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Capítulo 24

No dia seguinte acordei me sentindo como se uma fila de caminhões tivesse me atropelado em alta velocidade, mas não podia negar que a energia do meu quarto estava bem melhor. 

Eu me sentia revigorada por dentro e por mais que quisesse ficar o sábado inteiro jogada na cama tinha um compromisso assustador me esperando.

Apesar de sermos só eu, a minha mãe e o meu irmão praticamente jogados aqui em casa, acredite ou não, nós temos uma grande família cheia de tios, primos e esposas de primos. 

Minha mãe tem uma irmã, Michele, que é uma médica bem sucedida, orgulhosa e exibida.

Trabalha como micro neurologista em um dos maiores hospitais da cidade. 

Minha tia sempre esnobou a minha mãe porque nós somos da classe média baixa e também porque minha mãe é “apenas” uma enfermeira.

Então nunca entendemos o motivo da minha mãe fazer questão de ir na super festa de família de final de ano onde praticamente todo mundo nos esnoba por sermos pobres. 

Arrumei-me super lentamente e gemendo a cada movimento que fazia com o corpo, minha mãe se arrumou rapidamente e muito bem. 

Meu irmão, como sempre, foi com qualquer roupa e só trocou a blusa porque estava fedendo e a minha mãe ameaçou bater nele. 

Decidi levar o meu notebook, sentar em uma mesa qualquer e ficar apenas escrevendo o meu livro, mas parece que isso não será possível. 

Assim que cheguei lá encontrei a escrota da minha prima, Isabele, tão nojenta que se alguém a chama de Isabela ela sai fazendo um barraco daqueles. 

Ela não me poupou, mas esse ano tudo está diferente, depois de passar por uma decepção amorosa a gente aprende a se defender, se torna agressiva quando tentam te ferir de novo. 

- Deem licença que os ralés chegaram

Só não virei um soco no meio do “focinho” da Isabele pra não magoar a minha mãe.

Esse ano a festa aconteceria na casa da minha prima Tatiana, mãe da Isabele. 

A mulher vive fora da realidade, se acha tão bilionária quanto o Eike Batista e acredita que será a próxima integrante do “mulheres ricas”.

Esnobe como a filha, quando viu a minha mãe foi logo fazendo uma daquelas piadas irritantes:

- Quer uma esmola?

Era uma sessão de ofensas, mesmo assim minha mãe insiste nessa festinha de gente esnobe.

Nós temos uma única tia avó que faz jus ao seu parentesco. Seu nome é Elisa, ela tem 79 anos e não se entende com a vovó nem por decreto!

Quando ela chega todos os parentes fingem estar precisando usar o banheiro porque não importa a idade da pessoa, ela aperta as bochechas e fala “Como você cresceu!”, mesmo que a pessoa tenha cinquenta anos.

No salão de festas o clima estava mais leve, os esnobes estavam em volta da piscina exibindo os seus biquínis de marca e seu Iphones. 

Assim que entrei no salão a minha tia Michele me mediu de cima a baixo e veio na maior falsidade:

- Querida sobrinha! Quantas saudades, não vou lhe abraçar, pois estou gripada, nos falamos depois...

Gripada? Ela estava com aparência da Barbie Malibu e todos sabem que ela tem nojo de gente pobre!

Do jeito que nos tratam parece que saímos do morro do Alemão cobertos de baratas e moscas. 

Minha prima, Zélia, de 14 anos tem um problema de hiperatividade e acaba perdendo o controle da língua:

- Ai meu Deus! Caroline, nem acredito que você tá com dezoito anos, seria melhor se tivesse grana para ter um carro, já escolheu que faculdade você vai fazer? Tá namorando alguém? Ai meu Deus, me conta tudo pelo face que eu vou nadar agora! Beijos

Fiquei zonza e nem deu tempo de eu me recuperar antes do Thiago aparecer reclamando que o camarão é de má qualidade e que mamãe fica sendo idiota.

Normalmente eu acho o meu irmão um grosso, mas tenho que concordar que minha mãe estava fazendo papel de otária puxando o saco da irmã e da prima Isabele. 

Então, quando me aproximei da mesa de crepes, vi o meu primo, todo metido a rico, virar para o cozinheiro e perguntar:

- Esses “coisos” com presunto, mussarela, chocolate são para colocar em cima desses negócios que você tá fazendo?

Típico caso de “consegui sair da pobreza, mas a pobreza não saiu de mim”. Casou-se com a prima mais rica da família e enriqueceu de repente. 

Peguei o meu crepe e me sentei na mesma mesa que o Thiago, hoje compartilhávamos o desespero mútuo típico de fim de ano. 

Estávamos apenas jogando assunto fora quando a tia avó Elisa chegou:

- Thiago! Caroline! Como vocês cresceram!

- Oi, tia Elisa... – disse Thiago

- Oi querido, que pena que a avó de vocês não pode vir!

- Pois é – eu disse meio a contragosto

- Caroline, e os namoradinhos?

- Continuo na mesma, tia...

Realmente não precisava contar sobre o Noah, sempre que a tia me ligasse ela iria querer saber tudo sobre o meu namoro, caso eu abrisse a boca.

Ela disse mais umas cinquenta vezes que nós crescemos e perguntou sobre “namoradinhos” e “namoradinhas”.

Já se passara três horas no inferno dos ricos, a sensação era que já estávamos ali há três dias. 

Minha mãe continuava sendo estúpida, puxando o saco dos riquinhos e esnobes que só nos chutavam então meu celular tocou.

Era o meu namorado me chamando para a gente pegar um cineminha e depois irmos para o apartamento dele e pedir comida chinesa. 

Mas como sair daquele inferno? Expliquei para ele a situação e então ele disse:

- Vou pegar o carro do meu pai emprestado e vou te buscar.

Logo que falei sobre ir embora o Thiago já foi gritando que queria ir junto, o Noah disse que o buscaria e o largaria em casa.

Minha mãe continuava “lambendo o rabo” dos esnobes, então cheguei nela e disse que tinha tido um problema e precisaria ir embora, antes que a minha mãe pudesse dizer algo, a idiota da Isabele veio se meter na conversa:

- Aposto que vai ir fazer filho com um qualquer, é tão miserável que vai engravidar e viver com o filho em condições horríveis!

- Cala a tua boca, hoje você é rica, amanhã é você que pode estar pobre! E eu não sou tão miserável a ponto de não ter grana pra comprar camisinha e anticoncepcional!

Para a minha surpresa a minha mãe não disse uma palavra para me defender, parece que era mais importante puxar o saco dos esnobes ao invés de defender a própria filha.

- Olha como você fala comigo! Eu vou continuar rica para sempre e um dia vou te catar debaixo da ponte junto com a tua família pulguenta.

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