Na empresa, por mais cansado que estivesse, Lucas ainda conseguia dormir três ou quatro horas seguidas.Agora, no entanto, com a mente completamente vazia e o corpo exausto, ele simplesmente não conseguia pregar os olhos.Nos dias anteriores, Lucas forçava-se a pensar apenas em trabalho. Afinal, estava na empresa, onde o ambiente o favorecia.Mas agora, na casa antiga, no quarto dos dois, na cama que eles compartilharam tantas noites, Lucas não pôde evitar pensar em Mariana.Ou melhor, a saudade que ele vinha reprimindo nos últimos dias parecia uma enchente rompendo uma barragem.Avassaladora.Esmagando-o sem piedade.Por fim, ele esmagou a caixa de cigarros nas mãos e se jogou na cama. Seus olhos fixaram-se no teto, vazios, assim permanecendo até o amanhecer.O fio que o mantinha sustentado finalmente cedeu.E ele não conseguiu mais voltar atrás.A saudade, como uma maré crescente, começou a sufocá-lo.Ao amanhecer, pegou o celular.Quando falou, sua voz estava tão rígida que parecia
Como se tivesse contraído alguma grave doença ocular.A notícia de que Lucas tinha ido ao hospital rapidamente se espalhou.Pedro ligou para ele:— O que aconteceu? Ainda foi ao hospital?Lucas, que estava deitado na cama do hospital, com algo gelado sobre os olhos, com uma sensação muito confortável, respondeu:— Uso excessivo da visão, meus olhos estavam incomodando. Vim dar uma olhada.— Que bom que não é nada sério. — Pedro comentou. — Estava pensando em te chamar para tomar uma cerveja, mas ouvi dizer que você anda bem ocupado ultimamente.Afinal, a Empresa Oliveira tinha concluído vários grandes projetos, o suficiente para despertar a inveja de outras famílias.— Por enquanto, não posso beber. — Lucas disse.— Então fica para daqui a alguns dias. — Pedro respondeu.A conversa parecia ter terminado, e Pedro estava prestes a desligar, quando Lucas disse:— Você tem notícias da Mariana?Pedro ficou perplexo.Primeiro, porque se sentiu culpado. Sempre que Lucas mencionava Mariana na
Lucas estava no hospital, mas continuava sem conseguir dormir.Existem muitas razões para a insônia, mas ele havia feito uma bateria de exames e não tinha nenhuma doença orgânica.Ele pediu ao médico que lhe prescrevesse um medicamento para ajudá-lo a dormir.Afinal, queria estar cheio de energia quando fosse encontrar Mariana.Não podia permitir que ela o visse abatido e desleixado.Com a ajuda da medicação, Lucas conseguiu dormir.Mas, ao acordar, não sentiu aquela sensação de leveza e renovação.Era como se uma nuvem cinzenta estivesse pairando sobre sua mente.Saía do hospital com uma sensação de desconforto constante.Na alta, o médico responsável recomendou que ele mantivesse uma rotina regular, praticasse exercícios físicos e relaxasse a mente.As duas primeiras recomendações pareciam possíveis.Mas relaxar a mente...?Como?Lucas achava que não conseguiria.Nos dois dias que passou no hospital, ninguém ligou para ele com notícias sobre Mariana.Ele chegou a se perguntar se o pr
— Não! — Lucas se exaltou ao ouvir aquilo. — Como assim “desistir”? Se a sua esposa fosse embora e você não conseguisse encontrá-la, você também desistiria?Jaime respondeu:— Não se esqueça, foi você que a fez ir embora. Eu sou solteiro, não tenho esposa, mas quando tiver, vou cuidar muito bem dela!— É hora de falar disso agora? — Lucas gritou. — Por acaso você acha que eu não vou cuidar bem dela no futuro?— E se ela não quiser reatar com você? Vai obrigá-la? Afinal, você já tem antecedentes…— Você é meu amigo ou amigo dela? Não deveria estar do meu lado?— Claro que estou pensando no seu bem, mas não posso simplesmente assistir você cometer erros. Posso te ajudar a encontrá-la, mas, se ela não quiser voltar, você precisa deixá-la ir, entendeu?Lucas cerrou os dentes:— Não preciso que você me ensine como agir!— Com essa atitude, não é difícil entender por que Mariana foi embora. Lucas, mesmo eu sendo solteiro, sei que não é assim que se deve tratar alguém que você ama.Lucas fina
Paulo recebeu a ligação de Lucas sem nenhuma surpresa.Desde o dia em que Mariana foi embora, ele já estava preparado para um encontro com Lucas.A primeira ligação foi para perguntar sobre o paradeiro de Mariana.Na segunda, ele pediu para se encontrarem.Paulo concordou.Mariana gostava de Lucas, e Paulo, por mais que sentisse mágoa e ressentimento, jamais poderia impedir Mariana de buscar sua felicidade.Só não esperava que a mulher que ele tinha como um tesouro precioso seria tão desprezada por Lucas.Ainda bem que Mariana percebeu a tempo.Mesmo que, naquele momento, Paulo já tivesse se controlado várias vezes para não perder a paciência e partir para a briga com Lucas.Mas, de qualquer forma, o desfecho foi positivo.Mariana finalmente decidiu partir e começar uma nova vida para si mesma.Mesmo que nessa nova vida ele não tivesse espaço.Mas também não teria Lucas.Se Mariana estivesse feliz, Paulo poderia aceitar isso.Lucas o procurava de novo, e ele provavelmente já sabia o qu
— Vou perguntar mais uma vez. — Disse Lucas. — Espero que você responda com sinceridade. — Eu, como pessoa, nunca minto. — Respondeu Paulo. — Claro, se você acha que todo mundo mente só porque você mesmo é um mentiroso compulsivo, não posso fazer nada. Lucas, mais uma vez, não discutiu com ele: — Pode dizer o que quiser, contanto que me diga onde ela está. Mesmo que você me bata, eu não revidarei. Paulo cruzou a perna esquerda sobre a direita e riu: — Nossa, o Sr. Lucas disse isso mesmo? O sol nasceu no oeste hoje? Vai chover granizo? — Fale do jeito que quiser, insinue o que bem entender. Eu já disse, só quero saber onde ela está. — Lucas, já pensou que você é o todo-poderoso da Cidade do Norte? — Paulo apontou para o teto. — Ninguém ousa te contrariar. Nem eu, que te detesto desde pequeno, arriscaria colocar a família Mendes contra você. Se nem você conseguiu encontrá-la, por que acha que eu saberia onde ela está? — Intuição. — Respondeu Lucas, seus olhos escurecendo enquan
Lucas não conseguiu conter um riso sarcástico.Ele já sabia: nenhum homem seria capaz de resistir a uma tentação como essa.Nem mesmo Paulo.Mesmo com toda a amizade profunda tinha com Mariana.E daí?Por um pouco de lucro, ele a deixaria de lado?Naquele momento, ele teve vontade de gravar essa cena e mostrá-la para Mariana depois.Ah, o tão falado “amor de infância”, “amizade sólida como uma rocha”.Era isso?Paulo não era diferente de ninguém.Definitivamente não se comparava aos sentimentos que ele, Lucas, tinha por Mariana.Por ela, Lucas estava disposto a abrir mão daquela terra.E Paulo?Comparando ambos, Lucas começou a sentir uma ponta de orgulho.— Claro que é verdade. — Ele disse. — A minha proposta é sincera. Só quero que você me diga onde ela está, e essa terra será sua imediatamente.Na próxima frase, porém, Paulo respondeu:— Não é à toa que, no começo do ano, fui ao templo e o monge me disse que este ano eu teria dificuldades com a sorte: até se o dinheiro viesse, eu nã
Depois de esperar alguns segundos, Lucas perguntou:— Já terminou?— Ainda tem muita coisa para criticar, mas… deixa pra lá. De qualquer forma, não teremos mais contato no futuro.— Aquela terra não é suficiente. — Disse Lucas. — O que mais você quer como condição? Fala logo.Paulo balançou a cabeça:— Então quer dizer que você não ouviu o que acabei de dizer?— Ouvi. — Lucas respondeu. — Eu não precisava te prometer nada. Mas já que… a Mariana te considera como família, vou te dizer uma coisa: no futuro, eu não vou decepcioná-la. Assim está claro para você?Paulo deu um sorriso leve:— Lucas, somos homens. Para que esse teatrinho de homem apaixonado? Depois de tudo que você fez após se casar com a Mariana, suas palavras têm alguma credibilidade?— Paulo, estou tentando conversar direito com você. Não abusa. — Lucas pegou o copo de vidro e tomou mais da metade do que tinha nele. — Vou perguntar de novo: além daquela terra, o que mais você quer?— Quero que você fique longe da Mariana.