — e você er... Shino, não é? O que você busca?

Por um momento parecia que ele não responderia nada, no entanto ele estava um pouco mais à vontade com o grupo e disse:

— Eu busco encontrar mais informações sobre os vampiros que mataram meus irmãos... Por alguma razão fui o único deixado para trás com vida.

— Mas o que vampiros queriam com vocês?

— Sou um Ladino, e tinha uma família de ladinos, mesmo eles tendo me adotado como irmão, nós fazíamos saques em todos os lugares desta província, no entanto, adorávamos mesmo visitar ruinas de antigas cidades, catacumbas e masmorras abandoadas, sempre foi divertido encontrar relíquias para vendê-las por um bom preço ou fazer trabalhos por comissão, e foi numa dessas aventuras bem próximo da cidade de Mavenrook, que formos surpreendidos por seres pálidos e que enxergavam muito bem no escuro... Meus dois irmãos... Juliete e Ronan foram mortos na minha frente. Mas por algum motivo sobrevivi e descobrir que aquelas coisas são na verdade uma organização de Vampiros que tentam reviver o deus deles, pelo menos quem eles consideram um. Por meio do homem que me salvou, eu descobrir que a Lua Prata caça essas coisas, por isso prata, um material letal para Lobisomens e Vampiros.

 — Nossa... Agora entendo você ter ficado calado esse tempo todo — disse Jack — mas não se preocupe, eu entendo sua dor, também perdi muitos companheiros antes de chegar à guilda, minha tripulação inteira mais o meu Barco foram destruídos por uma onda titã e só eu sobrevivi, foi horrível, mas acho que foram os deuses me castigando por ter desistido do meu pai, pois eu achei que ele tinha morrido, mas estava enganado, ele está vivo em algum lugar e é meu dever encontra-lo e ter minha vida de volta.

oFamozzo deu uma risada sarcástica enquanto fazia o cavalo percorrer mais depressa. Naquele mesmo momento eles dobraram para a esquerda seguindo uma placa que dizia: Bosque Serpentino, você está próximo da vila do Pêndulo.

— Mas e então oFamozzo, o que lhe trouxe até nós? — perguntou a Saylute.

— Meus punhos, minha maestria em combate, e resistência...

— Não estou falando disso seu idiota e sim da sua história de vida! — gritou a barba.

Era evidente que o “meio-elfo” não queria falar sobre aquilo, mas como eles estavam a fim de conhecê-lo melhor, achou mais certo fazer lhes dar as resposta que queriam ouvir.

— Bem, eu cresci em uma família de meio-elfos nobres bem próximas do rei supremo Mitram, porém como eu tenho três irmãos mais velhos que eu, meus pais davam todo o crédito para eles. Treinos com armas, combate avançado e outras coisas. Quando eu queria algo parecido que meus irmãos, sempre tinham desprezo de mim, foi então que descobrir sobre a lenda da espada gloriosa, uma espada tão poderosa que coroa tudo só de empunha-la, se eu adquirir essa arma e esfrega-la na cara deles, irão ver como estavam errados por me subestimarem, então roubei esta armadura e passei a viver como oFamozzo, um meio-elfo que destruiu bases de orcs e de muitos outros inimigos sozinho, foi assim que surgir e assim será, por isso que não gosto de plebeus e, quando essa arma estiver em minhas mãos, todos saberão o meu valor.

— Me deixa ver se eu entendi: você quer a arma mais poderosa de Aeron, que é uma lenda, um mito, que ninguém sabe se ela existe de verdade ou não, só para ganhar status de seus pais e irmãos? E esse seu ódio por plebeus não faz sentido nenhum com seu ranço de seus parentes... — disse Do Hee Nii bastante confusa.

oFamozzo assentiu sem dizer mais nada.

— Que objetivo mais arrogante, acho que combinou contigo, mas e você Saylute? — continuou ela.

A Jovem Barda corou por um momento e disse:

— Ah sim, meu objetivo é somente viver muitas aventuras, desde que salvei minha cidade das garras de um governador tirano eu sinto que sou capaz de fazer mais pelas outras pessoas e é isso que quero para mim, mesmo sendo arriscado. Mas será incrível conhecer novos lugares, fazer novos amigos e ajudar àqueles que não podem lutar iguais a nós.

— Acho que este é o único objetivo mais feliz e altruísta dentre todos nós. — afirmou Jack e Saylute sorriu se mergulhando de cabeça do passado.

***

Três anos antes.

A vila Queda D’água é uma vila que ficava ao oeste de Morandir, um lugar bem próximo a uma famosa cachoeira chamada Águas Ancestrais. Esta vila era um lugar comandado por humanos, fundada há quase cem anos, sendo bem conhecida por suas pousadas e tavernas, mas infelizmente quando a crise da guerra entre humanos e elfos a alcançou, eles não tinham como lutar contra a miséria, uma vez que desde que fora fundada a vila não tinha o apoio financeiro de Mitram e por causa da guerra contra o Manto da Fúria Tempestuosa ficaram com receios de que o rei achasse que eles também fossem rebeldes e esse medo e desespero os fez escolher um Alto Elfo como seu líder e representante, ao contrário dos anos anteriores que sempre foram lideres humanos.

Thedras Grivar era seu nome. Um guerreiro élfico, que na verdade queria apenas o poder para fazer o que quisesse com as pessoas da vila. Ele era o típico radical élfico que afirmava que os humanos eram seres que tentariam criar uma tirania contra os Elfos, dominariam suas terras e engravidaram suas mulheres para fazer um exército de elfos sangue ruim, os mestiços meio-elfos.

Seus primeiros cem dias Grivar fez até as famílias com mais qualidade de vida caírem próximas da miséria. Cada patrimônio da vila era vendido a troco de peças de cobre e prata para senhores élficos de outras províncias que sempre eram bajulados por Thedras a vila acabou perdendo completamente sua identidade.

Saylute era neta do antigo e último líder humano de Queda D’água, mas por medo de ser vista como inimiga de Thedras ela deixou seu sobrenome de lado e passou a viver somente como Saylute. Seu pai e sua mãe estavam desaparecidos há 17 anos, justo quando o próprio Thedras havia aparecido como o “salvador”.

Nestes anos todos ela passou a viver com sua tia Olmara Astória e seu tio Brand Astória. Olmara era uma barda, a barda mais conhecida daquela região de Mavenrook que trabalhava na última taverna que não fora vendida, ainda, para algum senhor élfico. O Lagarto Sonolento.

Foi Olmara quem lhe ensinou a arte de ser uma barda, que era e ainda é muito mais que um simples fofoqueiro e espalhador de duvidosos boatos. Havia uma ligação com a música, não eram apenas simples e belas palavras e vibrações pelo ar, havia um poder próprio nisso.

Uma magia.

Os Bardos dizem e afirmam que o universo foi criado a partir das palavras dos deuses, palavras que geraram ecos e mais ecos por todo vácuo do universo, moldando as estrelas e os mundos, enchendo os mares, esculpindo montanhas e cultivando as florestas, dando luz a toda a vida existente. Palavras que na verdade eram canções que até nos dias de hoje, milhões e milhões de anos após a criação está concluída, ainda ressoam através de todo o cosmos.

Saylute não pensou duas vezes e seguiu os passos da querida tia, se entregando de corpo e alma para a música e magia. No entanto, em certo dia, Thedras descobriu que Saylute era neta do antigo líder da vila e como punição matou seus dois tios e incendiou a taverna inteira e ela somente não morreu porque fora salva pela tia escapando por muito pouco por uma área secreta da taverna projetada para este dia.

O mundo da jovem barda desabou. Primeiro foram seus pais quando pequena, agora seus tios quando mais velha, o que esse Monstro queria agora? Foi então que ela decidiu quebrar um dos maiores tabus de um bardo, pois de acordo com a sua tia, quando um bardo quer fazer uma tarefa arriscada, ele sempre anda em grupo e nunca faz nada sozinho, pois na voracidade do combate, a música e magia sempre inspirarão seus aliados os tornando mais fortes, essa é a maior importância de um Bardo. Mas Saylute ignorou isso porque ela queria resolver o assunto por conta própria.

Sozinha, com sua flauta e um pequeno machado de uma mão, ela derrotou a guarda pessoal de Thedras com certa dificuldade, invadiu a residência do governador, que uma vez já chamara de casa, entrou e desapareceu por uma longa hora.

As pessoas, desde conhecidos a amigos de Saylute viram sua atitude, eles inclusive pararam toda a sua atividade e ficaram em torno da casa do governador, querendo saber qual seria o resultado daquela ação. Eles sabiam que mesmo Thedras sendo um péssimo governador, ninguém tinha coragem de desacatar sua autoridade pela violência e brutalidade que possuía como guerreiro.

Mas eis que, para a surpresa de todos, Saylute surgiu da porta, ela se aproximava lentamente com um semblante sombrio, estava bastante ferida com suas roupas completamente rasgadas, seu corpo quase exposto e todo ensanguentado, ela arrastava pelos cabelos um elfo desfalecido e o atirou contra o chão na frente de toda a vila.

Todos estavam pasmos, o atual governador estava completamente ferido, talvez duas vezes mais que a própria barda. As pessoas cochichavam várias coisas, mas em nenhum momento viram a barda como uma heroína. Ela, como resposta, olhou para todos com uma expressão de frustração e gritou:

— O quê que deu em nós quando escolhermos este traste para nos representar? — ninguém respondeu, muito menos lhe encaravam desta vez, parecia que estavam completamente envergonhados — Esse ser desprezível matou meu pai e minha mãe e agora retirou de mim, tudo aquilo que me fazia ser uma pessoa feliz. Nosso medo da miséria nos tornou miseráveis, do que adianta vender nossos patrimônios a troco de prata, quando se vive na Era do Ouro? Do que adianta colocar um elfo para nos governar por medo de sermos tratado pelo rei supremo como rebeldes, quando nos tornamos nada para este Monstro? — as pessoas abaixavam a cabeça bastante arrependidas — Encontrei cartas que dizem que as cidades de Mavenrook, Sombra do Oeste e até mesmo a cidade de Thedas com seus torneios anuais estão vivendo muito bem nesta crise acarretada pela guerra entre homens e elfos. Sendo assim tudo o que este elfo disse era mentira esse tempo todo!

Um homem no meio da multidão saiu, disse que realmente Thedras era um falso salvador e se apresentou como o pai de Saylute que ficou assombrada ao ver sua face outra vez depois de longos anos.

Ele explicou que sobrevivera a armadilha que Thedras tramou a eles na época, mas que a mãe da barda não teve a mesma sorte, contudo precisou esperar o momento certo para agir, arquitetou um plano de retaliação ele estava decidido a invadir a residência e fazer o que sua filha fez, mas sua própria filha fez isso. Porém ele estava bastante orgulhoso em saber que alguém de sua própria família dera um fim à liderança tirânica e preconceituosa de Thedras.

Eles se abraçaram e o povo todo pediu desculpas, nomeando o pai de Saylute como o novo governador de Queda D’água. Depois daqueles eventos Saylute ficou conhecida como heroína da vila. Seu nome começou a se espalhar como água por toda a província, inspirando outros bardos a serem mais independentes e também serem vistos como heróis, ao invés de apenas ser um suporte de grupos.

 Três anos se passaram, Saylute queria espalhar mais seu nome de Heroína Barda fazendo novas aventuras e conhecendo novas pessoas e lugares, foi quando seu pai disse que na cidade de Mavenrook havia uma Guilda chamada Lua Prata e lá poderia ficar mais conhecida.

Sem delongas ela se despediu do pai, de seus amigos e seguiu sua nova jornada, uma jornada perigosa que poderia acabar mesmo antes de começar, mas como ela mesmo pensava: “se conhecesse as pessoas certas no caminho, então tudo valeria a pena mesmo que morresse”.

***

Dias Atuais.

oFamozzo alertou que eles estavam bem próximos da Vila do Pêndulo, porém ele sentiu algo de estranho no ar. Os sentidos deste “meio-elfo” são meio esquisitos, é como se ele soubesse como prever o perigo, aqueles de baixa e alta grandeza, este, no entanto, era de uma grandeza alta até demais e ele falou:

— E melhor se prepararem plebeus, tem alguma coisa se aproximando de nós! — O resto do grupo lhe olhou, assentiu e desceram da carroça quase ao mesmo tempo.

Primeiro Jack com sua cimitarra em mãos.

Depois Do Hee Nii com magias ofensivas já preparadas.

Shino saiu de forma leve como uma pluma, com suas adagas empunhadas prontas para causar hemorragia interna ao que quer que se aproximava.

Só faltava Saylute que deixara seu machado cair da cintura no chão da carroça e quando se abaixou para pegá-lo passos pesados surpreenderam o grupo todo, algo grande se aproximava da direção oeste da carroça o lado onde ninguém estava. Era difícil saber o que era pela mata fechada que fazia a floresta parecer uma grande arapuca, foi então que daquele lado um enorme ogro surgiu correndo como um touro bravo e atingiu a carroça de provisões em cheio a lançando para fora da trilha, dentro da floresta, arremessando também Saylute como uma boneca de pano para o alto, mas o pior ainda estava por vir, pois ela caiu próxima aos pés do ogro, sua pancada de cabeça no chão foi tão forte que fez um estrondo enorme e o sangue abaixo do corpo dela de bruços escorria formando rapidamente uma poça.

 Jack também fora atingido pelo lançamento da carroça e caiu sentido o ombro esquerdo estalar e deslocar, o fazendo berrar de dor. A Elfa da Floresta desviou no reflexo olhando com ódio para o ogro e se preparando para usar sua magia contra ele.

Shino também desviou e tentou se mover furtivamente para tentar socorrer a Saylute que não reagia nos pés do ogro que por muito pouco não a esmagara.

oFamozzo foi o único que não fora pego no arremesso da carroça, pois ficara mais afastado dela, mas não acreditara que seus olhos acabaram de ver, inclusive o cavalo acabou se soltando quando a carroça voou e ele fugiu enquanto o ogro estava pronto para estraçalha-los. No entanto o guerreiro viu um brilho branco saindo da mata. Seus instintos lhe fizeram mover o corpo para esquerda e uma flecha zuniu ao seu lado acertando uma árvore. Em instantes outras criaturas começaram a sair da mata, cinco ao todo, eram os goblins cinzentos que Guren mencionou.

O Ladino ainda calculava como iria socorrer a companheira desacordada no chão, ainda não era possível saber se ela estava viva ou morta, uma vez que não reagia no chão, parecia nem mesmo respirar a observando naquela distância. Shino, no entanto, precisou recuar enquanto articulava seu plano, pois fora visto pelo ogro e pelos goblins. Retornou para perto de Do Hee Nii sem saber em como iriam sair daquela situação.

Jack, por sua vez, ainda gritava de dor, contudo sabia que não era momento para se lamentar, era uma questão de vida ou morte, o que fez seu grito de dor, na mesma hora, se transformar em uma única e poderosa palavra do dicionário Bárbaro:

Fúria!

Sem medo algum, ele ajeitou o ombro de volta no lugar com um poderoso puxão sentido toda a dor aguda e o estalo que o ato ocasionara. Ao mesmo tempo o seu coração começou a acelerar enquanto a adrenalina atravessava seu corpo como um raio lhe dando a energia necessária para a batalha que estava a caminho.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo