Inicio / Romance / Não sou um contrato / O peso do legado parte 3
O peso do legado parte 3

Capítulo 104. O peso do legado parte 3.

Abby assentiu lentamente, tentando processar o que suas palavras implicavam. O ritmo quase imperceptível das unhas de Bastián batendo na madeira da escrivaninha misturava-se ao som de Leana brincando no canto, criando um contraste quase irônico entre a tensão que enchia o ar e a brincadeira infantil da filha.

Abby respirou fundo, sentindo seus próprios pensamentos começarem a se entrelaçar. De certa forma, ela sabia o que estava por vir, sentia isso na maneira como Bastián procurava as palavras certas, como se temesse o impacto que elas teriam sobre ela.

" E... Isso significa que..." Abby murmurou, inclinando-se para frente enquanto sua voz estava entre a curiosidade e a cautela. Os olhos dela permaneceram fixos nos dele, tentando decifrar o que estava por vir, procurando respostas antes que ele as pronunciasse.

— Quero que você assuma um papel mais ativo na L&J agora que estamos próximos do lançamento. Preciso que você lidere minhas funções enquanto estabilizo os hotéis e coloco tudo em dia com tudo o que isso implica. Confio em você mais do que em qualquer outra pessoa, não há outra pessoa em quem possa confiar. — A intensidade do seu olhar, cheio de confiança e com um toque de súplica, não deixava dúvidas sobre a importância do seu pedido.

Suas palavras caíram sobre Abby como um fardo pesado que ela não tinha certeza se conseguiria suportar, a intensidade de seu olhar, cheio de confiança, e aquele toque de súplica que ele raramente demonstrava, fizeram o ar parecer mais pesado do que já estava. Abby engoliu em seco, consciente do peso do que ele estava pedindo a ela.

Seu primeiro instinto foi recusar, sua mente já antecipando o caos que a aceitação acarretaria. A ideia de passar mais tempo na L&J significava enfrentar fantasmas do passado, não apenas Vincent e o que quer que ele planejasse para se aproximar de Leana, mas também Valerie, cuja presença sempre parecia atiçar as brasas de um conflito sem fim, e cuja saúde mental poderia ser perigosa para sua filha.

Seus dedos começaram a brincar com a caneta em sua mão, girando-a com pequenos cliques que quebraram o silêncio constrangedor da sala. O som, embora insignificante, refletia a batalha interna que ela estava travando, mas finalmente ela ergueu os olhos e o leve tremor em sua voz traiu a firmeza que tentava projetar.

— Bastián... Não sei se é uma boa ideia. Você sabe como pode ser difícil trabalhar nesse ambiente, com Vincent e Valerie por perto... Não quero problemas, por isso não coloquei os pés na L&J desde que ele voltou. — Suas palavras saíram lentamente, quase arrastadas, como se ela precisasse reunir forças para dizê-las.

A reação de Bastián não foi de surpresa, mas de compreensão, e um leve sorriso apareceu em seus lábios, mas não conseguiu iluminar seus olhos. Ele inclinou a cabeça para frente, os dedos entrelaçados na mesa como uma âncora para manter a postura composta.

Ele sabia muito bem o que significava para Abby ter Vincent por perto.

— Eu sei. — Ele admitiu com um tom baixo, quase persuasivo, como se soubesse que estava pedindo algo difícil, mas necessário. —Mas você é a melhor pessoa para isso, Abby. — Seus olhos a procuraram, tentando transmitir a confiança que sentia nela. — Você não só tem uma visão que ninguém mais tem, mas a L&J faz parte de você. Sarah fundou esta empresa com você do zero, vocês a moldaram com esforço e paixão, Abby. Não há ninguém que ame e entenda mais o trabalho realizado aqui do que você. Este lugar é como se fosse sua segunda casa, e não tenho dúvidas de que você saberá cuidar dele como sempre fez.

Abby protestou, em um tom que misturava frustração e descontentamento, enquanto franzia a testa e apoiava as mãos na beirada da mesa.

— Por que agora, Bastián? —ela exclamou, soltando um suspiro exasperado. — Justamente quando Vincent decidiu voltar para L&J. Não é o momento mais conveniente, não acha? — Sua voz, embora firme, revelava o misto de inquietação e exaustão que a consumia.

Bastián sustentou o olhar dela, com uma calma que parecia quase praticada, mas seus olhos castanhos não mentiam, refletiam o peso de uma responsabilidade que o ultrapassava, a necessidade de tomar decisões difíceis e a bênção de ter Abby no processo, mesmo que isso significasse estar perto de Vincent.

Ele se inclinou ligeiramente para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, e falou em um tom calmo, mas significativo.

— Isso iria acontecer com Vincent lá ou não. — A voz dele era baixa, mas cada palavra era comedida, buscando acalmar as preocupações de Abby sem minimizar sua importância. —Meu pai me deixou uma grande responsabilidade, Abby. Não posso decepcioná-lo, nem a mim mesmo. A rede hoteleira precisa de toda a minha atenção, mas a L&J também merece ser liderada por alguém que realmente entenda o que isso significa. Esse alguém é você. Tenho certeza de que você conseguirá passar por Vincent, e se ele se tornar um espinho para você, eu mesmo o colocarei no lugar dele.

Abby permaneceu em silêncio por alguns minutos, com o olhar fixo em Leana, que ainda estava absorta em seus desenhos, alheia à tensão que enchia o escritório. Os traços despreocupados dos lápis de cor contrastavam cruelmente com o redemoinho que assolava dentro dela.

As palavras de Bastián ressoaram em sua mente, atingindo-a com uma força que ela não esperava, ela sentiu como se cada uma delas abrisse uma porta para lembranças, medos e responsabilidades que ela havia tentado evitar. Ela fechou os olhos, soltando um suspiro trêmulo que procurava aliviar o peso que agora sentia no peito enquanto processava o que acabou de ouvir.

Ela não queria falhar com Bastián, ou Leana, ou consigo mesma.

“Vincent não pode continuar estragando minha vida, a vida da minha família ou minhas decisões.”

Por fim, ela abriu os olhos, cheios de uma nova clareza, e assentiu com a firmeza de quem aceita um desafio inevitável. Ao fazê-lo, seus dedos pousaram na beirada da mesa, sentindo a textura fria da madeira, uma âncora para a realidade que a cercava.

— OK. Eu farei isso. Mas se Valerie tentar alguma coisa, não serei responsável pelas minhas ações. — Sua voz soava firme, segura, embora um leve tremor nas últimas palavras revelasse que ela ainda estava processando tudo o que aquela decisão implicava.

Bastián olhou para ela com um misto de alívio e orgulho, seu sorriso, embora leve, iluminava seu rosto cansado enquanto contornava a mesa para abraçá-la. O calor do corpo dele, a firmeza dos braços ao redor dela, eram um refúgio no meio da tempestade que ambos sabiam que estava por vir. Abby se permitiu fechar os olhos por um breve momento, deixando o abraço dissipar um pouco da tensão que ela havia acumulado.

— Eu sabia que poderia contar com você. Obrigado, meu amor, prometo que tudo ficará bem, Abby. — A voz de Bastián era baixa, mas cheia de sinceridade, a forma como pronunciava o nome dela tinha um peso especial, como se naquelas poucas palavras ele estivesse depositando nela toda a confiança que tinha.

Abby sorriu levemente, embora por dentro sentisse um misto de emoções, sabia que aceitar esse desafio significava se expor a situações que preferiria evitar, mas também entendeu que era um passo necessário para seguir em frente.

Enquanto o leve aroma de café e o som das pinceladas de Leana enchiam o ar, Abby não pôde deixar de pensar.

Não se trata apenas da L&J. Isto é para nós.

Sigue leyendo en Buenovela
Escanea el código para descargar la APP
capítulo anteriorcapítulo siguiente

Capítulos relacionados

Último capítulo

Escanea el código para leer en la APP