Paulo resmungou baixinho:— Não estou nem aí para o seu presente.Mariana bateu levemente o galho na água:— Então não vou te dar, tá?— Você só faz para me irritar! — Paulo resmungou de novo. — Agora vai, me faz falta um amigo como eu!— Tá, tá, não vou te irritar mais. — Mariana sorriu suavemente e logo se acalmou. — O outono chegou, e as noites estão mais frescas. Cuide-se, hein?Paulo ficou preocupado com ela e deu mais alguns conselhos, até que finalmente desligou o telefone.Mariana ficou ali por mais um tempo, depois colocou o galho ao lado, levantou-se, pegou um dos almofadões de pedra e começou a caminhar de volta.Ao lado do riacho havia uma pequena aldeia, com cerca de cinquenta ou sessenta casas.No entanto, a maioria dos jovens estava fora, deixando os idosos e as crianças para trás.A aldeia ficava distante da cidade, e as crianças enfrentavam dificuldades para frequentar a escola.Quando Mariana chegou, coincidentemente, uma professora de apoio estava prestes a sair, ent
Cinco anos depois.O inverno em Cidade do Norte parecia ter chegado um pouco mais cedo. Em pleno mês de novembro, já havia caído uma leve neve.A neve não era forte, apenas cobria o chão com uma fina camada branca e, ao pisar, se sentia macia.— Ouvi dizer que vai nevar muito à noite. Se isso acontecer, a estrada vai fechar com certeza. — Paulo comentou, olhando para a pessoa ao seu lado no banco do passageiro. — Ainda bem que você voltou hoje.Sentada no banco do passageiro, estava Mariana, que havia deixado Cidade do Norte há cinco anos.Cinco anos se passaram, mas parecia que o tempo não havia deixado marcas nela.Ela não havia envelhecido, pelo contrário, estava mais radiante do que nunca, com um ar suave e sereno que chamava a atenção de quem a olhasse.Ela apoiou o queixo na mão e olhou pela janela, observando as lojas lá fora.Cinco anos não eram nem muito longos, nem muito curtos, e a cidade tinha mudado bastante nesse tempo.No entanto, algumas lojas tradicionais ainda estavam
— Então, esse é o presente que você queria me dar? — Paulo perguntou, mordendo os dentes. — Naquela época, você já sabia que estava grávida?Mariana simplesmente colocou a criança nos braços dele:— Então, gostou? Se não gostar, pode jogar fora.Como médico, Paulo já tinha pegado bebês no colo antes.Mas aquele era filho de Mariana…Tão pequeno, tão macio, e Paulo estava completamente tenso, com medo de mover o bebê.Mariana sorriu ao ver ele. Paulo respirou fundo, seu corpo todo rígido, e olhou para o pequeno ser nos seus braços.Já tinha mais de três meses, e o bebê não parecia mais com aquele rostinho feio de recém-nascido, estava gordo e rosado.Paulo jurava que não estava exagerando, aquele era o bebê mais bonito que ele já tinha visto.— Eles dizem que os olhos e a boca dele são iguais aos meus, o que você acha?Ao ouvir Mariana, Paulo olhou com mais atenção e, de fato, conseguiu ver algumas semelhanças com Mariana quando era criança.Ele tinha crescido com ela, então as fotos de
Antes de encontrar Luísa e Camila, Mariana disse a Paulo:— Daqui a pouco, se elas vão me bater. Você lembra de segurar, né?Paulo levantou o queixo:— Eu que não vou me meter nisso!Na volta de Mariana, Luísa e Camila não sabiam de nada.Paulo as chamou, e as duas chegaram primeiro.Enquanto conversavam, não podiam deixar de falar sobre Mariana.Camila estava irritada e ressentida:— Que falta de coração! Já se passaram cinco anos e ela não deu nem um sinal de vida!Luísa comentou:— Não seria por causa do Lucas?— Nem me fale nesse cachorro! — Camila exclamou. — Ontem eu estava assistindo TV e, por coincidência, ele apareceu!Luísa perguntou:— Era aquele evento de leilão beneficente? Eu ouvi de uma das senhoras que encomendam roupas comigo que o Lucas fez uma grande doação.— Deve ser por culpa do que fez de errado. — Camila disse, com desprezo. — Aquele desgraçado acha que pode comprar a consciência.Depois de todo esse tempo, o desgosto que Luísa e Camila sentiam por Lucas não dim
Além de “desculpa”, ela não sabia mais o que dizer.Camila deu mais alguns tapinhas nas costas de Mariana, até que não aguentou mais e começou a chorar, abraçando ela.Isso era bem diferente de quando ela foi para o exterior.Naquela época, pelo menos, elas ainda se falavam e sabiam como estavam.Mas Mariana, por outro lado, simplesmente foi embora e deixou Paulo levar uma mensagem para elas.Cinco anos… mil e oitocentos, quase dois mil dias, e nada de notícias!Camila quase queria matar ela!Se não fosse pelas notícias que Paulo trouxe, dizendo que ela estava bem, Camila teria ficado completamente agitada e não teria aguentado ficar sentada.As três continuaram chorando, discutindo e reclamando, até que finalmente se acalmaram.Luísa enxugou o nariz e olhou para as duas melhores amigas:— Vocês duas parecem uns gatos de cara amarrada…As três se olharam e então riram baixinho.Camila levantou a mão e deu um empurrãozinho em Mariana:— Você ainda está rindo!Finalmente, as quatro conse
— Já se passaram mais de cinco anos… — Mariana não pôde evitar e disse. — Talvez ele já tenha esquecido quem eu sou.— Tomara. — Respondeu Camila. — Mas temos que nos preparar para o pior.Os quatro conversaram por um tempo e, no final, o assunto acabou recaindo sobre Luísa.Embora já tivesse ouvido de Paulo, Mariana ainda quis confirmar para ficar mais tranquila:— Luísa, o que ele faz? Como ele é com você?Quando mencionou o noivo, Luísa ficou com um sorriso de mulher apaixonada:— Ele é muito bom comigo, trabalha com negócios, e agora já é gerente de departamento.Luísa foi uma jovem rica, mas depois que sua família faliu, seus pais voltaram para a cidade natal.Se fosse antes, ela provavelmente procuraria alguém com uma boa posição social, afinal, o negócio da família precisaria de apoio.Mas agora, ela não se preocupava com essas coisas. O que importava era encontrar alguém que realmente a amasse.Mariana sabia que ela não se importava com a origem da pessoa, só com o caráter e co
Falando, ela gritou para dentro:— Senhorita, alguém chegou.Ouviu-se uma voz doce de dentro:— Quem é?Mariana deu um passo para dentro e viu uma jovem de pijama.Ela tinha cabelo longo, bem solto, e seus traços eram bonitos, parecia muito delicada.— Quem é você? — Alícia se aproximou, gesticulando para a babá sair. — Não te conheço.O ambiente estava quase igual, apenas alguns detalhes haviam mudado.Mariana, sem pensar muito, olhou ao redor e puxou uma gaveta do armário. Não encontrou seus sapatos. Sentiu um aperto no peito, e a sensação de que algo tinha mudado era inevitável. Embora não fosse muito apegada à família, depois de cinco anos longe, retornar e perceber que tudo estava diferente lhe causou desconforto.Mariana pensou em ir embora, mas já não havia mais tempo.— Alícia, quem chegou? Não fique na porta, vai pegar frio.Mariana não pôde deixar de sorrir ao ouvir a voz de sua mãe, Mónica.Era a primeira vez em muito tempo que ouvia palavras tão carinhosas de sua mãe.A jov
— Pare! — Mónica a chamou. — Você nem sequer viu seu pai, vai aonde? Se não é ingrata, então acha que seus pais já morreram?Alícia interveio:— Mãe, não se irrite. A irmã acabou de chegar, deve estar cansada da viagem. Eu a levo para descansar primeiro, tudo bem?— Não era para ir arrumar o quarto? — Mariana olhou para ela. — Por que ainda não foi?Mónica, furiosa, quase atirou uma xícara de chá:— Você está querendo me irritar, não é? Olha a Alícia, como é compreensiva! E você! Como é que fui ter uma filha assim?Quando Mariana acabou de se divorciar, ela teve uma breve conversa com seus pais.Ela falou muito na época, ainda achando que talvez seus pais pudessem entender suas frustrações e dificuldades.Mas, no final, eles a culparam, a xingaram , dizendo que ela não tinha consideração, só pensava em si mesma.O negócio da família Silva sempre dependia de Lucas. Se ela se separasse, o que aconteceria com a família?Mário e Mónica decidiram unânime: Mariana deveria pedir desculpas a L