Xavier Alcântara Estou deitado na cama da suíte de sempre, mas algo está diferente. Ruby está sentada em minha barriga, arrastando suas unhas levemente pelo meu abdômen, como sempre faz. Mas hoje seus movimentos são hesitantes, quase tristes. Seus olhos estão distantes, e sua expressão carrega uma seriedade que me incomoda. Antes de qualquer coisa, ela disse que precisava conversar comigo, e isso me deixou inquieto.— Ei, docinho, tá tudo bem? Você tá estranha — pergunto, enquanto minha mão acaricia suavemente seu rosto.Ela respira fundo, desviando o olhar por um instante, e suas unhas continuam traçando padrões suaves na minha pele.— O que me diria se eu fosse alguém que convive todos os dias ao seu lado? — Sua voz é baixa, quase um sussurro, mas as palavras me atingem como um trovão.Eu franzi o cenho, confuso. Tento entender o que ela quer dizer, mas antes que possa pensar em uma resposta, falo com sinceridade:— Já não me importa mais quem você é, ou o rosto por trás dessa másc
Natasha Lewis Era domingo. O final de semana inteiro foi um turbilhão de pensamentos e lágrimas. Revi cada detalhe da conversa que tive com Xavier, buscando respostas, buscando alívio. Cheguei à conclusão de que errei — sim, o enganei. Mas errei ainda mais comigo mesma ao me moldar para agradar um homem. E pior: um homem machista como ele. Minhas lágrimas ainda escorriam quando a campainha tocou. Respirei fundo, limpando o rosto com pressa. Não queria que ele, ou qualquer outra pessoa, me visse assim. Ao abrir a porta, não foi Xavier que encontrei, mas sim Pérola, minha melhor amiga, que me envolveu em um abraço caloroso. — Como você está, hein? — perguntou, enquanto me olhava com preocupação. — Péssima. Nossa conversa foi um fracasso, e ainda descobri que o homem que amo é um babaca machista — confessei, sentindo as lágrimas voltarem. Pérola suspirou, entrando sem pedir permissão, como sempre fazia. — Vocês precisam conve
Xavier Alcântara Saí da sala da Natasha com o sangue fervendo. Cada palavra que trocamos ainda ecoava na minha mente, e eu mal conseguia distinguir se a raiva era dela, de mim mesmo ou de toda essa situação absurda.Fechei os olhos por um instante, tentando organizar os pensamentos. Mas, em vez de clareza, fui invadido por lembranças. Não conseguia evitar: toda vez que pensava na Natasha, agora sabia que ela era a Ruby. A imagem da mulher doce e recatada que eu sempre protegi se misturava com as noites intensas que passamos juntos, quando ela me provocava como ninguém.Uma onda de culpa me atingiu, amarga e cortante. Como eu podia ter esses pensamentos? Como eu podia, ao mesmo tempo, desejá-la tanto e rejeitar quem ela realmente era?Não dava para continuar assim. Peguei o celular e mandei uma mensagem para Pablo, chamando-o para beber em casa. Se havia alguém no mundo que poderia me ajudar a sair desse caos, era ele.Pouco depois
Natasha Lewis Eu estava jogada no sofá, nua, com a respiração ainda descompassada e o corpo relaxado. Ao meu lado, Xavier fazia o mesmo, e seu sorriso satisfeito deixava claro que ele estava tão feliz quanto eu. Era quase surreal pensar que estávamos ali, juntos, sem máscaras ou mal-entendidos. Meu coração parecia aquecido, preenchido por uma felicidade que eu mal acreditava ser possível.Olhei para ele, observando os detalhes do seu rosto. A barba por fazer, os olhos que pareciam sempre carregar um brilho de mistério e aquele sorriso de lado que me fazia derreter.— Foi difícil? — perguntei, interrompendo o silêncio confortável.Xavier virou o rosto na minha direção, arqueando uma sobrancelha.— O quê? — questionou, curioso.— Tomar uma decisão, vir aqui, me procurar… Foder comigo sabendo que eu era a Natasha o tempo todo? — Minha voz tinha um tom leve, mas a curiosidade era genuína.Ele soltou um suspiro, passando a m
Natasha Lewis Era sexta-feira à noite, a primeira sexta em que eu não seria mais a Ruby. O alívio era nítido; tudo tinha se resolvido no fim, e a sensação de recomeço era boa. De frente ao espelho, ajeitava o batom e conferia a maquiagem pela última vez. O brilho suave do abajur iluminava meu quarto, enquanto uma leve batida na porta me tirou dos pensamentos.— Pequena — chamou Xavier, entrando com aquele sorriso característico que fazia meu coração disparar.Virei para ele, tentando esconder o rubor no rosto.— Você não vai desistir de me chamar assim, vai? — perguntei, rindo levemente.Ele se aproximou devagar, o olhar carregado de ternura e algo mais que ainda me desarmava completamente.— Você sempre será minha pequena. — E antes que eu pudesse responder, enlaçou minha cintura com firmeza. — Mas isso não significa que eu não te veja como uma mulher… minha mulher.A intensidade em sua voz fez cada pelo do meu corpo se arrepiar. O calor do toque dele e a proximidade eram suficiente
Xavier Alcântara Acordei com o vazio ao meu lado. Rolei na cama, soltando um suspiro frustrado. Não gosto de despertar e não sentir Natasha ali, seu calor, seu perfume… nada parecia certo sem ela ao alcance do meu toque. Abri os olhos devagar, já me preparando para chamá-la, mas meu olhar foi capturado pela imagem dela saindo do banheiro.Ela vestia um roupão branco que caía levemente pelos ombros, deixando à mostra a pele úmida e brilhante. Uma toalha enrolada na cabeça escondia os cabelos molhados. Mesmo assim, ela estava deslumbrante. Sempre estava.— Bom dia, Xavi. — Sua voz era suave, mas carregava aquele tom casual que me fazia sorrir.— Bom dia. — Minha voz saiu rouca de sono. — Por que não me acordou para tomar banho com você?Natasha sorriu, aproximando-se da cama para me dar um selinho antes de responder.— Acordei mais cedo pra lavar o cabelo. Não quis te atrapalhar.Observei enquanto ela ia até a cômoda no banheiro e tirava de uma gaveta o secador. Havia algo tão natural
Natasha Lewis A audiência havia terminado com justiça sendo feita. O ex-patrão da Pérola foi condenado a 15 anos de prisão sem direito a fiança, acusado de assédio, estupro e pedofilia. Além disso, teria que pagar uma indenização de cinco mil reais à Pérola por danos morais. Quando o juiz leu a sentença, senti um alívio imenso no peito. Pérola, ao meu lado, deixou escapar uma lágrima, mas dessa vez parecia de alívio e não de dor. Apesar disso, o dia havia sido desgastante. Ouvir aqueles depoimentos, principalmente da Marina, tinha me abalado profundamente. Por mais que a justiça tenha sido feita, as cicatrizes deixadas por aquele homem não iriam desaparecer tão facilmente. Precisava de um tempo sozinha para processar tudo. Ao sair do tribunal, avisei Xavier que não iria para a casa dele naquela noite. Não porque eu não quisesse, mas porque precisava ficar comigo mesma. Estava cansada, física e emocionalmente. Quando cheguei em casa, a familiaridade do ambiente me trouxe um po
Xavier Alcântara Não era pra ser assim. Não era pra ela pensar que eu não queria estar com ela. Eu ia mesmo pedir Natasha em casamento, mas depois das nossas mensagens no início da semana, percebi que talvez eu estivesse sendo apressado. Ela não parecia estar na mesma sintonia, e isso me fez recuar. Mas vê-la naquele estado, nervosa ao ponto de desmaiar, me abalou de uma forma que eu não esperava.Quando ela caiu em meus braços, meu coração disparou. Não pensei duas vezes. Peguei-a no colo, com cuidado, mas meu nervosismo estava estampado em cada gesto. Peguei sua bolsa, minha carteira e celular e fui direto para o carro. Deitei-a no banco de trás, verificando rapidamente se estava respirando, e então assumi o volante.O caminho para o hospital pareceu interminável. Eu alternava entre olhá-la pelo retrovisor e manter o foco na estrada. “Por favor, fique bem, Natasha,” repetia em pensamento, a cada quilômetro.Assim que chegamos, fui atendido rapidamente. As enfermeiras a colocaram em