Miguel

Assim que era convidada a acompanha-lo percebia que sua mente havia ido por alguns segundos para o mundo da lua, então Catherine apenas balançava a cabeça com um aceno positivo  e seguia em direção a Miguel, atrás das portas de vidro se deparava com um ambiente totalmente diferente do de fora, paredes possuíam um papel de parede bege contrastando com uma sequência de portas em um longo corredor, todas padronizadas em madeira com placas possuindo o nome e o registro do advogado que a sala era correspondente, o chão que antes possuía um belíssimo porcelanato na sala de espera agora era coberto por um macio tapete de tom acinzentado, podia sentir seu santo dando uma leve afundada e imaginava como poderia ser gostoso andar naquele tapete com os pés descalços, olhando melhor para o fim do corredor podia observar uma enorme porta de vidro preta cujo imaginava que deveriam ser as salas particulares de reunião que Victoria havia mencionado, havia também um corredor seguindo para a direita, isso mostrando que o lugar era ainda maior do que seus olhos podiam enxergar em primeira mão, sua atenção era voltada para Miguel que do bolço de sua calça retirava um molho de chaves onde destrancava a quinta porta a direita, ele adentrava já seguindo em direção a sua cadeira deixando a porta aberta para ela fazer o mesmo, a sala era realmente pequena mas muito bem planejada, atras da mesa de Miguel havia uma parede totalmente branca junto de um armário de aproximadamente um metro de largura onde na parte de cima possuíam inúmeros livros e em baixo uma porta que ele logo abria jogando sua mochila, a mesa era de madeira rustica onde havia a tela de um computador que era ligada sem muita cerimonia, em cima da mesa havia um porta retrato virado para ele e um porta lápis também em madeira com inúmeras canetas porem todas aparentemente pretas.

                Todos esses detalhes foram observado do lado de fora da sala, Catherine ficou na porta apenas observando Miguel se acomodar em seu ambiente, ela tinha a preferência de não sair adentrando os lugares mesmo quando sabia que era permitido o fazer, era um sinal de respeito, assim que o rapaz reparava que ela não adentrou a sala apenas apontou para a cadeira a frente dele, aquele era o convite que ela aguardava, então finalmente adentrava na sala, fechando a porta atras de si e sentando em uma das cadeiras a frente da mesa, Miguel então abria a primeira gaveta de sua mesa guardando seus óculos escuros e também pegando um bloco de notas, estendendo para Catherine e apontando para que ela pegasse uma caneta a sua escolha no porta lápis.

                — Caso queira anotar alguma coisa já estou lhe oferecendo o papel e a caneta, vou te pedir para não atrapalhar em quanto eu falo agora, o que vou dizer faz parte do regimento interno que não está escrito em lugar algum então se não prestar atenção agora não vai mais ser mencionado sobre no futuro, li seu currículo e seus trabalhos da faculdade portanto na parte profissional eu já sei tudo que preciso saber, quero deixar claro também o fato de que eu sou o seu carrasco, posso a qualquer momento pedir sua demissão e arruinar sua carreira nessa cidade, assim fica bom pra você?

                — Pode começar – “Um docinho de limão” passou pela cabeça dela porem não deixaria ele saber que havia a amedrontado com aquela conversa, cruzava suas pernas se aconchegando na cadeira e assim posicionando o bloco em sua perna direita.

                — Quero que já comece sabendo que aqui não é um parque de diversões, a partir do momento em que entrou nessa empresa é quase como vender sua alma para o trabalho, se pensa que vai ser uma coisa fácil que não vai consumir seus dias, está muito enganada, seus dias, suas noites, seus finais de semana, tudo será convertido para o trabalho, a empresa tem nome mas você não, se não tiver capacidade não seremos nós que vamos dar as coisas de mãos beijadas nas suas mãos, outa coisa, não ache que você é incrível e sensacional, li os relatórios dos seus professores e deixo claro que na faculdade você podia ser um exemplo mas aqui você não é menos do que o básico do básico para a empresa, aqui dentro você vai lidar com todo tipo de pessoa, a crise de super herói será sua ruina, na sua frente pode estar sentada uma senhora de setenta anos simpática que assassinou a família toda simplesmente porque desligou a televisão na hora do seu programa preferido de receitas, você vai se sentar na frente de assassinos, psicopatas, podofilos, mas também vai encarar casos como divórcios e simplesmente emancipações, saiba que todos tem a mesma cara, o que muda é o arquivo que está na sua mão, para casos extremos temos o botão do pânico, fica bem debaixo da sua mesa, não se preocupe que ele tem um espaço de proteção para que seu joelho não acabe o apertando sem querer, com o botão do pânico a segurança será chamada no fim do corredor e quando chegar vai lhe oferecer uma pasta, caso recuse essa pasta indicará ao segurança que apenas a presença dele já é o bastante e ele pode se retirar, caso aceite a pasta o segurança vai permanecer na sala até que você crie uma boa justificativa para sair acompanhada dele, porem você deverá acompanhar o cliente até a porta como uma forma de cortesia, mas o segurança sempre vai estar observando para sua segurança, você conseguiu entender tudo, quer continuar aqui?

                — Entendi perfeitamente, quero continuar sim – Respondeu Catherine imaginando para que a assustar logo de cara, por mais que isso não lhe desse medo, sabia perfeitamente o que era a vida de um advogado de grande metrópole, podia ter vindo de uma cidade mais pacata porem não era uma jeca ignorante, sabia bem onde estava metendo os pés.             

                — Perfeito então! Mudando um pouco de assunto agora – Falou ele agora assumindo uma posição em sua cadeira que mostrava estar mais à vontade — Gostamos de no fim da semana nos reunir em uma única sala, ela já fica reservada para nós na maioria das sextas feiras, é lá que discutimos nossos casos, nunca pense que você sozinha resolve, é muito bom conversar entre nós – Miguel então chegava sua cadeira um pouco para trás assim podendo cruzar as pernas – No primeiro mês você não vai pegar nem um caso completamente sozinha, vai estar em um período de avaliação, seu salário vai ser aquele que foi enviado no contrato por esse tempo, você apenas vai ganhar porcentagem em cima de casos quando atuar solo, pós esse tempo vamos fazer uma reunião e decidir se você tem autonomia para seguir, dentro deste primeiro mês você obrigatoriamente terá de ser posta em frente ao juiz, então esteja pronta para que isso ocorra a qualquer momento, posso chegar para você hoje mesmo e falar que amanhã vamos para frente do juiz e você vai passar a noite em claro lendo.

                — Nada que algumas horas para elaborar uma boa defesa e um pouco de café não resolvam na madrugada.    

                — Perfeito, acho que eles são os primeiros alertas que eu vou te dar, já gostei que não me interrompeu, não gritou, não se levantou desejando boa tarde e me mandando para o inferno.

                — Assustador, medonho, autoritário e ameaçador, tirando isso nada de mais, apesar que achei que teriam frases de constrangimento imediato.

                — Isso dá processo, evito precisar ir ao tribunal se não for para ganhar dinheiro e tenho o grande prazer de até hoje não ter ido ao tribunal para resolver um problema particular meu, apenas de clientes.

                 — Acho de bom tom aquele que me defende não ter sido inúmeras vezes acusado.

                — Agora vem o assunto leve, pode relaxar, fiz isso para ver suas reações sobre pressão, você tem uma ótima postura, parabéns – Miguel abria um sorriso o que fazia com que Catherine fizesse o mesmo – Mas nada que falei é mentira – O sorriso no rosto de Catherine sumia em quanto Miguel arrastava a cadeira até seu armário, o abrindo e tirando da lateral de sua mochila uma garrafa preta térmica com o que parecia ser água, logo a abrindo e tomando um gole — Na equipe aqui somos eu, você, Diego e Rogerio, vou falar um pouco sobre os rapazes assim você já chega pelo menos sabendo o nome deles, Rogerio é especialista em resolver problemas conjugais, resolve divórcios como ninguém, Diego gosta muito de casos que envolvam a parte empresarial e eu sou aquele que sempre está metido em casos complicados geralmente que possuem um ou mais corpos, devo dizer que aprecio uma boa história e os casos que envolvem homicídios em geral possuem esse toque que eu tanto gosto.

                — Acho que consigo te entender, gosto igualmente de uma história com um bom mistério, na faculdade achava muito interessante ler os casos que o Ladislau defendia.

                — Ele foi meu mentor como já sabe, foi uma das minhas grandes inspirações, eu apenas levei em consideração levar seu nome para os superiores porque ele indicou você com muito afinco, ele nunca havia feito isso – Dizia Miguel começando a se levantar fazendo com que Catherine fizesse o mesmo de prontidão.

                — Ele pode ser muito insistente quando quer, dizem que piorou com a idade, que ele não aceita o não, vai atras do sim com tudo.

                — Prefiro dizer que ele se tornou ainda mais determinado com a idade, mesmo que imagine que Ladislau tenha se tornado um velho teimoso, quando o conheci ele já tinha a fama da teimosia determinada – Miguel se justificou caminhando para fora do escritório sendo seguido por Catherine que arrumava sua mochila em um único ombro.

                A dupla ao sair do escritório começou a caminhar pelo longo corredor, Miguel se atentava a dar uma breve explicação sobre uma coisa ou outra, no fim do corredor quando era de se esperar tinham três salas de vidro negro cujo Miguel indicou como as salas de reuniões particulares, onde quando o caso precisava de mais espaço as pessoas recorriam, explicava também que ninguém poderia adentrar aquelas salas sem prévio agendamento ou solicitação da chave na biblioteca, cujo se encontrava no fim do corredor, possuía uma enorme janela de vidro onde eles poderiam perfeitamente ver inúmeros livros em prateleiras, ele também explicava que mesmo tendo computadores a mão o dono da empresa gostava de manter uma biblioteca com alguns livros para o caso de precisarem, ela já havia lido sobre a empresa, o fundador da Titã possuía  oitenta e três anos, um homem de outra época com ideologias inovadoras, ela concordava que um bom ajuda muito, virando novamente no corredor eles poderiam ver mais salas cujo eram salas fechadas para o caso de contratações futuras, possuía também os banheiros e no final do corredor uma pequena porta cujo não tinha nem uma identificação, ali de acordo com Miguel era a sala da segurança, o sistema de câmeras e os seguranças, pelo horário estava havendo a troca de turno então os seguranças deveriam estar conversando e os dois não atrapalhariam, Miguel havia feito seu papel assim como Victoria havia pedido, mostrou a ela o lugar, como tudo havia identificação não seria difícil se de localizar mas ter alguém fazendo esse mini tour era melhor do que sair procurando tudo sozinha.

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