Ponto de Vista da KaiaPassei minha vida sendo treinada por meu pai para proteger uma matilha que já não existia mais. Naquele momento, tinhamos aquela matilha e eu precisava protegê-la com todas as minhas forças. Eles não poderiam ultrapassar as fronteiras, não poderiam chegar às mulheres e crianças inocentes que se esconderam em suas casas.Eles já invadiram a fronteira, mas não iriam chegar mais longe, não se eu pudesse impedir.Não tivemos fundos para construir um abrigo para a matilha, algo que naquele momento era essencial para o nosso futuro, se conseguiríamos sobreviver a aquele ataque.As crianças e as grávidas estavam espalhadas demais. Precisaram ser guardadas juntas em um abrigo que fosse impossível de penetrar.Eles continuavam vindo. Mas não eram lobos solitários, eram lobos de matilha.Eram lobos que tinham recebido ordens de atacar com o único objetivo de nos lembrar de quem aquelas terras pertenciam, e aparentemente, não eram nossas.Eu fui atrás dos lobos mais jovens
Ponto de Vista da KaiaEu estava ajudando os feridos, era por isso que o hospital precisava ser maior. Com um ataque daquele, estávamos funcionando muito acima da capacidade.Havia até camas nos corredores, com garotos recém-saídos da adolescência gritando de dor. Faltavam médicos, faltavam enfermeiras... Tínhamos mal saído de uma batalha, só para cair direto em outra.Eu corria de um lado pro outro no hospital, tentando encontrar ataduras para estancar o sangue que escorria de tantos corpos.O ataque do Alfa tinha sido preciso, calculado. Se eles atacassem de novo naquele momento, a gente não teria a menor chance de proteger nosso território.Meu pai me encontrou no hospital, justo quando Samson me ajudava a recolocar os ossos deslocados de uma loba.A aura dele chegou pesada, escura, carregada de raiva, sufocava o ar do centro médico, que já lutava para manter um ambiente de paz e cura.A maioria ali ia ficar bem, era só parar o sangramento e ajeitar os ossos que o processo de cura n
Ponto de Vista da AloraEu estava vivendo duas vidas. Numa delas, eu era feliz na frente do Than. Ele nem desconfiava.Na outra, quando eu ficava sozinha, começava a me consumir pensando naquilo que li nos meus prontuários no consultório médico.Sem o Than por perto, eu não conseguia parar de pensar naquilo.Eu precisava de uma segunda opinião, de um médico que não fosse da Matilha Deserto de Âmbar, alguém que me dissesse a verdade. Naquele momento estava claro que estavam escondendo coisas de mim.Uma parte de mim ainda negava, mas a outra começava a ligar os pontos. O fato de eu nunca ter ficado realmente sozinha desde que acordei do coma. O motivo pelo qual minha loba não tinha força para se transformar. As dores na barriga que andava sentindo.Than ia sair da matilha por alguns dias, levando o Beta Zane com ele. Aquela era a minha chance, a oportunidade de descobrir por conta própria o que estava acontecendo de verdade.Com Medea ainda fora da matilha, Freya viria morar comigo por
POV de Hector Eu havia convocado um treino geral para toda a alcateia nesta manhã. Algo vinha me deixando inquieto nos últimos dias, e não conseguia identificar o quê.As fronteiras estavam limpas, não havia sinal de perigo iminente... então por que essa sensação estranha no fundo do meu estômago? Estava lá constantemente nos últimos dias — desde o momento em que eu acordava até a hora de dormir. Às vezes, até me acordava no meio da noite... como um pressentimento sombrio.Costumo sentir isso quando um ataque está prestes a acontecer ou quando um lobo de fora da alcateia invade os territórios do Clã Fantasma Negro.Mas os terrenos e fronteiras estavam tranquilos. Nenhum sinal de movimento por quilômetros.Chamei o treino como medida de precaução. Se um ataque acontecesse, ao menos os membros não guerreiros teriam passado por um treino recente.— De novo! — Ordenei a um grupo de membros jovens da alcateia. Tecnicamente, eles não deveriam treinar em um nível tão avançado ainda, não com
POV de Hector— O que você sabe sobre lobos brancos? — Jude me perguntou algo que eu nunca imaginei que um Alfa adulto, muito menos meu melhor amigo, me perguntaria.— Lobos brancos? — Respondi com um riso cético, me levantando e indo até o armário lateral onde Aubrey havia deixado algumas bebidas. Eu me servi de um café, sabendo que precisaria da cafeína depois de uma sessão de treino intensa e agora Jude falando sobre malditas fábulas.— Eles são um mito... uma fábula. — Resmunguei enquanto mexia a bebida quente.— Era o que eu pensava, mas esse alfa, ele jura pela Deusa da Lua que viu um, durante a batalha... nessa nova matilha.— Não existe lobo branco. Ele deve ter levado um golpe na cabeça e visto algo branco ao longe.Lobos brancos eram um mito, uma fantasia. Algo que você conta para crianças como parte de um conto de fadas.A história foi criada para ajudar as crianças a entenderem sua conexão com a lua, com a Deusa da Lua e como elas se diferenciam das crianças humanas. A Deus
POV de ThanQuem quer que estivesse a escondê-la, estava fazendo isso muito bem.Alguns dos alfas estavam dispostos a me deixar vasculhar seus territórios, os outros nem tanto. Zane tentaria outras matilhas antes de voltar para a Matilha Deserto de Âmbar, para onde eu agora estava a caminho.Não gostava de ficar longe de Alora por muito tempo. Isso me parecia antinatural.Estacionei em frente à casa do alfa e desliguei a música do carro antes de sair do veículo e me dirigir à porta da frente. Ao abrir a porta, chamei por Alora, anunciando minha chegada, mas não ouvi nenhuma resposta. A casa estava envolta por um silêncio estranho.— Alora? — Tentei me conectar com ela pela conexão mental enquanto fechava a porta e jogava as chaves do carro na bandeja ao lado.— No escritório… — Sua voz respondeu através da conexão mental, e uma onda de alívio fez meus músculos tensos relaxarem.— O que você está fazendo aí? — Chamei, indo primeiro até a cozinha para preparar um café. Não me diga que el
POV de AloraMeus olhos se abriam, focando no teto branco do quarto do hospital. Eu reconheceria esses apitos de qualquer lugar... Estava de volta.Tudo estava de cabeça para baixo na minha vida. A briga com Than tinha tirado toda a minha força, a pouca que me restava. Eu estava ficando fraca.Agora que entendi por que não fui a mesma desde o meu despertar, um senso de calma me envolveu.E estava tudo bem.Eu fiz essa escolha quando tinha 16 anos e fui tola. Agora estava pagando o preço. Por alguma razão, a Deusa da Lua não me levou naquele momento. Farei essa pergunta pelo resto da minha vida, se foi para que eu vivesse com o arrependimento antes de finalmente ser levada para casa dela. Eu terei a chance de me despedir de Than.Não como antes.Eu também terei essa pequena janela para descobrir o que Kaia seria para mim. Than não podia mais me esconder, ele não podia me manter longe do mundo exterior.— Alora?Virava a cabeça lentamente e viu Freya me observando, um sorriso triste nos
POV de KaiaEu havia trabalhado em turnos duplos no centro médico, e como um coletivo, havíamos feito um bom trabalho em enviar os pacientes para casa e curados o mais rápido possível. Havia alguns poucos que precisavam de atenção médica adicional, mas, com sorte, dentro em uma ou duas semanas eles seriam liberados para descansar em casa. Perdemos alguns, mas não tantos quanto eu esperava.Felizmente, o ataque terminou abruptamente, assim que começou. Se tivesse durado mais, as perdas seriam muito piores.— Obrigada, Luna. — Uma das enfermeiras sorriu para mim enquanto me ajudava a colocar um paciente masculino na cama.Elas não diziam nada, de forma geral, por respeito ao Pai, mas eu conseguia perceber que a matilha todo apreciava a minha liderança na batalha e minha permanência para ajudar os feridos. Eu nunca poderia ser a Luna oficial, por ser filha do Pai, mas eu poderia agir como tal... o papel para o qual eu nasci.Só que para outra matilha.— Por que não vai para casa? Eu posso