NICHOLASMas então, no silêncio das madrugadas, quando o peso da solidão se torna insuportável, um pensamento sombrio me atinge: talvez fosse mais fácil se eu simplesmente não estivesse mais aqui. Talvez Sarah seguisse em frente, encontrasse alguém inteiro, alguém que pudesse amá-la sem carregar o peso da culpa e da limitação.Mas... só de imaginar outro homem ao lado dela, tocando-a, amando-a como eu amei... Meu peito aperta. Meu sangue ferve.O som da porta se abrindo me tira desses pensamentos. Emma entra, os olhos carregados de indignação.— Nicholas, você precisa parar com isso — ela dispara, os braços cruzados. — Sarah quase veio para a Espanha te procurar, mas eu menti. Disse que você estava em uma viagem de negócios.Meu coração martela.— Você fez o certo — murmuro.— Fiz? — Ela ri, irônica. — Sua filha pergunta por você todos os dias! Você tem ideia do que está fazendo com ela? Lunna já se sentiu abandonada uma vez. Agora, está acontecendo de novo!Fecho os olhos, a culpa se
NICHOLASO tempo passou, mas a angústia dentro de mim continua. O avanço na minha recuperação deveria ser motivo de comemoração, mas cada dia longe de Sarah e da nossa filha pesa como uma sentença. Os médicos elogiam minha determinação, mas a verdade é que não tenho outra escolha. Estou lutando por elas, porque viver sem as duas é insuportável.Sei que Sarah está magoada, e com razão. Fui um tolo. Deixei o ciúme cegar minha razão e permiti que um homem desprezível se infiltrasse entre nós. Como pude ser tão ingênuo? Deveria tê-lo afastado antes que ele envenenasse ainda mais nossa relação. Agora, o preço que pago é amargo: a distância.Minha mala está pronta, e minha decisão, tomada. Vou atrás delas. Emma me disse que Sarah se sente traída, machucada, e esperava que eu a procurasse imediatamente. Meu silêncio apenas aprofundou a ferida que causei. O que ela não sabe é que, durante todo esse tempo, estive preso entre a dor física e a urgência de consertar tudo.Minha filha também deve
NICHOLAS Minha assistente organizou a passagem, e tudo estava pronto para minha viagem. Mas uma sensação estranha me acompanhava: algo me dizia para não contar a Emma que partiria hoje. Talvez fosse o medo de desapontá-la mais uma vez, talvez o receio de enfrentar a dor de me despedir sem dizer as palavras certas. A verdade é que eu estava fugindo das consequências do que sempre deixei para depois.Chegando em casa, fechei a porta atrás de mim e organizei as malas com uma calma forçada. Isabel ainda me olhava com aquele olhar de esperança, esperando algo que eu sabia que não viria. Ela continuava acreditando no retorno de Sarah e nossa filha, mas eu, com minha visão realista, não conseguia ver isso como algo possível. Sarah jamais voltaria para a Espanha. Ela amava a liberdade mais do que qualquer coisa. Mesmo tendo um restaurante com seu nome aqui, sei que ela nunca o aceitaria, e toda a papelada estava intacta, jogada em algum canto, como uma promessa vazia.Quando o avião finalmen
SARAHA casa é linda. Enorme. Um presente do meu sogro, nas proximidades da costa. O lugar é encantador, mas tudo o que vejo quando olho pela janela é a imensidão do mar, que só me lembra o vazio que Nicholas deixou em mim. Eu me permiti acreditar que seria um novo começo, mas ao invés disso, estou presa em um lugar luxuoso e solitário, como uma prisão dourada. Minha filha, Emma e até meu sogro tentaram me convencer a ficar, mas cada pedaço dessa casa me faz sentir a ausência de Nicholas mais forte do que nunca. Sinto que o oceano é mais acolhedor do que as paredes dessa mansão.Já faz meses que estou aqui, e Nicholas ainda não me procurou. Nem uma palavra, nem uma mensagem, nada. A dor de ser ignorada é pior do que qualquer palavra amarga. Eu, que sempre acreditei no nosso amor, agora me vejo sozinha, carregando não só o peso da minha solidão, mas também o peso de uma gravidez que, ao mesmo tempo, me traz alegria e me arrasta para uma tristeza profunda. Estou esperando um bebê. Um fi
SARAH Neste momento, meu celular começa a tocar, interrompendo meus devaneios. Ao ver o nome de Emma na tela, uma mistura de sentimentos surge em meu peito. Atendo com um sorriso forçado, tentando esconder a ansiedade que me consome.— Oi, cunhada. Como você está? Está tudo bem com você e com meu sobrinho? Estou ligando para avisar que estarei a caminho de visitá-los na próxima semana. Sinto tanta falta de você e da minha sobrinha — Emma diz assim que atendo, com sua voz doce, mas cheia de um tom que eu não sei identificar.— Que alegria, Emma! Sinto falta de você também. É sempre um prazer te receber — respondo, tentando manter a conversa leve, mas uma sensação de vazio começa a me envolver. A casa, que antes era um refúgio de risadas e conversas, agora parece um cenário silencioso e vazio, e eu não sei lidar com isso. — Apesar de estar cercada de amigas, muitas vezes me sinto sozinha. A Michelle e a Fernanda estão ocupadas cuidando da menina que adotaram, então mal as vejo. Esta ca
SARAHEstava deitada, absorta em meus pensamentos, quando ouvi a voz suave de minha filha, conversando com alguém do lado de fora. Curiosa, me levantei e, sem saber o que esperar, abri a porta. O choque foi imediato: lá estava ele, parado na minha frente. A visão de Nicholas, com seu olhar intenso e os traços marcados pela preocupação, fez meu coração disparar.Por um momento, senti uma onda de raiva misturada com um desejo irracional de confrontá-lo. Como ele ousava aparecer agora, depois de meses sumido? Ele parecia tão diferente, como se o tempo tivesse sido cruel com ele. Ele parecia, de fato, sentir algo. Mas e eu? Eu sentia raiva, dor, e uma saudade que eu não podia controlar.Nicholas olhou para minha barriga, seus olhos brilhando com uma mistura de surpresa e algo mais profundo. E, sem mais nem menos, ele soltou: “Você está esperando um filho meu.”O que ele queria dizer com isso? Será que ele duvidava que o bebê fosse dele? Aquelas palavras ressoaram como um tapa na minha a
SARAH Ele chorava, e meu coração se apertava ainda mais. Ver aquele homem tão forte, tão imponente, desmoronando diante de mim era insuportável. Ele, o homem que eu amo com todo o meu ser, estava quebrado, e isso me despedaçava.— Acidente? Como assim? Por que ninguém me contou nada? — minha voz falhou, tomada pela angústia.— Eu pedi para não te contarem. Não queria que você me visse assim, tão... frágil. Não posso te explicar tudo agora, por favor, só acredite em mim. O que mais desejo é que você e nosso bebê fiquem bem. Me perdoa por tudo, meu amor. Eu te amo tanto e não posso mais ficar longe de vocês.As palavras dele cortavam minha alma. Por que eu tenho que sentir tanto amor por esse homem? Meu peito estava apertado, dividido entre o amor que ainda sentia e as cicatrizes de tudo o que ele me fez passar. Mas, por mais que tentasse resistir, não conseguia afastá-lo de mim. Era mais forte que eu.Decidi então, sem mais resistência, seguir o que meu coração pedisse. Não mais me pr
SARAHA felicidade que eu sentia no início da manhã parece agora uma memória distante, distorcida pela tempestade de emoções que está prestes a me consumir. Eu estou em casa, cercada por todos que amo, mas um peso inexplicável aperta meu peito. Nicholas está ao meu lado, como sempre, mas há algo estranho em sua atitude. Algo que ele tenta esconder de mim, mas que se torna cada vez mais evidente.Estou quase completando nove meses de gravidez, e, com isso, a pressão de uma vida nova prestes a começar se mistura com a tensão de um passado não resolvido. Estamos prestes a nos casar logo após o nascimento do nosso filho, um sonho que parece perfeito. Mas, por trás dos sorrisos e dos planos para o futuro, a pergunta que me consome é: o que realmente aconteceu enquanto estivemos separados?Nicholas, meu amado, está distante. Ele me nega até mesmo o direito de atender uma ligação quando estamos em casa. Ele não me deixa saber sobre o que está acontecendo, e Emma, sempre tão aberta comigo, se