CAPITULO 6

Vicente Cooper.

Angélica entrou na sala de descanso bem na hora que eu batia a caneta na minha cabeça impaciente. Eu estava agoniado, frustrado e inconformado com a falta de proatividade na cirurgia que aconteceu ontem fora do meu plantão.

Andava de um lado para o outro encarando a equipe que deixou de fezer a operação, Angélica sentou em uma cadeira um pouco afastada e ficou a nos observar. Nícolas o cirurgião responsável pela equipe me avisou que decidiu colocar o paciente em observação.

- Uma decisão errada que tomamos pode comprometer muito a vida de alguém - falo sério - E não fazer nada é a pior decisão que um médico pode tomar. Agora eu que já sou atolado de trabalho vou ter que encaixar esse paciente que nem era meu.

- Eu sinto muito, senhor - ele se pronuncia.

- Sentir muito não vai salvar a vida do paciente - comunico - Você vai comigo - aviso.

- Sim, senhor.

- Eu vou dá uma olhada na sua escala e vou ajeitar para que coincida com a minha pelas próximas semanas - o encaro esperando que reclame mas ele apenas dá um discreto sorriso concordando.

- Não me importa qual horário da madrugada era - falo bem próximo ao seu rosto - Poderia ter me ligado, deve me ligar - digo firme - Eu sou seu chefe e pode sempre contar com o meu apoio, você duvidou disso. Você é muito bom, Doutor Nícolas e eu estou com muita raiva porque você sabia o que fazer, só não fez.

- Obrigado por entender, Senhor - agradece.

- Você tem muito futuro só precisa estudar mais um pouco, ler uns artigos científicos - digo agora calmo - Quero todo mundo pronto amanhã para um debate sobre o e-mail que enviei.

- Não recebemos nenhum e-mail, senhor - um moça fala.

- Devo ter esquecido de encaminhar - falo coçando os olhos - Mas vai chegar um e-mail no celular de vocês. Sei que queriam uma fofoca - ironizo - Punição coletiva - falo alegre e eles fazem uma careta - O conteúdo desse e-mail é um artigo cientifico muito interessante que eu andei lendo e é tão bom que vocês ficaram em êxtase - ironizo novamente - Agora vão trabalhar, sei que gostam muito da minha presença mas eu preciso olhar alguns exames - os expulso da sala e quando todos começam a sair peço que Angélica fique.

- Você não precisa ler - aviso - Sei que não participou da decisão mas estava de plantão e como preciso ser imparcial você será castigada também, mas será um castigo especial.

- Nossa - finge surpresa - Adoro castigos especiais - sorri debochada.

Acabo soltando uma gargalhada alta, ela disse que adora castigos especiais e isso mexe com uma região sensível minha, mas não posso ter pensamentos pecaminosos com essa mulher.

- Essa cirurgia precisava ter sido feita ontem - decido mudar de assunto e extravasar a minha frustração - Ele não poderia ter adiado a cirurgia - resmungo.

- Eles ficaram assustados, era uma grande responsabilidade - comentou passiva, as vezes ela se portava dessa forma, como uma mera telespectadora - Doutor Cooper - chama minha atenção e cravo meus olhos nos seus - Você está bem cansado também, saiba que sua saúde não vale menos que as dos nossos pacientes, precisar descansar bem e se alimentar direito. Precisamos de você inteiro aqui, se precisar se ausente, viaje, assista TV, saia para se divertir e faça sexo.

- E quem disse que não faço sexo? - questiono com a sobrancelha arqueada e ela fica vermelha se dando conta do que falou, não acredito que ela está me mandando fazer sexo.

- Eu não disse que não faz, apenas insinuei que fizesse - dá de ombros e sorrio do seu embaraço.

- Não precisa se preocupar, eu estou bem - digo tranquilo me sentando no sofá.

Ela caminha até a geladeira, abre a porta, se abaixa me dando uma visão privilegiada do seu traseiro redondo, respiro fundo e desvio os olhos. Ela pega uma vasilha rosa, abre e retira dois sanduíches embalados em papel filme.

- Esse rosa quase me cegou - falo rindo da sua vasilha rosa choque.

- É a minha cor preferida - conta sorrindo - Toma, um é para você - me entrega o sanduíche em um prato, cheiro e minha barriga ronca.

- Pelo cheiro parece ótimo - elogio - Sempre trás dois?

- É só uma gentileza, Doutor - fala dando uma mordida no seu sanduíche - Não é um gesto de amor, você odeio o amor e sentimentalismo.

- Gentilezas me dão um certo receio - falo dando uma mordida no meu sanduíche aprovando o sabor - Elas sempre vem acompanhadas de alguma coisa.

- Sinto muito lhe informar mas essa gentileza veio sozinha - fala tranquila - A propósito, essa cirurgia está meio fora da sua obrigação, porque não deixa o Nícolas operar sozinho? - questiona.

- Não quero falhas.

- Você não é um Deus - fala debochada.

- Sei que o Doutor Nícolas é muito bom mas precisa aprender um pouco mais - aviso e termino de comer o meu sanduíche - Eu sou daqueles que estuda todo dia, que está sempre lendo um artigo aqui outro ali. Acham que sou um gênio no trabalho, mas isso é tudo consequência de todos os meus esforços.

- Está sendo muito bom trabalha com você, Vicente - meu nome saindo dos lábios de coração causam uma sensação boa no meu coração - Eu nem acreditei quando recebi a ligação da Émile avisando que eu havia passado na seleção, sou grata por tudo que tem me ensinado.

- Você é uma excelente profissional - elogio - Não sou responsável por isso.

- Agradeço o elogio - ela pisca um olho e aquele movimento a deixa muito sensual - Você lembra do caso do senhor com câncer? - questiona se referindo a um paciente que chegou aqui semana passada com uma situação muito critica, o tumor já tinha se alastrado e nem com cirurgia conseguiríamos retirar.

- Me lembro.

- Ele faleceu ontem - ela diz triste - Uma enfermeira me contou, fiquei triste com a noticia, ele parecia ser um senhor muito gentil e alegre com a vida.

- É uma pena mesmo - falo compartilhando da sua tristeza - Quando pacientes chegam nas minhas mãos nessas condições dá uma sensação de impotência.

- Você não é Deus – repete.

- Eu sei, nunca pensei que fosse - aviso - É por esse tipo de sentimento de impotência que eu procuro sempre estar mais afastado dos pacientes.

- Mas de qualquer forma, perder alguém é muito doloroso - ela se levanta e j**a a embalagem do nosso sanduíche na lixeira - Eu não desejo isso para ninguém - fala triste.

- Vejo que já perdeu alguém - comento avaliando o seus rosto.

- Sim - confessa - Mas o pior é saber que as vezes vamos embora da vida de alguém e não fazemos falta, isso em vida.

Ele respira longamente e olha para um ponto qualquer perdida em pensamentos, com um olhar triste de lembranças ruins e aquela dor em seu rosto me fez compadecer.

Depois de um tempo seguimos em direção ao quarto do paciente, iria conversar com ele e explicar o que aconteceria nas ultimas horas.

Passamos pelo corredor da recepção e avistamos uma garotinha chorando muito alto e os pais reclamando da demora do atendimento.

Angélica foi ver o que estava acontecendo e eu fiquei de longe observando a sua conduta, daqui dava para perceber claramente que o ombro na menina estava deslocado, fiquei meio tenso com essa demora que os pais da menina acusam.

Angélica não pensou duas vezes e enquanto conversava com a garotinha em um movimento perfeito ela colocou o ombro no lugar. Sorri orgulhoso, a mãe começou a chorar de alivio ao perceber que a coisa não era tão séria quanto ela imaginava, abraçou Angélica fortemente em agradecimento.

Quando ela se voltou para mim escondi o meu sorriso e não a elogiei, embora tenha sido esplendida a sua conduta não devemos estar a espera de elogios por fazer o nosso trabalho. Nos separamos quando tive que entrar no centro cirúrgico para me preparar.

Algumas horas depois quando sair da cirurgia já era madrugada e o movimento nos corredores do hospital estava tranquilo. Assim que me sento na cadeira da sala de descanso um enfermeiro aparece.

- Doutor Cooper, a Doutora Ross não está passando bem e achei que o senhor gostaria de vê-la - avisa e o encaro assustado.

- Ela não foi para casa? - questiono com o coração na boca.

- Foi, mas voltou - esclarece - Ela chegou aqui muito pálida, vomitando e ao que parece foi causado por uma infecção alimentar.

- Céus - falo aflito - Onde ela está? Chegou sozinha?

- Ela está no quarto duzentos e doze, chegou sozinha.

- A deixaram sozinha? - questiona bravo.

- Não senhor, tem uma enfermeira com ela.

- Quem a atendeu? - pergunto já me afastando.

- A Doutora Melissa.

- Me traga o prontuario dela - peço - Agora - exijo e ele se afasta rapidamente.

Essa mulher atrevida sempre me dá trabalho ao mexer com os meus sentimentos de uma forma desconsertante, ela tem um jeito peculiar de me deixar maluco e isso está acabando com o meu controle.

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