Camila não sabia se ria ou suspirava:— No hospital, o que eu disse para o Luís foi só da boca pra fora, coisa de momento. Não leve isso tão a sério.Os lábios de Lucas se apertaram levemente. Ele realmente não se importava tanto com aquelas palavras ditas ao Luís. O que o deixava inquieto era algo muito mais profundo: a possibilidade de Camila perceber que Pedro era o Pedro que ela guardava no coração. Esse era o verdadeiro perigo.Ela murmurava o nome dele até nos sonhos, e Pedro, por sua vez, estava sempre à espreita, cercando-a por todos os lados.Às vezes, Lucas sentia que ele era o intruso na história. Já havia pensado em abrir mão dela para que fosse feliz, mas, quando tentou, a dor foi insuportável. Era como se estivesse arrancando um pedaço de si mesmo.Três anos de relacionamento não eram apenas tempo passado. Era tempo vivido, suficiente para entrelaçar duas pessoas, tornando-as parte uma da outra, como carne e osso. Se não podia deixá-la ir, o único caminho era lutar por el
— Então, obrigada por isso. — Camila agradeceu.— Em cerca de quarenta minutos eu chego. Você pode descer para pegar?Camila olhou para o relógio no pulso:— Tudo bem, obrigada.Depois de desligar, ela e Lucas pediram comida pelo celular, para ser entregue no quarto. Comeram em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos.Quando terminaram, Camila ajudou Lucas a trocar o curativo. O inchaço já havia diminuído, mas a ferida ainda estava feia. A carne ali parecia ter sido dilacerada, o que fazia o coração dela apertar. Ela o abraçou com ternura, incapaz de esconder a preocupação.Logo após a refeição, o serviço de quarto veio buscar os pratos. Nesse momento, o telefone de Camila tocou novamente. Era Paula.— Srta. Camila, estou no saguão, no primeiro andar. Pode descer para pegar o que trouxe?— Claro, me espere um instante. Já estou indo.Camila pegou uma roupa para trocar, mas Lucas tomou o celular das mãos dela antes que ela pudesse sair:— Eu vou buscar.— Foi o Pedro quem mandou a
Pedro ficou em silêncio por um instante:— Eu te vejo como uma irmã.Paula fez um bico de descontentamento:— Nós dois não temos nem um pingo de parentesco!Pedro, direto, respondeu:— Eu não sinto nada por você além de amizade.— Sentimentos podem ser cultivados. Me dá uma chance, e a gente pode construir algo juntos.Pedro franziu a testa, impaciente:— Estou ocupado aqui. Preciso desligar.— Você...Antes que ela pudesse terminar, a ligação foi encerrada. Paula ficou olhando para o celular, com as bochechas infladas de raiva.— Sempre assim, sempre assim! — Murmurou Paula, irritada. — Ele nunca tem paciência comigo. Prefere gostar de uma mulher que já foi casada a me dar uma chance. É de enlouquecer!Frustrada, ela decidiu ligar para Vera.— Tia Vera, fui encontrar a Camila, mas não consegui vê-la. Só vi o marido dela. Ou melhor, o ex-marido.— O ex-marido disse alguma coisa? — Perguntou Vera, com pouco interesse.— Nada demais. Mas, tia, ele é lindo! Tão bonito quanto o Pedro.Vera
Lucas segurou o pulso dela e, com um tom brincalhão:— Prefiro quando está na sua boca.Camila inclinou-se para ele, aproximou os lábios dos dele e deu-lhe uma leve mordida, com os olhos cheios de ternura:— Assim?Lucas abaixou levemente os cílios, lançando um olhar carregado de intenção.Camila entendeu na hora e revirou os olhos:— Sonha, vai.Ela virou o rosto, mas a ponta das orelhas ficou ruborizada. Por dentro, no entanto, ria consigo mesma:"Que homem descarado! Dou um pouco de atenção, e ele já quer subir nas tamancas."— Não quer?A voz de Lucas saiu carregada de desejo.Alguns homens, com apenas algumas palavras, já conseguem incendiar tudo ao redor.De costas para ele, Camila sentiu o rosto queimar:— É de dia, Lucas. Seja mais decente.— Então eu coloco você na minha boca.Camila virou nos calcanhares para sair, mas ele foi mais rápido e a segurou pelo braço. Antes que ela pudesse reagir, Lucas mordeu os lábios dela e, num movimento ágil, explorou sua boca com a língua, pr
Camila seguiu Luís até a sala de coleções dele. Era um espaço cuidadosamente controlado, já que objetos antigos, especialmente delicados, exigiam condições específicas de temperatura e umidade.O ambiente mantinha-se sempre em um estado de temperatura e umidade constantes. A coleção de Luís era impressionante: havia desde peças de jade e pinturas caligráficas até artefatos de bronze, ferro, moedas de ouro e prata, objetos esmaltados, porcelanas e até mesmo cerâmicas tricromáticas.Luís retirou com cuidado a pintura da Virgem com o Menino. Não era possível saber onde ele havia conseguido aquela obra, mas era evidente que a pintura estava desgastada pelo tempo. Estava em um estado lamentável, cheia de danos e em urgente necessidade de restauração. Não era qualquer pessoa que poderia assumir tal tarefa.Camila logo percebeu que o pedido para avaliar a autenticidade da obra era apenas um pretexto. O verdadeiro objetivo era que ela restaurasse a pintura.Ela pegou o quadro com delicadeza e
Camila sentiu o suor escorrer pelas costas.— Pedro é um excelente homem, mas eu já tenho alguém.— Quem?— Meu ex-marido.Luís ficou visivelmente desapontado, mas não parecia disposto a desistir:— Quando vocês se separarem de vez, quero que pense seriamente no meu filho.Camila não conseguiu evitar comparar Luís a Enzo. Quanto mais pensava, mais desprezava o Enzo."Se ao menos Luís fosse o pai do Lucas, como seria diferente."Quando saíram da sala de coleções, o céu já havia escurecido sem que percebessem.Luís, sempre gentil, insistiu para que Camila ficasse para o jantar. A refeição estava especialmente caprichada, mas os únicos à mesa eram eles dois.Pedro estava fora do país, Liliane viajando a trabalho, e a esposa de Luís, embora estivesse no andar de cima, não desceu para se juntar a eles. Luís, no entanto, não pediu que ninguém a chamasse.Durante o jantar, Luís não parava de servir Camila. Apesar de ser um homem de temperamento discreto e reservado, naquele momento, sua hospi
— Às vezes, guardar tanta dor no coração só piora as coisas. Se você me contar, talvez eu possa ajudar a resolver o problema. — Disse Luís, inclinando-se e olhando nos olhos de Vera. Ele segurava as mãos dela com firmeza, transmitindo apoio com o olhar.Vera ficou imóvel, o olhar perdido. Por um instante, sentiu-se tentada a falar. A vontade de se vingar de Enzo era tão grande que consumia seus pensamentos. Ela sonhava com isso, desejava vê-lo morto. Seus lábios se moveram, mas as palavras ficaram presas, como se congeladas. Nenhum som saiu."Se eu matasse Enzo, minha vingança estaria completa. Mas e os filhos dele? Eles jamais me perdoariam."Para ela, isso não importava mais. Já estava cansada da vida, mas não podia ignorar o futuro do seu filho. "Pedro é tudo o que eu tenho. Não posso arriscar. Não posso deixar isso virar um ciclo interminável de vingança." Vera pensou.Vera forçou um sorriso, embora o gesto fosse pesado e difícil:— Não é necessário, mas obrigada.Luís suspirou co
O que Pedro realmente queria dizer era:"É tão bom saber que você se preocupa comigo."Camila disse:— Se conseguirmos desenterrar o tesouro, eu não quero nada disso. Só peço que você não se arrisque. Quero que fique bem.Pedro sentiu um calor secreto no peito, uma mistura de felicidade e gratidão. Ele sorriu sem dizer nada, mas acabou soltando uma frase aparentemente sem sentido:— Lucas tem muita sorte.Camila ficou surpresa e, por um momento, sem reação.Pedro continuou:— Se aquele idiota fizer algo para te magoar, me avise. Eu mesmo vou até ele para colocar juízo na cabeça.Camila sentiu os olhos ficarem marejados, e uma emoção quente tomou conta de seu peito. Desde pequena, criada pelos avós, ela nunca tivera irmãos. E, desde que aquele Pedro havia partido, nem amigos próximos ela permitia que se aproximassem.Mas Pedro fazia com que ela sentisse algo diferente, algo como se tivesse um irmão mais velho."Se não fossem as diferenças de aparência e identidade, eu quase poderia jura