DOIS MESES DEPOISLUÍSA ALVES__ Luísa.--- Gemeu Tyler, no mesmo momento em que a cama bateu contra a parede de meu quarto. Respirei fundo, contendo as lágrimas, encostando a minha cabeça na parede. A mesma parede, que do outro lado, guardava os homens pelos quais sou totalmente apaixonada, mas que fogem de mim como um gato foge da água. Através de gemidos. Só assim tenho escutado meu nome sair dos lábios deles, nos gemidos de todas as noites quentes que só sei pelos sons que sou obrigada a escutar. Ao mesmo tempo que é um alívio saber que eles pensam em mim, que ainda me desejam, também é o meu castigo escutar tudo isso. Saio da cama, calçando minhas pantufas. O dia não está tão gelado quanto os anteriores, mas continua frio. Por isso escolhi um short de moletom larguinho, com um casaco do mesmo tecido, sendo ele ombro a ombro. Confortável e vai me manter quentinho. Vou direto ao meu próprio banheiro, tomando um banho quente e relaxante. Ao sair, passei os meus cremes corporais e
LUÍSA ALVES__ Se acalma.--- Domenick falou preocupado, parando ao meu lado.Sua voz preocupada, potente e forte me traz de volta para a realidade. Encaro os três que me olham preocupados, inclusive a pequena Emma. __Está doendo muito?—- Questiona. __ NÃO ME TOCA.--- Gritei fugindo do seu toque, o assustando com o meu tom.--- Mas que merda, passou esse tempo todo fingindo que nem existo e agora quer me ajudar? Enfia essa falsidade no seu cu. Saio de perto dele, tirando a minha blusa e pegando um pano. Molho o mesmo e passo limpando todo o líquido, sentindo a ardência passar e melhorar tudo. __ Luísa, não é pra tanto.--- Thomas. __ Agora é Luísa, haja paciência.--- Revirei os olhos.--- Já que vou ser obrigada a ir nessa viagem, posso levar uma amiga? Ela vai arcar com todas as despesas. __ Pode levar sim.--- Tyler concordou.--- E nos pagamos por ela, não tem problema. __ Ótimo, agora me da licença. Vou subir e retirar essa blusa.--- Peguei Emma do colo deles, vendo a pequena vir
LUÍSA ALVESSinto a pequena bebê que está mamando em meu peito, enquanto minha amiga Luna fazia um carinho em meus cabelos. Sua cabeça está apoiada no meu ombro, enquanto a sua mão livre está cruzada com a minha. Se não fosse a bebê que seguro, acredito que ela estaria quase fundida ao meu corpo. Lunna tem um pouco de medo de andar de avião, ou qualquer coisa que não se mecha pelo chão. E quando eu falo pouco é para não dramática, mas sério, ela morre de medo. Estamos em uma das poltronas que tem no jatinho luxuoso dos Riveiras. Da janela do mesmo, via o meu Rio de Janeiro cada vez mais perto. Já estamos aqui a mais do que doze horas nesse jatinho, afinal foi um vôo direto que pegamos.Não tem muito tempo que estamos pelo céu do meu país, meu Brasil. O que faz o meu coração errar algumas batidas, com tantos sentimentos. Estaríamos extremamente doloridos caso tudo não fosse tão confortável, extremamente luxuoso. Segurei Emma em meu colo com mais cuidado, permitindo que a veja a minh
LUÍSA ALVES_Vamos entrar?--- Perguntou Tyler, parando ao meu lado. __ Não.--- Neguei com a cabeça, sentindo a lágrima começar a cair.--- Que saudades de casa. Por mais que seja difícil estar aqui, não consigo explicar o quanto estou feliz pelo mesmo motivo. Sempre amei o Rio de Janeiro, o Brasil. Cresci por essas ruas, cada canto conta a minha história e voltar aqui é como me reencontrar. Dessa vez sou uma mulher diferente, forte e dona da minha própria vida. Isso é como falar para aquela menina que fui, que sofreu tanto, que continuar nadando valeu a pena, mesmo que tenha sido bem difícil após uma enorme perda. __ Você está no seu lar, amiga.--- Lunna falou sorridente. Concordei com a cabeça, não contendo a emoção. Fechei os olhos, sentindo a brisa secar as minhas lágrimas, no mesmo momento em que na minha mente repassava os momentos em que ainda criança, ia para a ponta do mar e me acabava em choro. Ele secava as minhas lágrimas e suas ondas colocavam fim a minha dor. Entreg
NARRADORALuísa segurava no pulso de sua melhor amiga, Lunna, enquanto a puxava pelas calçadas da cidade. A morena tentava acompanhar o ritimo da loira que estava animada, que mesmo tendo passado tanto tempo longe, parecia estar fazendo algo comum de sua rotina. Não tinha como ter dúvidas, Luísa ainda ama o Rio de janeiro e apesar de tudo que viveu, tem muito apreço pela sua cidade.Seus olhos brilham de pura felicidade todas as vezes que encontram o mar. A sua voz transborda de felicidade ao narrar os momentos, mesmo que poucos, que experimentou a felicidade durante a sua infância. Poderiam ter pego um uber e parado direto no forte de Copacabana, mas a loira estava com saudades de andar pela orla da praia e aproveitou a primeira oportunidade para o fazer. Elas moram na cidade mais movimentada no mundo, aquela que muitos falam que nunca dorme. Para as duas, é mais do que normal esse empurra empurra. O diferente ali é a deliciosa brisa, gelada e salgada, que vinha do mar e beijava sua
NARRADORA __ Luísa.--- A mulher soltou um sorriso macabro, mostrando a sua boca sem os dentes. Havia os perdidos devido o excesso de substâncias químicas. __ Get my friend's name out of your filthy mouth.--- Lunna declarou raivosa, se colocando na frente da amiga como uma forma de defesa. "Tire o nome da minha amiga de sua boca imunda."Luna sabe de toda a história da amiga, de todas as suas dores e pesadelos. Ela se recorda de como Luísa estava quebrada quando se conheceram, o quanto ela ajudou a amiga e a incentivou procurar um psicologo para tratar suas feridas. Luísa assim o fez e deve confessar, a ajudou bastante. Antes mal suportava o toque de qualquer pessoa, não tinha uma noite de sono em paz sem um sonho ruim. A terapia lhe deu isso, a permitiu viver uma vida nova, tranquilamente. Ela que não se permitiu curar tudo isso, pois era uma dor que não iria suportar reviver. Agora ali estava o seu passado. __ Americana, ela é americana.--- A mais velha falou com um sorriso. Nã
LUISAColoco a mão no peito, sentindo a minha respiração ofegante, assim como o meu coração que estava com batidas desregulada e ainda mais fortes do que o comum. Merda de pesadelo, ou melhor, lembrança. Depois de tanto tempo, voltei a sonhar com o que aconteceu no passado. A lembrança de quando acordei naquele hospital e recebi a notícia que sofri um aborto devido às pancadas. Essa é uma memória que tento guardar no meu mais profundo, que anseio para que chegue ao ponto de que minha mente á bloqueie e eu não lembre mais. Aquele foi, sem dúvidas, o pior dia da minha vida. Uma cicatriz, um vazio que carrego até hoje. A dor de perder um filho é a pior que existe, nada se compara, pois nada machuca tanto quanto isso. Com o passar dos dias você aprende a lidar com a saudade, com a dor, mas ela nunca diminuí. Essa, de todas as lembranças do meu passado, é a que mais me dói e machuca. Só quem é mãe consegue entender o que estou falando, como não importa o tempo que passe, sempre parece q
LUÍSA __ Luísa, você está interpretando as coisas da forma errada.--- Tyler respirou fundo. __ Então me fala, o que estou interpretando errado?--- Voltei a me sentar em uma das bancadas, os encarando firmemente.--- Para mim vocês são uns covardes, isso sim.--- Falei após o silêncio deles, revirando os olhos revoltada. __ Covardes?--- Domenick repetiu em tom de pergunta, sentindo-se ofendido pelo que falei e o tom que usei. Concordei com a cabeça, vendo o mesmo negar, como se não acreditasse nem um pouco em minhas palavras. __ Vocês passam o dia toda me ignorando, tentando negar o desejo que sentem por mim. Mas toda noite, não tem nenhuma outra escolha que não seja assumir o que sentem e só naquele momento, se entregam ao que não podem mais evitar.--- Apontei o que acredito. Vejo o momento em que negam com a cabeça, abaixando o seu olhar sem nem ao menos fazer ideia do que estão falando. Até que Tyler, levantou a cabeça e permitiu que o seu olhar encontra-se ao meu, transmitindo