6 MESES DEPOIS

Quase todos os dias nos últimos seis meses, eu treinei, com e sem a ajuda do pessoal. Encontrei consolo no poder físico que possuo.

No início foi duro. A motivação era difícil de encontrar, mas tudo isso terminou uma noite há cinco meses.

Acordei gritando, as lágrimas corriam pelo meu rosto e minha respiração era sufocante. As lembranças de meus pais sendo arrastados para longe de mim estavam frescas em minha mente. Os sentimentos eram os de uma menina de oito anos. Sozinha e com medo em uma sala escura e fria, onde Alfa Austin me interrogou sobre o desaparecimento.

Me senti traída, triste, desamparada e completamente aterrorizada.

O olhar perigoso em seus olhos me aterrorizou e quando ele bateu com os punhos na mesa de metal, meu corpo inteiro tremeu de medo de ser atingida.

Uma tristeza imensa pesava em meu coração. Já fazia um tempo que eu não sonhava com aquela noite e toda vez que sonhava, acordava encharcada em suor, gritando. Aquela noite fatídica não foi diferente, mas felizmente os quartos eram todos à prova de som, então tive a certeza de que ninguém acordou com meus gritos.

Odiei que eles ainda me afetassem, estava longe deles, mas ainda assim as lembranças assombravam meu subconsciente.

Quanto mais eu ficava acordada pensando nisso, mais minha tristeza se desvanecia e era substituída por uma raiva ardente por meus tormentos, eu queria lutar contra isso.

Eu não queria ficar desamparada. Eu detestava essa sensação!

Joguei os cobertores do meu corpo e corri para o ginásio. No momento em que notei que a porta estava fechada, comecei a dar socos no saco de pancada que estava pendurado no meio da sala.

As lembranças passavam pela minha mente, alimentando minha raiva. Eu podia sentir o ardor quente nos olhos, mas não prestava atenção a isso. Eu precisava de liberação, precisava de alívio para toda a raiva e adrenalina que corria pelas minhas veias.

Cada soco e chute que eu dava era mais forte do que o anterior, ameaçando arrancar o saco de onde estava fixado.

Escutei a porta da academia abrir, mas eu estava longe demais para me preocupar. Todos os anos de tortura física e impotência estavam sendo liberados, o saco dançou violentamente com a minha investida.

De repente, o saco foi agarrado e meus braços ficaram retidos, eu estava vendo vermelho, nada podia me conter. Eu me soltei de quem estava me segurando e continuei meu ataque ao saco. As vozes de Alfa Jamie, Jake e Dristan estavam quebrando minhas paredes suplicando que eu parasse.

Os pedidos deles soavam tão parecidos com os meus quando implorei a Alfa Austin que acreditasse em mim. Minha determinação era fraca, até que de repente ela caiu. Eu parei de dar socos e caí no chão em soluços.

Alfa Jamie me colocou em seus braços e me segurou enquanto eu chorava. Algo que ninguém havia feito há oito anos. Pela primeira vez desde que perdi meus pais, eu tinha alguém para me abraçar e enxugar minhas lágrimas, alguém para aliviar a dor.

"Shh, não chore. Está tudo bem, já passou. Eles não podem te machucar agora". Ele continuou sussurrando palavras gentis no meu ouvido até que meu corpo ficou calmo.

Eu me sentei, limpei minhas lágrimas e o olhei nos olhos. Seu sussurro ecoou pela sala enquanto ele me puxava para cima, seus olhos estavam largos, eles mantinham uma mistura de emoções que me confundia muito. Olhei para Jake e Dris em busca de respostas, mas suas reações eram idênticas às de seu Alfa.

"O quê?". Eu perguntei, tremendo, olhando entre eles.

"Seus olhos, eles... eles estão brilhando... vermelhos!" Minha cabeça se virou para o espelho, que formava um dos lados das paredes da academia, apenas confirmando suas palavras.

Me aproximei do espelho para observar a estranha visão. O vermelho dominou minha íris, mas eu podia ver os anéis azul bebê fracos que os rodeavam, os anéis pareciam estar invadindo o vermelho, nós observamos de perto enquanto meus olhos mudavam do vermelho ardente brilhante para uma suave cor azul gelado transparente. Nas últimas semanas eu havia notado como a sombra de meus olhos normalmente azuis gelados mudava de cor, no início eu pensava que estava imaginando coisas, mas agora estava confirmado.

"Venham, vamos conversar no escritório". Ele nos levou até o escritório e continuou sentado no sofá em forma de L e nós o seguimos. Eu sei que eles queriam saber exatamente o que tinha acontecido hoje à noite, então eu lhes disse.

***

Desde aquela noite, eu tenho aprendido a canalizar minha tristeza, minha dor e minha raiva. Quando sugeri a ideia, eles estavam muito empenhados em que eu não o fizesse, mas com um pouco de persuasão acabaram concordando e me ajudando a aprender a ter controle sobre aquilo. No início, sempre que eu ficava com raiva, meus olhos ficavam vermelhos, mas depois de muita prática e ajuda deles, eu consegui controlar a mudança da cor dos meus olhos.

Meu corpo também mudou drasticamente nos últimos meses. Não sou mais a garota magra e desnutrida que se juntou à alcateia. Pareço mais saudável e me sinto mais forte do que nunca.

Minha força aumentou dez vezes, agora estou classificada em primeiro lugar na alcateia pela minha força e agilidade e a única pessoa que ainda estou para vencer é o próprio Alfa.

Depois de dois meses de treinamento, comecei a trabalhar minhas habilidades mentais.

Descobri que tenho a habilidade de manipular água em qualquer forma, essa habilidade foi um choque para mim. Numa manhã, eu estava livre do treinamento matinal, e Connor e Brad decidiram aprontar para cima de mim, jogando água gelada para me acordar. Eu os ouvi antes que me alcançassem, mas fingi estar dormindo, meus olhos se abriram quando o som de água balançando veio acima de mim. A bolha de água estava suspensa no ar. Os dois ficaram paralisados, de olhos arregalados, antes de gritarem como menininhas quando a água foi despejada em suas cabeças. Fiquei tão surpresa, achando que eu tinha imaginado aquilo, que ignorei e voltei a dormir. Só horas depois, quando acordei e percebi que toda a alcateia estava agindo estranhamente e os gêmeos fazendo beicinho para mim, percebi que meus dons eram reais.

Cada um dos meus dons veio para mim de uma maneira diferente e cada um tinha seu propósito, era interessante aprender mais sobre eles e eu sempre ficava animada para ver o que mais eu poderia fazer.