Houve uma leve batida na porta antes de se abrir.Tânia entrou e se encostou no sofá perto da porta, com um sorriso profissional estampado no rosto:— Ouvi dizer que o projeto do Mercado de Peixe vai usar Camila como garota-propaganda?Lucas estava sentado atrás da mesa de trabalho. Seu rosto sério e refinado exalava frieza e autoridade. Sem demonstrar qualquer emoção, ele respondeu:— Sim. Foi ideia do meu pai.Tânia ficou paralisada por alguns segundos. Não esperava que a decisão tivesse vindo de Enzo. Um arrepio gélido percorreu sua espinha, subindo pelas pernas e espalhando um desconforto indescritível. Quando o pânico se instala, a mente tende a se embaralhar, e ela não foi exceção.Forçando um sorriso que não alcançava os olhos, Tânia comentou:— Camila não é uma celebridade, nem uma figura pública. Colocá-la como garota-propaganda pode não ser muito apropriado, não acha? Este projeto é parcialmente financiado pela minha família. Algo tão grande assim deveria ser discutido comigo
Lucas reagiu como se tivesse levado um choque elétrico e empurrou Tânia para longe, fazendo-a recuar quase três metros. Com os saltos altos que usava, ela tropeçou e quase caiu, mas conseguiu se apoiar na estante ao lado para se equilibrar. Com a mão sobre o peito, respirava de forma ofegante.Lucas se apressou em explicar para Camila:— Não é o que você está pensando. Eu só estava puxando o braço para sair.Tânia, por sua vez, também tentou justificar:— Srta. Camila, por favor, não entenda errado. Eu acabei usando o copo do Sr. Lucas sem querer e só estava tentando lavá-lo.O olhar de Camila, frio e analítico, percorreu Tânia sem qualquer emoção. Ela conhecia bem Lucas e sabia exatamente como ele era. Mas Tânia? Essa já era outra história. Por trás do sorriso educado, ela escondia uma personalidade ardilosa. Uma mulher que gostava de manipular e jogar pelas sombras. "Sapo cururu no pé, não morde, mas incomoda", pensou Camila.Sem dizer nada, Camila abriu a bolsa e tirou um pequeno fr
Tânia puxou a gola do vestido, tentando disfarçar o desconforto com um sorriso:— Eu acho que tenho liberdade para usar o que quiser, não é?Camila sorriu de leve, mas o brilho afiado em seus olhos denunciava suas intenções:— Claro, você tem toda a liberdade de se vestir como quiser. Mas aparecer assim, tentando seduzir o meu homem, não é um pouco... imoral?O plano de Tânia para aquele dia já havia sido completamente frustrado, e a irritação que ela estava engolindo parecia prestes a explodir. Bastou ouvir as palavras de Camila para perder o controle:— Cuidado com o que você diz. Que olhos seus viram eu tentando seduzi-lo?— O batom no copo, os seus braços agarrados ao dele como se a vida dependesse disso, e seu "acidente" estratégico encostando nele com o peito. Se eu fosse um pouco menos civilizada, já teria te dado um tapa na cara.Tânia soltou uma risada sarcástica:— Você parece tão doce e tranquila, mas, pelo visto, tem um temperamento bem explosivo, hein? Não se esqueça, Srta
Camila ergueu o queixo de Lucas com os dedos, enquanto seus lindos olhos, profundos como um lago no outono, fixavam-se nele com intensidade. Com uma voz clara, mas cheia de autoridade, ela advertiu:— Fique longe da Tânia daqui para frente.Sua voz, cristalina e ao mesmo tempo imponente, fez Lucas sorrir. Ele amava essa dualidade nela: um rosto doce e sereno, mas com palavras firmes e dominadoras. Esse contraste fazia seu coração derreter.Sem resistir, ele segurou a nuca dela com uma das mãos e pressionou um beijo intenso em seus lábios macios. Com um sorriso divertido, respondeu:— Você nem precisava dizer isso. Eu já sei.Sem mais delongas, Lucas pegou o celular e ligou para Joaquim:— Tio Joaquim, daqui para frente, qualquer trabalho ou reunião será tratado diretamente por você ou pelo Jorge.Joaquim ficou confuso do outro lado da linha:— Aconteceu alguma coisa, Lucas?Com a expressão séria, Lucas respondeu de forma direta:— A Srta. Tânia teve um comportamento inapropriado. Usou
Tânia ficou estática por um momento, completamente sem palavras. Nunca imaginou que Lucas usaria uma estratégia tão baixa.— Eu… assediar ele? Como assim? Eu jamais faria isso! Eu só… só… — Ela gaguejou, sem conseguir completar a frase. Frustrada, passou as mãos pelos cabelos, bagunçando-os. — Enfim, eu não assediei ninguém!Joaquim, com sua calma quase irritante, decretou:— A partir de agora, qualquer assunto de trabalho será tratado pelo Jorge. Você não vai mais.— Jorge? — Tânia riu sem humor. — Ele não sabe nada sobre o mercado imobiliário! Vai ser feito de trouxa e nem vai perceber!— Lucas acabou de ligar. Ele foi bem claro e ameaçou cancelar o contrato caso eu te mande novamente.Tânia soltou uma risada fria, carregada de desprezo e frustração:— Impressionante, não é? Um homem todo poderoso, disposto a romper uma parceria só para proteger uma ex-mulher insignificante. Que cena patética.— Aceite os fatos, Tânia. A Camila está ficando cada vez mais famosa. É só uma questão de t
Enzo soltou uma risada debochada:— Garotinha, não seja tão arrogante.Camila sorriu com serenidade, sua expressão calma como uma brisa, mas suas palavras eram afiadas:— Se eu quisesse, teria opções muito melhores. É o seu filho que insiste em me perseguir, senão eu já teria seguido em frente. Se eu fosse um pouco mais desapegada, a história seria completamente diferente. Se não fosse pelos três anos de relacionamento que tivemos, quem é que ia aturar você?Ela se levantou, olhando Enzo de cima, com uma postura imponente e confiante.— E se algum dia eu decidir seguir em frente com outro homem, Sr. Enzo, pode se preparar para carregar esse vidro até o túmulo. Então, é melhor não fazer nada contra minha mãe pelas minhas costas. Caso contrário, a próxima vez será muito pior.Apesar do tom leve e do sorriso educado, suas palavras carregavam uma força quase sufocante. Enzo sentiu um leve formigamento na palma da mão esquerda, uma dor que era mais psicológica do que física. Com medo de que
As risadas ecoaram ao lado.Lucas então percebeu que Vanessa também estava lá. Ele não tinha uma boa impressão dela, e com o rosto sério, perguntou:— O que você está fazendo aqui?Vanessa deu de ombros, com um sorriso despreocupado:— Pedi demissão. Agora estou trabalhando com a Camila, sou assistente e aprendiz dela.Lucas manteve a expressão fria:— Se você é assistente da Camila, faça o seu trabalho direito. Mas não a envolva em aventuras absurdas, e muito menos em coisas perigosas.Vanessa riu, balançando as mãos como quem se defende:— Fica tranquilo! Eu já deixei a equipe de arqueologia, não vou arrastar a Camila pra nada perigoso. No máximo... talvez roubar uns túmulos por aí.O rosto de Lucas escureceu ainda mais. Ele virou-se para Camila e disse sem rodeios:— Demita essa assistente. Eu vou arranjar alguém mais confiável pra você.Camila riu e deu um tapinha na mão dele:— A Vanessa está brincando. Roubar túmulos é crime, eu jamais faria algo ilegal.Vanessa, no entanto, não
Camila não era tão exigente quanto Lucas. Ela olhou para o relógio no pulso e disse:— Vamos comer aqui mesmo. Trocar de sala vai dar trabalho, e você ainda tem compromissos à tarde.Jorge, sempre atento, levantou-se rapidamente ao ouvir isso:— Camila, você e o Lucas fiquem à vontade. A gente vai para outra sala.Vanessa, que estava tranquilamente comendo, murmurou de boca cheia:— Pra quê trocar? É só um almoço. Dá pra comer aqui mesmo, sem complicação.Jorge segurou o braço dela como se estivesse carregando um pintinho e a arrastou para fora da sala. Ele chamou o garçom e pediu outra sala reservada.Vanessa, já sentada em uma das cadeiras, estava visivelmente irritada. Ela cruzou os braços e reclamou:— Que mania de complicar tudo! Trocando de sala pra quê? Eu já estava morrendo de fome!Jorge, com um cigarro entre os lábios, acendeu-o com calma. Ele olhou para ela de canto de olho, com uma expressão despreocupada, e soltou:— Com essa sua falta de noção, é um milagre você estar viv