No dia seguinte acordei me sentindo como se uma fila de caminhões tivesse me atropelado em alta velocidade, mas não podia negar que a energia do meu quarto estava bem melhor.
Eu me sentia revigorada por dentro e por mais que quisesse ficar o sábado inteiro jogada na cama tinha um compromisso assustador me esperando.
Apesar de sermos só eu, a minha mãe e o meu irmão praticamente jogados aqui em casa, acredite ou não, nós temos uma grande família cheia de tios, primos e esposas de primos.
Minha mãe tem uma irmã, Michele, que é uma médica bem sucedida, orgulhosa e exibida.
Trabalha como micro neurologista em um dos maiores hospitais da cidade.
Minha tia sempre esnobou a minha mãe porque nós somos da classe média baixa e também porque minha mãe é “apenas” uma enfermeira.
Então nunca entendemos o motivo da minha mãe fazer questão de ir na super festa de família de final de ano onde praticamente todo mundo nos esnoba por sermos pobres.
Arrumei-me super lentamente e gemendo a cada movimento que fazia com o corpo, minha mãe se arrumou rapidamente e muito bem.
Meu irmão, como sempre, foi com qualquer roupa e só trocou a blusa porque estava fedendo e a minha mãe ameaçou bater nele.
Decidi levar o meu notebook, sentar em uma mesa qualquer e ficar apenas escrevendo o meu livro, mas parece que isso não será possível.
Assim que cheguei lá encontrei a escrota da minha prima, Isabele, tão nojenta que se alguém a chama de Isabela ela sai fazendo um barraco daqueles.
Ela não me poupou, mas esse ano tudo está diferente, depois de passar por uma decepção amorosa a gente aprende a se defender, se torna agressiva quando tentam te ferir de novo.
- Deem licença que os ralés chegaram
Só não virei um soco no meio do “focinho” da Isabele pra não magoar a minha mãe.
Esse ano a festa aconteceria na casa da minha prima Tatiana, mãe da Isabele.
A mulher vive fora da realidade, se acha tão bilionária quanto o Eike Batista e acredita que será a próxima integrante do “mulheres ricas”.
Esnobe como a filha, quando viu a minha mãe foi logo fazendo uma daquelas piadas irritantes:
- Quer uma esmola?
Era uma sessão de ofensas, mesmo assim minha mãe insiste nessa festinha de gente esnobe.
Nós temos uma única tia avó que faz jus ao seu parentesco. Seu nome é Elisa, ela tem 79 anos e não se entende com a vovó nem por decreto!
Quando ela chega todos os parentes fingem estar precisando usar o banheiro porque não importa a idade da pessoa, ela aperta as bochechas e fala “Como você cresceu!”, mesmo que a pessoa tenha cinquenta anos.
No salão de festas o clima estava mais leve, os esnobes estavam em volta da piscina exibindo os seus biquínis de marca e seu Iphones.
Assim que entrei no salão a minha tia Michele me mediu de cima a baixo e veio na maior falsidade:
- Querida sobrinha! Quantas saudades, não vou lhe abraçar, pois estou gripada, nos falamos depois...
Gripada? Ela estava com aparência da Barbie Malibu e todos sabem que ela tem nojo de gente pobre!
Do jeito que nos tratam parece que saímos do morro do Alemão cobertos de baratas e moscas.
Minha prima, Zélia, de 14 anos tem um problema de hiperatividade e acaba perdendo o controle da língua:
- Ai meu Deus! Caroline, nem acredito que você tá com dezoito anos, seria melhor se tivesse grana para ter um carro, já escolheu que faculdade você vai fazer? Tá namorando alguém? Ai meu Deus, me conta tudo pelo face que eu vou nadar agora! Beijos
Fiquei zonza e nem deu tempo de eu me recuperar antes do Thiago aparecer reclamando que o camarão é de má qualidade e que mamãe fica sendo idiota.
Normalmente eu acho o meu irmão um grosso, mas tenho que concordar que minha mãe estava fazendo papel de otária puxando o saco da irmã e da prima Isabele.
Então, quando me aproximei da mesa de crepes, vi o meu primo, todo metido a rico, virar para o cozinheiro e perguntar:
- Esses “coisos” com presunto, mussarela, chocolate são para colocar em cima desses negócios que você tá fazendo?
Típico caso de “consegui sair da pobreza, mas a pobreza não saiu de mim”. Casou-se com a prima mais rica da família e enriqueceu de repente.
Peguei o meu crepe e me sentei na mesma mesa que o Thiago, hoje compartilhávamos o desespero mútuo típico de fim de ano.
Estávamos apenas jogando assunto fora quando a tia avó Elisa chegou:
- Thiago! Caroline! Como vocês cresceram!
- Oi, tia Elisa... – disse Thiago
- Oi querido, que pena que a avó de vocês não pode vir!
- Pois é – eu disse meio a contragosto
- Caroline, e os namoradinhos?
- Continuo na mesma, tia...
Realmente não precisava contar sobre o Noah, sempre que a tia me ligasse ela iria querer saber tudo sobre o meu namoro, caso eu abrisse a boca.
Ela disse mais umas cinquenta vezes que nós crescemos e perguntou sobre “namoradinhos” e “namoradinhas”.
Já se passara três horas no inferno dos ricos, a sensação era que já estávamos ali há três dias.
Minha mãe continuava sendo estúpida, puxando o saco dos riquinhos e esnobes que só nos chutavam então meu celular tocou.
Era o meu namorado me chamando para a gente pegar um cineminha e depois irmos para o apartamento dele e pedir comida chinesa.
Mas como sair daquele inferno? Expliquei para ele a situação e então ele disse:
- Vou pegar o carro do meu pai emprestado e vou te buscar.
Logo que falei sobre ir embora o Thiago já foi gritando que queria ir junto, o Noah disse que o buscaria e o largaria em casa.
Minha mãe continuava “lambendo o rabo” dos esnobes, então cheguei nela e disse que tinha tido um problema e precisaria ir embora, antes que a minha mãe pudesse dizer algo, a idiota da Isabele veio se meter na conversa:
- Aposto que vai ir fazer filho com um qualquer, é tão miserável que vai engravidar e viver com o filho em condições horríveis!
- Cala a tua boca, hoje você é rica, amanhã é você que pode estar pobre! E eu não sou tão miserável a ponto de não ter grana pra comprar camisinha e anticoncepcional!
Para a minha surpresa a minha mãe não disse uma palavra para me defender, parece que era mais importante puxar o saco dos esnobes ao invés de defender a própria filha.
- Olha como você fala comigo! Eu vou continuar rica para sempre e um dia vou te catar debaixo da ponte junto com a tua família pulguenta.
Não consegui raciocinar, quando vi a ISABELA já estava jogada no chão com o nariz sangrando e o Thiago tinha corrido para a porta.Não disse nada, apenas a encarei e saí andando calmamente, quando estava quase chegando na saída eu escuto um berro da Isabele:- Você esqueceu esse notebook fabricado em 2002 em cima da mesa, você não pode me machucar e sair imune.Então, do lado da minha mãe, ela jogou o meu notebook na piscina e a dita cuja que deveria me proteger continuou falando com as priminhas.- Bom saber que não posso contar com ninguém dessa família, nem com a minha própria mãe! – gritei com todo o fôlego.Noah já estava na porta acompanhando o barraco com a janela aberta. Entrei no carro e fiquei calada o caminho todo de volta para São Paulo.Cheguei em casa tão chateada que o Noah propôs que eu fosse ficar com ele por uns dias.Obviamente a
Acordei assustada, suspirei alto e isso acordou o meu namorado que dormia numa poltrona ao meu lado.Continuei no sofá apesar da insistência dele para que eu subisse para o quarto e dormisse na cama de casal.Aceitei o cobertor de bom grado e me encolhi no sofá, ainda não tinha caído à ficha de tudo que acontecera nas últimas horas.Larguei o celular na, agora, casa da minha mãe para evitar brigas e dramas desnecessários.Passei quase quinze horas dormindo direto e quando acordei, encontrei o Noah preparando um suco de laranja na cozinha.Quando me viu já veio perguntando se eu estava bem e queria que eu me sentasse de qualquer jeito.Essa mania de achar que sempre tinha algo errado estava me irritando profundamente.Comi as torradas e tomei o suco, já eram dez e meia da manhã, então resolvi assistir um pouco de televisão.Eu
Uma semana mais tardeAcordei sete e meia da manhã, a ansiedade me dava um nó direto no estômago.Noah estava desmaiado roncando feito um urso em plena hibernação.O tempo não estava nem muito quente, nem muito frio, a temperatura perfeita para se formar, virar a página, completar mais uma etapa da dura metamorfose.Apesar das insistentes ligações da minha mãe eu não estava pronta para perdoá-la, ainda!Faltavam apenas cinco dias para o Natal e, para a minha alegria, meu namorado não curte decoração natalina.Fui até a cozinha e bebi lentamente um copo de água fresca, metade água gelada, metade água em temperatura ambiente.Desde que levantei voo para encarar o mundo sozinha tenho tentado me equilibrar em tudo.Falando em equilíbrio os pais do Noah vieram aqui essa semana e acharam uma ótima ideia nós estarmos morando j
Estava com a minha roupa de formatura na fila, atrás do auditório, aguardando o meu nome ser chamado.Então, a garota da minha frente, Alanis, deu um gritinho estridente e saiu correndo em direção ao auditório. Meu celular vibrou:Vamos nessa, amiga, pegar nosso diploma e entrar na faculdade juntas!Li a mensagem rapidamente e enfiei o celular no bolso, então ouvi o meu nome. Agora não tem mais volta, dentro de alguns instantes pegarei meu diploma e o ensino médio será apenas uma lembrança.Olhei para a plateia e, apesar da nossa briga, estavam sentados ali: Thiago, mamãe, vovó, Noah e a minha madrinha, Patrícia.Sorri para a câmera e o flash estourou me cegando por alguns segundos. Fui cambaleante para o palco e sentei na cadeira. Nunca havia conversado com Alanis, mas no calor do momento ela desabafou:- Toda a minha família está aí, até meu irmão que mora da Filadélfia. E a sua f
Depois de uma taça de vinho branco e alguns aperitivos fui procurar o meu professor, que estava sentado em uma cadeira mexendo em seu tablet.Quando me aproximei ele fez sinal para que eu pegasse uma cadeira e me sentasse ao seu lado.- Caroline, você sabe que eu sempre adorei as suas redações, por isso eu resolvi lhe dar um presente de formatura.- Nossa, professor, não precisava!- Eu sei que a sua condição financeira não é das melhores, baseado na sua redação "Um minuto da minha vida", por isso resolvi te dar algo que pode te dar lucros.- Do que o senhor está falando?- Enviei alguns de seus textos para a minha editora e eles adoraram, então disseram que se você quiser publicar um livro com o selo deles é só procura-los.- Mas professor, eu não tenho dinheiro para...- Esse é o meu maior presente, se tiver interesse eu banco tudo! Sua única obrigação será escrever.- Por mais que a proposta seja tentador
Depois da formatura jantei junto com a minha família em um restaurante de comida alemã e decidi passar o resto do fim de semana na casa do Noah e só decidir se vou voltar para a casa da minha mãe durante a semana.Minha família foi embora e somente ele ficou comigo e propôs que fossemos para a casa dele e disse que eu teria uma grande surpresa se aceitasse a proposta.Obviamente quando chegamos em casa ele me entregou uma caixa retangular e dentro tinha um macbook air, não acreditei no que vi, parecia um sonho!Noah abriu um vinho branco e colocou alguns mini salgadinhos em cima da mesa e disse que queria conversar comigo. Nesse minuto todas as coisas que eu fiz nos últimos meses passaram pela minha cabeça.- Eu sei que nos conhecemos há apenas poucos meses, mas eu já te amo e por mais que você tenha feito às pazes com a sua família eu faço questão que continue morando comigo – deu um sorriso e em seguida completou
Cheguei na porta da minha mãe com duas malas enormes na mão, maquiagem borrada e cabelo despenteado. Eu não parecia a Caroline, parecia mais algum personagem escroto de filme de terror.Claro que a minha mãe me acolheu com muito prazer e Thiago já não lembrava mais o garoto da banda, por mais que tentasse esconder, eu sabia que ele estava triste por eu estar triste porque me trouxe um copo de água e ficou me encarando.Minha avó e minha madrinha estavam hospedadas lá e de repente tudo estava como antigamente de novo.Todas as mulheres sentadas à mesa tomando suas xícaras enormes de café e eu contando como foi a minha primeira briga com o Noah.Thiago estava sentado no sofá com um livro e um caderno fingindo que estava estudando, só sabia que era fingimento porque ele ficou me olhando o tempo todo e do nada subiu a escada correndo.Minha avó foi a primeira que disse que meu avô foi a melhor coisa na
Nem sinal do Noah nos últimos dias, como prometido, a minha avó e a minha madrinha fizeram uma ceia com direito a peru, farofa, camafeu e um monte de outros pratos.A minha avó me deu um celular novo, minha mãe e meu irmão, que deram um presente juntos, me presentearam com vales presentes de algumas lojas de roupas e sapatos e minha madrinha me deu um tablet.Dia 26 eu tive coragem para tirar o macbook air da minha mala e tentar me entender com o sistema operacional da Apple.Pelo menos consegui abrir um novo documento e começar a escrever o meu livro.Comecei a escrever uma história minha e colocando ficção nos fatos, dessa vez o livro teria que sair.Combinei com o meu professor de ir conhecer a editora junto com a minha mãe dia 5 de janeiro, mas como me senti inspirada resolvi iniciar o novo livro.Tem-se uma coisa que me inspira na hora de escrever é a leitura. Leio algum livro e logo uma