— Sr. Pedro, bom dia! — Gritou de repente um dos funcionários, que tinha olhos de lince.Logo, ele correu em direção à porta, abrindo-a com toda a cortesia.Pedro entrou segurando uma caixa de madeira vermelha nas mãos.Afonso, alisando a barba, sorriu e o cumprimentou animado:— Pedro, o que trouxe hoje pra gente restaurar?Pedro levantou a caixa, com um sorriso discreto:— É o registro de eventos da nossa família. Tá bem danificado, e eu só confio na Camila pra consertar isso.Camila deu alguns passos à frente, pegou a caixa das mãos de Pedro e a abriu, indo para um canto para analisar o conteúdo. Ao ouvir o elogio ao talento de sua pupila, Afonso ficou todo orgulhoso.Mesmo que o negócio fosse restaurar pinturas, algo que Afonso não tinha ensinado, ele se encheu de vaidade e disse:— É isso mesmo! Quando se trata de restaurar pinturas, ninguém faz melhor que a minha aprendiz. Ah, essa menina é um prodígio! Tão jovem e já tão talentosa… daqui a pouco, nós, os velhos, não vamos ter ma
Todos negavam ter dado o tapa, mas Chloe tinha certeza de que fora agredida. A dor ardente em seu rosto não mentia. Aquilo era muito estranho!Com o olhar desconfiado, ela se voltou para o avô, os olhos marejados, cheia de indignação:— Vovô, foi você que me bateu?Afonso fez uma cara séria:— Você é minha neta! No máximo eu brigaria com você, mas nunca teria coragem de te bater.Chloe estava à beira de um colapso. Ela começou a bater repetidamente na bochecha esquerda, agora inchada e vermelha:— Mas eu levei um tapa! Todo mundo viu, não é possível que ninguém tenha visto quem me bateu!Os funcionários, percebendo a tensão, começaram a se dispersar, com medo de serem acusados. Ninguém queria ser o próximo alvo das suspeitas de Chloe.Pedro, sem dar muita atenção ao tumulto, virou-se tranquilamente em direção a Camila e perguntou:— Srta. Camila, como está o estado do registro de eventos da família? Dá pra restaurar?Camila assentiu:— Dá sim. Mas o documento está bem grosso e muito da
Chloe ouvia o sinal de ocupado no celular e estava furiosa. Ela simplesmente não conseguia entender. O que Camila tinha feito para enfeitiçar todo mundo? Por que todos gostavam tanto dela? Por que sempre a favoreciam? Era ridículo!Uma garota que veio do interior, sem classe, sem estilo, que mal sabia se arrumar e nunca tinha saído do país. E ela, Chloe, era uma dama, criada no luxo, bonita, sofisticada, uma verdadeira elite acadêmica! Em tudo era cem vezes melhor que Camila!Chloe não aceitava isso de jeito nenhum. Para ela, quem gostava de Camila devia ter algum problema de visão. Incluindo seu próprio avô!Enquanto isso, no mesmo momento, Camila, com a permissão de Afonso, levou o registro de eventos da família de Pedro para casa a fim de restaurá-lo. No Pavilhão Antiga, não havia as ferramentas adequadas para restaurar livros antigos.Em casa, Lucas havia preparado um escritório exclusivo para ela, onde Camila podia restaurar pinturas e documentos antigos com tranquilidade.O regis
Camila estava prestes a se afastar quando Lucas a puxou de repente. Ele segurou o queixo dela, inclinou a cabeça e deu uma leve mordida em seu nariz, deslizando suavemente até seus lábios superiores, onde depositou um beijo rápido e superficial. Logo depois, ele a soltou.Camila sentiu uma pontada de decepção. Antes, ele nunca fazia isso. Sempre que a beijava, era intenso, profundo. Nunca parava em um simples beijo nos lábios superiores.Surpresa, ela perguntou:— O que houve com você hoje?Lucas passou a mão pela testa, seu olhar revelava uma leve irritação:— Você está tentando engravidar, e eu bebi. Não quero que se sinta desconfortável.Aquele motivo soou forçado para Camila. Algo estava estranho.Lucas foi para o banheiro tomar banho. Camila ficou preocupada, já que ele tinha bebido, e o chão do banheiro poderia estar escorregadio. Ela rapidamente o seguiu, segurando-o pelo braço enquanto dizia:— Hoje comecei a restaurar um registro de eventos de família. Vi o nome do seu avô, Ad
— Estou bem, de verdade. Dorme. Lucas estendeu a mão e apagou o abajur.Camila ficou olhando para o perfil dele, tão forte e encantador, observando-o em silêncio por um bom tempo.No escuro, os contornos do rosto de Lucas pareciam ainda mais profundos, como um oceano misterioso. Sob aquela superfície calma, ela sentia que havia uma tempestade prestes a explodir.Camila refletiu, tentando entender o que estava acontecendo. Depois de alguns segundos, ela falou baixinho:— O registro de eventos da família do Pedro foi levado ao Pavilhão Antiga para eu restaurar. Se você não se sentir confortável, amanhã eu devolvo para ele e sugiro que procure outra pessoa.— Não precisa, restaura. Esse é o seu trabalho. — Lucas respondeu com a mesma calma.— Mas eu sinto que você não está muito feliz com isso...— Estou, sim. A voz dele era surpreendentemente neutra, quase indiferente.Não parecia nem um pouco uma pessoa "feliz".Camila respirou fundo e disse:— Me diz o que você quer que eu faça. Seja
Quando Camila estava trabalhando, costumava deixar o celular no modo silencioso. Isso a ajudava a manter o foco e evitava que cometesse algum erro irreparável.Camila frequentemente se perdia no tempo quando estava ocupada, esquecendo-se de tudo ao seu redor. Só lá pelas dez da noite se lembrou de que deveria ter ligado para Lucas. Ao pegar o celular, viu várias chamadas perdidas, todas de Lucas.Camila rapidamente discou o número dele. O celular tocou três vezes antes de ser atendido. No entanto, a voz do outro lado não era a de Lucas.— Quem é? — Perguntou uma voz feminina, doce e levemente provocante.Aquele timbre era muito familiar. Era Chloe! Como se um trovão tivesse estourado bem ao lado de Camila, ela sentiu seu corpo inteiro estremecer. Seus órgãos pareciam revirar dentro dela. Com os dentes trincando de leve, perguntou:— Chloe? É você?— Sou eu mesma, Camila. Surpresa? — Chloe respondeu com uma risada, que soava como uma clara provocação.Camila tentou manter a calma:— Ond
Chloe ficou pálida de repente. Ela se levantou do sofá, apoiando-se no braço da mobília, seus olhos grandes e cheios de uma falsa vulnerabilidade, tentando ganhar a simpatia de Lucas:— Lucas, não fique bravo. Foi o Sr. Enzo que me mandou. Eu só vim trazer os documentos, como ele pediu.Sua voz, doce e suplicante, parecia implorar por compreensão. Qualquer outro homem talvez cedesse àquele charme, mas Lucas já estava imune às manipulações dela.Ele sequer se deu ao trabalho de ouvir suas explicações. Impaciente com a demora de Chloe em sair, ele a agarrou pelo braço e a levantou como se fosse um peso leve, empurrando-a para fora do quarto. Com um movimento brusco, fechou a porta com força.De volta à sala, Lucas pegou o celular e ligou para Enzo. Quando a ligação foi atendida, ele foi direto ao ponto:— Foi você que mandou Chloe até aqui?— Fui eu, sim. Eu prometi a você que não incomodaria mais a Camila. Como parte do acordo, você aceitou ajudar Chloe no trabalho. — Respondeu Enzo, se
Camila, no fim, não apertou a campainha. Lentamente, virou-se e encostou as costas na porta."Esperar", ela pensou. Talvez, com o tempo, as imagens dolorosas que a atormentavam perdessem a força, e a dor ficasse menos aguda.Mesmo sem ter dormido a noite toda, sua mente estava enevoada, a cabeça doía terrivelmente, mas o sono não vinha. Seus nervos estavam tensos demais.O Raquel, notou que o rosto de Camila estava pálido como papel, com os olhos vermelhos de cansaço e perguntou baixinho:— Senhora, quer que eu reserve um quarto ao lado, para que a senhora possa descansar um pouco?Camila balançou a cabeça levemente:— Não precisa.— Quer que eu acorde o Sr. Lucas?Camila olhou o relógio no pulso. Já passava das seis. Se esperasse mais uma ou duas horas, Lucas sairia. Se Chloe estivesse lá dentro, certamente sairia com ele. Seria mais fácil ver os dois vestidos do que sem roupas.— Não. — Repetiu Camila, firme.Raquel não ousou desobedecer. Sabia que aquele era um momento delicado. Man