Dane

Ela parecia um cervo preso enquanto eu notava seu tamanho. Ela era mais pequena do que eu pensava, pele e osso. Se eu tivesse levantado minhas mãos um pouco mais, teria sentido cada costela. Isso me enojou, ela deveria ser forte, poderosa, ela tinha sangue Alfa correndo em suas veias.

Também vi como ela encolheu o rosto quando a medi. Não era medo, era dor. Ela estava escondendo algo por baixo do vestido largo de empregada.

"Sei que você quer dizer algo, então diga. Não estou interessado na porcaria que o Trey disse para você. Você não precisa esperar até que alguém lhe faça uma pergunta. Você é livre para dizer o que quiser. Você está machucada?"

"Não."

Ela estava mentindo, eu podia sentir isso.

Ela balança a cabeça como se isso confirmasse sua resposta e uma mecha de seu cabelo preto cai da faixa que deveria estar prendendo-o.

Neah seria uma garota difícil de ser vencida. Uma vida de fome a tornou bastante protetora de si mesma. Vou fazer Trey pagar pelo que fez com ela.

"Você precisa dizer alguma coisa, Neah, não consigo ler sua mente. Quando eu marcar você, pelo menos saberei o que você está sentindo."

"Marcar-me?"

Achei que seus olhos não poderiam ficar mais arregalados.

"Sim, eu vou marcar você."

Ela ficou completa e totalmente chocada com a ideia. Seus lábios rosados se separam um pouco enquanto ela continua a me encarar.

Eu achava que ela sabia. Achei que era por isso que ela estava tão disposta a vir. Meu Beta continuou me perguntando se eu tinha certeza de que a queria como minha noiva. Não havia dúvida sobre isso, ela tinha um cheiro estranho, mas algo estava me atraindo para ela. Eu não conseguia tirar os olhos dela quando a vi pela primeira vez. Meu lobo, Aero, também estava louco por ela. Embora ele não tenha dito uma palavra sobre ela. Estava irritado comigo por não tê-la levado para casa conosco ontem.

"Você.... Você me trouxe para que pudesse me marcar." Ela dá um passo para trás, indo até a ilha da cozinha. Ela estremece um pouco e rapidamente cobre a dor, relaxando o rosto.

"Se Trey tivesse se dado ao trabalho de ler o contrato, ele teria descoberto que você será minha noiva, não uma escrava. Ele também teria lido que, se ele ou sua companheira ridiculamente estúpida tentasse fazer qualquer coisa com você daqui para frente, a matilha se tornaria minha, ou melhor, sua. Eu nunca comprei você, Neah, você sempre esteve destinada a ser minha."

"Eu sou uma assassina." Ela suspira. "Por que alguém como você me quer como noiva?"

Aero rosna "sangue", interrompendo meus pensamentos.

Olho para baixo, para o vestido folgado dela. Uma mancha de sangue apareceu bem no local onde eu estava com as mãos em volta dela.

"O que é isso? Você está machucada?" Eu pergunto, pois mal a toquei.

Ela cobre a mancha com a mão. "Não é nada, é só um corte que eu fico batendo e ele abre de novo. Eu esqueço que está lá."

Esquecer? Como ela poderia esquecer uma ferida?

“Por que ela não está se curando?” Sinto o pânico de Aero. "Ela está conosco há menos de duas horas e já tem algum tipo de ferimento". Sua necessidade de protegê-la era forte.

Não tinha me ocorrido que a falta de habilidades dela incluía a incapacidade de se curar. Eu teria que encontrar alguém que pudesse reverter o vínculo e logo.

"Mostre-me!"

"Está tudo bem." Ela murmura.

Eu já estava cansado de ouvir essa frase.

"Não é opcional." Eu murmuro. "Se você não me mostrar, eu mesmo terei de encontrar uma maneira de ver."

Seu coração dispara. Ela olha em volta da cozinha. "Podemos.... Ir para um lugar mais reservado?"

"Reservado?" Na verdade, eu não gostava de privacidade.

Ela balança a cabeça, mas ainda mantém o foco um pouco longe de mim, quase com medo de me olhar diretamente nos olhos.

"Escritório", murmura Aero.

“Eu ia sugerir isso!” Respondi ao meu lobo. Sinto seus olhos se arregalarem enquanto ele se retira para algum canto escuro da minha mente.

"Por aqui." Faço um gesto para a porta.

Neah espera por mim e me segue de perto. O cheiro de sangue foi ficando cada vez mais forte, era mais do que apenas um corte. Eu já sabia disso.

No escritório, aciono o controle remoto e as cortinas começam a cair, bloqueando a luz do sol. Neah hesita e lentamente começa a desabotoar os botões do vestido, mas somente onde estava a grande mancha de sangue, mantendo todo o resto escondido de mim.

Ela puxa o vestido para um lado. A ferida tinha cerca de 10 cm e já estava bastante infeccionada.

"Veja, está tudo bem", ela sussurra.

"Você precisa parar de dizer isso."

Ela fecha a boca e começa a apertar os botões.

"Não", agarrei suas mãos, pois tinha visto outro hematoma. "Deixe-me ver o resto."

Não era opcional.

Ela ofegou quando meus dedos abriram o resto dos botões.

Seu sutiã esportivo já tinha visto dias melhores, assim como sua calcinha. Mas era com os hematomas que eu estava mais preocupado. Hematomas e mais hematomas, cicatrizes de chicotadas. Os ossos do quadril e as costelas também se destacavam.

Virando-a e tirando o vestido dela, descobri que suas costas estavam do mesmo jeito. Mas, curiosamente, não havia nada acima de seu peito e nada abaixo de suas coxas. Seus braços também estavam completamente livres de ferimentos.

Só havia uma razão para alguém fazer isso, para esconder o que estava fazendo com alguém ou para manter as aparências. Eles não queriam que os convidados vissem. Mais importante ainda, não queriam que eu visse, considerando que o encontro foi marcado há mais de um mês.

Ela se atrapalha com o vestido, puxando-o firmemente em torno de sua estrutura magra.

"Você precisa ver um médico."

"É.....", ela se interrompe quando vê a raiva em meu rosto. "Eu sempre me curo, eventualmente."

"Foi o Trey que fez isso?" Eu murmuro com os dentes cerrados e faço um gesto para o corpo dela

Ela abaixa os olhos azuis.

"Cassandra?"

Ela ainda não me respondeu.

"Aquele idiota que segue o Trey por aí? Os três?"

Ela puxa o vestido com mais força e acena silenciosamente com a cabeça. Ela leva a mão ao rosto, passando-a pela bochecha, enxugando uma lágrima que escapou.

"Mais alguém?"

"A matilha." Ela sussurra.

“Vou matar todos eles.” Aero rosna.

Ele terá de entrar na fila.

"Por causa do que você supostamente fez com seus pais."

Ela acena com a cabeça.

"Não acredito que você tenha sido a responsável."

Ela inclina a cabeça em minha direção, suas sobrancelhas se contraem quando seus olhos finalmente encontram os meus. "Por causa do Sangue de Wolfsbane?"