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||003|| Adeus férias de Verão

  Infelizmente o verão estava acabando e eu ficaria muito feliz se estivesse prestes a ir para o terceiro ano do colegial, mas a minha vida tomou um rumo diferente — com a minha ajuda, claro,— e eu acabei repetindo um ano. Minha mãe ficou furiosa e eu fiquei um pouco desapontado, apesar de ter prometido melhorar ela me disse que se eu não mudasse esse meu jeito, a escola militar deixaria de ser uma opção e se tornaria realidade, ainda disse que nas melhores das opções eu teria que trabalhar, já que não era justo com ela mesma trabalhar sozinha no negócio da família para sustentar um "vagabundo desocupado".

Minha mãe é dona de um restaurante, ela sempre trabalhou com isso e disse que apesar de não ser um grande emprego jamais largaria de mão, pois havia prometido ao meu avô que cuidaria daquele lugar por ele. Mesmo depois da morte do papai ela se recusou a assumir a empresa e continuou com o seu restaurante, as vezes eu dou uma passada lá — até como um hambúrguer de graça,— mas estava fora dos meus planos passar a tarde toda trabalhando em lugar em que eu sairia fedendo a gordura e milk-shake de morango. Em todo caso, continua sendo uma opção bem melhor que a escola militar.

Eu estou ciente que prometi que assim que o verão acabasse eu iria me dedicar inteiramente aos meus estudos, mas ele ainda não acabou e eu não posso perder por nada a festa que Jackson vem planejando a uns três meses desde as férias começaram. Era esse o tipo de lugar que minha mãe detestava, mas como eu já era bem grandinho ela não me privava de ir, apenas me deixava avisado que qualquer mancada eu já sabia onde eu iria parar escola militar de Connecticut. Esse era o problema de morar em uma cidade tão pequena, a notícia do que você fazia chegava tão rápido na minha mãe que mal dava tempo de eu inventar uma desculpa.

  Ashford não era uma opção para mim, muito menos a universidade local, meu pai sempre me ensinou que eu tinha que pensar grande e fora da caixa para eu me tornar um bom atleta. Naquela época ele já dizia que eu iria me tornar um jogar de futebol profissional e que ele me assistiria da poltrona da sala tomando sua cerveja, eu sinto muita saudade daquele tempo. Cresci com esse meu sonho na cabeça de me tornar o melhor naquilo que eu faço, mas jamais contaria com a minha perda de interesse no esporte. Já faziam meses que eu não jogava mais com o coração, eu apenas corria, marcava o ponto e todos iam à loucura, no começo eu pensei que isso era normal, os jogadores um dia cansam de fazer o que fazem mas não desistem. Mas não era bem assim que funcionava, e agora me sinto perdido, eu nasci e cresci com o meu pai me ensinado e me dizendo que futebol era meu destino e quando ele se foi continuei o nosso sonho. Quando foi que esse deixou de ser meu sonho também?

  Eu saí do banho com uma toalha enrolada na cintura, passei a mão no meu cabelo molhado e balancei ele com a ponta dos dedos para tirar um pouco da água. Fui até o armário e escolhi uma calça jeans preta e uma camiseta branca, não pude deixar de notar a minha bola de FA ao lado de uma foto minha no colo do meu pai. Sorri pegando a bola e me lembrando de quando eu a ganhei de presente de aniversário, me lembro de ter ficado tão feliz.

  Assim que terminei de me arrumar comecei a procurar meu celular que tocava em meio a pilha de roupas sujas que estavam em cima da minha cama. Depois que eu voltei da casa de Mary não tive de tempo de desfazer as malas e muito menos arrumar meu quarto que estava uma bagunça e que com certeza se minha mãe estresse aqui teria uma síncope. Logo que achei meu celular enrolado em uma cueca suja eu me sentei na cama segurando o celular com o ombro enquanto colocava o meu tênis.

— E ai, já está pronto? — Ethan perguntou assim que atendi o telefonema, uma música alta tocava ao fundo.

— Não vou demorar. — Respondi colocando um dos tênis e logo em seguida o outro, passei o telefone para a mão direita e peguei a minha jaqueta do time que estava na cabeceira da cama— Já tem várias gatas, aí? — Perguntei descendo as escadas.

— Sim, inclusive a Biancca está aqui, você não tinha me dito o quão gostosa ela ficou esse verão. 

— É... tanto faz. Por que ela está aí? — Uma expressão de dúvida surgiu em meu rosto logo que eu cheguei na cozinha e cacei a chave da minha moto.

— Parece que ela está de babá. — Ethan foi interrompido e escutei ao fundo umas garotas gritando para ele por conta do som alto e logo em seguida ele voltou dizendo; — Tenho que desligar, cara.

A ligação foi encerrada. Guardei meu celular no bolso e fui até a sala onde minha mãe e minha irmã mais nova estavam assistindo novela mexicana. Minha irmã mais nova Alice, as vezes parece que ela conspira contra mim, porque sempre que eu chego para falar algo ela me olha e revira os olhos, mas as vezes nos damos bem, bem as vezes.

— Já to saindo mãe. — Falei indo em direção ao sofá e depositando um beijo na testa dela. Só pra acalmar a fera.

— Cuidado filho, não bebe e não volta tarde para casa, você sabe que as aulas estão pra começar e se você não melhorar...

— Vai me colocar para trabalhar, eu já sei, tá tudo bem mãe. Tchau!

«»

Quando eu cheguei na rua da festa eu já conseguia escutar o barulho alto da música e já podia ver algumas pessoas indo em direção a casa, Jackson tinha organizado essa festa tão bem que até alguns universitários estavam lá. Assim que eu entrei na casa alguns caras que eu mal conhecia já vieram me cumprimentar e me disseram que eu jogo muito bem, conforme eu fui me movimentando aos poucos eu já tinha conseguido um copo de cerveja de uma garota que se esfregou em mim, aliás ela era muito gostosa e quando eu finalmente cheguei ao fundo da casa eu vi Ethan na piscina com algumas garotas enquanto Jackson vinha na minha direção.

— Pensei que não vinha mais. — Jackson me recebeu com um braço em volta do meu pescoço. — Vamos, a gente tá jogando!

Fui arrastado até uma mesa de Ping Ping, mas eles estavam jogando Beer Pong e quando eu vi já estava com uma bolinha na mão tentando acertar o copo do Bryan.

Perdi o jogo e virei quase todos os copos, mas precisei parar assim que Ambar veio me agarrar e me dizer o quanto ela estava com saudade.

Ambar sempre foi uma garota muito legal, mas ao mesmo tempo ela conseguia ser bem chata, quando eu me tornei o capitão do time ela grudou em mim, não vou negar que eu gosto, ter sexo quando eu quiser não me incomodava nem um pouco.

Quando estávamos conversando eu sugeri que fôssemos para cima continuar o papo. Subimos e entramos no quarto do Jackson, eu deitei na cama e coloquei ela em cima de mim, voltamos a nos beijar enquanto eu fui tirando sua roupa aos poucos e ela tirava as minhas, tudo isso sem que parássemos de nos beijar. Com uma mão eu continuava pressionando seu corpo contra o meu, e com a outra tentei pegar uma camisinha que estava no bolso de trás da minha calça que ainda não tinha sido arrancada. Eu levei minhas mãos até seu peito e ela gemeu meu nome bem baixinho, quando Ambar viu a camisinha em minhas mãos ela desceu seus lábios pelo meu abdômen depositando beijos no mesmo e me causando arrepios. Antes dela abrir o zíper da minha calça a porta do banheiro foi aberta e Ambar quase pulou da cama.

Quando eu me sentei de um jeito que eu pudesse ver quem era, Biancca me jogou um olhar de repúdio. Puta merda! Tinha até esquecido dessa garota.

— Desculpa. — Ela virou a cara envergonhada e foi em direção a porta.

— Não é nada disso. — Eu levantei da cama tentando me explicar, mas não pensei direito antes de abrir a boca. Ela me olhou de cima a baixo e deu risada.

— Eu não perguntei. — Ela abriu a porta e logo em seguida fechou-a na minha cara, assim que eu me virei passando a mão na cabeça, Ambar me olhava de braços cruzados sem entender o que havia acontecido.

— Perdi o clima.

Falei pegando a minha camiseta que estava jogada no chão e vestindo-a novamente, dei as costas e sai do quarto voltando para o andar de baixo, não entendi ao certo o que deu em mim, tanto por ter perdido a vontade de transar tanto por ter que dito aquilo sem pensar a Biancca, desde quando explicamos um para o outro o que fazemos ou deixamos de fazer? E outra, o que caralhos a Biancca tava fazendo no banheiro do quarto do Jackson. Quando eu fui em direção a cozinha para buscar uma cerveja para mim, minha atenção foi diretamente para fora da casa, quando eu fui me aproximando eu vi o que estava acontecendo e entendi porque a Biancca estava aqui. Liam e ela estava discutindo e antes que eu pudesse passar entre as pessoas ela deu um tapa bem estralado na sua cara, quando eu olhei de canto Rebecca tentava segurar a irmã, mas não adiantou de nada quando Liam devolveu a Biancca um soco fazendo ela cair.

Meu sangue subiu, eu fechei a minha mão e não faço ideia de como eu passei por tantas pessoas é tão rápido, mas quando eu vi já estava em cima de Liam dando diversos socos em sua cara. Umas pessoas tentaram me separar, mas eu só parei quando o barulho da viatura era mais alto que o desespero das pessoas de saírem da festa.

Quando eu tomei conta de mim mesmo, eu já estava bem longe dali, Biancca me puxava para a minha moto e gritava alguma coisa que eu não conseguia entender.

— Anda logo! — Gritou ela me fazendo voltar do transe. Eu subi na moto e ela logo atrás se agarrou em mim e eu apenas dirigi sem saber a onde ir.

Quando a "barra" parecia estar limpa, eu parei a moto em um lugar qualquer e a Biancca desceu passando a mão nos cabelos e me olhando furiosa.

— O que aconteceu com a Rebecca? — Perguntei olhando para ela que andava de um lado para o outro, mesmo no escuro eu pude notar seu olho inchado , aquilo ficaria muito feio.

— Eu...eu acho que o Matt levou ela. Eu não tenho certeza. — Ela falou e se sentou em um banco passando a mão trêmula nas pernas. — Eu não devia ter feito isso.

Eu desci da moto e me sentei ao lado dela, o silêncio prevaleceu entre nós dois, eu olhei para ela e respirei fundo.

— Não devia mesmo, mas eu achei aquele tapa muito bom, quem te ensinou? — Tentei soar descontraído e ela me olhou dando um sorriso de canto ainda um pouco nervosa.

— Eu nunca tinha batido assim em ninguém. — Ela confessou ainda me olhando, seus olhos castanhos brilhavam.

— Eu posso dizer o contrário, ainda me lembro daquele tapa que você me deu quando eu tinha oito anos. — Ela soltou uma risada baixa enquanto olhava para os seus pés.

— Meu pai vai me matar se eu aparecer com isso em casa. — Ela apontou para o seu olho inchado e eu me curvei para perto dela para poder observá-lo melhor.

— Um pouco de gelo e maquiagem pode resolver o seu problema, mas não se preocupa, qualquer coisa fala que você caiu. — Foi a minha vez de soltar uma gargalhada, sinceramente eram poucos os momentos de paz entre nós, mas eu sempre os curtia da melhor forma. — Vamos, vou te levar pra casa.

Eu disse me levantando e indo em direção da moto, dessa vez lhe entreguei o capacete, ela sorriu colocando-o e subindo na garupa.

«»

— Obrigada, pela carona e tudo mais. — Ela disse descendo da moto e me entregando o capacete.

Assim que ela me deu as costas e seguiu o caminho para entrar em casa eu chamei seu nome e ela se virou para escutar o que eu tinha para falar.

— Me desculpa pelo o que você viu no quarto hoje mais cedo. — Ela não disse nada, nem concordou, apenas acenou com a cabeça e disse um "boa noite" bem baixinho e quando ela entrou eu fiquei alguns minutos esperando a luz do seu quarto ser acesa e fui embora.

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