Capítulo 4 - Desistir não está no meu sangue

Triologia sonora: In my blood by Shawn Mendes

LOGAN

— Eu não posso acreditar!

— Nicole...

— Foi só ela voltar que você quer me dar um fora? Que você quer esquecer o tempo que ela sumiu sem nem querer saber como você estava?

— Ela estava pior que a gente e você sabe disso!

Nicole arregalou os olhos, parecendo entender que eu de fato estava "terminando" o que tinha com ela.

— Eu e você ficamos bem depois do acidente, já ela... — Continuei.

— Bem? Você ficou internado, teve uma concussão séria, tudo por causa daquele irmão dela irresponsável que bebeu e foi dirigir!

— Eu não lembro bem disso...

— Mas eu lembro de tudo, a família dela foi embora pra ele não ser preso, porque voltaram eu não sei, mas aquela garota não me engana!

Nicole cruzou os braços e me encarou.

— Eu já decidi, melhor darmos um tempo — Nicole não falou mais nada e saiu. Estávamos na minha casa, no meu quarto.

Eu não desistiria Jade, eu descobriria como consertar o que quer que eu tivesse feito, eu daria um jeito, eu sabia que era possível.

Fechei a porta e sentei com as costas em contato com a porta.

Porque eu não conseguia lembrar?

Lembra daquele dia.

Estávamos no baile da escola. Era para ser um dia feliz, Jonathan foi nos buscar em seu carro. Não era para ter bebida alcoólica no meio, mas a galera levou escondido. Jonathan participou da festa. Ele levou mesmo bebidas?

Ele bebeu?

Eu devo ter bebido.

As garotas beberam?

Eram tantas lacunas. Segurei meu rosto entre as mãos.

Lembranças invadiam meus pensamentos...

Cadê a Jade?

Logan, filho... — minha mãe parecia preocupada.

Cadê a Jade? Ela morreu?

Não...Logan foi um acidente feio, mas Jade não morreu. O irmão dela...

Jonathan?

Ele está em estado grave. Traumatismo craniano — dizia minha mãe.

Eu não entendo, eu não lembro...JADE!

Às vezes tinha vontade de desistir, mas eu sempre quis lembrar o que aconteceu naquele acidente, sentia que apenas assim as peças se encaixam, e finalmente tudo faria sentido.

Horas depois, sai do quarto e encontrei Matheus na cozinha.

— Oi, tudo bem?

— Sim

— Você ficou trancado no quarto depois da escola, e Nicole saiu nada feliz, me diz logo a verdade.

Sentei no banco em frente ao balcão da ilha da cozinha.

— Terminamos.

— Já era hora, um pouco tarde eu diria. Nem sei porque estava com ela...

— Matheus!

— Todos sabemos que você nunca superou a Jade. Só estava com a Nicole porque os nossos pais te empurraram, eles sabem, e pelo menos mamãe parece ter um pouco de culpa, enquanto papai só liga para o próprio umbigo.

Era verdade, mas não gostava de pensar que me deixei levar, que meus pais me manipularam, pois eu era dono das minhas escolhas, eu era culpado por fraquejar. Além disso, perder Jade me desestabilizou tão profundamente que sentia que apenas estava ali existindo, seguindo um roteiro de um filme, sem estar com a alma verdadeiramente conectada ao meu corpo. No entanto, ver Jade novamente injetou uma dose de adrenalina e me fez ter forças para afastar Nicole da minha vida e não irei permitir que os meus pais tomem decisões em meu nome nunca mais, mesmo que isso fosse pra me proteger.

— vai ficar quieto?

— não, eu quero ela, Matheus.

— Quer ela? — Matheus tirou a atenção da comida que preparava — Sabe que ela não é uma coisa, mas uma pessoa e eu não acho que ela quer você...desculpa, mas eu tenho que te dizer a verdade.

— Ela estava estranha todo esse tempo, eu preciso entender o porquê.

Nesse momento meu telefone tocou, era um número desconhecido.

— É o papai? — perguntou Matheus, neguei balançando a cabeça.

— Alô?

— Ela acabou de sair daqui, se você for rápido pode encontrá-la na frente do balé — era a voz de Jonathan, mas não poderia ser ele — mamãe disse que ela fica lá, sabe como minha irmã é.

— Cara! É você mesmo!

— Pensou que eu acabaria com as nossas vidas e sumiria?

— você não fez isso, eu fiz isso, eu só não me lembro — Jonathan deu uma risada fraca.

— Você tem que descobrir Logan.

— me conta.

— Eu não sei de muitas coisas, e o pouco que eu sei, não posso contar.

— Porque?

— Sinto muito — disse meu velho amigo, desligando o telefone na minha cara.

De alguma forma sabia que meu amigo estava me alertando sobre algo, mas o que o impedia de dizer a verdade?

Por que a família de Jade e Jonathan sumiu por um ano?

Por que Jade se afastou?

Por que só agora voltaram?

E por que Jade parece ter tanto rancor de mim?

— Quem era?

Percebi que ainda encarava o telefone.

— Ninguém...eu preciso sair.

Meu irmão pareceu desconfiado, mas ignorou e voltou a preparar o que quer que fosse aquilo.

— Filho? Filho! — passei por meu pai que desci as escadas no momento em que eu passava pela porta da frente.

Eu iria descobrir toda a verdade sobre o dia daquele acidente que mudou nossas vidas, eu iria até o fim e teria a Jade de volta, nem que fosse a última coisa que eu fizesse nesse mundo, não importava os obstáculos. Eu sou um jogador, e eu sei encarar desafios por mais difíceis que eles sejam.