Meus tênis faziam barulho no piso encerrado a medida que eu avançava para o interior da empresa de Brian Harris. Saber que ele estava a minha espera, alguns andares acima, me trouxe uma pequena sensação de medo. Era pequena, poderia não dar importância e fingir que não estava ali, era o mais apropriado a se fazer naquele momento e foi o que tentei fazer a medida que aquele elevador avançava para cima. E foi diante desse cabo de guerra, que um d’javú me atingiu em cheio. Era como se mais uma vez, estivesse apenas assistindo. Havia um frio na minha barriga persistente, eu queria me livrar dele a qualquer momento, era impossível. Só que não era um frio da barriga comum, era um frio misturado com medo e ansiedade, como se estivesse pressentindo que algo de ruim fosse acontecer. Por um momento, me vi desejando que aquele elevador desse alguma pane no sistema e que simplesmente, por uma obra do destino ou não, desabasse e acabasse no subsolo e meu corpo se cortass
Entre ter que lidar com a pressão de Frank e toda a agitação do jornal, preferi ir para um lugar aonde tinha agitação mas, que poderia desfrutar de uma boa xícara de Cappuccino. Para qualquer outra pessoa talvez, poderia parecer estranho, eu gostar tanto de ficar perto do hospital. Não que eu gostasse do hospital, eu gostava daquela cafeteria e também... poderia correr o risco de ver Jonah, não que este fosse meu plano desde do começo. A voz de Brian ecoava em minha cabeça pelos fones de ouvidos, já era a segunda vez que ouvia aquela entrevista e com base nisso, começava a escrever. Se Frank queria uma entrevista, ele teria uma. Meus dedos deslizavam rapidamente sobre o teclado do notebook, meus olhos estavam fixados na tela e estava completamente alheia a tudo que estava ao meu redor. E mesmo com o conteúdo que eu tinha, que poderia dividir opiniões, estava disposta em enfrentar as consequências. Pego a xícara com um pouco de Cappuccino de Avelã, lev
Antes mesmo de virar a esquina da rua onde morava, pessoas correndo naquela direção chamou minha atenção. Assustada, olho para trás, verificando se não estavam correndo de um ladrão em específico. Mas não havia nada lá, além de mais algumas pessoas correndo. Por instinto, acabo fazendo o mesmo e ao virar a esquina, me dou conta do que estava acontecendo, ao ver carros de bombeiros em frente da minha casa, que agora estava em chamas. Não conseguia acreditar no que estava bem diante dos meus olhos, mesmo com o calor que me envolvia, juntamente com os gritos. O lugar que estava morando já a algum tempo, que tinha como lar, estava em chamas. Os nossos vizinhos se moviam de um lado para o outro, sem saber o que fazer, enquanto as chamas engolia minha casa e ameaçava fazer o mesmo com as casas vizinhas. Os bombeiros tentavam de alguma forma impedir que o fogo se alastrasse, permitindo assim que as chamas apenas engolissem minha casa ou o que restou
Não era um dia diferente dos demais. O hospital Mayo Clinic era um dos melhores hospitais dos EUA, o que significava que uma quantidade grande da população o frequentava. Por ali havia o cheiro característico de anti- séptico, sussurros vindo dos corredores e da sala de espera, os sons dos intercomunicadores e quase que frequentemente os gritos dos enlutados. Nada parecia fora do comum, para o médico cirurgião residente, até que foi chamado de repente na sala de emergência, após minutos ao sair de uma cirurgia.O som familiar do intercomunicador soou pelos corredores, seguido por:— Chamando Dr. Harris, comparecer à emergência. Dr. Harris, comparecer à emergência — A voz suave e feminina, ainda repete o recado duas vezes, enquanto andava na direção a sala de cirurgia que havia acabado de ser ocupada. Mas ao entrar na sala, após se vestir novamente com a roupa cirúrgica com a ajuda de uma das enfermeiras, que iriam ajudar na cirurgia, simplesmente sente todo seu corpo parali
Mexo freneticamente a minha perna cruzada, concluindo mais uma vez o desconforto que a cadeira que estava causando. Ao meu lado, Beth parecia bastante a vontade no ambiente hospitalar, enquanto lia uma das revistas que encontrou numa pilha ao lado. Não conseguia entender como alguém conseguia se sentir tão...bem. Talvez a minha aversão a hospitais, estivesse complicando tudo, já que o último ano, o Mayo Clinic se tornou minha casa, enquanto estava ligada à uma máquina LVAD, esperando um transplante de coração. Toda noite eu driblava ao máximo o sono, tentava ficar acordada até o amanhecer, com medo de que se dormisse, não pudesse acordar no dia seguinte; E quando acordava na manhã seguinte e via o sol querendo entrar pelas cortinas, sentia que tinha mais uma chance, que aquele poderia ser o dia ou não, que receberia um coração novo. Durante um ano, essa foi a minha rotina, torcer para estar viva no dia seguinte, esperançosa de que o coração que me salvari
— Quero dar o mundo para você — Uma voz masculina sussurrou perto do meu ouvido. A fragrância de seu perfume, estava impregnada em minhas narinas, indo pouco a pouco para mais fundo dentro de mim. Conhecia cada partícula daquele perfume, apesar de não ser um perfume que sentia em vários homens, eu conhecia e gostava do cheiro forte e ao mesmo tempo com um toque feminino. Não demora para sentir lábios em meu pescoço, suaves, trilhando um caminho invisível. Cada beijo trazia mais familiaridade e logo seus braços me envolviam, firmes, me transmitindo segurança. Me acolhendo. Juntando todos os milhares de pedaços que tinha de mim, espalhados, numa tentativa de me trazer de volta. Inspiro profundamente o perfume, sentindo meu corpo leve.— Não quero o mundo. Já tenho você — Ouço as palavras saírem da minha boca, como se não tivessem sido ditas por mim. Mas para mim soaram verdadeiras, era como se meu coração estivesse falando — Só... — Inspiro profundamente
— Seus exames, mais uma vez, não deram nenhuma alteração — diz o médico na minha frente, folheando a prancheta com algumas folhas. Num momento estava no jornal e depois, quando abro os olhos, me vejo em um quarto dez hospital parecido com o quarto que passei um ano.— Mas ela desmaiou — Beth argumenta, aparentemente ainda assustada — Achei que estivesse até morta.— O corpo dela ainda está se adaptando e dado aos últimos resultados dos exames, não há nada para se preocupar.— Onde estava o Dr. Harris? — pergunto com a voz firme, atraindo o par de olhos. Eu precisava ver ele, estava crente que se lhe dissesse o que estava acontecendo ou tentasse, com certeza ele me ajudaria.— Dr. Harris não está de plantão hoje — diz o médico de cabelos grisalhos, com um sorriso um pouco forçado — Mas eu estou e acredito que posso tirar todas suas dúvidas — Continuo sustentando o olhar dele, esperando que simplesmente me desse alta e fosse embora — E se não tiver, tudo bem também,
Inspiro profundamente o aroma do Cappuccino de Avelã, antes de o levar até os lábios e praticamente ir ao céu com o sabor. Nunca gostei de cappuccino, acreditava que só era mais um meio dos amantes de café, tomar mais café mas, desde que sai do hospital e vi a cafeteria que ficava na esquina, senti uma grande necessidade de ir até lá. E aqui estava eu, em um ambiente que cheirava apenas a café, com um pedaço generoso de bolo de limão, com meu notebook aberto, empolgada em escrever tudo que estava acontecendo no último mês. Volte e meia, alternava para a leitura da matéria sobre o experimento dos transplantados, enquanto dividia minha atenção com o relógio, já que faltava poucos minutos para o trabalho.“O fenômeno de memória celular, mesmo ainda não é considerado como 100% cientificamente validado, é apoiado por vários cientistas e médicos. Os comportamentos e emoções do doador adquiridas pelo receptor são devido a memórias combinatórias armazenadas nos