Kaia POVNão sei ao certo quanto tempo permaneci no escritório dele. Meus olhos ficaram fixos na porta por onde ele saiu por tanto tempo que acabaram secos. Tudo bem, logo estariam encharcados de novo.Eu sabia que ele não voltaria por mim, mas minha mente se prendia à perplexidade do fato de que um vínculo de alma com outra pessoa na mesma sala não conseguia competir com um laço a quilômetros de distância. Mesmo tendo sido abandonado por ela há quatro anos.Eu nunca tive uma chance real, não é? Certamente a Deusa da Lua teria previsto isso. Devo tê-la ofendido em alguma vida passada... agora estou pagando o preço.Quando meus pés finalmente começam a se mover, é apenas por um impulso robótico que o fazem.Minha mente quer voltar para casa — e, mais uma vez, não sei quanto tempo levou até que minhas pernas cedessem. Mas fui muito cuidadosa em meus movimentos, inclusive me certifiquei de fechar a porta do escritório dele ao sair, assim como a porta da casa do alfa.Quando ele voltar, se
Kaia POVColoquei meu notebook na mochila antes de subir as escadas e escolher apenas algumas roupas que me levariam até onde eu precisava ir.Revirei os quartos do andar de cima uma última vez, certificando-me de não deixar nada fora do lugar, nenhuma lembrança de que fui eu quem morou ali... roupas podem ser reutilizadas... podem ser jogadas fora, se ele assim quiser.Desci as escadas, vestindo um moletom sobre as roupas recém-trocadas. Coloquei com calma alguns lanches e garrafas de água na bolsa.Não havia motivo para esperar, nem pela cobertura da noite. Todos estavam na festa da alcateia, exceto alguns poucos, e todos ficariam acordados até as primeiras horas da manhã de qualquer forma.Não havia hora melhor para ir embora.Fechei a porta da frente pela última vez e comecei a andar na direção oposta ao salão da alcateia. O campo era um lugar feliz para mim e para minha loba — queria, ao menos, partir em paz comigo mesma.Eu não me despediria. Não adiantaria nada.Caminhei pela fl
Hector POV— Que porra foi essa de mandar o convite? Eu mal estava conseguindo reconquistar a confiança da Kaia, a gente mal tinha começado a se entender de novo, e aí esse maldito convite apareceu ali, bem em cima da minha mesa.Mas não tinha como desver.Ele devia saber que, ao me mandar aquilo, eu iria direto até ele. Só teve sorte de eu estar indo sozinho, sem os meus guerreiros.Não queria ter deixado a Kaia daquele jeito, mas sabia que ela já deve ter voltado pra festa agora, onde pelo menos podia aproveitar a celebração.Meu pé ficava cravado no acelerador desde o momento em que saí dos limites do território do meu bando. Eu não tinha um segundo a perder.A cerimônia ainda podia estar a duas semanas de distância, mas eu não podia deixar que acontecesse. Não sem vê-la com meus próprios olhos.Ver com clareza se era isso mesmo que ela queria. Se ela não estava apenas indo junto com tudo porque não sabia que tinha escolha, que podia ter uma vida diferente, se quisesse.Than era um
Ponto de Vista do HectorA velocidade com que eu dirigia na volta para a Matilha Fantasma das Trevas não era nem de perto a mesma de quando saí. Eu precisava de tempo para esfriar a cabeça, e o trajeto de volta parecia ter o tempo exato para isso.Não queria que a Kaia se envolvesse. A reação dela ao convite foi a prova de que ela não queria ter mais nada a ver com o Than. E eu não ia permitir que ela continuasse sendo arrastada pro meu passado distorcido com ele e com a Alora.A Kaia já tinha passado por coisa demais.Durante todo o trajeto, fui seguido. Alguns guerreiros escolhidos da Matilha Deserto de Âmbar tinham recebido a missão de garantir que eu voltasse para minha matilha. Eles não tiraram os olhos de mim em nenhum momento.Foi de partir o coração ter que deixar a Alora justo depois de ver ela. Eu não queria ir embora, queria pular aquele portão e abraçar ela, tirar ela daquele ambiente tóxico.Deixá-la para trás causava uma dor sufocante no meu peito... Algo estava errado, m
Ponto de Vista do HectorUm mês depois.Eu estava encarando o mesmo mapa que observei durante o último mês, esperando que algo de repente surgisse para mim, ou que, por alguma mágica, o mapa me mostrasse alguma pista.Onde ela estava...Eu já tinha procurado por todas as outras matilhas vizinhas, por todas as cidades e vilarejos humanos... Ela não podia simplesmente ter desaparecido. Alguém deveria saber onde ela estava.Eu estava dividido...Eu tinha guerreiros observando os movimentos da Matilha Deserto de Âmbar todos os dias, encarregados de garantir que a cerimônia de marcação não acontecesse. E ela ainda não tinha acontecido. Eu tinha a promessa do Alfa Damon de que nada aconteceria até que ele aprovasse.Eles não estavam em posição de arriscar uma guerra com minha matilha e com as matilhas da minha aliança.A culpa me corroía a cada dia, misturada com a preocupação constante com a segurança da Kaia.Onde ela estava...O Alfa Jude e o irmão de Ezra, o Beta Edmund, estavam me ajuda
Ponto de Vista do Than— Você que estava desenhando eles, mãe. Deve ter mandado um para ele...— Morde essa língua, garoto. Eu não vou cometer esse erro. — Ela rosnou de volta para mim.— Medea, isso é sério. Você mandou, sim ou não? — Agora era o meu pai. Ele tinha voltado a morar na casa de alfa depois de cancelar todos os planos da cerimônia de marcação.— Claro que não! — Minha mãe rebateu, como se estivesse ofendida pela pergunta.— Mas você estava desenhando, Medea...— Sim, Damon, mas eu não enviei. Eu lembrei do que o Than disse.— E o que foi que ele disse?— Que ele não estava pronto para perder o vínculo de companheirismo com a Kaia, que precisava disso para trazer ela de volta.— Valeu, mãe! — Eu sentia o Beta Zane tentando acessar a conexão mental, mas bloqueei. Isso teria que esperar. Eu tinha coisa mais urgente nas mãos.— Eu não estou mentindo pro seu pai, Than.Claro, você jamais faria isso, né...— Mas mentir para mim é tranquilo, né?— Sua mãe me pediu para intervir,
Ponto de Vista da AloraAs coisas tinham voltado a ser como antes. Eu podia ter passado quatro anos dormindo, e o Than até chegou a se casar com outra pessoa. Mas, no fundo, tudo continuava igual.Eu ainda me sentia dividida.Era como se eu nunca tivesse tomado o acônito.Eu estava furiosa com o Than por ter ordenado que um de seus homens me arrastasse para longe, enquanto eu gritava e esperneava. Eu só queria ver o Hector e conversar com ele.Já se passaram quatro anos. Por que ele não conseguia perceber aquilo... Por que ele me negou aquilo?Tinha alguma coisa errada... O Alfa Damon estava morando ali de novo. Para um alfa aposentado voltar a viver na matilha, não era um bom sinal, e nem para a reputação da matilha com as outras.Eles não estavam me contando a verdade, e eu tinha quase certeza de que aquilo não tinha nada a ver só com o convite que o Hector recebeu.Meu coração se partiu ao ver o quanto ele estava abalado. Eu achei que ele já tivesse seguido em frente, que tivesse es
Ponto de vista da Alora— Não, não, ele não me contou! — Minhas palavras ecoaram forte e firmemente dentro das paredes do escritório de Than. O que exatamente Than estava escondendo de mim?— Então você sabia onde ela estava o tempo todo? — Meus olhos estavam fixos no homem que eu amava tão profundamente, no Than.— Claro que sabia, ele até mandou guerreiros para vigiar as minhas fronteiras.A traição continuava batendo no meu peito como socos intermináveis, tirando o ar dos meus pulmões.Guerreiros nas fronteiras de Hector...Ela pegou algo, Freya me contou que Kaia tinha levado algo de Than e fugido.Será que Than estava tentando pegar de volta? Algo que ele não queria que Hector soubesse que ela possuía. Será que poderia ser a ruína daquela matilha? Aquela matilha que me acolheu e me criou... Eu não podia deixar que nada acontecesse com ela, independentemente de nosso vínculo de companheirismo.— Ela se foi?— O convite foi descuidado, de mau gosto. Foi enviado de propósito para me