- Vou... Vou sim - Precisava falar com Constância primeiro, mas daria um jeito de cuidar da filha. Não podia, e nem queria, abandoná-la agora - Já perdemos muito tempo.A porta foi aberta e Tiago viu Ana depois de muitos meses.Tinha o mesmo rosto angelical. Os olhos dele. A boca rosada e pequenina. As expressões inocentes. O cabelo escuro e liso. A pele clara. Tiago se aproximou dela e a tocou na mão com carinho. Dormia como um anjo, mas estava machucada.Se Manuela aparecesse a sua frente naquele momento certamente a mataria. Por justiça estava presa e se dependesse dele ficaria lá por muitos anos. Por certo descontou na garotinha o fato dele não ter ido ao seu encontro novamente. Foi vê-la no dia seguinte ao motel, no shopping, mas ela somente queria dinheiro e não levou a menina. Apenas a encontraria quando ela levasse Ana para ele. Como não podia alcançá-lo, descontou sua raiva em Ana, mas agora estava presa e lá permaneceria.Seria o gatilho perfeito para também indiciá-la sobre
Nunca sentiu medo de qualquer mulher, porém Heloísa parecia ser a mais assustadora de todas elas, tamanho ódio em seu olhar. A moça tremia, apontando o dedo em riste no rosto do marido. Tiago não recuou, enfrentou-a, porém em uma postura humilde e ponderada.- Vim assim que soube de seu pai e... - Ela o empurrou e Tiago apertou os olhos, dando apenas um passo vacilante para trás.- Vai embora! - Dizia um pouco alto, atraindo olhares - Não quero sua presença, não quero te ver nunca mais! - Flora a abraçou pelos ombros, mas Heloísa se livrou da mãe rapidamente - Vai embora!- Constância, por favor! - Flora sussurrou no ouvido da filha, voltando a abraçá-la - Isso é um hospital! Porque está gritando com seu marido?- Ele não é meu marido, é um traidor! - Disse enfaticamente, baixando o tom, porém se aproximando de Tiago a ponto de ficarem a centímetros - Já disse que não quero te ver nunca mais! Nunca mais! Vai embora antes que isso vire uma tragédia!- Você vai me escutar primeiro! - Ti
- Depois disso você some - Advertiu suspirando, virando-se para encarar a mãe e a irmã - Volto em um minuto - Simplesmente disse, saindo em direção ao elevador. Tiago nomeou a cabeça timidamente.- Com licença.Hannah e Flora se entreolharam de maneira tímida e confusa, assentindo para o casal, que seguiu para o elevador sem falar muito mais. Heloísa sequer olhava no rosto de Tiago, apenas mirava o chão completamente atordoada. Sequer sabia por que estava atendendo a um pedido dele.- Obrigada por me ouvir - Ela o cortou rapidamente.- Se eu não saísse de lá iria acabar falando demais na frente da minha mãe - Secou as lágrimas na bochecha - Minha vontade é te matar, Tiago.- Injustamente. Jamais menti para você - Tentou tocar nela, mas Heloísa desferiu um tapa em sua mão. Tiago suspirou - Mesmo que não acredite e todas as evidências estejam contra mim, jamais toquei em uma mulher depois que estive com você.Heloísa sorriu debochadamente, deixando claro que não acreditava nele.- Para
- Me perdoe, Constância - Abaixando o olhar novamente, Tiago dizia em meio ao nervosismo - Me perdoe por ter sido um covarde.- Acha que meu perdão te vale de alguma coisa? - Soltou as mãos das dele.- Mais do que pensei que alguma coisa pudesse significar em minha vida - Declarou sinceramente, deixando uma lágrima rolar no rosto - Por favor.Heloísa nada disse sobre isso, desviando o olhar para a porta. Havia um forte nó em seu peito. Nó da mentira. Nó da dor. Queria mata-lo por ter escondido isso dela por todo esse tempo.- A sua... Filha... - Mordeu os lábios ao dizer. Não podia negar que se sentia furiosa, enraivecida, enciumada... - Está aqui? - Apontou para o quarto. Ele assentiu - Por quê?- Manuela a espancou - O olhar da moça foi de ciúme para horror em alguns segundos - Ela está presa e me chamaram para assumir a guarda dela.- Espancou? Tipo, bateu? - Sussurrou quase sem voz. O horror estampado na face - Que tipo de mulher é essa, Tiago? - Heloísa deu um tapa no braço dele,
Os sentimentos de Heloísa eram demasiadamente confusos e não podia negá-los para si mesma.Era humana, afinal, e tinha que passar pelas dores e temores para superar o insuperável.Tiago não somente havia a traído, mas também tinha tido uma filha como fruto de sua infidelidade quando eram noivos. Por outro lado, podia compreendê-lo um pouco a mais, também. Havia uma criança em jogo, e em nome do amor paterno e de sua responsabilidade, deixou-a no passado. Dois pesos e duas medidas. Duas histórias. Apesar de tudo, sentia sim, ciúme. Raiva. Ansiedade. Inquietude. Insegurança.Havia um elo mais forte do que imaginava entre Tiago e a tal Manuela. Algo que Heloísa talvez nunca pudesse proporcionar a ele. Um filho.Notou que o pegou de surpresa quando abriu a porta do quarto da menina e adentrou ao mesmo. Tiago demorou a processar tudo, mas seguiu-a assim que recuperou a noção. Esperava tudo da esposa, menos que partisse dela a ideia de ver a menina pela primeira vez. Pensou que fugiria, gri
Heitor Chastel não morreu naquela noite, mas se tornou um paciente paliativo incapaz de retornar a vida normal. Agora teria de receber tratamentos em casa. Heloísa sabia o que aquilo significava... O império Chastel era responsabilidade dela e de Tiago, totalmente.- Ele tem uma filha? Foi isso mesmo que ouvi? - Hannah questionou a Heloísa quando a irmã mais nova contou o ocorrido - Mas como...- Aquela Manuela. Ele a engravidou, por isso foi embora - Explicou cheia de dúvidas, deitada na cama com a irmã - Por favor, Hannah, prometa que não vai contar isso a ninguém por enquanto!Havia ido para a casa de seus pais para pensar melhor em tudo, evitando encontrar Tiago por agora. Sentia pena da garotinha, mas não conseguia ficar lá naquele momento. Era tudo tão recente, tão irreal... Precisava de seu tempo, de seu espaço. Tão pouco queria dividir a atenção de Tiago. A menina ficou sem o pai por muito tempo e era seu direito tê-lo por perto.- Isso explicar muita coisa, então. Ele foi ass
Tiago dormiu na cadeira ao lado do leito de Ana e a menina acordou assustada em meio à madrugada, sentando-se e o acordando.- Ana? - Colocando-se de pé, Tiago se aproximou da cama um tanto receoso. A menina no analisava assustada, com os olhos escuros cheios de lágrimas.- Quem é você? - Questionou nervosa, olhando para os lados.- Sou Tiago. Seu pai. - Parou a uma distância segura para não a assustar - Está tudo bem. Quero cuidar de você.- Eu não tenho pai - Disse severamente, quase como um animal assustado - Ela disse que ele foi embora - Ela era Manuela. O tom de voz da garotinha era doloroso - Onde ela está?- Não vai mais te machucar - Garantiu tentando passar segurança, mas muito confuso com as reações da menina. Da última vez que a viu ela sequer falar e agora era capaz de manter um diálogo - Eu sou seu pai sim e você vai ficar comigo agora. Meu nome é Tiago, como já disse.Calada, o analisava com atenção. Encostou-se aos travesseiros da cama e rodou os olhos pelo quarto.- E
- Como está a garotinha? - Questionou rapidamente, o semblante sério e as mãos tremulas - Como é mesmo o nome dela?- Ana - Heloísa repetiu o nome baixinho - Ana Helena. Eu escolhi Helena, a mãe escolheu Ana.- Como ela está? - Enfatizou, ignorando a parte que mencionava a mãe da garota. Mesmo que odiasse a si mesma por isso, Heloísa morria de ciúme da tal Manuela.- Melhor... Ainda sente dores, mas está fora de perigo. Vai precisar repousar alguns dias - Esclareceu Tiago, notando que Heloísa parecia aliviada - Vou buscá-la agora no hospital - Coçou a cabeça ao dizer.Ficou claro que se tratava de um pedido silencioso para que a esposa se decidisse. Heloísa abaixou o olhar e concordou.- Pedi para Hipólita preparar o quarto para ela - Surpreso, Tiago a encarou sem esconder a admiração. Esperava tudo dela, menos uma atitude como essa - Comprei algumas coisas... - Não o olhava nos olhos, parecia muito tímida, mas sem dar o braço a torcer - Bonecas, brinquedos, roupa de cama, roupas de m